quarta-feira, 14 de setembro de 2011

A Mudança, "Viver Sóbrio"

        A MUDANÇA DOS VELHOS HÁBITOS

Determinados horários, lugares e atividades habituais associados com a bebida ficaram intrinsecamente ligados às nossas vidas. Assim como a fadiga, a solidão, a raiva e a alegria excessivas, estes velhos hábitos podem vir a constituir-se em perigosas armadilhas à nossa sobriedade.

Assim que largamos o álcool, muitos de nós julgamos útil rever os hábitos que envolviam o nosso beber e, sempre que possível, mudar uma porção de coisinhas relacionadas a ele.

Para ilustrar: muitos de nós que costumávamos começar o dia com um trago no banheiro (para clarear a vista), vamos direto, agora, para a cozinha, em busca de um café. Alguns de nós mudamos a ordem das coisas que fazíamos ao iniciar o dia, como comer antes de tomar banho ou vestir-se e vice-versa. Uma nova marca de pasta de dente ou um anti-séptico bucal diferente (cuidado com qualquer conteúdo alcoólico!) ofereceu-nos um sabor inusitado no começo do dia. Experimentamos fazer um pouco de ginástica ou entregar-nos a alguns momentos tranqüilos de contemplação ou meditação antes de entrar na rotina diária de trabalho.

Muitos de nós também aprendemos a experimentar um caminho novo ao sair de casa pela manhã, não passando por aquele costumeiro “posto de abastecimento”. Alguns mudaram do carro para o trem, do metrô para a bicicleta, do ônibus para a caminhada. Outros escolheram uma condução diferente.

Quer bebêssemos no bar da esquina ou na estação de trem; no engenho de aguardente da redondeza ou na cozinha; no clube ou na garagem, cada um de nós sabe indicar com a maior exatidão seu local favorito para tomar umas e outras. Quer fôssemos um porrista ocasional ou um bebericador de vinho de todas as horas, cada um sabe por si mesmo que dias, horas e ocasiões se relacionaram mais freqüentemente à própria bebedeira.

Descobrimos um dado interessante: quando se quer mesmo não beber, é proveitoso mudar de rotina, invertendo a posição das peças.

As donas-de-casa, por exemplo, dizem que é conveniente mudar os horários e os locais de compra, bem como refazer a agenda das tarefas diárias. Funcionários que costumavam escapulir para um trago na hora do café, agora não saem e até tomam café com bolinho; eis um bom momento de chamar alguém conhecido que você sabe que não bebe. (É confortador conversar com uma pessoa que passou pelas mesmas experiências nos tempos em que bebíamos).

Aqueles de nós que começamos nossa sobriedade confinados no hospital ou na prisão, tentamos mudar nossos roteiros diários a fim de não encontrar o contrabandista de bebida da instituição com tanta freqüência.

Para alguns de nós o almoço era geralmente um período de uma ou duas horas de divertimento líquido. Logo que paramos de beber, em vez de ir ao restaurante ou à lanchonete onde os garçons e o dono já adivinham o que queremos sem que precisemos dizer, é bem mais sensato ir almoçar noutro lugar e, especialmente valioso, almoçar com outros que também não bebam. O Teste da Força de Vontade num assunto que implica saúde parece bastante tolo quando não é necessário. Então, no lugar dele, tentamos facilitar nossos hábitos de saúde da melhor maneira possível.

Para muitos de nós isso também importou em evitar pelo menos por certo tempo, a companhia da turma da “pesada”. Se eles são amigos verdadeiros, naturalmente se alegrarão de ver-nos cuidar de nossa saúde e, decerto, irão respeitar nosso direito de fazer o que queremos, como respeitamos seu direito de beber como bem entendem. Mas aprendemos a nos acautelar com alguém que insiste para que bebamos de novo. Parece que aqueles que realmente nos amam, encorajam nossos esforços para continuarmos bem.

Às cinco da tarde ou no final do expediente, alguns de nós aprendemos a parar para comer um sanduíche. Depois, tomamos um caminho diferente ao ir para casa, de modo que não passemos pelos antigos locais de bebida. Se viajávamos de trem, não íamos no carro restaurante e saltávamos no fim da viagem, bem longe de nosso conhecido bar da vizinhança.

Ao chegar em casa, em vez de apanhar os copos com as pedras de gelo, mudávamos de roupa, preparávamos café ou chá, tomávamos um suco de frutas ou vegetais, cochilávamos um pouco, descansávamos debaixo do chuveiro ou lendo um livro, ou um jornal. Aprendemos a variar nossa alimentação para incluir alimentos que não se relacionassem muito com o álcool. Se nosso hábito depois do jantar era beber e ver televisão, verificamos que era melhor mudar para outra sala e outra atividade. Se esperávamos que a família fosse dormir para destampar a garrafa, tentamos ir dormir mais cedo – para variar – ou dar uma volta, ler, escrever, jogar xadrez.

Viagens de negócios, fins de semana e feriados, o campo de golfe, os estádios esportivos, os jogos de carta, a velha piscina, entre outros, com freqüência significavam bebida para nós. Os amantes de barcos, em geral, passavam os dias de verão enchendo a cara, na baía ou no lago. Logo após parar de beber, viu-se que valia a pena planejar um tipo diferente de viagem por certo tempo. Tentar evitar um trago num barco cheio de bebedores de cerveja, uísque, pinga, batidas, caipirinha ou rum é muito mais difícil do que ir simplesmente para outros lugares e, só pelo prazer da novidade, fazer outras coisas que não nos deixem pensar especialmente em bebida.

Suponhamos que fomos convidados para uma festinha onde o principal divertimento – ou atividade – é a bebida. Que fazer? Enquanto estávamos na ativa, éramos bastante hábeis para arquitetar desculpas. Portanto, aplicamos esta habilidade para dizer cortesmente: “Não obrigado”.(Quando às festas a que realmente temos que ir utilizamos novas fórmulas que estão explicadas na página 93).

Em nossos primeiros dias de abstenção, jogamos fora toda a bebida que tínhamos em casa? Sim e não.

Os que pararam de beber com mais êxito concordaram que é uma precaução prudente, no começo, livrar-se de qualquer bebida escondida – se puder ser encontrada. Mas, quanto às garrafas existentes no armário ou no barzinho da sala, a opinião varia.

Alguns insistem em que nunca foi a existência do álcool que nos levou a beber, assim como a sua ausência jamais nos impediu de tomar aquele gole que desejávamos. Por isso, alguns argumentam: por que despejar uísque de boa qualidade na pia ou mesmo dá-lo de presente? Vivemos numa sociedade que bebe, dizem eles, e não podemos evitar a presença das bebidas alcoólicas para sempre. Conserve um estoque para servir quando as visitas chegarem e procure esquecer dele no resto do tempo. Para essas pessoas deu certo.

Muitos outros chamam a atenção para o fato de que, às vezes, se tornou incrivelmente fácil tomar um gole por puro impulso, inconscientemente, mesmo antes de pensar nisto. Se não houvesse bebida por perto, se tivéssemos de sair para comprá-la, teríamos, pelo menos, uma oportunidade de pensar no que estamos para fazer e decidiríamos não beber. Os que se convenceram disso, afirmam que é  mais sábio estar em segurança do que vir a lamentar-se. De modo que se desfizeram de toda bebida e não tiveram nenhuma em casa até que sua sobriedade chegasse a um estado razoavelmente seguro e estável. Mesmo agora, só compram o suficiente para as visitas de uma noite.

Desta maneira, faça sua escolha. Só você sabe qual foi a sua maneira de beber e como se sente hoje na sobriedade.

Ora, pode parecer que a maioria das pequeninas mudanças de rotina mencionada neste capítulo seja, por si mesmas, ridiculamente insignificantes. No entanto, podemos assegurar-lhe que a sua totalidade deu a muitos de nós um alento espantosamente poderoso para uma saúde revigorada. Se quiser, você pode ter este impulso, também.


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