Ao escrever o artigo "Sem Neblina" houve quem se manifestasse achando que havia em mim um excesso de confiança, uma dose exagerada de otimismo e eu reafirmo tudo e acrescento que, independentemente de problemas, tenho meus pés no chão.
Sei que irei experimentar momentos difíceis, mas, com todos os "contudos", "aindas', "tambéns" e "senões" estou determinado, obstinado, em não mais me deixar vencer, em não ceder, em não me permitir mais ser nocauteado pelas drogas.
Será que é excessivo mudar meu comportamento, estilo de vida e hábitos que, para mim, não me levavam a nada?
Só quem pode me mudar sou eu mesmo e estou fazendo a minha parte. Tem um adágio popular que diz: "Faça tua parte, que eu te ajudarei". Este adágio refere-se aos poderes divinos e esta frase vem da crença popular nos infinitos poderes de Deus que apenas pede que façamos a nossa parte.
Para mudar tenho que me corrigir em muitos aspectos e, ao iniciar tais mudanças, estou fazendo exatamente a minha parte, aquilo que eu posso modificar, o resto vem do meu Poder Superior.
Tenho muita fé em minha plena recuperação, por isso digo que é sem chances para recaídas e sem chances para as drogas. Este é o meu lema que vou levando enquanto vivo um dia de cada vez.
Sinto que minha fé vem de um poder maior que eu, que me conforta, me ampara e preenche os vazios que não foram apenas deixados pelas drogas, mas pela própria vida, de minhas particularidades... Há em minha consciência, ou se estabeleceu nela, uma aversão fenomenal às drogas, como era antes da drogadição.
Compreendo que minha vida mudou e as pessoas não mudaram comigo e, que, mesmo eu mudando meu comportamento, mesmo dizendo que é "sem chance" para as drogas provarei o caminho do descrédito e este será um caminho espinhoso, de provações, que terei de aceitar como normal e muito pacientemente me ajustarei a ele. Muita gente vai continuar descrente, cheia de desconfianças e eu não tenho o poder de mudar isso, nem estas pessoas. Tenho que aceitar a realidade da minha vida e suas circunstâncias.
Tenho estas convicções dentro de mim e me reprogramei ao reformular minha vida. Este meu "não às drogas" é pra valer, nasce e vem lá de dentro, do fundo da minha alma, da minha consciência...
Muita coisa ruim me aconteceu e, como diz o tabaréu, as coisas só concertam depois que arruínam. A drogadição me conduziu ao inferno. Sem ajuda de Beatriz, ou do poeta Virgílio sinto-me renascido em um purgatório. No céu seria demais, não é verdade?
O relacionamento com familiares se deteriorou, na maioria das vezes por conta da ignorância (do ignorar que ignora), das pessoas julgarem que as coisas têm que ser e acontecer do jeito que elas querem, da ausência de equilibrio...
De todo este inferno que percorri, só restaram escombros e, tenho certeza, é mais fácil matar o monstro do que remover seus escombros. Então estou dentro de uma realidade cujo processo compreendo que existe e existirá. Entretanto, entendo que brota dentro de mim uma força fenomenal, superior, que a sobriedade readquirida me concedeu. A abstinência produziu algo de bom. Sinto estar sedimentando novos alicerces, plantados em bases mais sólidas.
Fiz meu exame de consciência, verdades afloraram, dúvidas foram sanadas e o que não servia desprendeu-se de mim. Nem tudo, é claro!
Minha fortaleza nasce de um vir a acreditar em um poder maior que eu, das verdades que me foram reveladas. Do meu voltar aos 12 passos, seja de AA, seja de NA.
Estou mudando, me modificando, não estou achando que tudo vai mudar comigo. Eu aceito as pessoas como elas são. Problemas todo mundo tem e terá, então não há exagero algum, nem excesso de confiança, há, sim, uma convicção que me fortalece.
Tenho centenas de imperfeições e nunca serei um sujeito perfeito. Estou com os meus pés no chão, sem medo e sem fantasias. Meu caminho, agora, é o do refazimento de tudo o que perdi. De proceder reparações.
Curei-me da cegueira, ou, quem sabe, cansei dela, posto que era um cego que não queria enxergar?
Agora é hora do sem chance para recaídas, do sem chance para as drogas. Eu cansei de drogas, Será que dá para compreender que enjoei e sinto nojo delas? É uma aversão !
Vou devagar, mas vou, com a força de Deus!
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