Orgulho versus Humildade

Tenho a opinião que a humildade é uma das virtudes mais difíceis de se conquistar, porque para que a burilemos, precisamos ferir nosso orgulho, e dor de orgulho ferido geralmente é pungente, nos causando lágrimas muito amargas e sentimentos de revolta e desforro. Além disso, não raras vezes, as Leis do mundo nos resguardam.

Sim, as nossas Leis protegem muito o nosso orgulho, dificultanto um pouco o burilamento da humildade e do exercício do perdão na sociedade, mas por outro lado, penso ser um mérito maior termos o direito legal de resguardar nosso orgulho e abrirmos mão disso, escolhendo a humildade e o perdão como revide às ofensas.

Mas o fato é que nossos legisladores terrenos creram que justo e educativo, era termos o direito de punir nossos ofensores, e por isso podemos abrir processos contra caluniadores, traidores, agressores, devedores e etc. É certo que essas medidas freiam um pouco a maldade e educam os que ainda se marginalizam, mas da mesma forma freia um pouco o nosso progresso moral, porque passamos a ter o direito legal de cultivarmos o nosso orgulho e justificá-lo perante a Vida. E por essa “balança” que penso não ser de todo ruim, porque faz que sintamos nossa caminhada na Terra um pouco menos penosa, já que nosso orgulho é desmoronado pouco à pouco, ao longo dos séculos, à medida que adquirimos forças morais para irmos abdicando naturalmente, tanto da maldade, como do nosso pseudo-direitos à reinvindicar punição aos nossos ofensores.

Com o tempo, penso, as nossas Leis terão que ser modificadas, porque ninguém mais desejará lesar o semelhante, tanto quanto ninguém mais desejará punir um ofensor, quiçá se ofenderá com qualquer coisa, já que a humildade e a bondade nos serão tão naturais quanto hoje a ignorância e o orgulho o são.

Hoje ainda é muito difícil termos a coragem e a força de caráter para sentirmos os golpes no nosso orgulho e agradecermos a Deus a oportunidade de burilar a humildade e praticar o perdão. É muito difícil termos a força emocional de percebermos que Deus, ao permitir nossa humilhação, está nos achando prontos para um progresso que requer um esforço maior de nossa parte, onde seremos chamados à testemunhos mais exigentes. Destruir o orgulho dói, e muito, mas como consegue-se isso sem passarmos por humilhações? Como teremos a chance de burilarmos a humildade e desfazermo-nos do orgulho, sem que algo ou alguém seja instrumento da nossa humilhação?

A humilhação dói, revolta, nos deixa caídos e arrasados, mas é como uma cirurgia, que rasga nossa pele e mexe nas nossas entranhas, para nos curar de uma doença. Cabe à nós agradecermos o nosso Médico de Almas, tanto quanto seríamos gratos ao médico do corpo, e suportarmos com paciência e resignação as dores da cirurgia. Um dia, quando nos recuperarmos do pós-operatório, estaremos curados e nenhuma ofensa nos atingirá mais, e em vez de dor pelo orgulho ferido, sentiremos amor pelo ofensor, junto com a paz espiritual daqueles que não conhecem mais a mágoa, a revolta e o sentimento de injustiça.

O mundo, mesmo ofensivo e agressivo, pode ser para nós um lugar de paz e felicidade, porque só sentimos a dor dos golpes da Vida, quando não temos paz interior, tanto quanto só sentimos os golpes no orgulho, quando não somos humildes. A paz e a felicidade vêm de dentro, não necessariamente de fora, e a medida que os homens encontrarem a paz dentro de si, naturalmente externarão ao mundo onde vivem. Um dia o mundo terá paz, porque nós estaremos em paz, mas para que esse dia chegue, precisamos sim, abrir mão de resguardarmos o nosso orgulho, mesmo que a Lei nos dê esse pseudo-direito, para escolhermos a humildade e o perdão.

Crédito: Satyagraha