sexta-feira, 17 de outubro de 2014

Literatura tóxica

Foto do site pijamasurf.com


Dos poemas sobre o ópio aos romances sobre o ecstasy, como os escritores se relacionaram com 
as drogas nos últimos 200 anos


Por Carlos Graieb



Empregada originalmente como anestésico para cavalos, a ketamina transformou-se em Special K, uma droga popular nas raves, aquelas festas que duram até de manhã e são movidas a música tecno. Seu efeito mais marcante é produzir breves estados de apagão, durante os quais os usuários são sugados para o que chamam de "dimensão K". Ainda não se conhece nenhum poema ou ficção que trate dessa experiência, mas o crítico inglês Marcus Boon não tem dúvida de que eles logo surgirão, assim como já existem romances sobre o ecstasy. "Neste momento, algum adolescente está escrevendo um romance com o títuloDimensão K", afirma ele. E isso acontece porque 200 anos de escrevinhação inspirada pelas drogas ou a respeito delas acabaram por consolidar um gênero literário. Em The Road of Excess (A Via do Excesso), Boon reconta a história desse gênero de maneira inovadora e cativante, apesar de acadêmica. Recém-lançado nos Estados Unidos, o livro aborda textos famosos e outros nem tanto, assim como fala de viciados confessos e de autores que preferiram não se alongar sobre suas experiências com substâncias clandestinas.

A função imaginária no uso de substâncias psicoativas: contribuições de Jean-Paul Sartre

versão On-line ISSN 2175-2591

Rev. NUFEN vol.2 no.1 São Paulo jun. 2010

 

ARTIGOS

A função imaginária no uso de substâncias psicoativas: contribuições de Jean-Paul Sartre

The imaginary function by the use of psychoative substances: Jean-Paul Sartre's contribuitions


Daniela Ribeiro Schneider1; Larissa Antunes



RESUMO
Estudos antropológicos mostram que em quase todas as civilizações o ser humano sempre buscou maneiras de induzir estados alterados de consciência. A experiência imaginária tem sido, em todas as épocas e em todas as culturas, muito valorizada. O objetivo deste trabalho é discutir este tipo de experiência provocada pelo uso de substâncias psicoativas, tendo como fundamentação a teoria do imaginário apresentada por Jean-Paul Sartre. A experiência imaginária é um aspecto central do psiquismo humano, pois sua função irrealizante permite ao sujeito transcender uma dada situação em direção a um fim e, por isso mesmo, ir além de sua realidade, o que, por um lado, pode ser "transformador" e, por outro, "alienador". Tudo depende da relação do sujeito com o mundo, de seu contexto antropológico, de sua situação concreta na vida de relações, da estruturação de sua personalidade e da função que a vida imaginária possa ter nesse conjunto.
Palavras-chave: experiência imaginária; substâncias psicoativas; Jean-Paul Sartre; psicologia fenomenológica-existencialista.


Estou voltantando

Em outro momento tentarei justificar minha alongada ausência. Enquanto isso tentarei postar um artigo interessante para os que gostam de aprofundar seus estudos sobre alucinógenos. Há um outro propósito embutido, o de Jean Paul Sartre ter feito uso da mescalina. 
Só por hoje desejo a todos um ótimo dia!

sábado, 30 de agosto de 2014

Dave Navarro relembra overdose de drogas


Por Pedro Mollo Filho 

Em uma entrevista em agosto de 2006 com a revista FHM, Dave Navarro (JANE´S ADDICTION, RED HOT CHILI PEPPERS, THE PANIC CHANNEL) falou de sua experiência de quase morte.

"Quando eu tinha 15 anos, eu tinha uma intensa premonição de que minha mãe ia morrer, O mais próximo que eu cheguei da morte foi com overdose de drogas, e eu não vi nenhum túnel de luz ou pessoas que haviam morrido antes de mim, eu apenas senti que era hora de voltar. Eu estava com alguns squatters (pessoas que ocupam edifícios desocupados e tomam posse deles) em Londres em 1990. Nós cheiramos um punhado de cocaína, e eu estava tão bêbado que nem senti, então cheirei mais e apaguei completamente. Os squatters me colocaram em uma banheira cheia de cubos de gelo para me ressuscitar e pelo que me disseram eu fiquei todo azul. Eles me deixaram na rua, chamaram uma ambulância e fugiram, pois não queriam ser encontrados com um cadáver nas mãos, eu fui ressucitado pelos médicos depois."

Fonte: For Him Magazine e http://whiplash.net/materias/news_908/043653-panicchannell.html#ixzz3BvcYtRRZ

CARTA A UMA MULHER ALCOÓLICA


Por Margaret Lee Runbeck

Se eu morasse em frente a sua casa, e observasse o quanto você luta corajosamente, mas sem esperanças contra sua doença, e se falasse com você às vezes, quando você não conseguisse me evitar, eu não ousaria lhe dizer pessoalmente o que agora vou lhe dizer por escrito. Você não deixaria dizê-lo, porque teria medo de mim. Julgaria que também eu faço parte da conspiração mundial contra você; ofender-se-ia por eu ter suspeitado de sua secreta agonia.

Se nós nos encontrássemos, frente a frente, eu não acharia meio nenhum para lhe dizer o quanto gosto de você. Também não conseguiria lhe dizer que não encontro nada de desprezível ou ridículo em você. Não lhe daria nenhuma lição de moral, pois você não permitiria que lhe falasse a respeito de sua doença fatal. Nós duas faríamos de conta que ela não existe.

Assim sendo, preciso lhe escrever uma carta e pô-la num lugar seguro, onde você vai encontrá-la e possa escondê-la de sua família para depois lê-la com calma.

Nós duas começamos por ter alguma coisa em comum. Ambas sabemos que você está apavorada com o seu problema de bebida.

Você poderá ter qualquer idade; poderá ser uma universitária, uma jovem mãe, uma profissional admirada, a esposa do homem mais importante de sua comunidade ou uma avó que parece equilibrada. Você pode ser uma mulher extrovertida, animadora de qualquer festa, ou uma pessoa assustada, cheia de complexos de inferioridade e que, antes de tentar qualquer coisa, procura primeiro a coragem dentro de uma garrafa, não importa o quanto possa parecer fácil a outras pessoas o que terá que fazer.

Talvez você já tenha estado bebendo há meses ou mesmo anos, ficaria horrorizada e o negaria veementemente, se alguém a chamasse de alcoólica, mas secretamente está se perguntando se é ou não é. 

Posso responder-lhe já, pois, se você não pode controlar o seu modo de beber, se agora bebe mais do que admitiria, é provável que de fato seja uma alcoólica. Quando pronuncio esta palavra, me refiro a uma pessoa que sofre de uma doença. Uma enfermidade que progressivamente avança, diminuindo os horizontes de seu mundo, até que nada mais lhe reste de real, salvo o álcool.

Por você ser mulher, seus hábitos de beber são, com toda certeza, muito discretos, pois faz de tudo para escondê-los de todos, até de si mesma. E talvez tenha conseguido. Talvez ainda ninguém saiba que você beba, porque não ousa tomar nada em público, sabendo que este primeiro gole é o início de uma longa jornada para baixo.

Talvez você seja "uma alcoólica do quarto de dormir", e neste momento talvez eu a tenha seguido em pensamento para dentro de seu próprio quarto, onde pretende, com ares inocentes, pegar a garrafa escondida entre sua lingerie, ou numa caixa de chapéu lá naquela prateleira de cima. Pode até ser que a sua família ainda não tenha percebido nada, não suspeitou ainda de suas freqüentes "dores de cabeça". 


Análise psicodinâmica dos três primeiros passos do Programa de 12 Passos de Narcóticos Anônimos

Foto Getty Images Estudos
Por Miria Benincasa
Universidade do Contestado – Concórdia/SC (Brasil)

Apresentação

Este trabalho tem como objetivo realizar uma leitura dos três primeiros passos do programa de 12 passos de Narcóticos Anônimos a partir de um raciocínio psicodinâmico. Esta proposta foi baseada no interesse de investigar o processo pelo qual o drogadito se beneficia deste programa segundo uma coerência psicodinâmica, ou seja, transformando a linguagem original numa linguagem comum ao universo psicológico.

A leitura deste trabalho deverá ser iniciada a partir dos seguintes princípios: 1 - A análise realizada aqui considera que o drogadito esteja entrando em contato com o programa pela primeira vez, 2 - como a proposta do Programa de NA é manter este processo de recuperação por toda a vida, é sugerida uma leitura que corresponda á imagem de uma espiral, onde a cada recomeço do programa, novos recursos e mais eficientes vão sendo adquiridos, possibilitando, assim, um progressivo amadurecimento egóico.

Para uma melhor compreensão dos argumentos psicodinâmicos e da evolução de cada Passo, foram inseridas frases contidas no livro-base de Narcóticos Anônimos (1983) para ratificar e clarificar a idéia psicodinâmica que se expõe. Estas citações serão literais e serão identificadas pelas páginas no decorrer do texto. Inicia-se o estudo com a contextualização do quadro da drogadição através da exposição de algumas característica peculiares a este fenômeno seguindo a exposição de cada um dos Passos propostos pelo Programa.

Introdução

O adicto possui uma debilidade egóica que o torna incapaz de suportar a depressão, tendo que recorrer a mecanismos maníacos para sua sobrevivência. No entanto, "a reação maníaca só pode ter êxito com a ajuda das drogas, porque para a produção da mania se requer certa fortaleza egóica" que o adicto não tem (ROSENFELD, 1978). A repetição deste movimento com conseqüência satisfatória (êxito), ou seja, a manutenção de um estado maníaco e anulação (temporária) da angústia, promove uma debilidade cada vez maior do ego, pois seu repertório de defesa contra a angustia e a depressão, que já era pobre, vai se tornando cada vez mais ineficiente quando comparado ao recurso defensivo externo (droga). Este maior empobrecimento ocorre pelo fato do recurso droga provocar alívio imediato, não exigir adiamento da gratificação, capacidade de espera e elaboração de soluções mais eficientes, ou seja, não possibilita que o ego faça uso de seus recursos mais sofisticados. O que é estimulado, portanto, é o uso de "mecanismos de defesa de baixo nível" em detrimento a "mecanismos de defesa de alto nível" descritos por Otto Kernberg (1976). Os últimos vão ficando cada vez mais escassos na economia psíquica, promovendo um funcionamento cada vez mais regredido. É acionado, portanto, um modo de funcionamento primitivo (processo primário), a linguagem (entendida a linguagem como o modo de expressão no mundo) utilizada é a do princípio do prazer que, com a sistematização e progressão dos episódios tóxicos vai se tornando característica de personalidade, modo de funcionamento imperante. O processo secundário de funcionamento vai se tornando cada vez mais difícil de ser resgatado.

Percebe-se, portanto, que este processo, é um processo de escolha narcísica, ou seja, a escolha dele por um "ele melhor". Exemplificando este argumento com a literatura de NA (1983): "A parte espiritual de nossa doença é o total egocentrismo" (pág. 22). É a escolha do ego (por identificação projetiva) pelo ego ideal numa tentativa mágica de incorporação do ego ideal através de um objeto ideal (droga). Toma a si mesmo, seu próprio corpo (ego ideal) como objeto de amor (FREUD, 1914). Não há relação de amor com objetos externos. O objeto externo é usado para um gozo narcísico. Vemos identidade com esta leitura na literatura de NA (1983) onde se diz: "Nossa doença nos isolava das pessoas, a não ser quando estávamos obtendo, usando e arranjando maneiras de obter mais" (pág. 4), ou seja, o outro (como no bebê), era visto como instrumento de uso para gratificação. A "relação" com o outro era um meio e não um fim em si mesma. (Poderíamos aqui, pensar o porquê desta regressão a um modo de funcionamento tão primitivo, recorrendo à teoria de relações de objeto em Melanie Klein (1945), onde, na relação com o outro o bebê se frustra e, mediante a incapacidade de lidar com esta frustração, regride a um funcionamento já conhecido onde a gratificação predominava. No entanto, refletir sobre a causalidade deste fenômeno nos distanciaria da proposta inicial. Deixemos, então estas reflexões para um outro momento).

Há, portanto, um progressivo desinvestimento libidinal dos objetos externos (família, trabalho, etc..) paralelo a um progressivo investimento libidinal no ego ideal (si mesmo alucinado). Este estado geral é parecido com o estado do bebê que, nos primeiros meses de vida reconhece a mãe como uma extensão de seu próprio corpo. A mãe é concebida como veículo de gratificação e alívio, ou seja, o self materno fortalece o self do bebê (WINNICOTT, 1964). Proporciona prazer e reduz o desprazer. Não é uma unidade diferenciada dele e, qualquer evidência do contrário é negada alucinatóriamente para não causar dor e sofrimento. Identificamos congruência com a literatura de NA (1983) quando é dito: "Alguns de nós começaram a ver os defeitos da adicção nas pessoas mais próximas. Dependíamos muito delas para nos arrastarem pela vida. Sentíamos raiva, frustração e dor quando elas encontravam outros interesses, amigos e pessoas queridas" (pág. 7). Esta situação é similar a do bebê. No entanto, este precisa ser "arrastado" por sua evidente ausência de recursos para sobreviver. O drogadito, apesar de possuir recursos físicos mais desenvolvidos que o bebê que poderiam promover certo grau de independência, possui recursos emocionais muito parecidos com os de um recém nascido. Estes recursos precários o paralisam e o tornam dependente da droga na mesma intensidade em que o bebê é dependente da mãe (que neste período também é objeto ideal). Podemos lembrar que qualquer psicopatologia que por ventura venha a se manifestar na vida não é estranha ao aparelho psíquico .Em algum momento do desenvolvimento psicossexual este funcionamento (hoje psicopatológico) foi considerado normal (FREUD, 1905; HEIMANN, 1982). Fica evidente, portanto, que existe um funcionamento com tendência à escravidão e à submissão que está ligado ao objeto ideal droga, mas poderia estar ligado a qualquer outro objeto como um dia esteve ligado ao objeto mãe sem ser considerado patológico. Na literatura de NA (1983) isso fica evidente da seguinte forma: "Nossa incapacidade de controlar o uso de drogas é um sintoma da doença adicção. Não somos impotentes apenas perante as drogas, mas também perante a adicção". Aqui fica claro um reconhecimento deste funcionamento precário, com recursos precários.

O bebê ainda não consegue protelar quando sente dor, angustia e falta. Não tolera minimamente a espera. O bebê utiliza todos os recursos disponíveis para que esta idéia se sustente (conseguir gratificar-se a si próprio); por exemplo, quando está com fome e a gratificação não é imediata (demanda espera), o bebê, levando o dedo à boca alucina auto-suficiência (capacidade de satisfazer-se a si próprio), negando a dor (fome) e a realidade (necessidade de espera para gratificação eficiente e necessidade de ajuda na relação com o outro). Ele ainda não tem recursos egóicos para lidar com a dor e a realidade, assim como o drogadicto, que não tem recursos egóicos para lidar com sua dor e sua realidade, tendo também, que alucinar auto-suficiência. No entanto, esta alucinação só é adquirida e mantida através de um recurso externo (droga).

Porém, dependendo dos recursos egóicos de cada bebê e da economia pulsional inata, o princípio de realidade se impõe. Ele percebe que a dor (fome) não passa, apesar dos recursos utilizados (dedo na boca) e ele tem que admitir sua impotência em satisfazer-se onipotentemente. Chegamos, então ao Primeiro Passo.

Primeiro Passo - "Admitimos que éramos impotentes perante a nossa adicção, que nossas vidas tinham se tornado incontroláveis".

A imposição do princípio de realidade gera um conflito, e, portanto, uma egodistonia . O que antes era egossintônico: ideal drogaditivo, através da imposição dolorosa da realidade, tornou-se egodistônico (KALINA, 1983). A solução dada até então para qualquer forma de angústia e de dor tornou-se ineficiente (O dedo na boca disfarça a fome apenas por um período). Devido a condições pulsionais inatas, para alguns, a realidade se impõe e para outros não (a impotência jamais será sentida se depender de recursos egóicos próprios, é necessário, nessas situações, uma intervenção externa - quando, por exemplo, a intervenção terapêutica adequada é uma internação compulsória). O tratamento só é eficiente quando está inserido um conflito, ou seja, uma quebra no ideal drogaditivo. Kalina9 explica este fenômeno da seguinte forma: "O adicto é um ser que pôs em funcionamento a parte psicótica da personalidade. Não responde à prova da realidade, nem à de experiência, não tem consciência da doença ou a tem parcialmente (ou melhor, dissociadamente) e vive de acordo com o delírio, que se converte, assim em sua própria ideologia de vida. Funciona egossintonicamente com seu delírio drogaditivo e, por isso, a internação, em regra geral, deveria ser a primeira medida a ser tomada para tentar sua reabilitação, pois necessitamos criar-lhe um conflito, uma egodistonia" (KALINA, 1983). No entanto, se considerarmos as diferenças pessoais de um modo geral e dos drogaditos em particular, percebemos que, por condições pulsionais inatas ou por recursos egóicos adquiridos (fixação libidinal em estágios mais avançados do desenvolvimento psicossexual), alguns reconhecem a realidade e a sua impotência sem necessitar de intervenções como a internação compulsória, ou seja, o conflito é instalado por recursos próprios. O programa de NA, portanto, só é capaz de beneficiar indivíduos que possuem recursos suficientes para reconhecer a realidade externa.

Na literatura de NA (1983), identificamos a idéia de conflito da seguinte forma: "Quando dizemos não temos escolha (inexistência de conflito, apenas um caminho a seguir), mostramos a incapacidade de parar de usar (...). No entanto, nós temos uma escolha (conflito instalado, mais de um caminho a seguir) quando paramos de tentar justificar nosso uso" (pag. 21).

Lembramos, portanto, que o programa de NA propõe a aquisição de recursos egóicos mais sofisticados e elaborados que vão sendo adquiridos sistematicamente. A proposta (Primeiro Passo) exige um compromisso definitivo com a realidade e com o processo secundário de funcionamento: "Nenhum dos passos trabalha por mágica" (NARCOTICOS ANÔNIMOS, 1983, pág. 24). Este pode ser considerado o mais importante dos passos por inserir este compromisso com a realidade externa. Nosso objetivo aqui é fazer uma leitura psicodinâmica deste processo. A posição esquizo-paranóide, antes predominante, dá lugar a uma posição depressiva, ou seja, o delírio de amor narcísico sustentado pela droga, dá lugar a uma ansiedade depressiva (confluência de amor e ódio pelo mesmo objeto - si mesmo) que é expresso pela forma de culpa mais arcaica e angustiada devido a sentimentos ambivalentes para com um objeto (KLEIN, 1982). "Ao nos sentirmos derrotados ficamos prontos" (NARCÓTICOS ANÔNIMOS, 1983, pág. 21). Apesar de sentir-se fracassado, está vivo e pretende manter-se assim (predomínio do instinto de vida). Para que o drogadicto suporte este acumulo de angústia, é necessário que tenha alguma estrutura egóica adquirida durante seu desenvolvimento. O bebê, em certo estágio do desenvolvimento, já se acha física e emocionalmente maduro para integrar suas percepções fragmentadas da mãe, reunindo as versões (imagos) boas e más. No entanto, neste Primeiro Passo, o adicto ainda está num estágio anterior. Ainda está integrando sua própria imagem, suportando sua ambivalência em relação a si próprio, ainda não considera a existência de um outro. Está se reconhecendo progressivamente um bebê vulnerável e desprotegido e, "até abrir mão de todas as restrições, estará colocando em risco os alicerces de sua recuperação" (NARCÓTICOS ANÔNIMOS, 1983, pág. 22). A introdução de um outro diferenciado, na vida anímica surge, então, no Segundo Passo.

Segundo Passo - "Viemos a acreditar que um Poder maior do que nós poderia devolver-nos a sanidade".

Até aqui, identificamos um salto na qualidade de recursos egóicos adquiridos. O drogadito, que tinha referências alucinatórias, vivia pelo princípio do prazer e com predominância do processo primário de funcionamento , portanto, em posição esquiso-paranóide - recursos egóicos e desenvolvimento emocional de um bebê de 2 a 4 meses ; já adquiriu um compromisso com a realidade interna e externa, suporta ambivalências, dores e vive o luto do narcisismo ou seja, predomínio da posição depressiva (recursos egóicos de um bebê mais maduro).

Após o reconhecimento de sua insuficiência, é necessária a inserção de um outro no universo anímico que sirva de referência e continência. O vínculo que antes era com um objeto idealizado concreto (droga), passa a ser com um objeto simbólico (Deus) - Podemos observar que a passagem de um vínculo concreto para um vínculo simbólico pressupõe uma aquisição (recente) de recursos egóicos mais elaborados. Este outro é primeiramente idealizado e de permanência constante - como uma forma de vínculo adesivo (Hinshelwood, 1992, págs 355/356) - ao indivíduo e, por isso, a escolha do símbolo universal Deus ("Poder maior do que nós"). Recorremos a Winnicott (1958) em "A capacidade de estar só" para dar um sentido psicodinâmico a este fenômeno. O autor propõe que, inicialmente, a criança só é capaz de estar sozinha na presença de alguém, ou seja, consegue manter sua recém adquirida (mas, ainda frágil) integridade egóica e não recorrer a mecanismos primitivos de funcionamento (regredir) se tem por perto alguém (mãe para o bebê e Poder Superior para o adicto) com maturidade egóica suficiente para protegê-lo dele mesmo (de seus impulsos destrutivos). O ego maduro desta mãe, com seus inúmeros recursos, dá continência ao ego débil do bebê / criança. Na literatura de NA (1983) encontramos: "O Primeiro Passo deixa-nos (como herança) a necessidade de acreditarmos em algo que nos ajude com nossa impotência, inutilidade e desamparo.(...) O primeiro passo deixou um vazio em nossas vidas" (pág. 24). Presença de ansiedade depressiva, reconhecimento de limites do corpo e do ego. Para o drogadito a companhia constante de um ego mais estruturado só é possível através de um processo de simbolização deste outro – "... podemos escolher o grupo, o programa, ou podemos chamá-lo de Deus" (NA, 1983, pág. 26). Este outro deve possuir recursos suficientes que amparem a insuficiência do ego – "preencha o vazio" (NA, 1983, pág. 24). Percebemos, aqui, a aquisição de recursos egóicos mais desenvolvidos - idade emocional de um bebê no início da infância - possui independência protegida. Para Melanie Klein (1930), “o simbolismo não constitui apenas o fundamento de toda fantasia e sublimação, mas também sobre ele se constrói a relação do sujeito com o mundo exterior e com a realidade em gera”.

A título de curiosidade, podemos complementar a análise deste Segundo Passo através da "Imagem de Deus" segundo Jung (1988) que pode ser compreendida como o símbolo da totalidade psíquica. O autor explica: "Só por meio da psique podemos constatar que a divindade age em nós; desta forma, somos incapazes de distinguir se essas atuações provêm de Deus ou do inconsciente, isto é, não podemos saber se a divindade e o inconsciente constituem duas grandezas diferentes... Pode-se constatar que existe no inconsciente um arquétipo da totalidade... que se aproxima da imagem de Deus". Portanto, o drogadicto que estava pondo em funcionamento apenas a parte psicótica de sua personalidade (KALINA, 1983), a integra, podendo estabelecer compromisso com outras instâncias psíquicas que estavam inoperantes, como, por exemplo, seu núcleo neurótico. A partir deste momento, inicia-se o uso mais freqüente de mecanismos de defesa de alto nível (KERNBERG,1976), na presença deste outro protetor, o ego torna-se mais forte para arriscar fazer uso de recursos mais elaborados da personalidade como os recursos neuróticos. Desta forma, a existência deste outro, devolve ao adicto, a sanidade (primeira possibilidade de não funcionar de forma psicótica e com ansiedade psicótica).

No desenvolvimento psicossexual, surge um momento que, através do amparo de um outro perfeito, a criança consegue suportar suas deficiências e qualidades, torna-se capaz de reconhecer seus limites mas ainda não suportaria encontrar um outro que não fosse apenas dedicação, altruísmo, continência, acolhimento e proteção, ou seja, o outro é idealizado sem limites nem restrições (a mãe, neste momento, cumpre esta função). Identificamos aqui, a mesma forma de funcionar do drogadito que chegou a este Segundo Passo (Deus, neste momento, cumpre esta função). Ele, como a criança, se torna capaz de integrar os vários aspectos do outro diferenciado quando avança mais em seu desenvolvimento psíquico, portanto, no Terceiro Passo.

Terceiro Passo - "Decidimos entregar nossa vontade e nossas vidas aos cuidados de Deus, da maneira como nós O concebemos."

Depois de acreditar num Poder Superior simbiótico (mãe/bebê), inicia-se a diferenciação eu-outro. Para que haja entrega, é necessário um outro separado, não-fundido ao ego. É um momento de aprendizagem com este outro, modelagem a partir do outro. "Oriente-me na minha recuperação. Mostre-me como viver" (NA, 1983,pág. 28). É a introdução da lei, das regras e dos limites (esta é a função e a representação de Deus neste momento). Recorremos aqui ao conceito de "função paterna" (HINSHELWOOD, 1992, pág. 306/307), onde existe a interdição da fusão. Aqui, o drogadicto inicia, através do outro (Deus), o resgate de um código valorativo que o sustente. O superego está fora do aparelho psíquico (Deus). Finaliza-se o processo de identificação adesiva (HINSHELWOOD, 1992, pág. 355/356) predominante no Segundo Passo e inicia-se um uso mais freqüente do mecanismo de identificação (mais elaborado que o anterior), onde reconhece, fora, características e modelos que podem ser introjetados ao repertório do ego e do superego. A crença em um "Deus amoroso" (superego amoroso) é importante para a reconstrução deste superego que, inicialmente era sádico, rígido e altamente exigente e, por isso, precisava ser apaziguado pela droga – É possível relembrar aqui a célebre frase de Gammil (1981): "O superego do alcoolista é solúvel em álcool". O vínculo adesivo mantido durante o segundo passo cumpriu a função que era da droga antes do início do programa, ou seja, apaziguou o superego sádico e rígido. Se este passo não for cumprido com dedicação, será impossível a manutenção dos benefícios do Terceiro Passo. "Alguns de nós, a princípio, não levaram esse passo a sério; passamos por ele com pouco interesse, para constatarmos depois que os passos seguintes não funcionavam até que trabalhássemos o Passo Dois" (NA, 1983, pág. 24). Isso significa que, para obter sucesso no Terceiro Passo, é necessário que tenha havido uma identificação adesiva com um superego suficientemente amoroso e flexível para que seja suportável uma diferenciação posterior. É o início da “capacidade de estar só” sem precisar do olhar externo. No entanto, ainda é necessário um "objeto transicional", por ser a "primeira possessão não-eu". Para Winnicott (1983), "Uma característica essencial dos fenômenos e objetos transicionais reside na qualidade de nossa atitude quando o observamos", ou seja, "da maneira como nós O compreendemos". O drogadicto, neste momento, adquiriu recursos para estar sozinho e quando for necessário, "pedir orientação". O Terceiro Passo é também o momento de introjeção e manutenção deste superego no aparelho psíquico, ou seja, um momento de aquisição e vivência de um código valorativo que, no início deste passo estava localizado externamente, mas com um bom empenho ao programa, estará introjetado.

Considerações finais

Observa-se que o programa de 12 passos oferece ao adicto oportunidade de amadurecimento egoico similar às oportunidades necessárias para o desenvolvimento infantil. A aquisição de recursos mais sofisticados têm como objetivo conduzir o adicto, ou seja, “dependente” (da droga) à independência e autonomia. O desenvolvimento da criança percorre este mesmo processo, sendo, enquanto bebê, dependente da mãe, tendendo a desenvolver certo grau de autonomia no decorrer do tempo.

Com esta análise pretendeu-se oferecer aos psicólogos que trabalham com o fenômeno da drogadição e possuem orientação psicodinâmica, alternativas teóricas para intervenção em modelos de tratamento que incluam o programa de 12 passos.

Referências Bibliográficas

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Freud, S. (1905) “Três ensaios sobre a teoria da sexualidade”. Edição Standard das Obras completas de Sigmund Freud, vol. VII, Rio de Janeiro: Imago, 1980
Gammil, J. (1981) “Narcisism, toute, puissance et dépendance“. In: Le psychanalyste à l’écoute du toxicomaine. Paris: Dunod
Heimann, P. Isaacs, S. (1982) “Regressão“. In: Klein, M. Os progressos da psicanálise. Rio de Janeiro, Editora Guanabara Koogan.
Hinshelwood, R. D. (1992) Dicionário do pensamento Kleiniano; tradução de José Otavio de Aguiar Abreu. Porto Alegre: Artes Médicas, pág. 306, 307
Hinshelwood, R. D.(1992) Dicionário do pensamento Kleiniano; tradução de José Otavio de Aguiar Abreu. Porto Alegre: Artes Médicas, pag. 355-356
Jung, C. G.(1988) Interpretação Psicológica do Dogma da Trindade. Petrópolis: Vozes
Kalina, E. (1983) Drogadição. Indivíduo, família e sociedade. Rio de Janeiro: Francisco Alves
Kernberg, O. (1976) Object Relations Theory and Clinical Psychoanalysis. New York: Jason Aronson.
Klein, M.(1930) “A importância da formação dos símbolos no desenvolvimento do ego”. In: Klein, M. Contribuições à Psicanálise. São Paulo, Editora Mestre Jou, 1947
Klein, M. (1982) “Algumas conclusões teóricas sobre a vida emocional do bebê”. In: Klein, M. Os progressos da psicanálise. Rio de Janeiro, Editora Guanabara Koogan.
Klein, M (1945). “O Complexo de Édipo à luz das primeiras ansiedades”. In: Contribuições à Psicanálise. São Paulo, Editora Mestre Jou, 1947.
Narcóticos Anônimos. (1983) Os Doze Passos e as Doze Tradições (livro azul).
Rosenfeld, H. (1960) “Sobre la adicción a las drogas”. In: Rosenfeld, H. Estados Psicóticos, Buenos Aires: Ediciones Horme S.A.E. 1978
Winnicott, D.W. (1958) “A capacidade de estar só”. In: Winnicott, D.W. O ambiente e os processos de maturação: estudos sobre a teoria do desenvolvimento emocional. Porto Alegre, Artes Médicas, 1983
Winnicott, D.W. (1964) “O relacionamento inicial entre uma mãe e seu bebê”. In: Winnicott, D.W. A família e o desenvolvimento individual. São Paulo, Martins Fontes, 2001
Winnicott , D.W. (1960) “Teoria do relacionamento paterno-infantil”. In: Winnicott, D.W. O ambiente e os processos de maturação: estudos sobre a teoria do desenvolvimento emocional. Porto Alegre, Artes Médicas, 1983

Crédito: http://psicolatina.org/Siete/passos.html

DESCOBERTAS MARAVILHOSAS

Foto: Alcoólicos Anônimos- www.aabr.com.br

Eu queria ser o membro mais "bem-sucedido" do meu Grupo de A.A. Mas demorou um bom tempo até que pudesse pensar claramente. Permaneci sóbrio, principalmente por causa do medo e da emoção de tentar levar a mensagem. Falava freqüentemente e detalhadamente sobre o valor de se "praticar os Passos" e "viver esta nova forma de Vida". Infelizmente isso era tudo que fazia – falar. Na realidade, não tentei praticar os Passos.

Ao invés disso, tentava encontrar ajuda espiritual e paz de espírito através da minha igreja. Tinha certeza de que seria recompensado com saúde e felicidade por essa atividade. Não deu certo. Embora nunca mais tomasse outro gole, minha saúde geral declinava. Tornei-me altamente nervoso e tenso. O resultado foi que uma úlcera, a pressão alta e uma neurite aguda finalmente levaram-me para o hospital, onde fiquei quase cego, aleijado e cheguei bem próximo da morte.

Depois que descobriram a principal causa clínica da minha doença, os médicos disseram que eu sobreviveria, afinal de contas. Tive então muito tempo para pensar e meditar. Fiz um retrospecto de toda a minha vida – os anos anteriores a A.A. e os doze anos em A.A. De alguma forma, senti-me livre para contemplar objetivamente aquilo que eu fora e no que havia me tornado. Pela primeira vez em minha vida, ficou perfeitamente claro para mim que eu era um vilão total, um perfeito patife. Era tão autocentralizado, tão cheio de ego que quase havia me destruído. Durante os anos em A.A., aprendera quase nada além de "manter a rolha na garrafa". Havia negligenciado em tentar praticar todos os Doze Passos do programa.

Naquele momento, ocorreu-me que Deus me salvara duas vezes da autodestruição. Comecei a experimentar um verdadeiro sentimento de gratidão e tentei agradecer a Ele. Tinha uma forte sensação de que Deus me poupara para uma finalidade. Para expressar minha gratidão, queria passar o resto da minha vida tentando ajudar os outros e sabia que um dos melhores lugares para se trabalhar era a Irmandade de Alcoólicos Anônimos, sem minhas antigas e superficiais idéias de "sucesso".

Descobri a satisfação de ajudar a arrumar as cadeiras para uma reunião e de limpar os cinzeiros. Logo percebi que o serviço em A.A. pode ser extremamente recompensador, e eu adorava trabalhar. Sim, voltei atrás e comecei tudo de novo em relação aos Doze Passos, e conheci o deslumbramento de outras descobertas – acerca de mim mesmo e do meu Poder Superior. Teria conseguido isso anos atrás, se houvesse seguido o programa e estivesse, como diz o Livro Grande, "disposto a fazer qualquer coisa para consegui-lo". A.A. me concede hoje o privilégio de estar em paz em um mundo de pessoas "normais". A Irmandade me dá a oportunidade de tentar viver e trabalhar na minha igreja e na minha comunidade e talvez oferecer, também nessas áreas, uma pequena contribuição para tornar as coisas apenas um pouquinho melhor para aqueles que ainda estão por vir. Cordell, Oklahoma

Secretaria de Literatura da AABR
E. e M. P.

Faça uma visita: http://www.aabr-online.com.br/prochatrooms/

sexta-feira, 29 de agosto de 2014

FAMÍLIA COMO PONTO CHAVE NO TRATAMENTO DO DEPENDENTE QUÍMICO

A FAMÍLIA COMO PONTO CHAVE NO TRATAMENTO TERAPÊUTICO DE PACIENTES PORTADORES DE TRANSTORNOS PSIQUIATRICOS E DEPENDENTES QUÍMICOS

Orientações

Resumo: Este artigo tem por objetivo promover uma breve reflexão sobre a importância da família durante o tratamento terapêutico, como um suporte no tratamento e no que se trata dos cuidados básicos e essenciais ao paciente.

Introdução

A todo o momento, o ser humano é cobrado e influenciado pelo meio social em que vive, e este meio também determina como ele deve agir pensar e se comportar. Se ele fugir as normas sociais conseqüentemente será punido pela sociedade, com isso a todo o momento o individuo é vigiado por esta, e por ele mesmo, sendo assim o nível de estresse ao qual é submetido todos os dias é alto, saindo às vezes do “normal” para a “loucura” o que passa a ser um risco, porém nem mesmo na condição de portador de transtorno mental e ou dependente químico, o individuo se livra da cobrança e do julgamento social, e como não pode mais obedecer às regras sociais, passa a ser excluído do convívio em sociedade. A família em muitos casos faz parte deste processo de exclusão do doente, muitas vezes por medo, desconhecimento, ou simplesmente pelo estigma de ter em seu convívio familiar um doente tido pela sociedade como alguém sem capacidades, “louco” ou “drogado”. Percebemos as dificuldades e a carga psicológica na qual as famílias estão expostas, porem é essencial, todo e qualquer apoio nestes casos, sendo de suma importância seu envolvimento e participação durante todo o tratamento terapêutico vivenciado pelo paciente ao longo de sua internação, a fim de conhecer e entender melhor a problemática tornando-se participe deste processo.


O Papel da Família no processo terapêutico do paciente


A família é um conjunto de pessoas que se encontram, ligadas por laços afetivos, têm objetivos em comum, e um funcionamento específico. No caso desse funcionamento ser alterado, como quando um dos membros está internado, é natural que surjam dúvidas e insegurança em todo e qualquer membro da família. É um momento de tomada de decisões que podem ser fáceis ou não, há que adaptar uma postura diferente para que o problema seja solucionado, neste caso, para que a pessoa internada atinja o estado de saúde ou, no caso de não se encontrar doente, que possa retornar a casa (TORRENTS et.al, 2004). O apoio familiar é muito importante, sendo mais ainda durante o tratamento, porém esse papel no trato com o doente não é fácil, pois vários são os sentimentos que ela pode apresentar diante dessa situação, tais como culpa preconceito e incapacidade. Além do preconceito que os portadores de transtornos mentais e dependentes químicos sofrem da sociedade, eles também são submetidos aos da família, que se sente envergonhada pela sociedade pelo simples fato de não terem conseguido formar um individuo “saudável” e preparado para cumprir com suas obrigações sociais. Não é possível julgá-las, pois também são vitimas da sociedade assim como o doente, mas é possível reconhecer a importância dela na vida de qualquer ser humano.

Os familiares tornam-se essenciais no processo de tratamento do doente, no entanto necessitam saber como lidar com as situações estressantes, evitando comentários críticos ao paciente ou se tornando exageradamente super protetores, dois fatores que reconhecidamente provocam recaídas. Torna-se muito importante que os familiares dosem o grau de exigências em relação ao paciente, exigindo assim mais do que ele pode realizar em dado momento, porém sem deixá-lo abandonado, ou sem participação na vida familiar. Conhecendo melhor a doença e tendo um diagnóstico claro, a família passa a ser um aliado eficiente em conjunto com a medicação e a terapêutica trabalhada pela equipe multiprofissional.

O papel da família e importantíssimo em todas as fases do processo terapêutico, porém fundamental no inicio do tratamento onde o paciente ainda não percebe claramente que aquilo que acontece com ele é decorrente de uma doença, sendo que para este alucinações e delírios são reais, dizer ao paciente que tudo não passa de sua imaginação não resolve, ao contrario isso aumenta sua resistência ao tratamento. Tanto a família quanto a equipe responsável pelo paciente necessitam estar alinhadas objetivando adquirir confiança e vinculo, para que se estabeleça uma relação de confiança e de aceitação ao tratamento, o que ira garantir a efetivação do tratamento e conseqüente melhora. Podemos perceber que a recuperação de uma pessoa com transtorno mental ou dependente químico é um processo longo, e em muitos casos gradual e lento, no entanto combinando varias abordagens os resultados tornam-se assertivos e em muitos casos muito satisfatório.


Ao mesmo tempo em que se trata o quadro de doença do paciente, a família deve receber total atenção no sentido de ser orientada em sua abordagem ao paciente ou em sua dinâmica de relacionamento durante o processo terapêutico, visto que em muitos casos a família adoece em conjunto, sendo necessário um processo de escuta, apoio e orientação. Trabalhar com famílias traz átona traços relacionados à dinâmica funcional familiar muitas vezes já cristalizados ao longo do tempo e que necessitam serem repensados e apreendidos, sendo estes responsáveis pelo agravo da situação doença do paciente.

É importante que a família sinta que ode fazer algo para ajudar o seu familiar a recuperar-se quando tal e possível e, mesmo quando não é, que seja capaz de compreender a situação e acompanhar o paciente, dando apoio, compreensão, carinho e dedicação (LAZURE, 1994).

Processo Terapêutico

O processo terapêutico é o momento onde o paciente passa por cuidados efetivos exercidos pela equipe multiprofissional tendo por finalidade o tratamento dos sintomas de sua doença e a manutenção e garantia de sua continuidade ao tratamento tendo o suporte adequado para este fim, visando sua recuperação e melhora. É neste momento também que estão lado a lado à equipe multiprofissional e os familiares do paciente, juntos pelo mesmo objetivo o da melhora e qualidade de vida do paciente.

Diante desde complexo cotidiano, as ações dirigidas às famílias devem estruturar-se de modo a favorecer e fortalecer a relação familiar/profissional/serviço, entendendo que o familiar e fundamental no tratamento dispensado ao doente (ROCHA ET ali, 2000).

É neste momento em que são feitas abordagens especificas como a coleta de dados, a escuta sensível e a analise da equipe em relação à família. Também é neste momento em que são feitas as intervenções e trabalhos de educação familiar com vistas ao conhecimento de seu papel, significado e vínculos. Os profissionais utilizam-se neste momento de ferramentas especificas em cada especialidade como, por exemplo: grupos, como alternativa de trabalho e sensibilização dos cuidados e da manutenção de vínculos junto ao paciente durante todo o processo terapêutico. O sucesso do tratamento depende de um conjunto de fatores que cerceiam a rede social em que o paciente esta inserido.

Percebemos que durante o processo terapêutico onde os familiares estão inseridos e participantes, conseguem lidar com menos apreensão e assim oferecer cuidados de melhor qualidade ao doente, principalmente quando estão inseridos em reuniões e/ou grupos de família ou em outros processos, sendo estes espaços propícios para a reflexão, discussão, escuta, troca de vivencias, angustias e orientações, constituindo-se estes como efetivos espaços privilegiados de atendimento familiar.

Considerações

Evidenciamos que a participação da família no processo terapêutico dos pacientes portadores de transtornos mentais e dependentes químicos é fundamental e contribui de forma significativa no tratamento e conseqüente melhora. O paciente sente-se valorizado e confiante de sua recuperação, quando sente a efetividade da participação familiar.

Percebemos que os pacientes sofrem e suas famílias necessitam serem atendidas em suas reais necessidades pela equipe respeitando sua forma de constituição, porem levando em consideração os vínculos estabelecidos e a dinâmica funcional, reconhecendo e respeitando suas limitações, procurando trabalhar preconceitos e/outras formas de entendimento da situação problema do paciente.

A relação familiar é o sustentáculo e a base para uma boa estrutura emocional para o paciente, tanto para a prevenção de uma crise, quanto para sua manutenção e recuperação (ROCHA, ET ali, 2000).Fato pelo qual torna-se essencial sua participação em todos os processos terapêuticos no qual o paciente esta inserido o que ira propiciar uma melhor adequação do paciente ao tratamento e consequente melhora.Estimulando reflexões sobre a inserção da família no processo terapêutico do paciente e que este artigo se aplica.

Fonte: Blog Outros Olhares
REFERÊNCIAS


ALCANTARA, Geisa Souza. Gomes, Juliana da Silva. O papel da família no processo de ressocialização de pessoas acometidas por transtornos psíquicos. Trabalho de conclusão de curso- Faculdade Vasco da Gama. Salvador. 2011.


COLVERO, Luciana de Almeida; IDE.Cilene A, C.ROLIM. Marli. Alves. Família e doença Mental: a difícil convivência com a diferença. Rev Esc Enfermagem. 38(2):197-205. USP 2004. São Paulo.


LANA, Claudia. DIAS, Juliana, LUCIANA Regina. O Estigma da Doença Mental para pacientes, familiares e a sociedade. Rev. Esc. Enfermagem. USP 2006; 40 (1):123-7.São Paulo.


LAZURE, H.Viver a relação de ajuda: abordagem teórica e prática de critério de competência da enfermeira. Lisboa: Lusodidacta, 1994.


PEREIRA. Maria A.O.JR.Alfredo Pereira. Transtorno Mental: dificuldades enfrentadas pela família. Rev. Esc. Enfermagem.; 37(4): 92-100. USP 2003. São Paulo.


TORRENTS Et AL,Vivências do cliente/pessoa e da família face ao internamento hospitalar. 2004.




Crédito: ÚNICA - GRUPO MARISTAS http://www.uniica.com.br/orientacoes/a-familia-como-ponto-chave-no-tratamento-terapeutico-de-pacientes-portadores-de-transtornos-psiquiatricos-e-dependentes-quimicos/

domingo, 24 de agosto de 2014

Dicas para melhorar a autocrítica

De maneira geral a autocrítica é extremamente benéfica e nos ajuda a sermos pessoas melhores, mas na sua forma negativa ou excessiva, ela gera timidez, ansiedade, depressão e inúmeros outros conflitos psicológicos. Gostaria de compartilhar com vocês algumas dicas e reflexões que vão ajudar a vencer a autocrítica negativa e/ou excessiva.

Mas o que é Autocrítica positiva, negativa e excessiva

Autocrítica seria a capacidade de olhar para si mesmo e observar seus defeitos e qualidades e a partir dai tomar atitudes para melhorar, quando ela é negativa se observa unicamente os defeitos e falhas que se possui e se ignora quase que por completo qualquer virtude que se possa ter. A consequência disso é que o individuo passa a se enxergar como alguém que as outras pessoas não gostam, menosprezam ou ridicularizam.

Quando essa auto avaliação é excessiva, o individuo fica o tempo todo se analisando, passa a ser alguém pouco natural ou perfeccionista, é o tipo de pessoa que quando resolve fazer alguma coisa fica horas revisando o que fez, muda várias coisas e por vezes desiste de fazer.

Como superar a autocrítica Negativa

Ninguém gosta do “Seu certinho” ou da “Dona certinha”. Se você imagina que as pessoas vão gostar mais de você ou vão te criticar menos por que você faz tudo direitinho... você está completamente enganado. Uma pessoa que não erra faz as outras pessoas enxergarem a suas falhas e se sentirem mal e dessa forma acaba ficando sozinho

Já ouviu aquela frase: “as pessoas te admiram por suas qualidades, mas te amam por seus defeitos” essa frase é extremamente verdadeira, é fácil notar que muitos das personagens e personalidades mais amadas de todos os tempos são pessoas com poucas qualidades, mas que trouxeram algo de bom para a vida das outras.

Como andam os seus padrões? Pessoas muito autocríticas estabelecem protótipos perfeitos de como elas deveriam ser e agir. Isso por que acredita que é isso que as pessoas esperam dela, quando na verdade, ninguém lhe faz cobrança.

Se você quer se aceito e admirado as outras pessoas também querem, passe a valorizar as outras pessoas e elas também vão te valorizar.



terça-feira, 19 de agosto de 2014

Dependência e transtorno de personalidade têm semelhanças


Ao articular as definições de personalidade borderline e de adicções, o psicanalista Marcelo Soares da Cruz observou  que ambos os transtornos possuem um funcionamento muito próximo, pois  baseiam-se em relações de adicções e carregam fortes sentidos dolorosos.

Relações adictivas são relações de dependência, seja de drogas, objetos, jogos, comportamentos ou mesmo até de pessoas. O Transtorno de Personalidade Borderline (TPB) também pode ser chamado de Transtorno de Personalidade Limítrofe (TPL) ou Transtorno Estado-Limite de Personalidade, entre outras denominações. Para Cruz, trata-se de uma maneira de estruturar uma personalidade. Quem sofre do transtorno possui relações turbulentas e oscilantes, apresenta desespero, vazio extremo e se sente constantemente ameaçado pela perda do outro. No entanto, esse outro dificilmente é de fato visto por suas características e pode ser facilmente substituído, quase que “coisificado”.
Cruz pesquisou o tema em sua dissertação de mestrado apresentada ao Instituto de Psicologia (IP) da USP. O objetivo era verificar se realmente existia uma relação entre a adicção e a organização de personalidade borderline.
A dissertação de mestrado teve orientação da professora Leila Salomão de La Plata Cury Tardivo, do IP. O estudo foi baseado em análises teóricas e se preocupou mais em buscar a essência das manifestações do sofrimento humano, apesar de serem algumas experiências com casos clínicos que tenham despertado os interesses iniciais do psicanalista acerca do assunto abordado.
O mestrado Reflexões sobre a relação entre a personalidade borderline e as adicções também relatou que a sociedade pós-moderna é carente em amparo e apresenta um esvaziamento que é dito ser preenchido por objetos e por propagandas, que vendem, acima de qualquer produto, uma identidade e promessa de completude. Essa contextualização da sociedade serviu para evidenciar que alguns casos de adicções e de personalidade borderlinepodem ser exaltados pela forma como se dá o mundo atual.
Borderline e adicções
Pessoas com Transtorno de Personalidade Borderline têm dificuldade em guardar o outro dentro de si sem que esse outro esteja concretamente presente, por isso tamanha insegurança. A automutilação é comum entre os pacientes, tanto para eles se sentirem mais vivos como para perturbar e mobilizar o próximo e assim obter evidências que eles existem para aquela pessoa.

O TPB não é caracterizado como psicótico pois não há rompimento total com a realidade. É uma condição difícil de se detectar já que ela pode ser confundida com depressão, bipolaridade ou psicopatia, devido alguns rompantes de ódio e raiva.
As adicções são socialmente mais difundidas e tratam-se de dependências por substâncias, sensações, objetos, entre outros. No caso dos adictos, também há um vazio que se busca preencher. Se o “borderline” tende a encarar o outro como objeto, o adicto faz o contrário. A droga, o jogo, o sexo, o objeto de dependência, enfim, passa a ser pessoa e não mais apenas o que realmente é. Há uma necessidade vital de um objeto que é tratada de forma compulsiva.
“A busca pela droga e o borderline apresentam desespero com pessoas e vão em busca da recuperação de algo fundamental que foi perdido”, esclarece o psicanalista. Apesar de os adictos optarem por objetos para compensar “o que foi perdido”, geralmente, como no transtorno borderline, a ausência é por conta de alguém. Ou seja, é provável que a falta de alguma figura familiar ou mesmo social seja um dos principais agravantes da adicção e da personalidade borderline.
Mudança de olhar
O autor da pesquisa conta que já teve contato com condições muito radicais daqueles que sofrem de adicções e da personalidade borderline. Ele afirma que, na maioria das vezes, os casos são incompreendidos e a dissertação de mestrado poderá ajudar a desconstruir a imagem daqueles que olham essas situações de fora e pensam que essas pessoas estão apenas se destruindo. “Apesar de se tratar de uma dissertação mais conceitual, ela serve justamente para situações concretas.

Dependência e Personalidade


Texto do site Psiqweb:

Dependência e Personalidade

Traços da personalidade vêem de uma matriz de determinantes biológicos, somados a fatores ambientais.
Dependências | Personalidade |

Depois da década de 90, com a atualização dos manuais de classificação psiquiátrica (CID.10 e DSM.IV), todas as crianças, adolescentes e adultos que cronicamente ameaçam, intimidam, agridem e incomodam os outros, bem como aqueles que violam normas sociais recebem um diagnóstico psiquiátrico. As crianças e adolescentes recebem o diagnóstico de um dos Transtornos Disruptivos do Comportamento, enquanto os maiores de 18 anos recebem o diagnóstico de Transtornos Anti-Social da Personalidade.
Quando tentamos relacionar o abuso de substâncias ou dependência química comTranstornos de Personalidade, estamos pensando predominantemente no adolescente, no jovem e/ou no adulto jovem. A classificação correta para os tipos de comportamentos problemáticos, possivelmente decorrentes de Transtornos de Personalidade é:Transtornos Comportamentais Disruptivos. Entre esses estão o Transtorno Desafiador e de Oposição, o Transtorno de Conduta e o Personalidade Psicopática. Todos eles chamados de comportamentos anti-sociais.
Entretanto, conforme veremos aqui, uma consideração muitíssimo importante em relação à dependência química é a Alteração da Personalidade, um diagnóstico quase nuncao considerado e que fará uma brutal diferença no prognóstico dos dependentes. 
Não há dúvida de que as pessoas com Transtorno da Personalidade têm severos problemas no relacionamento social e correm riscos de outros problemas adicionais. A classificação atual de "mau" comportamento usando os diagnósticos do DSM.IV deTranstornos Disruptivos do Comportamento e Transtornos Anti-Social da Personalidade, tem certa dificuldade porque, nos casos decorrentes de Transtorno da Personalidade o prognóstico estaria "fechado", ou seja, com poucas ou nenhuma possibilidades de reversão, mas, nos pouco considerados casos de Alterações da Personalidadeocasionadas pelo uso abusivo de substâncias, o quadro é muitíssimo mais otimista.

Transtorno Disruptivo do Comportamento e Dependência
O termo adicção ainda não é reconhecido oficialmente pela psiquiatria (em português também é um neologismo, existindo o termo adição), mas ele define condutas com características de dependência. Essa noção de dependência química é originalmente aplicada ao uso de substâncias, mas a dependência em si tem sido relacionado ao jogo, televisão, sexo, alimentação, etc. São atividades que podem determinar uma necessidade imperiosa de continuá-las, convertendo-se nas chamadas adicções comportamentais.

Um ponto de partida na classificação e identificação desses comportamentos anti-sociais deveria levar em consideração o importante papel da agressividade mal adaptada ou do "mau" comportamento. Algumas vezes a agressividade não é francamente expressa, por questões de educação, por exemplo. Nesses casos de agressividade velada o que passa a contar é a impulsividade.
Alguns trabalhos sugerem que os traços de agressividade-impulsividade estejam presente em crianças, adolescentes e adultos com Transtornos Disruptivos do Comportamento e com Transtornos Anti-Social da Personalidade, resultando em comportamentos delinqüentes e, principalmente, favorecendo alguma ligação com adependência química.


Os desvios comportamentais com predileção para a agressividade, irritabilidade e oscilações do humor, tal como existem nos Transtornos Comportamentais Disruptivos têm uma forte ligação para o uso de drogas ilícitas.
No DSM-IV estão agrupados o Trastorno de Deficit de Atenção e Hiperatividade eComportamento Disruptivo em um mesmo capítulo sobre Transtorno Diagnosticados na Infância e Adolescência.

Classifica entre os Transtornos do Comportamento Disruptivo o seguinte:
1 - Transtorno de Conduta e;
2 - Transtorno Desafiador Opositivo


Entre as dependências destacam-se, como paradigma, os chamados Transtornos por Consumo de Substâncias com Dependência, os quais produzem um grupo de sintomas cognitivos, comportamentais e fisiológicos. Essa dinâmica sintomática faz a pessoa continuar consumindo a substância, apesar da aparição de problemas significativos relacionados com ela. O diagnóstico de dependência de substâncias, segundo critériosDSM IV, pode ser aplicado a toda classe de substâncias, a exceção da cafeína. Auxiliando o diagnóstico de dependência ressalta-se uma necessidade irresistível de consumo, referida em inglês pelo termo craving, ou fissura em portugues, que se observa na maioria dos dependentes.
Entre os critérios de diagnóstico de dependência destacam-se a tolerância e aabstinência, sendo a primeira caracterizada pela perda progressiva dos efeitos obtidos, estimulando assim a necessidade de doses crescentes e, a segunda, pelo quadro clínico de extremo mal estar decorrente da interrupção do uso. Ainda que a tolerância e a abstinência não sejam condições suficientes para diagnosticar a dependência de substâncias, poderão sugerir também que a dependência tem um sólido componente fisiológico ou orgânico.
A Organização Mundial de Saúde (OMS) através do Código Internacional de Doenças (CID-10), preconiza que a dependência química é uma enfermidade incurável e progressiva, apesar de poder ser estacionada pela abstinência. Na CID.10 a dependência é definida como um...
“Conjunto de fenômenos comportamentais, cognitivos e fisiológicos que se desenvolvem após repetido consumo de uma substância psicoativa, tipicamente associado ao desejo poderoso de tomar a droga, à dificuldade de controlar o consumo, à utilização persistente apesar das suas conseqüências nefastas, a uma maior prioridade dada ao uso da droga em detrimento de outras atividades e obrigações, a um aumento da tolerância pela droga e por vezes, a um estado de abstinência física. A síndrome de dependência pode dizer respeito a uma substância psicoativa específica (por exemplo, o fumo, o álcool ou o diazepam), a uma categoria de substâncias psicoativas (por exemplo, substâncias opiáceas) ou a um conjunto mais vasto de substâncias farmacologicamente diferentes.”
OMS traça também diretrizes para o diagnóstico que deve somente ser feito, casos três ou mais critérios descritos tenham sido preenchidos por algum tempo durante o último ano.
 Diretrizes da OMS para diagnóstico de Dependência
1 - Forte desejo ou compulsão para usar a substância.
2 - Dificuldade em controlar o consumo da substância, em termos de início, término e quantidade.
3 - Presença da síndrome de abstinência ou uso da substância para evitar o aparecimento da mesma.
4 - Presença de tolerância, evidenciada pela necessidade de aumentar a quantidade para obter o mesmo efeito anterior.
5 - Abandono progressivo de outros interesses ou prazeres em prol do uso da substância.
6 - Persistência no uso, apesar das diversas conseqüências danosas.
O curso da dependência vária segundo o tipo de substância, a via de administração e outros fatores; mas habitualmente é crônico, com períodos de reagudização e remissão parcial ou total. A investigação indica que, juntamente com os efeitos desejados das substâncias e das características do meio ambiente, existem também fatores constitucionais no indivíduo que facilitam a dependência e que provocam o processo de recaída. Isso corrobora a fórmula sabidamente válida: fenótipo = genótipo + ambiente.
A fórmula acima significa que, para a dependência, seriam necessários a droga, o ambiente e as condições de personalidade do dependente. Assim sendo, para a existência da dependência química se destaca a presença de possíveis outros transtornos psiquiátricos prévios ao início da conduta adictiva. Com esse enfoque seria muito oportuno o considerar que esses pacientes possam ter uma alteração dos sistemas de neurotransmissão-neuromodulacão tanto previamente ao desenvolvimento da drogadicção, como provocados (e agravados), posteriormente, pelas próprias substâncias psicoativas que consumem (Cervila, 1999).
Além dos transtornos por uso de substâncias, modelo dos transtornos adictivos, existe, como já dissemos, outros transtornos conhecidos com o nome de adicções comportamentais. Para alguns autores esses transtornos estão dentro do espectro obsessivo-compulsivo. De fato, em nosso site consta como Transtornos do Espectro Obsessivo-Compulsivo.
Em todo caso, tanto os mecanismos de reforço cerebral, como os sistemas afetivos, em constante regulação recíproca parecem suficientemente relevantes para estabelecer padrões de conduta alterados em determinadas pessoas e para determinadas circunstâncias. Existem, além disso, potentes fatores etiológicos (biológicos, de aprendizagem, sociais e demográficos) que podem desencadear de forma particular em cada caso e para cada estímulo adictivo.
Entre esta variedade de transtornos de dependência comportamentais, destacam-se a adicção ao trabalho, ao sexo, ao namoro, ao exercício físico, e às compras, entre outras (Soler, 1999). Em alguns pacientes pode dar-se um estado poliadictivo ou de adicções alternantes, como várias adicções conjuntamente ou mais de uma adicção ao longo da vida.
CONTINUE LENDO O TEXTO:

Surto psicótico

Estava num lugar aprazível, me recuperando, quando um interno voluntário entrou numa crise e quis matar um terapeuta. O cara estava ensandecido e o que deixou ele assim foi o fato do terapeuta ter ido ao quarto do mesmo para acorda-lo. Depois de tudo resolvido o foco da reunião foi o comportamento do interno, que, para muitos, não passou de um surto psicótico. Outras pessoas discordaram. Dai me veio a ideia de buscar compreender, mais ou menos, o que vem a ser um surto psicótico. Então encontrei um texto bacana, sobre o tema e achei por bem posta-lo. Vamos ler um pouco mais? então lá vai:

Surto psicótico

Como já mencionei anteriormente estou participando do tratamento para recuperação de uma pessoa muito especial em minha vida e nesse tratamento que é realizado sem internações mas sim junto a família, um tratamento não só para o dependente, mas também para os familiares que são denominados de codependentes é triste ouvir as partilhas de cada familiar, mas o que mais me entristece e ver nossa juventude tão doente com o uso das drogas, muitos começam cedo demais e com o uso sem medida  e em demasia chegam a ter um surto psicótico; como é triste ver a situação desses jovens: ficam alheios a tudo numa condição que se assemelha ao Autista vivendo num mundo isolado e as vezes são muito violentos, como difícil ouvir os relatos das famílias destas pessoas, a dor de ver uma pessoa tão amada nestas circunstancia, pois não vivem vegetam e ainda por seu comportamento, servem de chacotas para pessoas desinformadas, minha tristeza é tamanha que resolvi pesquisar mais sobre o assunto e descobri que o surto psicótico  é caracterizado pela perda  da noção de realidade, e por uma desorganização do pensamento, que o surto psicótico pode ser causado por doenças como a esquizofrenia, por um trauma muito grande ou pelo uso de drogas como por exemplo a cocaína que é o caso de vários jovens que conheci. Graças a Deus descobrimos o problema ainda no inicio do uso e estamos com a ajuda da Instituição Claudio Amancio lutando para a recuperação de nosso Adicto querido.

ENTENDA O QUE É O SURTO PSICÓTICO
Foto: Getty Images


O surto psicótico pode causar delírios e alucinações

É durante um surto psicótico que ocorre uma perda de realidade, onde não há diferenciação entre o mundo real e o imaginário da pessoa. "Quando a pessoa está em uma crise psicótica, ela confunde os pensamentos internos dela com o mundo real. Ela não consegue distinguir o que são os pensamentos dela e o que realmente está acontecendo no mundo", comenta o psiquiatra da Unifesp, Marcelo Fernandes.
CONTINUE LENDO O TEXTO:

Dependência Química e outras doenças mentais



Os usuários de drogas são vulneráveis a doenças mentais ou algumas doenças mentais é que levam às drogas?

Uma das perguntas mais comuns sobre dependência química é saber, afinal, se os usuários de drogas são mais vulneráveis às doenças mentais ou se algumas doenças mentais é que levam ao consumo da droga? Excluindo-se o próprio fato da dependência, que já é uma doença, a pergunta que se faz é saber se a pessoa que continua usando drogas apesar de saber todo mal que ela causou e causa em sua vida é normal psiquiatricamente.

Conforme afirma o DSM-IV (Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais da Associação Norte-americana de Psiquiatria) o Transtorno por Uso de Substâncias, que engloba o abuso e a dependência a substâncias, encontra-se freqüentemente associado a outras patologias psiquiátricas. Assim diante de um paciente com uso problemático de drogas, seja dependência ou uso abusivo, devemos sempre investigar a existência de outra doença emocional; ou por baixo da dependência ou como conseqüência.

É provável até que a existência de outros transtornos emocionais co-mórbidos à dependência dificulte a adesão do paciente ao tratamento, proporcione resultados piores em termos de freqüência e quantidade da droga consumida, bem como do funcionamento psicossocial. É isso mesmo. Nem sempre é a droga em si a responsável exclusiva pela apatia ocupacional do dependente, pelos fracassos sociais e familiares. Muitas vezes sua própria personalidade se mostra algo inviável para a condução da vida.

São muitas as dúvidas sobre as causas, conseqüências e recusa ao tratamento da dependência. Seriam outros transtornos emocionais que causariam isso tudo? Quais patologias mentais estariam mais freqüentemente associadas ao uso de drogas? Tais doenças teriam uma evolução diferente por culpa das drogas? Quais os tratamentos e as prevenções mais apropriadas?

Muitos trabalhos de pesquisa têm mostrado uma elevada prevalência (13%) da associação de doença mental com uso abusivo de substâncias. Nas populações em tratamento psiquiátrico, tanto ambulatorial quanto em internação hospitalar, encontra-se 20 a 50% de co-morbidade entre as variadas doenças mentais com o alcoolismo e abuso de outras drogas (McCrady, 1999).

Observações inversas também ocorrem, pois nos centros especializados no atendimento ao dependente químico a co-morbidade com outros transtornos mentais também é maior, se comparada à população em geral. Em relação às doenças mentais mais severas, como são a esquizofrenia e o transtorno bipolar do humor, em quase metade dos pacientes também aparece a associação com abuso ou dependência de substâncias psicoativas (Alverson, 2000).

Embora não haja evidências na literatura de determinados transtornos emocionais e de personalidade como sendo causas do comportamento aditivo, a presença de Transtorno de Conduta na infância, de diagnóstico de Transtorno Afetivo Bipolar na adolescência e Transtorno Anti-Social de Personalidade ou Borderline seriam fortes fatores de risco para uso de drogas no futuro (Glantz, 2000).

Não obstante, há evidencias de que a desinibição de comportamento e o temperamento considerado "difícil" na criança possam representar fatores de risco para o uso futuro de drogas (idem). Em outras palavras, embora sem critérios suficientes para se constituir em relação causa-efeito, as observações mostram sugestiva associação de determinadas patologias mentais e traços de personalidade com o uso de drogas.

Uma das hipóteses que tentam justificar a associação entre dependência química e transtornos emocionais seria uma espécie de vulnerabilidade da pessoa para a doença mental. Neste caso a droga apenas desencadearia e agravaria os sintomas mentais dormentes.

O segundo modelo sugere que essa associação se dá em função da pessoa que se sente mal por conta de algum transtorno emocional buscar a droga como uma espécie de “automedicação”. Ela aliviaria os sintomas de sua depressão, sua ansiedade, obsessão, angústia e assim por diante.

A terceira hipótese supõe uma causa (biológica?) comum que predisporia o sujeito ao uso de drogas e à doença mental simultaneamente. Um quarto e último modelo entende a associação droga-doença mental como a ocorrência independente das duas coisas, apenas uma concomitância. Nesse caso o uso de drogas pela pessoa com doença mental seria determinado por fatores independentes daqueles da doença mental (Serge, 2001).

Esses quatro modelos podem ser usados para tentar explicar, por exemplo, a associação de uma pessoa com transtorno afetivo bipolar e dependência à cocaína, ou do transtorno obsessivo-compulsivo com o álcool, o transtorno de ansiedade, fóbico ou do pânico com maconha e assim por diante. É, inclusive, útil para entender o severo agravamento da tendência esquizofrênica (personalidade esquizóide, por exemplo) com abuso de craque ou coisa que o valha.

Já é muitíssimo conhecido das pessoas que lidam com pacientes internados o fato da maioria dos esquizofrênicos fumarem exageradamente, sugerindo algum substrato neurobiológico comum aos dois estados. Os pacientes esquizofrênicos que fazem uso de tabaco, iniciam seu uso exagerado em aproximadamente antes do inicio dos sintomas psicóticos em 86% dos casos (Beratis, 2001).

Segundo Moreira e Soares (2003), no caso da esquizofrenia e o tabaco, os achados neurobiológicos da esquizofrenia envolvem alterações em circuitos cortico-mesolímbicos associados tanto aos sintomas cognitivos, perceptuais e afetivos da doença, quanto ao comportamento de recompensa e fissura do tabaco, o que fortalece a hipótese de uma mesma causa para os dois estados.

Tecnicamente, a literatura científica vem estabelecendo o sistema dopaminérgico mesolímbico como o principal substrato biológico para o reforço positivo de psicoestimulantes, maconha, nicotina e álcool. Essas substâncias direta ou indiretamente aumentam a liberação de dopamina, um neurotransmissor, nos sistemas que envolvem os neurônios de uma determinada área cerebral (a área tegmentar ventral na sua conexão com o núcleo acumbens). Essas mesmas áreas cerebrais (mesolímbicas) estão envolvidas no comportamento de fissura pela droga (Chambers, 2001).

É interessante saber que esse mesmo sistema cerebral (mesolímbico) esta relacionado com os sintomas esquizofrênicos, com a ação dos medicamentos para esquizofrenia e com o desenvolvimento de sintomas psicóticos pelo uso de anfetaminas e cocaína, como é o caso da chamada “nóia” (sintomas francamente paranóicos).

O tratamento do dependente químico portador também de outra doença mental tem resultados melhores quando se integra o tratamento dos sintomas psíquicos do eventual transtorno com atitudes direcionadas à dependência. A existência de comorbidade aumenta a dificuldade no controle de cada doença isoladamente, ou seja, é mais difícil tratar um paciente deprimido e dependente de cocaína do que o tratamento da depressão ou dependência à cocaína isoladamente.

Tem sido comum a comorbidade de Transtorno Depressivo com uso diário de bebida alcoólica, com dependência ou não. Na maioria dos casos percebe-se claramente que o álcool está sendo usado como lenitivo da angústia, desânimo e tristeza próprios da depressão. Neste caso o sucesso terapêutico será inegavelmente maior se a depressão for tratada com mesmo entusiasmo que a abstinência do álcool. É bastante freqüente a associação de alcoolismo, dependência de cocaína ou anfetaminas com depressão. Não se pode tratar uma doença sem tratar igualmente a outra.

O quadro de Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade (TDAH), anteriormente acreditado afetar apenas crianças, é bastante associado ao consumo de cocaína. Os pacientes referem sentir-se aliviados com a cocaína. A semelhança neuroquímica entre esses dois estados deduz-se até pelo fato do tratamento do TDAH ser através de fortes estimulantes, como, por exemplo, o metilfenidato. Neste caso o tratamento precoce do TDAH, ainda em criança, deve ser encorajado até por uma questão de prevenção para a eventual futura dependência química.

A dependência a anfetaminas, cocaína e seus derivados (craque) leva a um quadro francamente psicótico, paranóico e alucinatório. Como não se trata de uma esquizofrenia franca ou genuína, falamos em quadro esquizofreniforme. Apesar de muito exuberante em sintomas, tudo isso se resolve em poucas semanas com a abstinência e o tratamento da dependência. Por outro lado, embora a esquizofrenia verdadeira não seja causada pelas drogas, poderá ser severamente piorada com o uso de destas, formando assim um círculo vicioso; esquizofrenia – drogas - piora da esquizofrenia – mais drogas... e assim por diante. Nesses pacientes o controle dos sintomas psicóticos é de grande importância para a redução na utilização da droga.

O Transtorno de Estresse Pós-Traumático (TSPT), também tem forte relação com o uso de drogas, tanto de cocaína quanto de maconha. Trabalho policial, violência urbana, guerras, acidentes e outros eventos traumáticos favorecem o TSPT e, conseqüentemente o uso de drogas (Brady, 2000).

O Transtorno de Pânico é outro quadro que também representa um risco aumentado para o uso abusivo de substância, notadamente do álcool. Estudo de McCrady (1999) mostrou uma prevalência de uso abusivo de drogas em 16% da população com Transtorno do Pânico.

É muito importante avaliar a presença de comorbidades nos pacientes com dependência química para maior eficácia do tratamento. Além de proporcionar o não-uso da substância, o tratamento objetiva assistir intensivamente a eventual síndrome de abstinência, a correção de estados agudos de ansiedade e depressão, idéias delirantes e eventuais alucinações.



para referir:
Ballone GJ - Dependência Química e outras doenças mentais - in. PsiqWeb, Internet, disponível em www.psiqweb.med.br, 2010.

Referências:
McCrady BS, Epstein EE - Addictions: A Comprehensive Guidebook. New York, Oxford University Press, 1999.
Brady KT e cols - Comorbidity of Psychiatric Disorders and Posttraumatic Stress Disorder. J Clin Psychiatry; 61 (suppl 7), 2000.
Serge S e cols - Correlates of Substance Misuse in Patients with First-Episode Schizophrenia and Schizoaffective Disorder. Acta Psychiatr Scand; 104: 365-374, 2001.
Beratis S, Katrivanou A, Gourzis P - Factors Affecting Smoking in Schizophrenia.
Comprehensive Psychiatry; 42: 393-402, 2001.
Glantz MD, Leshner AI - Drug Abuse and Developmental Psychopathology. Development and Psychophatology; 12: 795-814, 2000.
Alverson H, Alverson M, Drake RE - An Ethnographic Study of the Longitudinal Course of Substance Abuse Among People with Severe Mental I11ness. Community Mental Health Journal; 36: 557-569, 2000.
Moreira EC, Soares GHG - Dependência de nicotina em pacientes com esquizofrenia: etiologia e tratamento J.Bras.Psiquiatr. 52 (4): 245-330, 2003

Crédito/Fonte: PsiqWeb

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