sábado, 16 de julho de 2011

A VIDA DE QUEM FICA NA RUA

Corpo trocado pela droga

O corpo de Márcia não parava de tremer mesmo depois de um prato de sopa quente. A jaqueta suja, a calça rasgada, o hálito forte denunciavam a higiene abandonada. Os olhos estavam estagnados e na mão direita um isqueiro que acende e apaga conforme o comando de sua ansiedade. A saliva é puxada para o canto dos dentes num barulho frenético.

A tremedeira era do choque entre a realidade e a alucinação, provocado pelas pedras de crack. Quando começa a fumar, não sabe onde, nem quando vai parar. No currículo, maconha, loló, cocaína. Trinta e seis anos anos, duas filhas, três netos e um sonho: sair da rua e escrever um livro. Nasceu no Paraná, passou por São Paulo e parou em São José. Vaga pelas ruas e dorme no pátio de uma igreja. Ali, se diz protegida por Deus. Já vendeu o corpo pela droga, mas afirma que não roubou por ela.

– Medo de morrer? Não tenho. Sinto dentro de mim que minha esperança de sair da rua ainda existe. Vim parar aqui para fugir da morte, acho que Deus me reserva algo de bom. Eu mereço uma felicidade na vida, não acha? – questiona a mulher que ajudou a mãe a criar 10 irmãos, saiu de casa com 14 anos depois de apanhar do padrasto e entrar em coma.

Ela conheceu um marido, apanhou dele e fugiu. Das filhas não tem notícias e, dos netos, nenhuma lembrança.


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