A MUDANÇA DOS VELHOS HÁBITOS
Determinados horários, lugares e atividades
habituais associados com a bebida ficaram intrinsecamente ligados às nossas
vidas. Assim como a fadiga, a solidão, a raiva e a alegria excessivas, estes
velhos hábitos podem vir a constituir-se em perigosas armadilhas à nossa
sobriedade.
Assim que largamos o álcool, muitos de nós julgamos
útil rever os hábitos que envolviam o nosso beber e, sempre que possível, mudar
uma porção de coisinhas relacionadas a ele.
Para ilustrar: muitos de nós que costumávamos
começar o dia com um trago no banheiro (para clarear a vista), vamos direto,
agora, para a cozinha, em busca de um café. Alguns de nós mudamos a ordem das
coisas que fazíamos ao iniciar o dia, como comer antes de tomar banho ou
vestir-se e vice-versa. Uma nova marca de pasta de dente ou um anti-séptico
bucal diferente (cuidado com qualquer conteúdo alcoólico!) ofereceu-nos um
sabor inusitado no começo do dia. Experimentamos fazer um pouco de ginástica ou
entregar-nos a alguns momentos tranqüilos de contemplação ou meditação antes de
entrar na rotina diária de trabalho.
Muitos de nós também aprendemos a experimentar um
caminho novo ao sair de casa pela manhã, não passando por aquele costumeiro
“posto de abastecimento”. Alguns mudaram do carro para o trem, do metrô para a
bicicleta, do ônibus para a caminhada. Outros escolheram uma condução
diferente.
Quer bebêssemos no bar da esquina ou na estação de
trem; no engenho de aguardente da redondeza ou na cozinha; no clube ou na
garagem, cada um de nós sabe indicar com a maior exatidão seu local favorito
para tomar umas e outras. Quer fôssemos um porrista ocasional ou um bebericador
de vinho de todas as horas, cada um sabe por si mesmo que dias, horas e
ocasiões se relacionaram mais freqüentemente à própria bebedeira.
Descobrimos um dado interessante: quando se quer
mesmo não beber, é proveitoso mudar de rotina, invertendo a posição das
peças.
As donas-de-casa, por exemplo, dizem que é conveniente
mudar os horários e os locais de compra, bem como refazer a agenda das tarefas
diárias. Funcionários que costumavam escapulir para um trago na hora do café,
agora não saem e até tomam café com bolinho; eis um bom momento de chamar
alguém conhecido que você sabe que não bebe. (É confortador conversar com uma
pessoa que passou pelas mesmas experiências nos tempos em que bebíamos).
Aqueles de nós que começamos nossa sobriedade
confinados no hospital ou na prisão, tentamos mudar nossos roteiros diários a
fim de não encontrar o contrabandista de bebida da instituição com tanta
freqüência.
Para alguns de nós o almoço era geralmente um
período de uma ou duas horas de divertimento líquido. Logo que paramos de
beber, em vez de ir ao restaurante ou à lanchonete onde os garçons e o dono já
adivinham o que queremos sem que precisemos dizer, é bem mais sensato ir
almoçar noutro lugar e, especialmente valioso, almoçar com outros que também
não bebam. O Teste da Força de Vontade num assunto que implica saúde parece
bastante tolo quando não é necessário. Então, no lugar dele, tentamos facilitar
nossos hábitos de saúde da melhor maneira possível.
Para muitos de nós isso também importou em evitar
pelo menos por certo tempo, a companhia da turma da “pesada”. Se eles são
amigos verdadeiros, naturalmente se alegrarão de ver-nos cuidar de nossa saúde
e, decerto, irão respeitar nosso direito de fazer o que queremos, como
respeitamos seu direito de beber como bem entendem. Mas aprendemos a nos
acautelar com alguém que insiste para que bebamos de novo. Parece que aqueles
que realmente nos amam, encorajam nossos esforços para continuarmos bem.
Às cinco da tarde ou no final do expediente, alguns
de nós aprendemos a parar para comer um sanduíche. Depois, tomamos um caminho
diferente ao ir para casa, de modo que não passemos pelos antigos locais de
bebida. Se viajávamos de trem, não íamos no carro restaurante e saltávamos no
fim da viagem, bem longe de nosso conhecido bar da vizinhança.
Ao chegar em casa, em vez de apanhar os copos com
as pedras de gelo, mudávamos de roupa, preparávamos café ou chá, tomávamos um
suco de frutas ou vegetais, cochilávamos um pouco, descansávamos debaixo do
chuveiro ou lendo um livro, ou um jornal. Aprendemos a variar nossa alimentação
para incluir alimentos que não se relacionassem muito com o álcool. Se nosso
hábito depois do jantar era beber e ver televisão, verificamos que era melhor
mudar para outra sala e outra atividade. Se esperávamos que a família fosse
dormir para destampar a garrafa, tentamos ir dormir mais cedo – para variar –
ou dar uma volta, ler, escrever, jogar xadrez.
Viagens de negócios, fins de semana e feriados, o
campo de golfe, os estádios esportivos, os jogos de carta, a velha piscina,
entre outros, com freqüência significavam bebida para nós. Os amantes de
barcos, em geral, passavam os dias de verão enchendo a cara, na baía ou no
lago. Logo após parar de beber, viu-se que valia a pena planejar um tipo
diferente de viagem por certo tempo. Tentar evitar um trago num barco cheio de bebedores
de cerveja, uísque, pinga, batidas, caipirinha ou rum é muito mais difícil do
que ir simplesmente para outros lugares e, só pelo prazer da novidade, fazer
outras coisas que não nos deixem pensar especialmente em bebida.
Suponhamos que fomos convidados para uma festinha
onde o principal divertimento – ou atividade – é a bebida. Que fazer? Enquanto
estávamos na ativa, éramos bastante hábeis para arquitetar desculpas. Portanto,
aplicamos esta habilidade para dizer cortesmente: “Não obrigado”.(Quando às
festas a que realmente temos que ir utilizamos novas fórmulas que estão
explicadas na página 93).
Em nossos primeiros dias de abstenção, jogamos fora
toda a bebida que tínhamos em casa? Sim e não.
Os que pararam de beber com mais êxito concordaram
que é uma precaução prudente, no começo, livrar-se de qualquer bebida escondida
– se puder ser encontrada. Mas, quanto às garrafas existentes no armário ou no
barzinho da sala, a opinião varia.
Alguns insistem em que nunca foi a existência do
álcool que nos levou a beber, assim como a sua ausência jamais nos impediu de
tomar aquele gole que desejávamos. Por isso, alguns argumentam: por que
despejar uísque de boa qualidade na pia ou mesmo dá-lo de presente? Vivemos
numa sociedade que bebe, dizem eles, e não podemos evitar a presença das
bebidas alcoólicas para sempre. Conserve um estoque para servir quando as
visitas chegarem e procure esquecer dele no resto do tempo. Para essas pessoas
deu certo.
Muitos outros chamam a atenção para o fato de que,
às vezes, se tornou incrivelmente fácil tomar um gole por puro impulso,
inconscientemente, mesmo antes de pensar nisto. Se não houvesse bebida por
perto, se tivéssemos de sair para comprá-la, teríamos, pelo menos, uma
oportunidade de pensar no que estamos para fazer e decidiríamos não
beber. Os que se convenceram disso, afirmam que é mais sábio estar em segurança do que vir a
lamentar-se. De modo que se desfizeram de toda bebida e não tiveram nenhuma em
casa até que sua sobriedade chegasse a um estado razoavelmente seguro e
estável. Mesmo agora, só compram o suficiente para as visitas de uma noite.
Desta maneira, faça sua escolha. Só você
sabe qual foi a sua maneira de beber e como se sente hoje na sobriedade.
Ora, pode parecer que a maioria das pequeninas
mudanças de rotina mencionada neste capítulo seja, por si mesmas, ridiculamente
insignificantes. No entanto, podemos assegurar-lhe que a sua totalidade deu a
muitos de nós um alento espantosamente poderoso para uma saúde revigorada. Se
quiser, você pode ter este impulso, também.
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