quarta-feira, 6 de julho de 2011

As Esposas, texto do livro Azul dos AA


Tenho verificado que muitas mulheres, que não são co-dependentes, ao aconselharem esposas manifestam profunda ignorância sobre a dependência química, sobre tantas coisas mais que envolve uma vida a dois, o relacionamento de um casal, filhos e um rol inumerável de problemas. Abstraindo-se aspectos conservadores que merecem uma abordagem nova e consequente, o texto merece atenção.

Bem, resumindo a ópera: copiei o texto do capitulo do livro azul dos Alcoólicos Anônimos por entender que se trata de um tema que deve romper as barreiras do egoísmo, do copyright, pois trata-se de um tema que envolve milhares de vidas, de casais e casamentos, por isso mesmo merecem se tornar de dominio público.

Com este espirito e pensamento procuro lançar alguma luz a quem se perdeu no mundo das trevas, esquecendo-se aonde fica o interruptor para ligar a luz, se acha no fundo do porão da própria alma. Confesso que cansei e que não procedi uma revisão apurada. Perdão, portanto.

O texto é longo e sugiro que o imprimam para uma leitura mais acomodada e confortável. Não deu para formatar, também. Amanhã, com calma, quebro o texto.

Vamos lá :

AS ESPOSAS
Salvo  raras  exceções,  até agora  nosso  livro falou  somente  dos  homens.  mas  o  que foi  dito aplica-se  igualmente  às  mulheres.  Nossas  atividades  junto  às  mulheres  que  bebem  estão crescendo. Tudo  indica que a mulher recupera  sua saúde tão facilmente  como o homem, se seguir nossas sugestões.
Mas,  cada homem que bebe envolve a outros œ a esposa, que  treme  com  medo da próxima bebedeira; os pais, que veem como seu filho se consome.

Entre  nós  há  esposas,  parentes  e  amigos  cujos  problemas  foram  solucionados,  e  também outros  que  ainda  não  encontraram  uma  solução  feliz.  Queremos  que  as  esposas   de  Alcoólicos Anônimos se dirijam às esposas de homens que bebem em demasia. O que elas irão contar aplicar-se-á a quase toda pessoa vinculada a um alcoólico por laços de sangue ou afeto.

Como  esposas  de  Alcoólicos  Anônimos,  deduz-se  que  compreendemos  este  assunto  como poucas pessoas poderiam fazê-lo. Queremos analisar os erros que cometemos. Queremos deixá-las com  a  convicção  de  que  não  há  situação  difícil  demais,  nem  infelicidade  grande  demais  que  não possa ser superada.

Temos  peregrinado  por  um  caminho rochoso,  não  há  a  menor  dúvida.  Tem os  tido  longos encontros  com  o  orgulho  ferido,  a  frustração,  a  auto piedade,  a  incompreensão  e  o  medo.  Estes sentimentos não  são  companheiros  agradáveis.  Fomos  levadas  à  comiseração  exagerada  e  a ressentimentos  amargos.  Algumas  de  nós  passaram  de  um  extremo  ao  outro,  sempre  esperando que algum dia nossos entes queridos voltassem os homens que eram antes.

Nossa  lealdade e o desejo que nossos  maridos  pudessem levantar  a  cabeça  e  ser  como os outros  homens,  colocou-nos  em  toda  classe  de  situações  difíceis.  Temos  sido  abnegadas  até  ao sacrifício. Tivemos de dizer uma infinidade de mentiras para resguardar nosso orgulho e a reputação de  nossos  maridos.  Rezamos,  imploramos,  fomos  pacientes.  Fomos  agressivas.  Abandonamos nossos  lares.  Sofremos  neurose.  Passamos  momentos  de  terror.  Procuramos  a  simpatia.  Em retribuição, tivemos amores com outros homens.

Nossos lares foram campos de batalha durante muitas noites. Na manhã seguinte, beijávamo-nos  e  nos  reconciliávamos.  Nossos  amigos  nos  aconselharam  abandonar  nossos  mar idos  e  o fizemos com  determinação,  para voltar  logo  depois  com  nova esperança, sempre  com  esperança.
Nossos  homens  fizeram  solenes  juramentos  de  nunca  mais  tornar  a  beber.  Acreditamos  neles, quando  já  ninguém  queria  ou  podia  crer.  Então,  passados  alguns  dias,  semanas  ou  meses, acontecia um novo desastre.

Raramente  convidávamos  os  amigos  aos  nossos  lares,  pois  nunca  sabíamos  como  ou quando  chegariam  nossos  maridos.  Marcávamos  poucos  encontros  sociais.  Chegávamos  a  viver quase  segregadas.  Quando  éramos  convidadas  a  sair,  nossos  maridos  tomavam  tantos  —drinks“ escondidos, que estragavam a ocasião. Ao contrário, se se abstinham, sua auto piedade aborrecia os outros.
Nunca  houve  segurança  financeira.  Os  empregos  estavam  sempre  sendo  perdidos,  ou  em perigo. Nem com carro blindado teríamos podido conseguir que o envelope com o salário chegasse até nossa casa. O saldo no banco derretia-se como a neve no verão.

 s  vezes  havia  outras  mulheres. Que  dor  no  coração  dava essa  revelação;  como  era  cruel ouvir que elas compreendiam nossos maridos melhor que nós mesmas!
 
E  os  cobradores,  os  meirinhos,  os  furiosos  choferes  de  táxi,  a  polícia,  os  vagabundos,  os colegas e até as amiguinhas que às vezes traziam para casa?! Nossos maridos nos achavam pouco hospitaleiras. —Desmancha prazeres, linguarudas“  - era o que nos chamavam. No dia seguinte eles voltavam novamente ao normal, nós os desculpávamos e tentávamos esquecer .
Tentamos manter o amor de nossos filhos para com o pai. Explicamos às crianças que papai estava doente,  o que  era bem mais perto da realidade do que  supúnhamos.  Batiam  nas  crianças, davam pontapés nos painéis da porta, quebravam móveis de valor e arrancavam as teclas do piano.

Em  meio  a  todo  esse  pandemônio,  eram  capazes  de  sair de  casa,  ameaçando  passar  o  resto  da vida  com  outra  mulher.  Em  nosso  desespero,  chegamos  até  a  nos  embebedar  também  œ  a bebedeira  que  acabaria  com  todas  as  bebedeiras.  E  o  assombroso  é  que  isso  parecia  agradar nossos maridos.

Talvez, ao chegar a este ponto, nos desquitamos e levamos os filhos  para a casa de nossos pais.  Então,  pelo  abandono,  éramos  severamente  criticadas  pelos  sogros.  Geralmente,  não abandonávamos  o  lar.  Aguentávamos  indefinidamente.  Chegamos  até  a  procurar  emprego,  para evitar a destruição que ameaçava nossa família.

A  medida  que  as  bebedeiras  iam  se  tornando  cada  vez  mais  frequentes,  começávamos  a pedir  conselhos  médicos.  Os  alarmantes  sintomas  físicos  e  mentais,  o  remorso  cada  vez  mais
profundo,  as  depressões que  iam  dominando  nossos  entes  queridos œ  tudo isto  nos aterrorizava e destruía. Subimos com paciência e cansaço para, afinal, cair de novo, exaustas pelo  nosso  esforço inútil  de chegar  até  terra firme.  A maioria de nós  chegou  às últimas  etapas,  com  suas  internações em  sanatórios,  hospitais  e  prisões.   s  vezes,  chegávamos  a  assistir  o  delírio  e  a  loucura. Frequentemente, a morte rondava por perto.

Sob  estas  circunstâncias,  é  natural  que  incorrêssemos  em  erros.  Alguns  eram  frutos  da ignorância  a  respeito  do  alcoolismo.  Em  algumas  ocasiões,  tínhamos  vaga  sensação  de  que estávamos tratando com homens doentes. Se tivéssemos compreendido bem a natureza da doença do alcoolismo, provavelmente teríamos agido de maneira diferente.

Como podiam  homens,  que  amavam  suas  esposas  e  seus  filhos,  ser  tão  falhos  de consideração  e  compreensão  a  tão  cruéis?  Pensávamos  que  não  podia  haver  amor  em  tais pessoas.  E  justamente  quando  nos  convencíamos  de  que não tinham  coração,  nos  surpreendiam com  novas  resoluções  e  atenções.  Durante  algum  tempo  voltavam  a  ser  as  pessoas  afáveis  de antes, para, afinal, quebrar a nova estrutura em  pedaços, novamente. Quando lhes perguntávamos por que  tinham  voltado  a  beber,  respondiam  com qualquer resposta absurda, ou nada  diziam. Era tão  desconcertante  e  desencorajador!  Poderíamos  estar  tão  enganadas  com  os  homens  que escolhêramos  para  esposos?  Quando  bebiam,  tornavam-se  irreconhecíveis.   s  vezes  eram  tão inacessíveis, que parecia que uma grande parede fora construída à sua volta.

E  ainda  que  não  amassem  as  suas  famílias,  como  podiam  ser  tão  cegos  em  relação  a  si mesmos? Que acontecera a seus juízos, seus sentidos comuns, sua força de vontade? Por que não podiam ver que a bebida significava a sua ruína? Por que, quando apontávamos estes perigos, eles concordavam, e logo depois se embebedavam de novo?

Eis  algumas  perguntas  que  passam  pela  mente  de  uma  mulher  com  marido  alcoólico. Esperamos  que  este  livro  tenha  respondido  a  algumas  delas.  Talvez seu  marido  esteja  vivendo nesse estranho mundo do alcoolismo, onde tudo está alterado e exagerado. Você pode ver que ele realmente  a  ama  com  o que tem  de  melhor. É claro  que  existe  a  incompreensão,  mas  em  quase todos os  casos,  o alcoólico  só parece  ser  desafeiçoado  e sem  consideração,  e geralmente  por  se achar  desajeitado  e  adoentado  faz  essas  coisas  incríveis.  Hoje,  a  maioria  de  nossos  homens  é melhor marido e pai do que nunca.
Tente  não  condenar  seu  marido  alcoólico,  não  importa  o  que  ele  diga  ou  faça.  É simplesmente  um  enfermo,  quase  irracional.  Trate-o,  quando  puder,  como  se  tivesse  pneumonia. Quando a irrita, lembre-se de que ele está muito doente.  Há  uma  exceção  importante  ao  que  dissemos.  Reconhecemos  que  alguns  homens  são sumamente mal intencionados, que nenhuma dose de paciência fará diferença alguma. Um alcoólico deste temperamento logo  se  aproveitará  deste  capítulo  como  uma  arma  contra  você. Não  permita que  o faça.  Se estiver  segura  de  que  ele é  deste  tipo,  poderá  achar  que  deve abandoná-lo.  Seria certo  deixá-lo  arruinar  a  sua  vida  e  a  de  seus  filhos?  Sobretudo  quando  tem  a  seu  alcance  uma maneira de parar de beber, se estiver disposto a pagar o preço.

O  problema  com  o  qual  você  está  lutando  geralmente  cai  dentro  de  uma  das  quatro categorias seguintes:
Primeira:  Talvez  seu  esposo  não  seja  mais  que  um  bebedor  exagerado.  Talvez  beba  de maneira  constante,  ou  em  excesso,  apenas  em  determinadas  ocasiões.  Talvez  gaste  dinheiro demais na bebida. Poderá estar se atrasando mental e fisicamente, mas não o reconhece. As vezes, ele é causa de embaraço para  você e seus amigos. Está  convencido de que domina  a bebida, que não lhe faz mal, que beber é necessário para seus negócios. Provavelmente sentir-se-ia insultado se fosse chamado de alcoólico. Este  mundo está cheio de  gente parecida  com  ele.  Alguns  diminuirão ou  deixarão  o  álcool  de  uma  vez  e  outros  não.  Daqueles  que  continuam,  muitos  tornar-se-ão verdadeiros alcoólicos após algum tempo.
Segunda: Seu  marido  está  mostrando  falta de controle, pois  não consegue ficar afastado  da bebida nem quando quer. Frequentemente, fica totalmente desequilibrado quando bebe. Admite isto como verdade,  mas  está  convencido  de  que  melhorará.  Já  começou a  experimentar,  com ou sem sua ajuda, várias maneiras de moderar a bebida ou permanecer sóbrio. Talvez esteja começando a perder seus amigos. Seus negócios poderão sofrer um pouco.  s vezes está intranquilo e começa a reconhece  que não consegue beber como os outros. Bebe de  manhã  e, às vezes, todo o dia, para controlar  seu  nervosismo.  Sente  remorso  depois  de  bebedeiras  sérias  e  confessa-lhe  que  quer parar. Mas, ao terminar esta fase, começa a pensar novamente como poderá beber com moderação na próxima  vez.  Nós  acreditamos  que  esta  pessoa  está  em  perigo.  Estes  são  os sintomas  de  um verdadeiro  alcoólico.  Talvez  ainda  possa  cuidar  de  seus  negócios  razoavelmente bem.  Ainda está longe de ter perdido tudo. Como dizemos entre nós: —Ele quer querer parar“.
Terceira: Este marido já foi bem  mais longe do que o marido número dois. Embora em certa época  tenha  sido  igual  ao  número  dois,  piorou.  Seus  amigos  desapareceram,  seu  lar  está praticamente em ruínas e não consegue manter um emprego. Talvez já tenha procurado o médico e comece  a  interminável  ronda  pelos  sanatórios  e  hospitais.  Ele  admite  não  poder  beber  como  os outros, mas não entende porque. Apega-se à noção de que ainda encontrará alguma maneira. Pode ter  chegado ao ponto em que  desesperadamente quer parar  e não consegue. Seu caso  apresenta várias  questões adicionais que tentaremos responder  mais adiante. Há  boas esperanças num  caso destes.
Quarta: Você poderá ter um marido que a desespere totalmente. Ele já foi internado diversas vezes.  Ou  é  violento  ou  aparenta  estar  definitivamente  louco  quando  bebe.   As  vezes,  bebe  na viagem  de  volta  do  hospital.  Provavelmente  tenha  tido  —delirium  tremes“.  Os  médicos  poderão sacudir  a  cabeça  e  aconselhar  uma  nova  internação.  Talvez  já  tenha  sido  obrigada  a  interná-lo definitivamente.  Este  quadro  pode  não  ser  tão  escuro  como  pareça.  Muitos  de  nossos  maridos chegaram até este ponto. No entanto, se recuperaram.

Voltemos  agora  ao  marido  número  um.  Por  estranho  que  pareça,  frequentemente  é  difícil brigar  com  ele.  Gosta  de  beber.  O  álcool  desperta  sua  imaginação.  Quando  bebe,  sente-se  mais próximo  aos  seus  amigos.  Talvez  você  goste  de  beber  com  ele,  quando  não  exagera!  Passaram tardinhas agradáveis  juntos,  conversando  e  bebendo. Pode  ser que  ambos  gostem  de  festas,  que seriam  sombrias  sem  bebida.  Nos  mesmas  temos  desfrutado  de  tais  noites  e  nos  divertimos, mesmo.  Conhecemos  bem  a  função  da  bebida  como lubrificante  social.  Algumas  de  nós,  embora nem todas, achamos que o álcool tem suas vantagens quando não é tomado em excesso.

O primeiro princípio é que você nunca deve ficar com raiva. Mesmo que seu marido se torne insuportável e você deva deixá-lo por algum tempo, deverá ir, se puder, sem rancor. A paciência e um bom —temperamento“ são indispensáveis.

Nossa  próxima ideia é  que  nunca  deve  aconselhá-lo a  respeito  de  suas  bebedeiras.  Se  ele chegar a ter a ideia de que você é desmancha-prazeres, sua —chance“  de conseguir fazer qualquer coisa de útil será praticamente nula. Ele  se aproveitará disso  como uma desculpa para beber mais. Dir-lhe-á que ninguém o compreende. Poderá procurar outra pessoa para consolá-lo e nem sempre outro homem.

Tome  a  firme  determinação  de  que  as  bebedeiras  de  seu  marido  não  estragarão  as  suas relações  com  seus  filhos  e  amigos..  eles  precisam  de  seu  companheirismo  e  de  sua  ajuda.  É possível  ter  uma  vida cheia  e  útil, ainda que  seu  marido continue a  beber. Conhecemos  mulheres que  não  tem  medo  e  até  são  felizes  nestas  condições.  Não  espere  reformar  seu  marido.Provavelmente não o consiga, apesar dos seus melhores esforços.

Sabemos que  estas  sugestões  nem  sempre  são  fáceis  de  seguir,  porém  evitará  muitos aborrecimentos,  se  conseguir  observá-las.  Seu  marido  poderá  vir  a  reconhecer  sua  razão  e paciência. E isto poderá levar a uma troca de ideias amigáveis a respeito de seu problema alcoólico.

Faça com que ele mesmo aborde o assunto. Não o  critique durante a conversa. Ao contrário, tente pôr-se o lugar dele. Deixe-o ver que você quer ajudar  e não criticar.

Quando chegar  a  hora de  uma conversa,  você poderia  sugerir  a ele que  lesse este livro ou, pelo  menos,  o  capítulo  sobre  alcoolismo.  Diga-lhe  estar  preocupada,  embora  talvez  semn ecessidade. Acha que ele deve aprofundar-se no assunto, pois toda pessoa deve conhecer bem os riscos  que  corre,  se  beber  demais.  Mostre-lhe  confiar  na  sua  habilidade  de  parar  ou  moderar.

Explique-lhe  não  ser  um  desmancha-prazeres;  que  somente  quer  que  ele  cuide  de  sua  saúde.
Assim, poderá conseguir interessá-lo no problema do alcoolismo.

Provavelmente seu marido conhece vários alcoólicos entre seus companheiros. Você poderia sugerir  que  ambos,  você  e ele,  tomassem  interesse  por  esses infelizes.  Os  bebedores  gostam  de ajudar outros bebedores. Pode ser que seu esposo esteja disposto a falar com um deles.

Se  este tipo  de  aproximação  não  conquistar o  interesse de  seu  mar ido,  será  melhor  deixar morrer o assunto, embora, depois de uma conversa amigável, geralmente ele abrirá o assunto por si mesmo. Isto poderá requerer  bastante paciência, porém, valerá a pena. No  entanto, tente ajudar a esposa de outro bebedor exagerado. Se agir na base destes princípios, seu marido poderá parar ou moderar.

Suponha,  não  obstante,  que  seu  marido  preencha  a  descrição  do  número  dois.  Devem-se aplicar os mesmos princípios sugeridos para o marido número um. Más, após a próxima bebedeira, pergunte-lhe se realmente gostaria de deixar de beber de uma vez. Não peça para fazê-lo por você ou alguma outra pessoa. Simplesmente, pergunte se gostaria.

As possibilidades  são  favoráveis.  Mostre-lhe  seu  exemplar  deste  livro  e  explique-lhe  o  que aprendeu  a  respeito  do  alcoolismo.  Diga-lhe  que,  como  alcoólicos,  os  autores  deste  livro compreendem  o  problema.  Conte-lhe  algumas  das  histórias  interessantes  que  leu.  Se  ele  não aceitar  um remédio espiritual, peça-lhe para  dar uma olhada  no capítulo sobre o alcoolismo. Então, talvez se interesse o suficiente para iniciar a leitura.

Se ele  se  entusiasmar,  sua  cooperação  será  de  grande  valia.  Si  se  mostrar  indiferente,  ou não  se considerar  um  alcoólico, sugerimos deixar de  pensar nisso. Evite insistir  em  que ele  siga o programa.  A  semente  já  foi  plantada  em  sua  mente.  Ele  sabe  que  milhares  de  homens,  com  os mesmos  problemas,  se  recuperaram.  Mas  não  o  faça  lembrar-se  disto,  porque  depois  dele  estar bebendo, poderá deixá-lo irritado. Mais cedo ou mais tarde, é possível encontrá-lo lendo este livro de ovo. Espere até que as repetidas recaídas convençam-no de que chegou a hora de agir, pois quanto mais o apressar, mais adiará sua recuperação.

Se seu caso é com o marido número três, você poderá estar com sorte. Certa de que ele quer parar de beber, procure-o com este volume, alegre como se tivesse ganho na loteria. Ele poderá não compartilhar  da  sua  alegria, mas seguramente  lerá o  livro. Se não o fizer logo,  provavelmente não terá de esperar muito. Mais uma vez, não o importune. Deixe-o decidir por si mesmo. Aguente suas bebedeiras sem rancor.  Fale de sua condição  ou  deste  livro  unicamente  quando  ele  abordar  o assunto.  Em alguns  casos  será  melhor  que  uma  pessoa  que  não  seja  da  família  lhe  apresente  o livro.  Ela  poderá  sugerir  ação  sem  criar  hostilidade.  Se  seu  marido  é  normal  em  todos  os  outros aspectos, suas probabilidades são boas nesta etapa.

Poder-se-ia  supor  que  os  homens  enquadrados  na  quarta  qualificação  tenham  poucas esperanças, mas não é o caso. Eram assim  muitos dos  Alcoólicos Anônimos. Todos os davam  por perdidos. A  derrota  parecia  inevitável.  Não  obstante,  tais  homens  conseguiram  espetaculares recuperações.

Existem  exceções.  Alguns  eram  tão  viciados,  que  não  conseguiam parar. Há  casos  onde  o alcoolismo  é  agravado  por  outras  desordens.  Um  bom  médico  ou  psiquiatra  poderá  lhe  dizer  se estas  complicações  são  sérias. De qualquer  forma, procure fazer seu marido ler este livro. Poderá reagir com entusiasmo. Se já  estiver internado  numa instituição,  mas  puder  convencer a você  e  ao médico  de que  levará o negócio  a  sério,  dê-lhe  a  oportunidade de tentar nosso  método,  a  não ser que  o  médico  ache  sua  condição  mental  anormal  ou  perigosa.  Recomendamos  isto  com  certa confiança.  Durante anos  vimos  trabalhando com  alcoólicos  internados  em   instituições.  Desde que este livro foi publicado pela primeira vez, o A.A. conseguiu livrar milhares de alcoólicos de sanatórios e hospitais de todo tipo. A maioria nunca mais voltou. O poder de Deus é profundo!

Talvez a situação seja inversa. Pode ser que seu marido esteja fora, mas deve ser internado*.

Alguns homens  não  podem  ou  se  dispõem  a  livrar-se  do  álcool.  Quando  se  tornam  demasiados perigosos,  é  melhor  que  estejam  em  reclusão.  Assim  mesmo  é  bom  consultar  um  médico.  As esposas  e  os  filhos  de  tais  homens  sofrem  horrivelmente,  embora  não  mais  do  que  os  próprios doentes.

Todavia, eles poderão começar  uma vida  de novo. Conhecemos mulheres que conseguiram encaminhar os maridos para a recuperação. Se tais mulheres adotam um modo de viver espiritual, o caminho lhes será mais fácil.

Se seu marido é um beberrão, provavelmente você se inquieta sobre o que pensam as outras pessoas e não gosta de se encontrar com seus amigos. Fecha-se cada vez mais em si mesma, pois percebe que todo mundo anda falando das condições do seu lar. Você evita o assunto de bebida até com  seus  pais.  Não  sabe o  que contar a  seus  filhos.  Quando  seu marido  fica  ruim, você se  torna uma reclusa trêmula, desejando que nunca tivessem inventado o telefone.

Achamos a  maior parte desse  embaraço desnecessária.  Embora  não tenha  que  falar  sobre seu  marido  extensamente,  poderá  discretamente  avisar  seus  amigos  sobre  a  natureza  da  sua doença. Mas deve cuidar de não embaraçá-lo ou feri-lo.

Quando acabar a explicação cuidadosamente feita a tais amigos sobre seu esposo, você terá criado  uma  nova  atmosfera.  As  barreiras  entre  você  e  eles  desaparecerão.  Não  mais  sentir-se-á solitária ou com necessidade de se desculpar, como se seu marido fosse um sujeito fraco. Sua nova coragem e boa disposição farão milagres por você, socialmente.
 
Os mesmos princípios se aplicam em relação às crianças. A não ser que realmente precisem ser  protegidas  do  pai, é  melhor  ignorar qualquer discussão entre pai e  filhos quando  aquele  esteja bebendo.  Utilize suas energias para promover uma melhor  compreensão  geral. Então, essa terrível tensão, que envolve o lar de todo bebedor-problema, diminuirá.
Frequentemente, você se sentiu na obrigação de dizer ao chefe e aos amigos de seu marido
que ele estava doente, quando o fato é que ele andava bêbado. Evite, quanto possível, responder a estas  perguntas.  Sempre  que  possível,  deixe  seu  marido  explicar  as  coisas  por  si  mesmo.  Seu desejo de  protegê-lo não  deverá  levá-la  a  mentir  às  pessoas  que  têm  o  direito  de  saber  onde  ele está e o que anda fazendo. Discuta isto quando ele  estiver sóbrio e de bom humor. Pergunte-lhe o que  você  deve  fazer,  se  ele  voltar  a  pô-la  na  mesma  situação.  Mas  tenha  cuidado  de  não  ficar ressentida com o que aconteceu na última vez.

Existe  um  outro  terror paralisante.  Você  poderá  ter  medo de seu marido  perder  o emprego; está  pensando  na  desgraça  e  nos  tempos  difíceis  que  você  e  seus  filhos  enfrentarão.  Esta conjectura poderá vir a acontecer. Ou talvez você já tenha passado por ela várias vezes. Se voltar a se  repetir,  encare-a  de  uma  forma diferente.  Talvez  constitua  uma  benção.  Poderá convencer  seu marido a parar para sempre. E, agora, você já sabe: ele pode fazê-lo, se quiser. Quantas vezes esta aparente tragédia foi uma graça para nós, pois nos abriu o caminho à descoberta de Deus!

Já comentamos como se vive melhor com uma base espiritual. Se Deus pode decifrar o velho enigma do alcoolismo, também poderá resolver seus problemas. Nós, esposas, achamos que como todas  as  outras  pessoas,  éramos  afligidas  pelo  orgulho,  auto piedade,  vaidade  e  todas  aquelas coisas  que  constituem  a  personalidade  da  pessoa  egoísta;  e  nem  sequer  estávamos  isentas  do interesse  próprio  ou  da  desonestidade. A    medida  que  nossos  esposos  foram  aplicando  princípios espirituais às suas vidas, reparamos na conveniência de fazer o mesmo.

No início, algumas  de  nós  acreditávamos  não  precisar  dessa  ajuda.  Imaginávamos, considerando tudo, que éramos mulheres bastante boas, capazes de ser mais agradáveis se nossos maridos  deixassem  de  beber. Mas,  éramos  suficientemente boas  para  não necessitar  da  ajuda  de Deus? Hoje, tentamos pôr em prática princípios espirituais em todos os aspectos de nossas vidas. A medida  em  que  o  fazemos,  verificamos  que  também  nossos  problemas  se  solucionam.  A consequente ausência do medo, da preocupação e de sentimentos feridos é uma coisa maravilhosa!

Apelamos para você a fim de experimentar nosso  programa, pois nada ajudará  tanto  a  seu marido como  a  atitude  radicalmente  mudada que  você terá,  guiada  por  Deus.  Acompanhe  seu  marido  na medida do possível.
Se  você  e  seu  marido  conseguiram  encontrar  uma  solução  para  o  problema  imediato  da bebida,  logicamente  serão  muito  felizes.  Porém,  nem  todos  os  problemas  se  resolverão imediatamente.  A semente começou a crescer numa nova  terra, mas o crescimento mal  se  iniciou.

Apesar  de  sua  felicidade  recém  encontrada,  ainda  haverá  altos  e  baixos.  Muitas  das  velhas questões continuarão acompanhando-os. E é assim que deverá ser.

A fé  e  a  sinceridade  de  ambos  serão  postas  à  prova.  Estas lutas  devem  ser  consideradas como  parte  de  sua  educação,  pois  assim  aprenderão a  viver. Incorrerão  em erros,  mas,  se  forem sinceros, não se deixarão vencer. Pelo contrário, os aproveitarão. Um modo melhor de vida surgirá, na medida em que eles sejam vencidos. Alguns dos problemas a enfrentar são a irritação, os sentimentos feridos e os ressentimentos.


 As  vezes  seu  marido  se  mostrará  pouco  razoável  e  você  vai  querer  criticá-lo.  De um  minúsculo ponto, no horizonte doméstico, poderão surgir nuvens de dissensão. Estas discussões familiares são perigosas, especialmente para seu marido. Frequentemente, você terá de evitá-las ou mantê-las sob controle.  Nunca se esqueça:  os ressentimentos  constituem  ameaça  mortal para  um  alcoólico.  Isto não quer dizer que seja necessário concordar sempre com seu marido, quando houver uma sincera diferença de opinião. Mas tenha cuidado de não discordar da forma ressentida ou censuradora. 

Você  e  seu  marido  acharão  mais  fácil  resolver  os  problemas  difíceis  que  os  triviais.  Na próxima vez em que vocês tiverem uma discussão acalorada, deverá ser um privilégio que qualquer dos dois sorria e diga: —Isto está se tornando sério. Sinto ter me agitado. Vamos discutir mais tarde“.
Se seu marido estiver tentando viver num  plano  espiritual,  também estará fazendo o possível  para evitar discussões e aborrecimentos.

Seu esposo sabe que lhe deve mais do que a sobriedade. Ele quer ter êxito. No entanto, você não  deve  esperar  o  impossível.  Sua  maneira  de  pensar  e  fazer   as  coisas  provém  de  hábitos adquiridos  durante  anos.  Paciência, tolerância, compreensão  e  amor  são  as  palavras-chaves.

Mostre-lhe estas coisas e serão refletidas dele para você. A regra é viver e deixar viver. Se cada um de vocês mostra o desejo de remediar seus próprios defeitos, haverá pouca necessidade de críticas mútuas.
Nós, mulheres, carregamos conosco o retrato do homem ideal, o tipo que gostaríamos fosse nosso  marido. A coisa  mais natural do  mundo, uma  vez  resolvido o problema da  bebida, é esperar que  agora  ele  se  aproxime  dessa  imagem  criada.  Mas,  provavelmente  isso  não  acontecerá,  pois, como você, ele apenas está começando seu desenvolvimento. Seja paciente.

Outro sentimento que poderemos ter é que o amor e a lealdade não foram capazes de curar nossos  maridos  do  alcoolismo.  Não gostamos  da  ideia  de  que  um  livro  ou  o  esforço  de  alguém pudesse conseguir, em breves semanas, aquilo pelo qual lutamos durante anos. Nesses momentos esquecemos que o alcoolismo é uma doença sobre a qual não tínhamos nenhum poder. Seu marido será o primeiro a dizer que sua devoção e atenção o levaram a ter uma experiência espiritual. Sem você,  teria  se  destruído  há  muito  tempo.  Quando  vierem  ideias  de  ressentimento, tente  afastá-las com simplicidade  e  brandura. Afinal  de contas, sua família  está  reunida, o álcool deixou  de ser um problema, e você e seu marido estão trabalhando para alcançar um futuro jamais sonhado.

Outra dificuldade é a de que possa ter ciúmes da atenção por ele dedicada a outras pessoas, especialmente a alcoólicos. Você  estava ansiosa por seu companheirismo e,  no entanto, ele passa longas horas ajudando outros homens e suas famílias. Acha que, agora, seu marido devia pertencer-lhe  totalmente.  Ele, porém, precisa trabalhar com os outros para  manter sua sobriedade.  s vezes ficará  tão  interessado  que  a  negligenciará  bastante.  Sua  casa  estará  cheia  de  estranhos.  Você poderá não gostar  deles. Seu esposo se preocupará com os problemas dessa gente e não  com os seus.  Pouco  adiantará  lhe  dizer  isto  e  pedir-lhe  mais  atenção  para  você.  Consideram os  um  sério erro  desanimá-lo  no  seu  trabalho  alcoólico.  Deverá acompanhá-lo nos seus  esforços  tanto quanto possível.

Sugeriríamos dirigir parte de seus pensamentos às esposas de seus novos amigos alcoólicos. Elas precisam do conselho e amor duma mulher que passou pelas suas experiências.

Provavelmente,  você  e seu  marido  tenham  vivido  afastados  demais, pois  frequentemente  a bebida  isola  a  esposa  do  alcoólico.  Portanto,  necessitará  de  novos  interesses  e  de  uma  grande causa para prosseguir, tanto quanto seu marido. Se cooperar, em vez de se queixar, verificará que o entusiasmo excessivo  dele  diminuirá.  Ambos  encontrarão  novo  sentido  de  responsabilidade  para com  os  outros.  Você,  como  seu  marido,  deverá  meditar  sobre  como  contribuir  para  a  vida. Inevitavelmente, suas vidas se tornarão melhores.

Talvez seu marido tenha começado bem nas novas bases, mas, justamente quando as coisas estavam  andando  às  mil  maravilhas,  ele  a  desanima,  chegando  em  casa  bêbado.  Se  estiver pretendendo  realmente  que  ele  deixe  de  beber,  não  há  razão  para  ficar  alarmada.  Embora  fosse muitíssimo melhor que ele não tivesse nenhuma recaída, como tem sido o caso de muitos de nossos homens, em algumas circunstâncias não é nada mau que aconteça. Seu marido verá imediatamente que deverá redobrar suas atividades espirituais, se espera sobreviver. Não será necessário lembrar-lhe de sua deficiência espiritual œ ele a reconhecerá. Anime-o e pergunte-lhe como você poderia ser lhe ainda mais útil. 

A enos demonstração de medo ou intolerância  poderá diminuir  a  —chance“  de recuperação de seu esposo.  Num momento de fraqueza, ele poderá  aproveitar-se do seu desagrado pelos  seus amigos e utilizar-se de alguma desculpa absurda, a fim de continuar a beber.

Nós  jamais  procuramos  interceder  na  vida  de  um  homem,  para  protegê-lo  da  tentação.  A menor  disposição  de  sua  parte  para  controlar  seus  encontros  e  assuntos,  procurando  evitar-lhe  o desejo de beber, será logo  percebida. Faça-o sentir-se em total liberdade. Isto é importante. Se ele se embebedar, não se culpe. Deus removeu o problema do seu marido ou não o fez. Se não o fez é melhor que o saiba de imediato.

Assim,  vocês poderão concentrar-se no fundamental. Para evitar uma repetição, ponha  esse problema, e tudo o mais, nas mãos de Deus.

Reconhecemos  ter-lhe dado  muita  direção  e  muitos  conselhos.  Talvez  lhe  pareça  estarmos fazendo sermões. Se for assim, sentimos  muito,  pois nem  mesmo nós gostamos,  sempre, de ouvi-los.  Mas,  o  que  temos  contado  baseia-se  na  experiência,  às  vezes  dolorosas.  Aprendemos  essas coisas da mais dura maneira. E por isso estamos ansiosas para que você compreenda e evite estas desnecessárias dificuldades.
Portanto,  para você  de  fora  œ que  logo  poderão  estar  conosco  œ dizemos:  —Boa  sorte  e  que Deus as abençoe!“

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