terça-feira, 27 de setembro de 2011

De volta à vida, com os pés no chão

A vida, como diria o poeta, a vida é a arte do encontro, embora haja tantos desencontros pela vida. Também penso que a vida é como uma onda no mar. s vão, elas vêm. Tem seus altos e baixos, tem seus começos e fins. Viver é um permanente estado de mudanças. Ontem éramos um, hoje somos outro, embora, em essência, permaneçamos idênticos. Somos como a água do rio vista por Heráclito, compreendida por Hegel e aceita por Marx e Engels, sob o ponto de vista dialético. Somos a tese, a antítese e a síntese. Não importa como eu me veja, nem como me vêem, nem como vejo os outros. Somos todos dialéticos, exceto aqueles sujeitos chatos que possuem aquela velha opinião formada sobre tudo. Não que seja de todo mal a opinião cristalizada se não houver outra nova, coerente, renovadora, progressista, evolutiva, que atenda aos ditames de uma civilização realmente humana. A imagem postada acima reflete uma mudança radical de vida, tão  radical quanto parece louca. Sugere porra louquice, não é mesmo. Mas não sou um porra louco. Também não sou um macaco preso numa jaula de zoológico à espera de que venham me dar pipocas aos domingos, contrariando as regras administrativas do zoo. Pois bem, me submeti a uma modalidade de recuperação que não deu certo da primeira vez. Nesta segunda vez também não deu certo. Creio que chegou o momento de perder o medo e sair do casulo, de sair por ai, de ir à praia, de ir a um cinema, teatro, espetáculo, de observar as azarações de um determinado show. Sei que devo evitar o primeiro gole, evitar pessoas hábitos e lugares. Sei um montão de coisas, mas só posso viver um dia de cada vez e corro o risco de errar, de falhar, de um recidiva, pois a recaída já me aconteceu. Não posso viver a vida de outras pessoas, nem outras pessoas podem viver minha vida e eu vinha vivendo uma vida que era, em parte para agradar meus familiares, demonstrando minha determinação em me recuperar e em parte para me preservar do pior que foi ter recaído. Entendo que a vida e o sacrifício que vinha fazendo não era correspondido, era algo quixotesco. Não havia zelo pela minha saúde, mas preocupação com meu pouco dinheiro. Quando recaí o que ouvi foram palavras hostis, rostos revoltados e indignados, como se recair fosse um ato sem vergonha, de pura descaração, onde não exisre uma doença. Tudo bem, existem codependentes que nunca vão aceitar que são codependentes e que nunca vão entender que viver também é correr riscos. Viver é a possibilidade de arriscar... Optei por correr riscos mais largar esta vida de padre, sair, olhar a geografia feminina descompromissadamente. Apreciar as belezas e fazer tudo que eu estava impedido de fazer porque estava vivendo no claustro da minha fantasia, de uma ilusão não correspondida. Resolvi voltar a viver e retomar o controle de minha vida para entrega-la a Deus. Eu imaginava que ela estivesse, mas na verdade ela estava em mãos de outras pessoas, que nada entendem de adicção, ou codependencia e de como um adicto deve buscar refazer sua vida, reformulando-a, tentando seguir o programa e isto implica dizer que irei correr riscos de novas recaídas e o que eu espero não é chegar e ser fuzilado pelos olhares raivosos de juízes ignorantes na matéria. Gostaria de que ao invés de lamentarem o dinheiro absurda e loucamente gasto, mas de ouvir a voz humana me indagando: você está se sentindo bem? está precisando de água, leite, de alguma alimentação? quer tomar um banho? Quer descansar? Acredito que posturas mais afirmativas do que negativas aproximam mais. De tempos longos de recuperação é possível recair e se recair, paciência, faz parte da doença, não da recuperação, o que não significa dizer que permanecer recaído seja um procedimento de quem deseja recuperar-se.  Estou vivendo um momento difícil e delicado, onde o ódio pode me lançar no olho da rua. Solicitei a um excelente irmão a devolução do meu cartão e sei que ele não gostou e deve ter feito chantagem emocional, é possível que o fluxo energético do pensamento dele esteja voltado para assistir minha queda, como os demais codependentes esperam. A eles só posso falar só por hoje, não posso prometer ir além disso. Do modo como estava vivendo estava pior do que estar me drogando vez que a sensação de solidão estava me levando a um estado patológico que ouso chamar de loucura. Rompi as amarras, sofrerei resistências e dissabores, mas serei o cara do filme, Beleza Americana, só não desejo passar por alguns lances que ele passou. Tentarei fazer um diário e cuidarei de mim e se por acaso vier a recair, que eu tenha força e ânimo para me levantar. Que meu caráter pacífico se mantenha e dai sempre pra melhor e que eu não tenha alteração alguma de personalidade. Que minha família tente me compreender, que ao menos leia este blog que parece que eles odeiam por achar que o NA e AA possuem ideias extravagantes. Finalizo recordando que foi em um dia de São Cosme e São Damião que iniciei a trabalhar e pouco tempo depois me casei. Ganhava pouco mais que um salário minimo e, ainda assim, comprava e pagava tudo, inclusive os estudos da esposa que formei professora. Hoje é dia de São Cosme e São Damião e agradeço a eles e a todos que entraram na minha vida pra ficar e pra me fazer o bem, mesmo quando eu, aparentemente, não merecer. Eu sou humano, afinal. Será que isto não conta? Custa, dói, incomoda. Doeu em mim. dói em qualquer um, mas foi necessário fazer isso. Adicto foi um escravo que mesmo liberto, quis continuar escravo. Eu quero ser livre! Me deixem viver e vivam suas vidas com a mesma sobriedade que desejam pra mim.

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