sexta-feira, 8 de julho de 2011

Apenas uma vida



Disseram e dizem que sou um caso perdido, mas a luta continua e não penso em retomar de volta o que entreguei a Deus. 

Muitas vezes sinto um aperto no peito em saber que muita gente pintou e bordou com a minha vida, que perdi muita coisa, que fiquei sozinho (na companhia de deus), mas eu não fugi da raia. 

Disse não as drogas e deixei de fumar, de vez.  Aos que torcem por uma recaída e eu digo que não estou dando chance a ela. 

Sei que cometi muitos erros, mas sempre soube pedir o devido perdão. 

Sei que muita coisa em minha vida foi mitificada, há muitas inverdades inventadas na estrada curta da drogadição. 

Meu coração está em desalinho e meu pulso ainda pulsa e eu escrevo, penso, existo. 

Não esperem que eu vá viver me mortificando, cabisbaixo, com receio dos estigmas. Falem bem ou mal, mas falem de mim, porque eu continuo caminhado para a frente e sei que o fato de não estar nem ai para as drogas incomoda determinadas pessoas e para elas gostaria de olhar, um dia, de frente, tete a tete, e recitar o lema do psicodrama. 

Há, no que escrevo, imperfeições que deveria ter banido do meu coração. Mas só por hoje eu tenho que dizer que estou limpo e já não me preocupo em contar os dias e em saber que não sou perfeito. 

Ainda guardo dentro de mim lembranças desagradáveis. Infelizmente não existe uma pílula para o esquecimento e terei que ir deixando que o tempo abrande tudo e tudo mais fique sereno em minha vida. 

Sinto-me o mesmo cara que eu era antes de entrar nessa onda de drogas. Eu sinto isto dentro de mim, será que estou sendo claro? e o que me fez ficar assim não foram as drogas, não foi o vício, foi o abandono, o desamor, as perversidades e, ainda assim, sublimando tudo, vou levando a chama da vida. 

Caía e sempre levantava. Agora eu consigo, com sobriedade e muitos insights, descobrir o quanto muita gente me quer.

Estou lúcido, produtivo, bem afeiçoado, bem vestido, bem nutrido, lendo bons livros, dormindo  com minha consciência tranquila e não sinto falta de drogas. Vez em quando surge o ímpeto para fumar, logo rechaçado e sem chance de se instalar. Estou dando aos céticos uma lição que eles precisam aprender sobre determinação, não aquela de produzir o mal, ou efeitos danosos em seu semelhante, mas a de revelar que querer é poder e eu quero com a ajuda de Deus. Sobre o vício do cigarro, que recentemente larguei,  eu páro e penso no exemplo de minha mãe, que foi fumante inveterada e todos diziam que morreria fumando. Da noite para o dia ela abandonou o único vício que possuía. E eu conheço tanta gente que tem vícios e deformações, que não estão no rol das drogas, lícitas e ilícitas, que não convém escrever sobre tal temática. Conheço gente que através desses vícios alcançou muita coisa na vida e até dizem que determinados vícios levam à construir a felicidade e estes vícios e deformações, felizmente,não possuo, deles estou livre. 

Sinto incomodar e peço desculpas a quem se sente incomodado comigo, pouco me importa conhecer os motivos, que fiquem com eles. Não são substanciais. Estou feliz, satisfeito e em paz comigo mesmo, inclusive neste desabafo que carrega o tom da voz serena falando ao ouvido do leitor.

Farei inúmeras reparações assim que puder, mas tenho um elenco pequeno de pessoas para proceder reparações. De todo meu pesadelo eu tenho plena consciência. Tenho a consciência de que, na drogadição, não fui um ser violento, quando quase todos queriam me ver assim, mas sou fruto de boa árvore, enfim. 

Recordo, agora, o filme Tommy. Lembro (faz décadas isso!) do momento em que ele, cego, cai na piscina. Ao sair do mergulho a luz do sol incide nos olhos dele que passa a enxergar e ver tudo, tudo, outra vez e Tommy sai fortalecido, correndo e cantando "I´m free". Sinto-me livre !

Pois eu estava cego, dei um mergulho parecido e me sinto livre, como Tommy. Minha vida não é uma ópera, é uma vida, apenas uma vida.

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