domingo, 11 de setembro de 2011

Percepção

São dias de turbulência que busco, com ingente esforço, superar. Angústia, inquietação e uma desacomodação interior martelam o cérebro. Pessoas precisam de pessoas, mas o mundo atual desfez vínculos de afetividade. É como se fosse: ora, porra, o que é que eu vou ganhar com isso? As pessoas procuram arrumar motivos para justificar suas faltas, suas ausências. Nem um telefonema. Nada. A frieza do descaso me faz lembrar o poeta quando chamou a ingratidão de uma pantera. Tudo parece mover-se na base do escambo. Estamos dependentes. Um quadro deprimente e melancólico me faz perder alguma força, como se eu fosse movido por uma bateria cuja carga está baixando. O som da voz, da minha fala, torna-se mais fraco. De repente me volta a inquietação. Por instantes sinto-me atordoado. 

É bom ter sentimentos, mas é importante saber dosa-los em seus variados graus de intensidade, tanto no irradiar, quanto sentir. Não tem a ver com dar, nem receber porque inexiste uma relação de troca e se é verdadeiro não constitui favor. A consciência reclama o dever moral, mas o que é o dever e o que é moral nos dias atuais?

Percebo a angústia de um octogenário em estado de dependência e o desejo que ele tem, como um dever de consciência a ser cumprido e que sozinho não pode cumprir. Admiro, contudo, o comportamento elegante que tem. A altivez dele é fabulosa. Ele é sereno e aceita esta sentença de vida que ninguém merece ter, mas que é própria da idade. Os animais passeiam recebendo o carinhoso frescor da brisa enquanto olham a paisagem pela janela dos automóveis. Não custa muito e logo poderei ver as madames levando seus cachorrinhos para passear e, ao mesmo tempo, fazer o cocô na rua. A mulher que prevarica passa veloz e o jeito dela lembra quando era uma mocinha de flerte. Perdeu muito viço, mas sente-se como uma flor em seus dias de glória. Poderia, apenas, vestir-se sem anunciar-se, insinuando-se como vai termina nos braços do zelador sedento. 

Noto um rapaz desencorajado, sem assunto para entreter belas donzelas e conseguir, ao menos uma. para deleitar-se de prazer. 

Vejo o mundo e não vejo nada. Existem grades nas janelas. A piscina está vazia, a quadra também recebe uma bola e alguns praticantes. Lá embaixo deveria estar movimentado. Até hoje não sei quantas gostosas residem por aqui. Vejo algumas passarem com a rapidez de estrelas cadentes.

Assim vou seguindo os dias, paro e escrevo o que vejo e sinto. O resto do mundo tem mais o que fazer, sou apenas um desocupado. 

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