terça-feira, 20 de setembro de 2011

Meu nome é Esperança !



UMA PERSPECTIVA DE VIDA PARA SI 

Para a maior parte das pessoas normais, beber significa sociabilidade, camaradagem e uma imaginação viva. Quer dizer libertação de cuidados, do tédio e de preocupações. É a intimidade alegre com amigos e o sentimento de que a vida é boa. Mas não era assim para nós nos últimos tempos em que bebíamos em excesso. Os antigos prazeres tinham desaparecido. Já não eram senão recordações. Nunca conseguíamos reencontrar os grandes momentos do passado. Havia um desejo persistente de gozar a vida como a tínhamos conhecido e uma confrangedora obsessão de que um novo milagre de controle tornaria isso possível. Havia sempre mais uma tentativa e um novo fracasso. 

Quanto menos os outros nos toleravam, mais nos afastávamos da sociedade, da própria vida. À medida que nos tornávamos súbditos do Rei Álcool, habitantes trêmulos do seu reinado demente, o nevoeiro gelado que é a solidão abatia-se sobre nós, tornando-se cada vez mais espesso e sempre mais escuro.

Alguns de nós procurávamos lugares sórdidos, na esperança de encontrar companhia compreensiva e aprovação. Por momentos conseguíamos - depois vinha o esquecimento total e o horrível despertar para defrontar os terríveis Quatro Cavaleiros do Apocalipse: o Terror, a Confusão, a Frustração e o Desespero. Os bebedores infelizes que leiam estas linhas e eles vão compreender! 

De vez em quando, uma pessoa que beba muito, mas esteja sem beber na altura, dirá: "Não me faz falta nenhuma. Sinto-me melhor. Trabalho melhor e divirto-me mais". Como ex-bebedores problema que somos, esta saída faz-nos sorrir. Sabemos que essa pessoa é como uma criança a assobiar no escuro para afugentar o medo. Só se ilude a si própria. No fundo, daria tudo por beber meia dúzia de copos e ficar na mesma. Vai pôr de novo à prova o velho jogo, porque não está feliz com a sobriedade que tem. Não consegue imaginar a vida sem álcool. Chegará o dia em que não vai ser capaz de conceber a vida nem com álcool nem sem álcool. Conhecerá então como poucos a solidão. Estará no momento de saltar para o vazio. Vai então querer que chegue o fim. 

Já mostramos como saímos do fundo. Poderá dizer: "Sim, estou disposto. Mas terei que ficar condenado a uma vida em que me sentirei estúpido, aborrecido e triste, como a de certas pessoas "virtuosas" que conheço? Eu sei que tenho de passar sem álcool, mas como é que é possível? Você tem algum substituto adequado?" 

Sim, há um substituto e é muito mais do que isso. É pertencer a Alcoólicos Anônimos. Aí vai encontrar a libertação da inquietude, do tédio e da preocupação. A sua imaginação vai ser estimulada. A vida terá finalmente um significado. Os melhores anos da sua vida estão para vir. Foi isso que encontramos nesta comunidade e assim será para si também.

"Como é que isso me poderá acontecer?", pergunta. "Onde posso encontrar essas pessoas?" 

Você vai encontrar esses novos amigos no sítio onde vive. Perto de si, há alcoólicos a morrer sem nenhum auxílio, como náufragos de um barco que se afunda. Se vive numa grande cidade, há centenas deles. Da classe alta e da classe baixa, ricos e pobres; estes são os futuros membros dos Alcoólicos Anônimos. Entre eles encontrará amigos para toda a vida. Vai ficar ligado a eles por novos e maravilhosos laços, porque terão escapado juntos do desastre e, lado a lado, irão começar uma caminhada em conjunto. Então perceberá o que significa dar de si próprio para que os outros possam sobreviver e redescobrir a vida. Aprenderá o pleno significado de "Ama o teu próximo como a ti mesmo". 

Pode parecer incrível que estas pessoas venham a ser felizes, respeitadas e de novo úteis. Como podem sair de uma tal infelicidade, má reputação e desesperança? A resposta concreta é que, se estas coisas aconteceram entre nós, elas também podem acontecer consigo. Se o quiser acima de tudo e estiver disposto a utilizar a nossa experiência, estamos certos de que lhe acontecerá também o mesmo. Ainda estamos na era dos milagres. A nossa própria recuperação é testemunho disso. 

A nossa esperança é de que este modesto livro, uma vez lançado na onda mundial do alcoolismo, seja agarrado pelos bebedores derrotados que seguirão as nossas sugestões. Estamos certos de que muitos se porão de pé para empreender a caminhada. Eles encontrarão outros, ainda doentes, e assim, poderão formar-se grupos de Alcoólicos Anônimos em todas as cidades e aldeias, que serão verdadeiros abrigos para aqueles que precisam de encontrar uma solução. 

No capítulo "Trabalhando com os outros" você ficou com uma idéia de como abordamos e ajudamos os outros a recuperar a saúde. Suponha agora que, por seu intermédio, várias famílias adotaram este modo de vida. Você vai querer saber algo mais acerca de como proceder a partir daí. Para lhe dar uma idéia do que o espera, talvez o melhor seja descrever como cresceu a Comunidade entre nós, o que a seguir descrevemos em poucas palavras: Há anos, em 1935, um dos nossos membros fez uma viagem a uma certa cidade do oeste do país. Do ponto de vista de negócios, a viagem correu mal. Se ele tivesse obtido êxito, o seu empreendimento ter-se-ia podido recompor financeiramente, o que na altura, parecia ser de uma importância vital. Mas o negócio terminou em litígio e fracassou por completo. O processo foi acompanhado de muito rancor e controvérsia.

Com amargura e desencorajado, ele viu-se desacreditado e praticamente falido, num sítio desconhecido. Ainda fisicamente debilitado e sóbrio apenas há alguns meses, viu bem que a sua situação era perigosa. Queria muito falar com alguém, mas com quem? 

Numa tarde sombria, ele andava de um lado para o outro no hall do hotel a pensar como iria pagar a sua conta. Num canto da sala havia uma vitrina com uma lista das igrejas locais. Ao fundo, uma porta dava para um bar sedutor. Lá dentro, ele podia ver gente bem disposta. Aí, ele poderia encontrar companhia e descontração mas, a não ser que bebesse uns copos, ele não iria possivelmente ter coragem para meter conversa e passaria um fim de semana solitário. 

É claro que não podia beber, mas nada o impedia de se sentar a uma mesa com um refresco. Afinal de contas, não estava ele sóbrio há já seis meses? Talvez se pudesse permitir beber sem perigo, digamos, três copos - e nem mais um! O medo apoderou-se dele. A situação era perigosíssima. Era outra vez a velha e insidiosa loucura do primeiro copo. Com um arrepio, deu meia volta e dirigiu-se para onde estava a lista das igrejas. A música e a conversa alegre do bar ainda lhe chegavam aos ouvidos. 

Pensou nas suas responsabilidades - na sua família e em todos aqueles que morreriam sem saber que havia uma saída para a recuperação; sim, todos aqueles alcoólicos! Devia haver muitos naquela cidade. Telefonaria a um clérigo. Voltou-lhe a razão e deu graças a Deus. Escolheu uma igreja ao acaso na lista telefônica, entrou numa cabina e pegou no auscultador. 

A chamada ao clérigo conduziu-o a um habitante da cidade que, embora tivesse sido um homem competente e respeitado, estava então no auge do desespero alcoólico. Era a mesma situação de sempre: o lar ameaçado, a mulher doente, os filhos perturbados, contas por pagar e a reputação desfeita. Ele tinha uma vontade desesperada de deixar de beber, mas não via saída, pois tinha tentado seriamente muitas formas de escape. Dolorosamente consciente de que havia algo em si de anormal, o homem não compreendia inteiramente o que significava ser alcoólico. * 

Quando o nosso amigo lhe descreveu a sua experiência, ele concordou que, mesmo com toda a sua força de vontade, nunca tinha conseguido parar de beber por muito tempo. Admitiu que uma experiência espiritual era absolutamente necessária, mas o preço parecia--lhe muito elevado com base no que lhe era proposto. Contou como vivia numa aflição constante de que descobrissem o seu alcoolismo. Tinha naturalmente a obsessão, comum a muitos alcoólicos, de que só poucas pessoas sabiam do seu problema. Por que razão, argumentava ele, deveria perder o que lhe restava ainda do seu trabalho, só para afligir a família ainda mais, ao admitir estupidamente a sua grave condição a pessoas de quem dependia para ganhar a vida? Disse que faria tudo, mas isso não. 

Intrigado, contudo, convidou o nosso amigo para sua casa. Algum tempo depois, justamente quando estava convencido de que já dominava o seu problema de álcool, apanhou uma tremenda bebedeira. Para ele, foi a bebedeira que pôs fim a todas as bebedeiras. Percebeu que tinha de enfrentar honestamente os seus problemas para que Deus lhe concedesse ajuda.

Um dia, pegou o touro pelos cornos, e dispôs-se a dizer àqueles de quem tinha medo qual tinha sido o seu problema. Para sua surpresa, verificou que era bem aceite e que muitos estavam a par do seu alcoolismo. Pegou no carro e fez a ronda das pessoas a quem tinha prejudicado. Visitou-as uma a uma a tremer, porque isso poderia significar a sua ruína, muito em particular para uma pessoa com a sua profissão. 

À meia noite voltou para casa, exausto mas muito contente. Desde esse dia nunca mais voltou a beber. Como se verá mais adiante, este homem representa atualmente muito para a sua comunidade, e em quatro anos, reparou os maiores danos causados em trinta anos de alcoolismo. 

A vida porém não foi fácil para estes dois amigos. Defrontaram-se com muitos problemas. Aperceberam-se ambos de que tinham de se manter ativos espiritualmente. Um dia telefonaram para a enfermeira chefe de um hospital local. Explicaram-lhe o que precisavam e perguntaram-lhe se tinha um paciente alcoólico de primeira classe. 

"Sim", respondeu ela, "Temos um que é um caso muito sério. Acabou de bater numas enfermeiras. Fica completamente doido quando está a beber, mas é uma ótima pessoa quando está sóbrio, embora tenha cá estado oito vezes nos últimos seis meses. Parece que foi um advogado muito conhecido na cidade, mas neste momento está atado à cama". ** 

Tratava-se realmente de um candidato mas, pela descrição, não parecia muito prometedor. Nessa altura, a aplicação de princípios espirituais em tais casos não era tão bem aceite como é agora. Mas um dos amigos disse: "Ponha-o num quarto privado. Vamos vê-lo". 

Dois dias depois, o futuro membro dos Alcoólicos Anônimos olhava com um ar vidrado para os dois à beira da sua cama: "Quem são vocês e porque estou neste quarto privado? Estive sempre numa enfermaria". 

Um dos visitantes disse: "Viemos dar-lhe um tratamento para o alcoolismo". 

O desespero estava estampado na cara do homem ao dizer: "Oh! é inútil. Não há nada que me valha. Sou um homem perdido. As últimas três vezes, embebedei-me ao voltar para casa. Tenho medo de sair da porta. Não consigo compreender isto". 

Durante uma hora, os dois amigos contaram-lhe as suas experiências com o álcool. Repetidamente ele dizia: "Sou eu. Sou assim mesmo. Bebo tal e qual como vocês". 

Explicaram ao doente que ele sofria de uma intoxicação aguda, que degradava o organismo do alcoólico e lhe destorcia o espírito. Falou-se muito sobre o estado mental que antecede o primeiro copo. 

"Sim, sou tal e qual", disse o doente, "é o meu retrato. Vocês sabem realmente do que estão a falar, mas não vejo de que é que isso me pode servir. Vocês são pessoas de respeito. Eu também fui, mas agora já não sou nada. Pelo que me dizem, sei melhor do que nunca, que não consigo parar de beber". Ao ouvir isto, os dois visitantes desataram a rir. "Não vejo onde é que está a graça", disse o futuro membro dos Alcoólicos Anônimos. 

Os dois amigos falaram da sua experiência espiritual e explicaram--lhe o plano de ação que tinham posto em prática. 

Ele interrompeu-os: "Já fui um praticante muito convicto, mas neste caso, não me serviu de nada. Nas manhãs de ressaca rezava a Deus e jurava que nunca mais bebia uma gota de álcool, mas às nove da manhã já estava bêbedo que nem um cacho". 

No dia seguinte, encontramos o candidato mais receptivo. Tinha estado a pensar no caso. "Talvez vocês tenham razão," disse ele. "É possível que Deus consiga tudo". E acrescentou, "Apesar de Ele ter feito pouco por mim quando lutava sozinho contra o álcool". 

Ao terceiro dia, o advogado entregou a sua vida aos cuidados e orientação do seu Criador e declarou-se inteiramente disposto a fazer o que fosse preciso. A sua mulher foi vê-lo, mal se atrevendo a ter esperança, embora tivesse notado já alguma diferença no seu marido. Ele tinha começado a viver uma experiência espiritual. 

Nessa mesma tarde, ele vestiu-se e saiu do hospital convertido num homem livre. Tomou parte numa campanha política, fez discursos, frequentou centros de reunião de todos os gêneros, passando muitas vezes as noites em claro. Perdeu por pouco a eleição a que se candidatou e não foi eleito. Tinha porém encontrado Deus e, ao encontrar Deus, encontrou-se a si próprio. 

Isto foi em Junho de 1935. Nunca mais voltou a beber. Também ele se tornou um membro respeitado e útil na sua comunidade. Ele tem ajudado outros a recuperarem-se e desempenha um papel importante na igreja, da qual esteve afastado muito tempo. 

Assim, como se viu, havia naquela cidade três alcoólicos que sentiam que tinham de dar aos outros o que tinham encontrado, ou se afundariam de novo. Depois de vários fracassos para encontrar outros, apareceu o quarto. Veio por intermédio dum conhecido que tinha ouvido a boa notícia. Tratava-se de um jovem irresponsável, cujos pais não conseguiam perceber se ele queria ou não deixar de beber. Eram pessoas profundamente religiosas e muito abaladas pela obstinação do filho em não querer nada com a igreja. Sofria terrivelmente com as suas bebedeiras, mas parecia não se poder fazer nada por ele. Consentiu, no entanto, em ir para o hospital, onde lhe deram precisamente o mesmo quarto recentemente desocupado pelo advogado. 

Recebeu três visitantes. Ao fim de pouco tempo disse: "Faz sentido a maneira como vocês apresentam a questão espiritual. Estou pronto para pôr mãos à obra. Ao fim e ao cabo, acho que os meus velhotes tinham razão". E assim, se juntou mais um à Comunidade. 

Durante este tempo, o nosso amigo do incidente do hotel ficou nessa cidade mais três meses. Quando regressou a casa, deixou lá o seu primeiro conhecimento, o advogado e o jovem irresponsável. Estes homens tinham descoberto algo de completamente novo na vida. Embora soubessem que tinham de ajudar outros alcoólicos para eles próprios se manterem sóbrios, esse motivo em si mesmo tornou-se secundário. Era superado pela felicidade que descobriram em se darem aos outros. Eles partilhavam as suas casas, os seus escassos recursos e dedicavam de boa vontade as horas livres aos companheiros que sofriam. Dia e noite, estavam dispostos a levar um novo homem para o hospital e a visitá-lo em seguida. O número deles aumentou. Passaram por uns quantos fracassos dolorosos, mas nesses casos esforçavam-se por introduzir os familiares num modo de vida espiritual, trazendo deste modo conforto a muita inquietação e sofrimento. 

Passado ano e meio, estes três homens obtiveram êxito com mais sete. Como se viam frequentemente, era rara a noite em que não houvesse um pequeno grupo de homens e mulheres que se encontravam em casa de um deles, felizes pela sua libertação e sempre a pensarem como encontrar um meio de levar a sua descoberta a recém-chegados. Para além destes encontros informais, estabeleceu-se em breve o costume de se reservar uma noite por semana para uma reunião, a que poderiam assistir todos os interessados num modo de vida espiritual. Além da camaradagem e sociabilidade, o objetivo fundamental era o de proporcionar a ocasião e lugar para os novos interessados falarem dos seus problemas. 

Pessoas de fora começaram a interessar-se. Um homem e a sua mulher puseram a sua casa, que era grande, à disposição deste conjunto de pessoas tão estranhamente diverso. Este casal tornou-se desde então tão entusiasta com a idéia que dedicou a sua casa a esta obra. Muitas mulheres em estado de confusão vieram a esta casa para encontrar companhia carinhosa e compreensiva entre outras mulheres que conheciam o problema, para ouvir da boca dos maridos alcoólicos o que lhes tinha acontecido, para serem aconselhadas sobre a maneira como hospitalizar e tratar os seus obstinados maridos quando tropeçassem de novo. 

Muitos homens, ainda atordoados pela sua experiência no hospital, transpuseram o limiar dessa casa para a liberdade. Muitos alcoólicos que ali entraram, saíram com uma resposta. Eles ficavam rendidos perante essa gente alegre que ria das suas próprias desgraças e compreendia as deles. Impressionados por aqueles que os visitavam no hospital, capitulavam mais tarde por completo ao ouvirem num quarto dessa casa, a história dum homem, cuja experiência se assemelhava à deles. A expressão na cara das mulheres, esse algo indefinível no olhar dos homens, a atmosfera estimulante e eletrizante do lugar, conjugavam-se para lhes fazer perceber que tinham encontrado o seu abrigo.

O modo prático de abordar os problemas, a ausência de qualquer forma de intolerância, a informalidade, a genuína democracia, a fantástica compreensão dessas pessoas, eram irresistíveis. Eles e as suas mulheres saiam animados com a idéia do que poderiam agora fazer por um amigo doente e pela sua família. Sabiam que tinham um grande número de novos amigos e era como se conhecessem estes estranhos desde sempre. Tinham presenciado milagres e certamente que um milagre também lhes iria acontecer. Eles tinham-se apercebido da Grande Realidade: o seu Deus de Amor e Criador Todo Poderoso. 

Atualmente, esta casa já é pequena para os seus visitantes semanais, cujo número atinge em regra os sessenta ou oitenta. Os alcoólicos vêm de longe e de perto. Famílias percorrem longas distâncias, vindas de cidades vizinhas, para participarem nestas reuniões. Numa localidade situada a trinta milhas há quinze membros dos Alcoólicos Anônimos. Tratando-se de uma cidade grande, pensamos que um dia o número de membros será da ordem das centenas. *** 

Mas a vida entre os Alcoólicos Anônimos não se limita à participação em reuniões e a visitas a hospitais. No dia a dia, procura-se resolver questões antigas, ajudar a restabelecer divergências familiares, advogar filhos deserdados perante pais ainda furiosos, emprestar dinheiro e procurar emprego a membros, nos casos em que as circunstâncias o justifiquem. As boas-vindas e a cordialidade são extensivas a todos, por mais desacreditados que estejam ou por mais baixo que tenham caído - desde que a sua intenção seja séria. Distinções sociais, rivalidades e invejas triviais não se levam a sério e são motivo para rir. Como náufragos do mesmo navio, salvos e unidos por um mesmo Deus, com o coração e o espírito atentos ao bem-estar dos outros, as coisas que têm grande importância para outros, deixam de ter grande significado para eles. E como é que poderiam tê-lo? 

Em circunstâncias não muito diferentes, está a acontecer o mesmo em muitas cidades do Leste. Numa delas há um hospital muito conhecido para tratamento da adicção ao álcool e drogas. Há seis anos um dos nossos membros esteve lá internado. Muitos de nós sentimos, pela primeira vez, a Presença e o Poder de Deus dentro destas paredes. Temos uma grande dívida de gratidão para com o médico de serviço, porque pondo inclusivamente em risco o seu trabalho, expressou a sua confiança no nosso. 

Quase todos os dias, este médico sugere a um dos seus pacientes que receba a nossa visita. Como compreende o nosso trabalho, seleciona com intuição os que estão dispostos e prontos para recuperar numa base espiritual. Muitos de nós, que somos antigos pacientes desse hospital, vamos lá para dar ajuda. Para além disso, nesta mesma cidade do Leste, há reuniões informais, como as que descrevemos, e onde se podem agora ver dezenas de membros. Tal como acontece com os nossos amigos do Oeste, criam-se amizades com a mesma facilidade e encontra--se o mesmo espírito de ajuda mútua. Viaja-se muito entre Leste e Oeste, o que nos faz prever um grande crescimento com este útil intercâmbio. 

Esperamos que um dia todo o alcoólico em viagem possa encontrar um grupo de Alcoólicos Anônimos no seu destino. Até certo ponto isto já se tornou uma realidade. Alguns de nós somos vendedores e viajamos de um lado para o outro. Grupos de dois, três e cinco de nós surgiram noutros sítios através do contacto com os nossos dois maiores centros. Aqueles de nós que viajam visitam-nos com a maior frequência possível. Esta prática permite-nos ajudá-los e, ao mesmo tempo, evitar certas distrações sedutoras pelo caminho, que qualquer homem que viaje pode testemunhar. **** 

Assim crescemos e, você também pode "crescer", ainda que seja apenas com este livro para o ajudar. Acreditamos e temos esperança de que ele contenha tudo o que precisa para começar. 
Sabemos no que está a pensar. Diz para si mesmo: "Estou nervoso e sozinho. Eu não vou conseguir". Mas consegue. Esquece-se de que acaba de encontrar uma fonte de energia muito maior do que a sua própria. Com um tal recurso, conseguir o que nós conseguimos, é só uma questão de boa vontade, paciência e trabalho. 

Conhecemos um membro de A.A. que vive numa grande cidade. Estava lá apenas há umas semanas, quando descobriu que aí havia uma maior percentagem de alcoólicos do que em qualquer outra cidade do país. Isto passou-se apenas alguns dias antes de se escreverem estas palavras (1939). As autoridades mostravam-se apreensivas com o problema. Ele entrou em contacto com um eminente psiquiatra, que tinha assumido determinadas iniciativas para cuidar da saúde mental na comunidade. O médico era muito competente e mostrava-se extremamente interessado em adotar qualquer método de trabalho que tratasse o problema. Perguntou então ao nosso amigo o que ele tinha para oferecer. 

O nosso amigo descreveu-lhe o nosso método e o efeito foi tão positivo que o médico concordou em experimentá-lo nos seus pacientes e noutros alcoólicos de uma clínica onde trabalha. Foram igualmente tomadas disposições junto do psiquiatra chefe de um grande hospital público para escolher ainda outros casos que faziam parte do contínuo fluxo de miséria que passava regularmente por essa instituição. 

Deste modo o nosso diligente companheiro terá em breve muitos amigos. Alguns deles poderão cair para talvez nunca mais se levantarem, mas se a nossa experiência pode servir de critério, mais de metade dos que foram abordados tornar-se-ão membros dos Alcoólicos Anônimos. Quando uns quantos homens nesta cidade se tiverem encontrado a si próprios e descoberto a alegria de ajudar outros a enfrentarem de novo a vida, o processo não parará, enquanto todo o alcoólico dessa cidade não tiver a sua oportunidade de recuperação - se ele puder e quiser. 

"Mas", pode ainda dizer: "Não terei o benefício de entrar em contacto com os que escreveram este livro". Quem sabe! Só Deus pode decidir isso, de modo que tem de se lembrar que você depende realmente é Dele. Ele mostrar-lhe-á como criar o grupo de que tanto precisa. ***** 

É intenção do nosso livro oferecer apenas sugestões. Temos consciência do pouco que sabemos. Tanto a si como a nós, Deus fará constantemente revelações. Peça-Lhe na sua meditação da manhã o que pode fazer em cada dia por aquele que ainda sofre. 

As respostas virão se estiver tudo em ordem consigo próprio. Mas é óbvio que não pode transmitir aos outros aquilo que não tem. Empenhe-se para que a sua relação com Ele seja boa e acontecer-lhe-ão coisas extraordinárias a si e a muitos outros. Isto é para nós a Grande Realidade. 

Abandone-se a Deus como O concebe. Admita os seus erros perante Ele e perante os seus semelhantes. Limpe os destroços do passado. Dê livremente do que encontrar e junte-se a nós. Estaremos consigo na Comunidade do Espírito e, ao percorrer a Estrada de um Destino Feliz, encontrará seguramente alguns de nós.

Que Deus o abençoe e o guarde - até lá.



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