domingo, 31 de julho de 2011





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Pega na mentira


Quando você vive aqueles momentos de desespero, acreditando que só uma internação salva, quando tudo mais lhe resultou inútil e você não é outra coisa, senão o desespero sentido. Você se socorre e sai por ai pesquisando aonde vai internar a pessoa que está "fora da ordem", conforme você a concebe. Sua cabeça além de estar desordenada, também virou um inferno, mas você não consegue ver nada além da sua própria obssessão. 

Sua falta de controle sobre o que não consegue controlar, devora seus bons e inteligentes pensamentos. Você ficou extremada, cheia de idéias radicais, com desejo manifesto, extremado e exteriorizado quando diz e repete que tem vontade de "mata-lo", que prefere "ele" morto, do que no mundo drogas. Neste momento você se tornou a pior de todas as drogas. Ficou desalmada !

Você já não percebe o que diz e se transformou numa droga mais do que mortífera, virou uma arma de carne e osso, com desejo de matar gente de carne e osso, configurando um pensamento absurdo. A droga permanece, quem deve morrer é o próprio "amado", que é humano. Na relação já não sabe distinguir o ódio do amor, porque estes dois sentimentos estão mesclados. Um ser sem humanidade, é um ser desintegrado. Você não observa a própria loucura. Ficou completamente desorganizada, com a mente desarranjada. Ninguém vai reparar isso e se reparar alguma coisa, não será com o olhar repressivo, rude, agreste, sem sentimentos nobres, como uma pedra, como se enxerga um drogado. O olhar do ódio social, onde o "drogado" é visto sob a velha ótica, viciada e deformada, herdada duma era repressiva, que se instalou no Brasil, pós 64. Esse olhar social está contido, mediante versos, na letra do Hino à Repressão, que ganhou nova versão: 

"E se definitivamente a sociedade Só te tem desprezo e horror, E mesmo nas galeras és nocivo És estorvo, és um tumor Que Deus te proteja És preso comum"...

Ou, talvez, com o olhar policialesco que a sociedade adquiriu, neste processo de desumanização do dependente químico. No ápice de uma crise o olhar é este: "A lei tem motivos /Pra te confinar /Nas grades do teu próprio lar". Cárcere privado é quase que "institucionalizado", gente vai sendo amarrada, outras apanham publicamente, outras em quartos reservados às torturas dos "pacientes" que estão em busca de recuperação. As contradições se acentuam. Bater em um usuário, ou mata-lo, tornou-se indiferente. E você diz: por mim, é menos um!

Pra você, que perdeu a sensibilidade humana, marcada pelo preconceito, drogados são como são vistos e tratados os "Severinos", as "Marias" e "Josés". Que se danem, diz raivosa.

Sem dúvida alguma, a mentalidade histérico-repressiva, o modo dominante de pensar, incutido no seio da sociedade, prejudica o "sentir" e o sentido de "humanidade" que todo codependente tem e perde. No ápice de uma crise você quer trancafia-lo e se auto-justifica: "A lei tem motivos/Pra te confinar/ Nas grades do teu próprio lar".

Não tem bússola, perdeu todos os pontos cardeais, esta sem sul, nem norte e sem sorte na vida. O pessimismo virou companhia...Você chama por Deus e só vê capeta.

O mundo está perdido, repete. A polícia devia matar traficante, pensa. A cracolândia lhe apavora, estremece. Ao ver na TV um corpo desovado, sente horror, gela e treme. Depois que passa, dá graças a Deus. É nesse indo e vindo de contradições, de afirmações e negações que você desperta e diz: alguma coisa morreu dentro de mim. Você vive um pesadelo. 

sábado, 30 de julho de 2011

Polícia fecha clínica clandestina - dependentes químicos

QUINTA-FEIRA, 28 DE JULHO DE 2011

SP: Polícia fecha clínica clandestina para dependentes químicos e prende donos por tortura

Um dos internos conseguiu fugir e fez a denúncia - Reprodução/TV Globo
SÃO PAULO - A polícia fechou nesta quinta-feira uma clínica para tratamento de dependentes químicos em Ituverava, a 416 km da capital. Os donos e um funcionário foram presos por cárcere privado e tortura. Um dos internos conseguiu fugir e fez a denúncia.
Foram encontrados na clínica pedaços de pau e algemas, usados nos castigos. Remédios de uso controlado foram apreendidos porque não havia receita. Vinte e oito pacientes estavam na clínica, que não possuía alvará de funcionamento.
O GLOBO

http://itabapoana.blogspot.com/2011/07/sp-policia-fecha-clinica-clandestina.html


Pensamento humano de Nery

"As drogas, mesmo o crack, são produtos químicos sem alma: não falam, não pensam e não simbolizam. Isto é coisa de humanos. Drogas, isto não me interessa. Meu interesse é pelos humanos e suas vicissitudes."
Antonio Nery Filho

UM NOVO TEMPO?

Faz algum tempo não posto um texto neste blog. Acho que meu silêncio tem a ver com “um tempo para reflexão”. Faz algum tempo escrevi que havia sido tomado por um grande desânimo diante do que me parecia ser um discurso alarmista e pouco sustentado cientificamente, sobre o crack. Saindo de minha natação semanal fui abordado por um segurança nestes termos “é doutor, o crack é um problema…”. Até chegar em casa pensei : de onde saiu esta idéia? O que esse senhor tem lido que eu desconheço, será que ouve noticiários que me são inacessíveis? Ou será que repete o que lhe é dito todo dia pelos telejornais e que acaba ganhando contornos de absoluta verdade? Não há um santo dia ou mesmo uma santa hora (como diria o Robin, parceiro do Batman), sem alguma notícia sobre droga, algum bandido preso depois de assaltar e matar alguém, movido por outra droga, um delegado afirmando que as drogas estão aumentando na comunidade e, finalmente alguma coisa sobre a vedete destronada – o crack, e a vedete mais recente , destronadora – o oxi, ambas a mesma coisa, apenas com roupas (solventes) diferentes. Como não silenciar diante disto tudo e refletir: será verdade que as drogas, produtos químicos inertes, insensíveis à dor, incapazes de amar, incapazes de rir ou de chorar, rígidas, duras em suas conformações minerais (ou vegetais), são as responsáveis por todo o mal, por todas as misérias do mundo, no dizer de Bourdieu? Fico perplexo diante da ausência na mídia de referência às pessoas, seres humanos, Antonios, Pedros, Ronaldos, Marias, Madalenas e todos os nomes que inventamos ou copiamos para designar cada um em sua singularidade coletiva. Mesmo quando a mídia ou a polícia se refere a “um elemento”, para dizer de alguém que fracassou ou nasceu fracassado, ou se criou no fracasso ou que não teve oportunidade de ser outra coisa, o “elemento” vem, imediatamente, associado a uma droga. “Foi por causa dela”, dirão, para explicar o delito, como se a droga tivesse um corpo que seduz e uma alma para penar nas profundezas do inferno depois do julgamento. A parte humana dos humanos tem sido sistematicamente substituída pela parte não humana das drogas. Contudo, nos últimos dias o impossível que se anunciava aconteceu: o Ex-Presidente Fernando Henrique Cardoso protagonizou um documentário que nos encheu de esperança – a guerra às drogas não serviu para os consumidores; a guerra às drogas serviu aos traficantes; os usuários não são bandidos; droga é uma questão de saúde e de informação mais do que de repressão cega e indiscriminada. O Presidente convoca a sociedade brasileira para uma mudança de paradigma. Droga não é coisa de bandido é coisa de humanos. Qual a novidade nisto? Nenhuma. Claude Olievenstein disse isto nos anos setenta em Paris. Luis Patrício em Portugal. Não é o mesmo quando mortais dizem coisas sobre mortais, salvo quando se trata de tragédias. A novidade agora consiste na coragem de um homem público, culto e inteligente, reconhecido no Brasil e pelo mundo, de assumir que não estava bem informado ou estava impossibilitado de retirar a venda dos olhos, disposto a assumir o custo social que a ignorância ou simplesmente a má fé vão cobrar-lhe. Acho que é chegado um tempo de esperança para usuários, familiares e profissionais que não temem as drogas nem se beneficiam com elas. Não se trata de promover as drogas mas de outro tempo, um tempo no qual a violência econômica e a violência física tenham sido deixadas para trás com a ilegalidade. Nós da saúde cuidaremos dos usuários e seus males, físicos e psíquicos, próprios dos humanos sem estigmatizações nem preconceitos. E isto não é pouco. Só humano, “demasiado humano”.

Dr. Antonio Nery Filho


Prof. Antonio Nery Filho, MD, PHD. 
Fundador e Coordenador geral do CETAD 
Faculdade de Medicina da Bahia/UFBA.
Crédito: Conversando.com

Saiba o que mudou com a nova resolução para Comunidades Terapêuticas



Seis dias após a decisão da presidente Dilma Roussef pela revogação da resolução RDC 101/2001, a ANVISA publicou, no início deste mês, nova norma de funcionamento para as comunidades terapêuticas.

A RDC29/2011 traz mudanças significativas em comparação à legislação anterior, seguindo a orientação de possibilitar maior acesso destes estabelecimentos aos recursos públicos voltados para o tratamento a usuários de álcool e outras drogas. De acordo com o diretor-presidente da ANVISA, Dirceu Barbano, foi elaborada “uma norma que ampara uma ação prioritária do governo que é o combate às drogas”.

Para tanto, o novo regulamento não mais exige das comunidades terapêuticas o perfil de um equipamento de serviço de saúde, extinguindo a obrigatoriedade de uma equipe mínima de profissionais, por exemplo. Ainda assim, a ANVISA institui a convivência entre os pares como principal instrumento terapêutico a ser utilizado no tratamento a usuários de álcool e outras drogas, conforme previsto na RDC29/2011.

Recursos Humanos - Antes, na resolução de 2001, para um grupo de 30 residentes, era requisitada uma equipe mínima formada por um profissional com nível superior (graduado na área de saúde ou assistência social e especializado na atenção a usuários de álcool e outras drogas), um coordenador administrativo e três agentes comunitários também capacitados para atenção ao público de usuários.

Na legislação atual, independentemente do número de residentes, a equipe mínima deve ter um responsável técnico de nível superior (graduado em qualquer área, contanto que o mesmo seja legalmente habilitado), um substituto com a mesma qualificação e um profissional que possa responder pelas questões operacionais do estabelecimento, podendo este ser o responsável técnico.

É exigida também a presença de profissionais em período integral, "em número compatível com as atividades desenvolvidas pelo serviço".

Outras alterações - Também foram verificadas mudanças nas regras para a infra-estrutura física destas instituições, não mais sendo impostas nem área e nem quantidade mínima de espaços para um número determinado de residentes. Além disso, não terão mais o dever de obedecer ao critério de abrigar, no máximo, 90 residentes.

Procedimentos de monitoramento, fiscalização e avaliação das comunidades terapêuticas - antes a cargo da secretarias de saúde e dos conselhos sobre drogas -, agora serão realizadas pela legislação sanitária local.

Nesse sentido, as instituições deverão ter sempre disponíveis e atualizados, documento com descrição de finalidade e atividades administrativas, técnicas e assistenciais e a ficha com detalhes da rotina de cada residente, como atividades terapêuticas e de reinserção social, além do tempo previsto de permanência na instituição.

Cuidados com o Usuário - Esta ficha deve, inclusive, estar acessível ao residente e seus responsáveis, assim como as normas e rotinas de funcionamento do estabelecimento. O documento prevê também garantias anteriormente estipuladas ao residente, como a permanência voluntária, o direito de desistir do tratamento (alta a pedido), a proibição de castigos de qualquer natureza e o respeito ao credo, ideologia e orientação sexual, entre outros.

As comunidades terapêuticas tem o prazo de até um ano para se adequar à RDC29/2011 e, em caso de descumprimento, poderão sofrer as sanções como interdição, multa, cancelamento de licença ou intervenção estatal, previstas na lei nº 6.437/1977.

Crédito: CETAD

Era de Acorrentados


Por onde anda a saúde pública?

A dependência química por se tratar de doença multifacetada certamente que inclui a família como fator de entendimento e tratamento no campo da psicodinãmica. Nos parece nítido quando nos percebemos num tipo de "era de acorrentados" inundando telejornais. Mães desesperadas, desinformadas, adoecidas, acorrentam seus filhos tentando solucionar o problema.

A falta de recursos psicológicos impede que a família se perceba parte do processo e o ecaminhamento para a resolução fica mais distante.

O papel da família daquele que sofre de dependência química deve ser de apoio. Buscar ajuda também é essencial - e grupos de ajuda mútua como por exemplo o Amor Exigente é reconhecido instrumento a favor da vida.

A "era dos acorrentados" nos diz algo. Nos diz do vazio das pessoas, de sua solidão, do descaso da saúde pública.

Postado por Especialista em Dependência

Crédito
... dependência química tem jeito!
Marcia Cristina Henrique de Souza (51)8449.9219 

Família: "função", "grupo", "alternativas" e a "internação


Entender a família enquanto função é crucial, principalmente frente a tantos "novos arranjos familiares" que às vezes chegam a arrepiar àqueles mais desavisados... A família é, antes de tudo, função. Isso significa que antes de se pensar numa configuração em si, com papai mamãe e filhinho, as famílias existem há muito tempo e tem função de organização social e para tanto deve exercer o estímulo à maturidade e o afeto.

A família é um grupo. E como grupo possui integrantes que se encontram interligados. No caso familiar esses integrantes ligam-se pelo parentesco, ancestralidade, e sua estrutura possuirá características peculiares. Quanto à estrutura podemos ver que existem as famílias nucleares (homem, melher e filhos, sendo biológicos ou não), monoparentais (pais únicos, em decorrência do divórcio, abandono, adoção por uma só pessoa), famílias ampliadas ou consangüíneas (onde existe extensão de pais para avós ou outros parentes) e as famílias alternativas que constituem as comunitárias (as crianças são de responsabilidade de todos os membros da família) e as homossexuais (ligação conjugal de duas pessoas do mesmo sexo com filhos adotivos ou biológicos de um dos parceiros).

Quanto às "alternativas", quero fazer a seguinte reflexão: Não podemos escolher a família que temos, mas desde que pertençamos a um grupo familiar teremos a oportunidade de buscar novos grupos e buscar funções familiares em grupos não necessariamente de familiares. Os outros grupos serão a família muitas vezes e alguns membros serão representados e exercerão a função de familiares que muitas vezes não estão disponíveis em nossas vidas.

A internação em comunidade terapêutica pode e deve ter significado de "movimento de saúde" e toda a família deverá movimentar-se junto, seja na aproximação e revisão de papéis, seja no acompanhamento em forma de visitas e contatos com a equipe multidisciplinar, seja acatando juntamente com a equipe a melhor forma de desenvolver o acompanhamento do residente, enfim, seja participando dos grupos de ajuda a familiares de dependentes químicos.

É preciso que a família se repense, se reveja nesses tempos tão individualistas, se dê conta de sua função social de limite=amor, de cuidado, de proteção e desenvolvimento rumo à maturidade. Seu sentido deve ser de melhora e progresso enquanto constituição de seres humanos. Deve buscar alternativas , apoio, quando a vida sinaliza que algo não vai bem e que há sofrimento (sintoma). Não deve culpabilizar o outro ou mesmo uma instituição, mas compartilhar de responsabilidades e trilhar um caminhos JUNTOS!

A construção é em conjunto, pois NINGUÉM PODE SOZINHO.

A gente "só é" "em relação ao outro, sempre" !!!

sexta-feira, 29 de julho de 2011

MP investiga casas de recuperação, CEARÁ



Clínicas de torturas, São Paulo






Esse drama envolvendo Clínicas em São Paulo é bem pior do que eu imaginava. Essas loucuras todas acontecendo e é importante denunciar. A metodologia é a mesma. São muitos casos. É preciso haver uma fiscalização severa, até porque, muitos proprietários são tão manipuladores que podem conduzir pacientes para negarem que foram submetidos a tortura física e psicológica, como já presenciei.

FONTE E Crédito: JORNAL DA GLOBO

Edição do dia 28/07/2011

29/07/2011 00h48 - Atualizado em 29/07/2011 00h57 

Donos de clínica para dependentes
químicos são acusados de tortura



Denúncias de cárcere privado e tortura partiram de um paciente, que conseguiu escapar. Clínica funcionava sem licença desde janeiro em Ituverava, interior de São Paulo. Donos foram presos.

A piscina e a varanda foram só o que as famílias viram quando deixaram os pacientes. O que não sabiam é que o espaço agradável escondia quartos onde 28 dependentes químicos viveram dias, meses de horror. 

A polícia entrou com mandado judicial e prendeu em flagrante os donos e um funcionário. A clínica funcionava sem licença desde janeiro deste ano em Ituverava, interior de São Paulo. 

Denúncias de cárcere privado e tortura partiram de um paciente, que conseguiu escapar no último fim de semana. 

"Inúmeras irregularidades foram encontradas. Inúmeros sinais de que eles eram sim maltratados, agredidos, torturados", diz a delegada de polícia, Cristina Bueno de Oliveira. 

Por mês, as famílias pagavam R$ 450 pela internação. Um dos pacientes já passou por exame e o médico constatou que as marcas, em todo o corpol são de espancamentos. 

"Me mantinha trancado e algemado na cama e me batiam muito com madeiras chutes e pontapés", relata uma das vítimas. 

Os internos também contaram a polícia que um dos castigos para quem fugia da clínica era ir para um cômodo, que funciona como depósito. Eles ficavam presos num espaço pequeno que tem uma pia, um vaso sanitário e uma única abertura por onde entra a luz em cima. 

A polícia vai investigar outras clínicas. Há denúncias de que alguns pacientes ficavam tão machucados, que eram levados para fazer tratamento em outros locais e tudo era mantido em segredo. 

O advogado dos donos da clínica Recanto de Luz, Emílio de Menezes, disse por telefone, que vai esperar o indiciamento da polícia para depois fazer a defesa dos clientes.

Veja o vídeo: http://migre.me/5ncxq

AFINIDADE, Arthur da Távola



A afinidade não é o mais brilhante, mas o mais sutil,
delicado e penetrante dos sentimentos.
E o mais independente.
Não importa o tempo, a ausência, os adiamentos,
as distâncias, as impossibilidades.
Quando há afinidade, qualquer reencontro
retoma a relação, o diálogo, a conversa, o afeto
no exato ponto em que foi interrompido.

Afinidade é não haver tempo mediando a vida.
É uma vitória do adivinhado sobre o real.
Do subjetivo para o objetivo.
Do permanente sobre o passageiro.
Do básico sobre o superficial.

Ter afinidade é muito raro.
Mas quando existe não precisa de códigos
verbais para se manifestar.
Existia antes do conhecimento,
irradia durante e permanece depois que
as pessoas deixaram de estar juntas.
O que você tem dificuldade de expressar
a um não afim, sai simples e claro diante
de alguém com quem você tem afinidade.

Afinidade é ficar longe pensando parecido a
respeito dos mesmos fatos que impressionam comovem ou mobilizam.
É ficar conversando sem trocar palavras.
É receber o que vem do outro com aceitação anterior ao entendimento

Afinidade é sentir com. Nem sentir contra,
nem sentir para, nem sentir por, nem sentir pelo.
Quanta gente ama loucamente,
mas sente contra o ser amado.
Quantos amam e sentem para o ser amado,
não para eles próprios.

Sentir com é não ter necessidade de explicar o que está sentindo.
É olhar e perceber.
É mais calar do que falar, ou, quando falar,
jamais explicar: apenas afirmar.

Afinidade é jamais sentir por.
Quem sente por, confunde afinidade com masoquismo.
Mas quem sente com, avalia sem se contaminar.
Compreende sem ocupar o lugar do outro.
Aceita para poder questionar.
Quem não tem afinidade, questiona por não aceitar.

Afinidade é ter perdas semelhantes e iguais esperanças.
É conversar no silêncio, tanto das possibilidades exercidas,
quanto das impossibilidades vividas.

Afinidade é retomar a relação no ponto em que
parou sem lamentar o tempo de separação.
Porque tempo e separação nunca existiram.
Foram apenas oportunidades dadas (tiradas) pela vida,
para que a maturação comum pudesse se dar.
E para que cada pessoa pudesse e possa ser,
cada vez mais a expressão do outro sob a
forma ampliada do eu individual aprimorado.
SPH!

AUTO-ESTIMA , Dr. Lais Marques da Silva

AUTO-ESTIMA 

Auto-estima. Valorização de si mesmo, amor próprio. 

Entre os alcoólicos, é comum observar que, anteriormente ao desenvolvimento da dependência química, eram egocêntricos, apresentavam baixa capacidade de suportar tensões nervosas e que tinham baixa auto-estima, embora esses traços não concorram para elevar o risco de se tornarem alcoólicos.

Para sair de um padrão emocional baixo, os alcoólicos dependem de novas e poderosas fontes de auto-estima e de esperança, sendo observado que uma abstinência estável esteja ligada a uma mudança profunda de personalidade que ocorre, não por coincidência, com a evolução que se verifica no decurso do crescimento espiritual.

Em A.A. não se estuda o problema do alcoolismo nem se faz diagnóstico. Diagnosticar como alcoólico corresponderia a rotular de um modo que pode causar dano tanto à auto-estima quanto à aceitação social.
A auto-estima recebe um reforço considerável quando o alcoólico entra em serviço, uma vez que não só percebe que pode fazer alguma coisa pelos outros, mas também porque o serviço tende a reduzir a preocupação mórbida que o alcoólico tem consigo mesmo, além de fortalecer a ligação entre o membro de A.A. e o grupo.

A elevação da auto-estima é de enorme importância, pois leva os alcoólicos a mudanças de atitude e a melhores resultados do que os que se conseguem simplesmente fazendo ameaças ou apelando para a racionalidade ao se procurar fazer aconselhamento. É uma mudança de atitude. A recuperação está intimamente associada ao ganho de auto-estima.

Dr. Lais Marques da Silva, ex-presidente da Junaab (Junta Nacional de Alcoólicos Anônimos do Brasil)

Um outro fato importante ligado ao aumento da auto-estima é que, na medida em que ela aumenta, o alcoólico readquire a capacidade de ouvir as mensagens que são passadas nos grupos. Ele se torna permeável, aceita a comunidade formada pelo grupo.

Auto-estima é alguma coisa que não se pode pegar, mas ela influi na nossa maneira de sentir e de ser. Não se pode vê-la, mas está lá quando nos vemos no espelho. Não podemos ouvi-la, mas esta lá quando falamos com nós mesmos.

Estima é a palavra que usamos para coisa ou pessoa que avaliamos como sendo de valor. Se se acha que uma pessoa tem valor, isso significa que ela está em elevada estima. Temos estima por um troféu porque ele traduz o valor da conquista. Auto significa de si mesmo e, aí está então a auto-estima significando que nos achamos importantes. É como nos vemos e como sentimos acerca das nossas realizações. É a maneira silenciosa de se achar de valor, de ser amado e aceito pelas pessoas.

A auto-estima ajuda a manter a cabeça elevada, a ter orgulho de si mesmo e do que podemos fazer. Dá coragem para tentar novas coisas e poder para acreditar em si mesmo. Dá respeito a si mesmo quando se comete um engano. Quando nos respeitamos, as outras pessoas também o fazem. É também necessária para fazer opções certas acerca de nós mesmos.

Naturalmente, todos nós temos altos e baixos, mas ter baixa auto-estima não é bom. Sentir-se sem importância causa tristeza e isso pode inibir as nossas ações, dificultar fazer novas amizades. Ter elevada auto-estima é importante para crescer.

É preciso fazer uma lista das coisas em que somos bons, quaisquer que sejam elas. É preciso que nos cumprimentemos a cada dia por todas as coisas que fazemos bem e de bom e ainda lembrar delas antes de dormir.

É preciso gostar do nosso corpo porque ele é nosso, afinal. Se há algo que pode ser corrigido, é corrigir. Mas é necessário aceitar o que não se pode modificar. Se pensamentos negativos invadem a nossa mente, que se dê um basta neles.

É preciso manter o foco nas boas coisas e nas boas qualidades que temos e, sobretudo, aprender a nos aceitar. É preciso fazer brilhar a nossa auto-estima.

PENSAMENTOS QUE AJUDAM

“Quando me amei de verdade, compreendi que em qualquer circunstância, eu estava no lugar certo, na hora certa, no momento exato. E, então, pude relaxar. Hoje sei que isso tem nome ... Auto-estima”.

“Quando me amei de verdade, comecei a me livrar de tudo que não fosse saudável: pessoas, tarefas, tudo e qualquer coisa que me pusesse para baixo. De início, a minha razão chamou essa atitude de egoísmo. Hoje sei que se chama ... Amor-próprio”.

“Quando me amei de verdade, desisti de ficar revivendo o passado e de me preocupar com o futuro. Agora, me mantenho no presente, que é onde a vida acontece. Hoje vivo um dia de cada vez. Isso é ...Plenitude”.

“Quando me amei de verdade, desisti de querer ter sempre razão e, com isso, errei menos vezes. Hoje descobri a ... Humildade”.

“Quando me amei de verdade, deixei de temer meu tempo livre, desisti de fazer grandes planos e abandonei os projetos megalômanos de futuro. Hoje faço o que acho certo, o que gosto, quando quero e no meu próprio ritmo. Hoje sei que isso é ... Simplicidade”.

“Quando me amei de verdade, comecei a perceber como é ofensivo tentar forçar alguma situação ou alguém apenas para realizar aquilo que desejo, mesmo sabendo que não é o momento ou que a pessoa não está preparada, inclusive eu mesmo. Hoje sei que o nome disso é ... Respeito”.

“Quando me amei de verdade, parei de desejar que a minha vida fosse diferente e comecei a ver que tudo o que acontece contribui para o meu crescimento. Hoje chamo isso de ... Amadurecimento”.

“Quando me amei de verdade, pude perceber que a minha angústia, meu sofrimento emocional, não passa de um sinal de que estou indo contra as minhas verdades. Hoje seu que isso é ... Autenticidade”.

“Quando me amei de verdade, percebi que a minha mente pode me atormentar e me decepcionar. Mas quando eu a coloco a serviço do meu coração, ela se torna uma grande e valiosa aliada. Tudo isso é ... Saber Viver”.


quinta-feira, 28 de julho de 2011

Paulo Ricardo

Longe das drogas há mais de 10 anos

Meditação de ontem, Quarta, 27 de Julho de 2011


Meditação de ontem, SPH
Quarta, 27 de Julho de 2011
É possível recuperar

"Depois de chegarmos a NA, vimo-nos no meio de um grupo muito especial de pessoas que sofreram como nós e encontraram a recuperação. Nas suas experiências, livremente partilhadas, encontrámos esperança para nós mesmos. Se o programa resultou para elas, também poderia resultar para nós." Texto Básico, p. 11


Um recém-chegado entra na sua primeira reunião, confuso e perdido. Há pessoas a toda à volta. Preparam-se refrescos e expõe-se literatura. A reunião começa depois de todos se dirigirem para os seus lugares e se sentarem. Depois de olhar espantado para a variedade de pessoas na sala, o recém-chegado interroga-se, "Porque é que hei-de apostar a minha vida neste grupo? Eles afinal não passam de adictos como eu." Embora possa ser verdade que não havia muitos de nós que tivessem onde cair mortos antes de aqui chegarem, o recém-chegado depressa aprende que o que conta é a forma como vivemos hoje. As nossas reuniões estão cheias de adictos cujas vidas se modificaram completamente. Contra todas as expectativas, estamos a recuperar. O recém-chegado pode identificar-se com o nosso passado e retirar esperança da nossa vida hoje. Hoje, cada um de nós tem a oportunidade de recuperar. Sim, podemos confiar, com segurança, as nossas vidas ao nosso Poder Superior e a Narcóticos Anónimos. Enquanto praticarmos o programa, os resultados são certos: a libertação da adicção activa e um melhor modo de vida.

Só por hoje: A recuperação que encontrei em Narcóticos Anónimos é certa. Ao basear a minha vida nela, sei que vou crescer.

Amor incondicional


Amor incondicional

Tenho 38 anos de idade e sou uma mulher negra e alcoólica.
Tenho escutado nas salas, pessoas relatarem que no momento em que entraram na primeira reunião, sabiam que faziam parte dali, mas isto não aconteceu comigo. Fui à primeira reunião de A.A. sozinha, após trinta dias num centro de tratamento. Entrei, peguei uma xícara de café e me sentei. Estavam lá três ou quatro homens brancos conversando em pé. Nenhum deles percebeu a minha presença. Outro homem entrou e começou a relatar aos outros a respeito de seu dia de trabalho. Não creio que ele tenha reparado em mim e começou a falar em um colega de trabalho referindo-se a ele como um "crioulo". Não é necessário dizer como me senti. Agarrei-me na cadeira e li a Terceira Tradição, que estava na parede, e nos diz que o único requisito para ser membro de A.A. é o desejo de parar de beber. Ela não diz nada sobre sexo, raça, religião, idade, etc., e senti que, acima de tudo, eu tinha o desejo de não beber.



Todos os tipos de idéias malucas me vieram à mente. Sou da cidade de New York e desde criança ouvia todo tipo de historias de horror sobre as pessoas do sul. Eu não sabia se seria enforcada numa árvore ou coisa pior. O que realmente sabia, é que não desejava me deter diante de nenhum obstáculo para permanecer sóbria. Portanto, mesmo apavorada, fiquei naquela reunião. Ao final, todos se deram às mãos, rezando o Pai Nosso e cantaram.Algum tempo depois, um daqueles homens que estavam presentes em minha primeira reunião, introduziu-me no serviço de A.A. e eu consegui amar a todos eles, mesmo àquele que teve a atitude discriminatória. Hoje sinto que faço parte de A.A. Fiz desse grupo a minha família. Todos demonstraram um amor incondicional por mim e nenhum repara na minha cor. Amadrinho diversas mulheres brancas e sou secretária do grupo. Aprendi duas lições naquele primeiro dia:1) Alguns de nós são mais doentes do que os outros, mas somos todos filhos de Deus, com o direito de acertar e de errar;2) Irei sempre acolher um recém-chegado com amor e carinho, pois sei como alguém se sente ao chegar à ultima casa do último quarteirão e não ser bem-vindo.Portanto, se você é um iniciante, tem problema de bebida e não se sente fazendo parte, continue retornando, pois A.A. de fato funciona.N. Charleston Carolina (USA)VIVÊNCIA N°. 27 JAN/FEV. DE 1994





quarta-feira, 27 de julho de 2011

Recaída de dependentes químicos e alcolistas





"A curva da recaída de dependentes químicos e alcoolistas" é um texto que trouxemos do Crack e blog, editado por Xênia da Matta, e que recomendamos seja visitado. No aludido blog ela fez um sumário que versa sobre a Dependência, tratamento do DQ e um esquema sobre Recaída. É mais um artigo sobre estes tópicos, tão interessantes para dissertações. Demos, apenas, uma nova formatação ao texto.

Características da Dependência Química
1) É uma doença crônica que leva a pessoa a progressiva mudança de comportamento, gerando adaptação à doença, uso dos químicos com a finalidade de proteger o uso dos químicos;
2) Ë UMA DOENÇA DE NEGAÇAO, IMEDIATISMO E ISOLAMENTO;
3) É UMA DOENÇA COM TENDÊNCIA A RECAÍDA.

O tratamento

O Tratamento exige do paciente uma verdadeira reeducação em todas as áreas afetadas, paralelamente a uma profunda revisão em seu sistema de crenças. A recuperação/tratamento pode levar o dependente a uma verdadeira luta interna, "entre as suas limitações, do ser doente e do querer ser normal". O dependente deve abrir mão dos “ganhos secundários" que a doença oferece. O dilema do D. Q. não é ir à primeira dose, é a sua inabilidade de lidar com a vida sem usar". Assim como o uso abusivo de químicos é apenas um dos sintomas da dependência química, a abstinência total é apenas o primeiro passo na direção da recuperação. 
RECUPERAÇÃO = Abstinência total + Reformulação (mudança no estilo de vida)

OS ASPECTOS FACILITADORES DA RECAÍDA

1) O Estigma - Tanto o indivíduo como a sociedade têm memória; 
2) A Negatividade – É conseqüente da própria inabilidade de viver ;
3 ) Diagnóstico e Conduta Equivocados - Por ser uma doença de negação, o relacionamento do D. Q. com os profissionais de saúde pode ser pautado por mentiras, meias-verdades, minimizações, etc. e ‘induzir’ o médico a um erro;
 A dependência química é uma doença de negação. e a negação é reativada tão quanto os sintomas da recaída. antes de usar.

O ESQUEMA GERAL DAS RECAÍDAS

A Recaída é um processo que culmina com o uso.

EXPECTATIVA DESMEDIDA 
FRUSTRAÇÃO/MÁGOA 
RAIVA/RESSENTIMENTO 
CULPA/ AUTOPIEDADE 
ISOLAMENTO 
DROGAS/ÁLCOOL 

Com o comportamento emocional no processo recaída, se passa a acreditar que há somente três saídas:
Loucura, suicídio ou voltar a usar. 

A instrução sobre o processo da Recaída é o principal e mais apropriado meio de ajudar o D. Q a identificar e controlar a Potencial de Recaída de sua doença. 

" A recuperação, começa a acontecer quando o dependente químico admite e aceita sua dependência e se entrega ao tratamento por toda a vida, um dia de cada vez. "

Existem sinais/sintomas na abstinência que denunciam a entrada no Processo da Recaída: 

a) O Porre Seco- Intolerância crescente, irritabilidade constante;
b) O Porre Adormecido- Apatia, desmotivação, inatividade;
c) A Grandiosidade = Onipotência – “Eu sei tudo, tenho todas as respostas / as certezas”.
d) O Desafio –“Eu posso tudo, só não posso me drogar” - a freqüência a locais de ativa/ o relacionamento com pessoas que estão se drogando. 

O dependente químico é responsável por todo o seu comportamento e decisões que acompanham a recaída.

A curva da recaída

1 ) Mudança na percepção da doença e das necessidades do tratamento
2) Mudança no comportamento. Antigos padrões de comportamento voltam a ser atuados.
3) Tenta impor o seu padrão individual de recuperação aos outros.
4) Comportamento compulsivo ( sexo, comida, trabalho, compras, etc. ).
5) Foge ao confronto.
6) Comportamento impulsivo, intempestivo, com “ataques de raiva”.
7) Inclina-se para o isolamento.
8) Tendência para "Visão de Túnel".
9) Pensamento desejoso começa a substituir o pensamento realístico.
10) Foge através do sono.
11) Persegue objetivos irrealísticos. Planos começam a falhar.
12) Concentração é substituída pela fantasia.
13) Planos são calcados em metas inatingíveis. Forma-se um padrão de fracasso. Frustração.
14) Pensamentos tipo: " bem que eu tentei, mas não funcionou". começam a tomar corpo.
15) Imaturo desejo de ser feliz.
16 ) Indiferença e desatenção. Mostra-se incapaz de iniciar uma ação e desenvolvê-la.
17) Períodos do confusão mental, aumentando em termos de freqüência, duração e severidade.
18) Irritabilidade e intolerância crescentes, com familiares, colegas de tratamento e amigos.
19) Comportamento explosivo. Inicia fase de perda de controle das emoções.
20) Hábitos irregulares na alimentação. Come em excesso ou não come.
21) Sensação de estar sobrecarregado.
22) Mostra-se incapaz de cumprir compromissos.
23) Começa a faltar às reuniões de tratamento ( Terapia, AA/NA).]
24) Perturbações no sono. Sono agitado, desassossego, insônia.
25) Períodos de depressão. Inclina-se ao isolamento e reage ao contato humano com agressividade.
26) Aumenta a irregularidade às reuniões de tratamento. A freqüência torna-se esporádica.
27) Atitude do “eu não me importo”, disfarça sentimento de desamparo.
28) Pensa em voltar a usar. A abstinência é vista e racionalizada como uma experiência ruim. Acha que usando pode voltar a se sentir melhor.
29) Volta a mentir de modo consciente.
30) Afasta-se por completo dos canais de ajuda.
31) Volta a se sentir bode expiatório de todas as situações
32) Sensação de estar sendo esmagado.
33) Medo de enlouquecer.
34) Pensamento em se matar.
35) Volta a usar drogas/álcool)
36) Tenta controlar o uso e suportar as conseqüências danosas.
37) Perda de controle. (Novo Fundo de Poço).

No processo de recuperação do dependente químico há a necessidade de se ter, sempre, duas habilidades: 

1- A habilidade para evitar a entrada no processo de recaída.
2- A habilidade para interromper o processo de recaída.
Plano de intervenção a recaída

1) O paciente é instruído sobre o Processo da Recaída, através da revisão periódica dos sintomas de advertência. O objetivo é identificar os indicadores de que ele está se retirando de uma vida confortável e produtiva, “obrigando-se” a uma recaída.

2) Uma vez reconhecido os sinais do potencial da recaída começa-se a trabalhar as mudanças necessárias para que o paciente evite entrar e continuar neste processo.
Crédito:  Crack e Blog

UMA COISA QUE NÃO HERDEI DO MEU PAI FORAM MEUS VÍCIOS

Hoje decidi dar continuidade à leitura de alguns livros. Haviam vários a escolher e optei por "EU SOU OZZY". O livro dele me surpreendeu, tanto quanto "Verdade Tropical" de Caetano Veloso. São livros auto biográficos, repositórios de lembranças e, ambos, causaram-me surpresa agradável, porque foram felizes nas abordagens de suas respectivas lembranças e muito bem redigidos. O de Caetano eu esperava inúmeras divagações e fugas temáticas, o que não aconteceu. Ozzy eu esperava fosse um livro de um cara que tem "má fama" para o "cidadão civilizado". Caetano não é, como se julgava, um usuário de drogas, conforme confessou. Ozzy, contudo, fez uso de diversos tipos de droga chegando a experimentar a heroína, mas, felizmente ele não gostou. Dentre frases interessantes que ele escreveu destaquei a que ele diz:
"UMA COISA QUE NÃO HERDEI DO MEU PAI FORAM MEUS VÍCIOS"

Seu pai, John Osbourne, dizia ao mesmo, após algumas cervejas, que um dia ele seria um sujeito importante e complementava da seguinte forma: "Ou você vai fazer algo muito especial ou vai acabar na cadeia". Ocorreram-lhe as duas previsões.

Ozzy tornou-se uma lenda. Cheio de fãs pelo mundo afora. Não era o que poderíamos dizer, ou chamar, como um exemplo de mau exemplo. Daquilo que nenhum pai gostaria que o filho fosse, embora todo pai deseje aos filhos uma boa fama. Ozzy surpreende com seus depoimentos honestos, fala do descontrole que as drogas geravam na vida dele e do grupo de roqueiros da sua banda. Depõe contra as drogas sem o fanatismo dos sensacionalistas. Considerava-se um cheirador "industrial" de coca e as histórias que relata - não cheguei ao final - não surpreende a quem fez uso de muitas drogas. É tudo tão parecido! O medo de ser preso. Aquele clima de suspense policial que só quem leva uma vida na ilicitude pode aquilatar como é. As insanidades e tudo mais que a adicção produz em nossas vidas. 

Ozzy se internou em clínica de reabilitação, pelo menos duas vezes. Sei que ele está, ao menos até escrever o livro, livre do vício. Não chegou a concluir os doze passos. Frequentou o AA até certo ponto. Aprendeu que a doença sai pela boca e a recuperação pelo ouvido. Deixou de ir às reuniões por entender que a chave do segredo esta dentro dele.

 Felizmente ele está vivo e não caiu no lugar comum que muitas sumidades do rock cairam após suas respectivas overdoses. Feliz de quem nunca fez uso de droga alguma. Muita gente se ilude com a cocaína, imaginando que não vicia, que é possível controla-la. Feliz de quem soube se afastar antes que a dependência se instalasse.  [ PAUSA]

 Continuo limpo, só por hoje, sem chance alguma para drogas, e recaída. O que me deixa feliz e me faz seguir cantando, com o moral elevado, são aquelas pessoas que se diziam preocupadas comigo; parece que não passavam de meros atores, pois sumiram no momento em que o apoio é muito importante. Mas se eu sei que não sou responsável pela minha doença, mas responsável pela minha recuperação, por isso tenho que dar tudo de mim e não esperar nada de ninguém. Os que sumiram, fugiram, se refugiaram devido a consciência pesada, o que tenho a dizer é que não guardo raiva e que já concedi o meu perdão, embora nunca tenha recebido o mesmo, como um gesto humano, que sempre deve ter mão dupla. Também pode ser que não estejam com a consciência pesada e, então, de que vale dizer que perdoei as más ações por entender que elas brotaram da doença que causei e que estas pessoas insistem em não se cuidar e, bem sei, vivem cheios de ódio. Rezo por estas pessoas e agradeço por estarem me ajudando ao se posicionarem como aves de mau agouro... Eu, por outro lado, sigo minha jornada cantando, afinal, diz o povo, quem canta seus males espanta. Deixem-me continuar minha leitura. Em outro momento volto para complementar meu comentário sobre o livro de Ozzy.

terça-feira, 26 de julho de 2011

Dependência versus co-dependencia, uma relação complicada

A família, pra mim, sempre foi uma instituição sagrada. É uma contradição minha enquanto adepto do socialismo, tal qual minha fé em Deus, não mais na religião, mas em Deus. Então sempre fui um cara muito família, desde a infância. Jamais fui um conformista. jamais gostei de injustiça e de desrespeito aos direitos humanos. meus princípios eram rígidos, mesmo na drogadição, quando sofreram avarias devido a insanidade. Muitas coisas aconteceram em minha vida e lá um dia, o que fora apenas álcool e maconha, passou a ser drogas pesadas, sempre combinadas com o álcool. A família que me educou é uma, a que eu criei, é outra. Não pude dar a educação que sempre quis dar aos meus filhos. O casal era desajustado, com níveis de escolaridade e graus de cultura diferentes e a mulher sempre interferia, sob influxos do que ela cria ser o melhor. Eu dizia é pau, ela dizia é pedra. Entreguei a educação dos filhos a ela, exceto de um dos filhos que eu carregava comigo para efetuar pesquisas de campo e pesquisas em arquivo, sem retira-lo dos estudos e do lazer. Creio que foi o pesquisador mais jovem, do estado, a frequentar arquivos públicos. Em minha companhia ele desenvolveu inúmeras habilidades. Adquiriu gosto pela leitura, desenvolveu seu senso comum, evoluindo para o senso reflexivo e crítico muito novo, ainda. Na escola era um prodígio de garoto. Nos meios sociais em que andava era muito bem visto e aceito, tanto quanto eu e meu pai. Os outros espelham muita coisa da mãe. O que convivia comigo, tendo vida social das melhores, vivendo no seio do que se denomina classe dominante, no seio das tradicionais e seculares famílias do estado, progrediu e faz uma brilhante carreira. Os outros ainda acreditam que fazem parte do nosso belo quadro social e que desenvolvem algo de útil para a sociedade. Espero que encontrem a rosa dos ventos e tomem direções, na vida, que os conduzam a portos seguros. Que não sejam imprevidentes e pensem no futuro.


Com minha drogadição, que dividirei em duas etapas, a primeira com 06 meses de uso de drogas, sem ser um drogado pontual, salvo nos últimos dias desses seis meses, cujo uso foi intensificado e que culminaram com meu fundo de poço e meu pedido para me internarem em Vila Serena. Lá, além da abstinência e desintoxicação, sentia estar em uma escola, em uma faculdade, em uma academia, aprendendo a reformular minha vida e adquirindo uma nova espiritualidade. Freqüentavamos AA e NA e não ficavámos presos no campo da teoria. Íamos à prática. Éramos respeitosamente tratados. Lá tinha profissionais qualificados, aulas, palestras, reuniões com familiares para tratar a codependência. Esposa e filhos foram ausentes. Eles viviam uma incomensurável vergonha pequeno burguesa. Tenho um filho que se acha burgues e eu digo a ele que ele não passa de um pequeno burgues sonhador que confunde dinheiro com capital. Quer ser burgues e não pode, porque não tem capital. Evidente que todos querem ascender na escala social, mas, a vida dos pequeno-burgueses é cômica, como é tragi-cômica a vida dos pobres e miseráveis, como é, também, a da burguesia, e, no final de tudo, constituímos a grande comédia humana. 


A primeira fase da drogadição me proporcionou muitas coisas boas, mas, de parte dos meus codependentes era um fracasso. Não me transmitiam nada de bom. Me colocaram prisioneiro, em uma redoma de vidro, e tenho até vergonha de dizer que, até uma certa fase, vivi como se estivesse em carcere privado, com as portas fechadas e trancadas. Nesses comportamentos loucos meus codependentes viam como uma proteção. Isso era inteiramente desaconselhável, mas era assim que procediam. Passaram a me tutelar e a quererem controlar minha vida. Isto depois de sair de um tratamento bem sucedido. Com o correr do tempo, com a imposição de uma abstinência sexual irracional e desnecessária, fruto do meu isolamento, fui me rebelando e, lá um dia, recai e minha recaída foi pra valer. Dai voltava ao eixo, mas a família demonizava tudo, amplificavam os fatos, como verdadeiros terroristas que, aterrorizados, terrorizavam. Eu era um caso perdido para eles. Ouvia toda sorte de coisas que um ser civilizado e culto jamais deveria falar, porque não ajuda, não contribui, não edifica, nem educa, muito pelo contrário. Um quisto, um tumor, um elemento ativo, feroz e nocivo ao bem estar comum, era como me viam. Todo começo de mês eu aprontava. Estava vivendo a segunda fase, que nasceu após quase um ano limpo, mas com a vida totalmente entregue aos codependentes e, qualquer reclamação minha para mudarem, era vista como sintoma de recaída. Tudo isso vai se juntando e avolumando. Sequer se preocupavam com minha abstinência sexual. Olhem bem, codependentes são loucos demais e, pior, não admitem que cometem loucuras e não se aceitam como "doentes". Eu me tratei, eles me destratavam pois nunca cuidaram em se tratar. Sair,só se fosse acompanhado. Estas manifestações da codependência me atrapalhavam até no pós-tratamento, em ter que ir às reuniões de AA e NA. Em minha vida até papagaio de cunhada queria dar penada. Demorou, mas a recaida aconteceu e ai nasceu o pânico e o terror voltou a imperar. Cachorrinho de estimação era mais bem tratado. 


Se algo deu errado eu credito isso a minha desfocalização voltada para minha recuperação. Cai nas armadilhas dos codependentes, que, devo dizer, me causavam muito mal. Tinha uma esposa escandalosa. Ela não escondia nada, pelo contrario, saia contando minha vida a meio mundo de gente, enquanto achava que me investigava.Ela contava com o apoio das "aderentes". Imagine uma codependente sendo aconselhada por estas pobres criaturas "pegajosas", ricas em ignorância, cheias de vícios que se ampliavam pelo gosto da fofoca. Gente sem noção que passa a se intrometer em sua vida e só agrava a situação gerando mais infelicidade. A mulher se embrenhava numa favela, com ajuda de pessoas que ela dizia detestar e que se transformaram, rapidinho, em amigas dela. Pior é que ela desconhecia que esta gente estava dentro do mundo das drogas, servindo-se dela.Eu sumia e ia pra outras tantas favelas, onde permanecia abrigado em barracos, preferindo estes ao luxo e conforto da casa. Creio que a mulher nunca se conformou em ter sido trocada pela droga. Isso deve ser algo muito constrangedor e não havia intenção alguma, de minha parte, em proceder dessa maneira, como se fosse algo meditado e planejado. Hoje, de cabeça limpa, verifico que ocorreu essa substituição e isso deve gerar e deve ter resultado na imensa fúria que ela ainda nutre por mim. Acho que até papagaio de cunhada me odeia. Ela, a mulher, me pegava na rua e fazia o maior escândalo, como quem quer chamar a atenção dos populares, para que dissessem: pobrezinha, não sei como suporta viver com um sujeito deste... Ela lascava minha roupa, me arranhava, me empurrava, me dava socos, me puxava, gritava, berrava, lascava camisa, e eu não dizia nada, salvo que ela ficasse calma. Ela devia ficar frustrada porque eu não respondia a violência dela e nunca, neste processo, respondi com violência a qualquer ato de violência por mim sofrido. Desprezava a violência e sentia a fragilidade dos violentos que eu bem poderia destruir, se assim desejasse, usando gente do próprio meio, mas não quis, jamais, me tornar um igual, neste aspecto. A mulher pegava o telefone e ligava para quase todos os números da agenda dela para falar mal de mim e, quanto mais falava mal e tanto mais me destratava, mais eu buscava ir para as ruas e favelas usar drogas. Nesse aspecto não sei se há algum estudo que revele que uma codependente pode empurrar o dependente a se afundar no mundo das drogas, face seu comportamento agressivo, furioso, que se transformava habitual. Só por hoje encerro aqui. Talvez, se meus codependentes tivessem se tratado, nada do que aconteceu, na segunda etapa, aconteceria. Mas o desenrrolar dessa minha vida complicada não parou por ai e teve um desfecho muito chato que não irei revelar, pelo menos, por enquanto. Escrevi sem abstrair meus defeitos. Prefiro que eles fiquem patentes, servindo para quem gosta de proceder análises. Falar sobre uma família de codependentes e sua influência em minha drogadição seria ruim demais e me levaria a uma regressão infeliz. Não julgo algo nada salutar voltar ao passado para tocar nessas feridas expostas, não cicatrizadas, ainda. De tudo quanto aprendi, sei que só posso modificar a mim mesmo, que relacionar-se com codependentes que nunca cuidaram em se tratar, é difícil, mas tenho que aceita-los até o limite do limiar de tolerância individual. Sou bastante paciente, minha situação atual não é fácil, mas tenho comigo a crença que aumenta minha fé em Deus, todo dia e, que, comigo, é sem chance para recaídas, sem chance para drogas. Minha vida e minhas vontades estão em mãos do meu PS e, do jeito que me encontro, não tem retorno. Sei que este texto é inútil para quem não aceita a codependência como uma disfunção, um desarranjo, que compromete a própria saúde e pode agravar a de quem busca proteger. 

DA DESONESTIDADE ÀS VIRTUDES Dr. Laís Marques da Silva

Desonestidade, manipulação, negação, racionalização, projeção. Essas são, usualmente, realidades por demais conhecidas dos alcoólicos, quando na ativa.

O alcoólico na ativa costuma negar, racionalizar e projetar. Negação é, simplesmente, o ato de negar. Por meio da racionalização procura explicar o inexplicável ao elaborar raciocínios sobre falsas razões com o intuito de justificar. Já a projeção é um mecanismo de defesa que consiste em projetar impulsos, conflitos internos. Em considerá-los como provenientes de outrem ou, de forma mais geral, do mundo exterior.
Pensar e agir dessa forma conduz a um comportamento dominado pela desonestidade e pela constante manipulação de fatos e de pessoas. No entanto, estando sóbrio, o alcoólico quer saber o que é bom. Fazer o que é certo, servir ao que é justo, ou seja, fazer a coisa certa. Embora sejam metas que exigem esforço, persistência e determinação, é comum encontrar companheiros que lutam por fazer a coisa certa. Estando sóbrio, ironicamente, ele precisa vencer a sensação que às vezes ocorre de que a vida no alcoolismo é mais divertida que na virtude. Mas as atitudes viciosas fazem as coisas funcionarem mal enquanto que a virtude sustenta o bem-estar e é o fundamento de uma vida feliz e plenamente realizada.
Então, vamos tratar do oposto, ou seja, da: verdade, fidelidade, integridade e fé. Todos intimamente interligados.  (recomendamos a leitura completa do texto)

Laços que nos unem





O “VALOR” DA SOBRIEDADE, 26 DE JULHO 2011

OS DOZE PASSOS E AS DOZE TRADIÇÕES, p. 144


Quando vou fazer compras eu vejo os preços e, se preciso do que vejo, eu compro e pago. Agora que estou em reabilitação, tenho que corrigir a minha vida.
Quando vou a uma reunião, tomo um café com açúcar e leite, algumas vezes até mais do que um. Mas, na hora que passa a sacola eu estou muito ocupado para tirar dinheiro do meu bolso ou não tenho o suficiente, mas estou ali porque necessito dessa reunião. Ouvi alguém sugerir que se colocasse na sacola o preço que custa uma cerveja e pensei: isto é demais! Quase nunca coloco o que devia. Como muitos outros, confio nos membros mais generosos para financiar a Irmandade. Esqueço que precisa-se de dinheiro para alugar a sala de reuniões, comprar leite, açúcar e copos. Pago, sem hesitação, o preço que é exigido por uma xícara de café, num restaurante, após a reunião; sempre tenho dinheiro para isto. Assim, quanto vale minha sobriedade e minha paz interior?

segunda-feira, 25 de julho de 2011

Formas de Tratamento da Dependência Química (“Adicção”) – Álcool e Drogas

Formas de Tratamento da Dependência Química (“Adicção”) – Álcool e Drogas

Gustavo Amadera 

Como boa parte da minha especialização dentro da psiquiatria é voltada para a área da Dependência Química, recebo um número crescente de familiares (e pacientes, às vezes…) querendo iniciar o tratamento “antes que seja tarde demais”.

Neste breve texto gostaria de esclarecer o correto fluoxograma na busca pela ajuda de pacientes dependentes químicos:

1) Nos casos em que o indivíduo aceita a existência do problema antes de pensar numa internação, uma boa avaliação psiquiátrica, o início de um tratamento psicoterápico, muitas vezes com a recomendação de iniciar a participação em grupos de mútuo-ajuda (N.A., A.A., e para as famílias Amor Exigente, todos presentes em virtualmente qualquer cidade do país família deve parar antes mesmo de procurar a orientação de grupos de Amor Exigente, de agirem como facilitadores – muitas vezes as orientações são duras e difíceis de serem implementadas quando se tratam de famílias cujos pais não vivem juntos mais, e ocorre triangulação com avós e outros parentes. Os pacientes que têm a experiência da transformação pela qual passam, os pais que frequentam Amor Exigente têm um termo engraçado para designar o mesmo “amor-ferra-a-gente” rsrs, não havendo o menor sinal de progresso, ou se percebendo que a aceitação do problema era algo superficial, com o intuito de ganhar tempo e espaço para a persistência no uso (como é comum pacientes meus de consultório alegarem para os pais mais fragilizados “mas eu to fazendo tudo direitinho, estou indo no psiquiatra e na terapia!”) entramos na próxima modalidade de intervenção, exposta no próximo item.

OBS – estamos falando de pacientes cujas famílias não dependem do atendimento pelo Sistema Único de Saúde (SUS), onde a porta de entrada para o tratamento em localidades onde o recurso existe seriam os CAPS-ad (Centro de Atenção Psicossoial para pacientes com problemas decorrentes do abuso e dependência de substâncias)tão importante quanto a existência física de tal serviço é a qualidade do mesmo -  já que denúncia da pesquisa do CREMESP publicada recentemente apontou que nem metade dos serviços existentes possui médico psiquiatra (quanto menos especializados em dependência química!)… Então, aos familiares e pacientes cabe a fiscalização, cobrança e denúncia de serviços inadequados, assim como o fariam caso estivessem pagando diretamente um hospital ou clínica particular – somente neste momento poderemos sonhar em ostentar a mesma qualidade dos programas do Ministério da Saúde de tratamento da SIDA (alardeada como o melhor sistema do mundo!).
2) Nos casos em que o paciente não aceita o prejuízo causado pela droga, ou que não aceita o tratamento oferecido (e requerido, do ponto de vista médico!)  [continue lendo]


domingo, 24 de julho de 2011

COMPARTILHAR É OXIGENAR AS EMOÇÕES

Se me obrigassem a dizer numa frase o que é psicanálise e por que ela "cura", eu não hesitaria em dizer: "Psicanálise é o cultivo do compartilhamento e ela "cura" porque o ser humano precisa partilhar com alguém seu interior tanto como necessita respirar. Compartilhar segredos com alguém em quem a gente confia é o pulmão da alma".

Sem esse "desabotoar o peito" vão se acumulando "grilos" e emoções não resolvidas, e advirá o chamado "sufoco". Um dos maiores castigos que se pode inflingir a um ser humano consiste em encarcerá-lo numa cela solitária, pois a ausência de outra pessoa para conversar enlouquece qualquer um. A emoção humana simplesmente não pode viver sem a emoção humana.

As emoções não compartilhadas tendem a se eletrificar, a ampliar sua carga perniciosa. Os nervos ficam à flor da pele como fios desencapados. E essa eletricidade interior desperta uma vontade danada de descarga imediata. O que não causa, mas excita a compulsão. Compartilhar é como deseletrificar emoções.

Quem já desabafou com um amigo sabe perfeitamente do que eu estou falando. Às vezes, ele só escutou, não disse uma só palavra, não fez nada e parece que ocorreu em verdadeiro milagre. O mesmo problema não parece mais o mesmo. Tudo agora parece leve, calmo, cheio de perspectivas. E nada de objetivo mudou...


COMPARTILHAR É ABSOLVER CULPAS

COMPARTILHAR É ABSOLVER CULPAS

O compartilhamento vai além: funciona como uma espécie de bênção, de sacramento, de absolvição. Parece até um óleo sagrado que nos legitima e nos absolve. Basta falarmos com alguém que respeitamos sobre nossos segredos que uma espécie de milagre se opera. Não foi por outro motivo que a Igreja Católica instituiu a confissão, que não passa de uma forma de compartilhamento ritualizada.

Aliviar o dependente de pesadas culpas é importante, pois há tentação de retorno à compulsão só para esquecer problemas e anestesiar remorsos; distrair-se da própria realidade de sua vida que, no fundo, tanto detesta. Afinal, quem gosta de desgoverno, descontrole, desregramento?

Compartilhar é espantar fantasmas. Isso porque a imaginação solitária imagina que as outras pessoas jamais perdoarão suas supostas falhas. Os outros vão se tornando perigosos perseguidores sem possibilidade de ternura ou compreensão. Se, depois de se comunicar com eles, esses maus pressentimentos não ocorrem, nem se confirmam, surge um imenso alívio.

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