sábado, 2 de julho de 2011

Inventário moral e honestidade

Para fazer um minucioso e destemido inventário moral de nós mesmos era necessário ser honesto e honestidade não me faltou na realização do mesmo. Posso dizer que fiz quase uma autobiografia. Lendo o que havia escrito recordava o tempo em que, durante minha infância, andava angustiado e aflito em saber que para fazer minha primeira comunhão teria que me postar, de joelhos, em um confessionário e, por uma discreta janelinha contar ao mesmo meus pecados. Eu vivia imaginando mil pecados e a eles dava enorme gravidade até que chegou o dia fatal. Era preciso ter coragem. Chegou o meu dia e a minha hora de falar sobre tudo quanto eu acreditava ser pecado. Fui ao confessionário e falei desembestadamente e, confesso, temia qual seria o veredito do padre. Seria o de rezar mil Pai nossos e mil ave Marias? Só em pensar no veredito do mesmo e de imaginar ter que rezar tanto eu já me sentia pecador. Pois contei minhas peraltices, traquinagens e estripulias e o padre, que pacientemente me ouvia me mandou rezar UM PAI NOSSO e uma AVE MARIA. Sai contente, com um riso contido e feliz da vida. A alma estava lavada e produzia em mim uma leveza nunca dantes experimentada. Voltemos, então, a meu destemido inventário. Estava no quarto passo e, tal qual o guri aflito e angustiado que deveria comparecer ao confessionário eu sabia que deveria admitir perante Deus, perante a mim e perante a outro ser humano a natureza exata das minhas falhas. Foi ótimo e, novamente, após efetivar o quinto passo, experimentei a sensação de estar levitando com os pés no chão. 
Deixei meu destemido inventário intacto. Todos têm o costume de queimá-lo. Eu queimei o que não devia e mantive o mesmo inteiro. Sabia, mas não tinha chegado lá, que um dia haveria de fazer reparações e, em meu inventário havia algo que eu achava que, para ser honesto de verdade, precisaria contar a esposa. Como de viva voz eu não conseguia fazer isso decidi colocar o caderno com tudo o que havia escrito para que ela, movida pela curiosidade, lê-se tudo e ficasse sabendo de um caso de infidelidade, de ter mantido um relacionamento furtivo, depois de casado. Sabe, esta honestidade me custou tão caro e eu imaginava que o resultado seria semelhante aos dois anteriores, quando realizei minhas confissões. Deveria ser legal lermos um destemido inventário moral da esposa, mas esposas não escrevem esses inventários e os coloca diante dos esposos para que, assim procedendo, façam uma reparação indireta.
De qualquer sorte, com todos os problemas causados, nas duas vertentes, eu fiquei feliz comigo mesmo por ter sido indiretamente honesto e, depois, diretamente honesto na hora do interrogatório, que não cessa. São tantas as  sessões e tantas as perguntas repetidas que vinha um arrependimento danado de ter levado minha honestidade tão a sério. Mas que fazer depois de feito? Meu inventário é um livro aberto e por ser aberto ninguém mais tem interesse em pega-lo para ler. Então, senhoras e senhores, fiz uma confissão  pública e peço desculpas e perdão, publicamente, a todos, especialmente a ex, pelo meu comportamento inadequado, enquanto marido que cometeu um deslize. Só por hoje ! 

Nenhum comentário :

Postar um comentário

soporhoje10@gmail.com

LinkWithin

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...