quinta-feira, 15 de setembro de 2011

Codependência - 2 Mal de quem vive querendo controlar outra pessoa problemática

“Codependente é a pessoa que carrega sua própria nuvem de chuva”.

Cada um de nós tem um grau de dependência, que é até natural e esperado num ser humano saudável, isso é importante nos nossos relacionamentos afetivos mais próximos; mas também temos um grau de “autonomia”, que nos mantém saudáveis, isso não quer dizer ser auto-suficientes, pois somos um ser social e precisamos do convívio com o outro, dos estímulos e afetos trocados nos relacionamentos; no entanto, a dependência traz uma deterioração de sua autonomia enquanto ser humano, não somente quando é uma dependência a algo, mas também a alguém.

Muitos já ouviram falar em codependência, um termo relativamente novo e usado, principalmente para pessoas que convivem com um dependente químico (DQ). Mas percebeu-se que é muito mais amplo do que isto e acomete todas as pessoas que se deixam afetar muito pelo comportamento daquele(s) com quem muito se preocupam e a quem vivem querendo controlar. Isto tira o foco de sua própria vida, desorganizam-se vivendo em constante ansiedade, trazendo muitos desequilíbrios psicológicos e emocionais, desembocando muitas vezes em doenças físicas. E, o que é pior, isto não ajuda a(s) pessoa(s) pela qual o codependente tem afeto, atrapalha muito e mais ainda (mas demora para ele perceber). O resultado é desastroso para todos.  

Inicialmente isto foi estudado em pessoas que conviviam com dependentes químicos de álcool e outras drogas (filhos, pais, cônjuges, irmãos, tios, avós, amigos, sobrinhos, netos, namorados, amantes...), mas à medida que a codependência foi sendo mais bem entendida, perceberam-se outras conotações e isto se estendeu a outras pessoas que vivenciam outras situações diferentes destas.

Entre inúmeras situações pode-se destacar: as já citadas acima de pessoas que convivem com dependentes químicos (DQ), os próprios dependentes químicos que já podiam apresentar isto muito antes mesmo de se tornarem DQ; pessoas que convivem com outras mentalmente ou emocionalmente perturbadas, que se relacionam com doentes crônicos, que convivem com pessoas irresponsáveis, com compulsivos por jogo, sexo, compras; pais de crianças e adolescentes com problemas de comportamento, pessoas muito inseguras e com uma autoestima muito baixa que se apegam demasiadamente a outras, sejam estas adequadas ou não; enfermeiros, assistentes sociais e outros profissionais que ajudam outras pessoas.

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Para um melhor entendimento, temos que refletir que todos nós somos codependentes de alguma maneira e em algum grau de alguém ou de alguma coisa, chegando a ser muito pernicioso algumas vezes, outras vezes nem tanto. O mais importante é perceber e admitir o problema, porque isto ajuda a determinar a solução, e solução significa recuperação e mudança.

Tentando resumir, ser codependente significa que temos deixado o comportamento de outra(s) pessoa(s) nos afetar muito e por tempo prolongado e que somos obcecados em controlar o comportamento dessa(s) outra pessoa(s). Seja quem for esta outra pessoa, o centro da definição e da recuperação não esta nela, por mais que o codependente acredite nisto, mas está nele mesmo.

O codependente esta sempre com o foco no outro e o vinculo geralmente não se concentra no amor ou na amizade, mas no distúrbio do outro ou na sua própria carência afetiva. Por isto, quando o outro se recupera ou se liberta, o codependente pode sentir-se inútil, não sabendo mais viver sem alguém para controlar; sente-se muitas vezes vazio e depressivo, podendo até afetar negativamente o outro já recuperado. Se a doença do outro esta sob controle, se ele se afasta, ou não precisa mais de seus cuidados, qual será agora seu foco, quando só se dedicava a controlar a vida do outro?

É natural desejar proteger e ajudar as pessoas que nos são caras e sermos afetados e reagirmos aos problemas dessas pessoas. E quando o problema se torna mais sério e sem solução, reagimos mais fortemente ainda. Os codependentes são muito reacionários, reagem demais, reagem de menos, mas raramente agem. É normal reagirà tensão, mas é corajoso aprender a não reagir, mas sim a agir de forma mais saudável. Ser um codependente não significa ser mau, defeituoso ou inferior.

Muitos aprenderam estes comportamentos quando crianças, outros bem mais tarde. A maioria pode ter aprendido isto por necessidade de proteger a si mesmo e satisfazer suas necessidades, porque se conviver com pessoas normais e saudáveis já não é fácil, conviver com pessoas doentes, perturbadas ou problemáticas é particularmente difícil. Mas estes comportamentos autoprotetores inicialmente, já podem estar ultrapassados em sua utilidade. Às vezes, nossas atitudes protetoras viram-se contra nos mesmos e nos fere. É assim que acreditamos estar fazendo as coisas erradas pelas razões certas.

O codependente tem grande tendência a sentir-se responsável pela outra pessoa e compelido a ajudar a pessoa a resolver seus problemas, a tentar agradar ao outro ao invés de a si mesmo, a sentir raiva, sentir-se vítima, a achar que esta sendo usado e que não esta sendo apreciado ou recebendo a gratidão que merece; a sentir-se culpado e com baixa autoestima. O codependente tem medo de ser quem é, de sentir-se incapaz de parar de pensar, falar e de se preocupar com a outra pessoa e seus problemas, a parar de vigiar a pessoa e concentrar toda sua energia nos problemas dos outros, a parar de tentar controlar os acontecimentos e as pessoas através de coerção, da culpa, ameaças, aconselhamento, manipulação ou domínio.

O codependente não consegue parar de mentir para si mesmo e acreditar em suas mentiras, não para de ignorar ou fingir que os problemas não estão acontecendo ou não são tão ruins como são. O codependente não consegue se ocupar por outras coisas e parar de pensar sobre o que o angustia, não consegue deixar de adquirir compulsões, de tomar tranqüilizantes, podendo até se viciar em álcool ou drogas também. 

Muitos codependentes procuram a felicidade fora de si mesmos, fecham-se a tudo e a todos que possam lhes trazer felicidade, não se amam e procuram desesperadamente por amor e aprovação, mas quase sempre procuram o amor de pessoas inadequadas e/ou incapazes de amar, perdem o interesse em sua própria vida, temem que a outra pessoa venha a deixá-los, continuam mantendo um relacionamento que não funciona e quando este relacionamento acaba, tendem a procurar outros que também não lhe fazem bem.

A farsa do codependente é “decidirem” que não irão mais tolerar determinados comportamentos da outra pessoa, mas aumentam gradual e indefinidamente sua tolerância até fazerem coisas que disseram jamais fazer. Passam a não confiar nos outros e nem em si mesmos, podem perder a fé e a confiança em Deus, misturar reações passivas e agressivas, podem adoecer mental e ou fisicamente, ficam deprimidos e pensam em suicídio.

Uma dica importante para perceber que já se tornou um codependente é constatar que a preocupação se transformou em obsessão, que a compaixão se transformou em tomar conta, que esta cuidando mais da outra pessoa que de si mesmo. Com certeza isto já é uma codependência. Decidir se a codependência é um problema em sua vida é decisão exclusiva do codependente, assim como saber se isto deve mudar ou quando mudar.

Quando o codependente percebe esse auto-engano ou auto-armadilha e decide agir e investir em si mesmo, a sensação será libertadora. Aí, então, a pessoa recupera sua identidade e volta a ser quem era, podendo ajudar também outras pessoas a fazerem o mesmo. Vai esmaecendo a dor insuportável com a qual conviveu por muito tempo. Isso implica em aprender ou reaprender um novo comportamento: tomar conta de si mesmo.

Essa grande virada na vida é baseada na afirmação obvia de que cada pessoa é responsável por si mesma. Atribuir ao outro a responsabilidade por suas escolhas nos permite começar a amar a nós mesmos e aos outros como tais, permite aceitarmos receber amor e tornar a atmosfera a nossa volta muito mais sadia. Assim, as pessoas ao nosso redor poderão ser saudáveis também. A recuperação do gerenciamento da própria vida abre o caminho de se dar o direito de começar a permitir-se ser feliz! Adquire-se a consciência de que “amar é deixar ao outro a responsabilidade de suas próprias escolhas”.

É importante buscar ajuda para o transtorno da codependência, seja através da psicoterapia individual, de casal ou familiar, recorrendo ainda ao apoio dos grupos terapêuticos como o Alanon, Amor exigente, Codependentes anônimos e outros. Em outros artigos abordaremos a codependência em diversas situações e mais algumas dicas para começar a trilhar o caminho da liberdade e da paz.

Maria José Gomes S NeryPsicóloga Clinica com Mestrado e varias Especializações, incluindo Dependência Química, no tratamento dos DQ e seus familiares, em grupo e individual.Atendimento em consultório, residencial e pela Internet.majonery@yahoo.com.br

Para referir
Nery MJG - Codependência (2), disponível em PsiqWeb, internet www.psiqweb.med.br, 2010.

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