Uma das facetas menos exploradas e pouco discutidas do genial cantor e compositor da Música Popular Brasileira foi a sua utilização de drogas durante a maior parte de sua carreira. Incluo aqui, no rol das drogas, o álcool, a cocaína, a maconha e o éter. Destas drogas, a que o Raul Seixas menos consumiu foi a maconha, por achar que o deixava com o pensamento lentificado. Coisa para Hippies, ele falava.
Desta forma, para tentar lançar uma luz dentro deste aspecto que se tornou um verdadeiro tabu na biografia de Raul Seixas, o qual, em minha opinião, afasta muita gente de tentar tomar conhecimento de sua grandiosa obra, eu resolvi fazer uma coletânea das principais referências ao assunto, constantes da bibliografia existente. Muitas destas assertivas foram feitas pelo próprio Raul Seixas e por alguns de seus familiares.
Passei então este material à análise de um conhecido psiquiatra do Rio de Janeiro, Dr Pedro Paulo Nunes Braga, que após analisar detalhadamente estes documentos respondeu à várias perguntas por mim efetuadas e que fazem parte da Parte 2 deste artigo. As seguintes referências e citações, constante da bibliografia sobre Raul Seixas abaixo transcritas serviram de base para esta análise por parte do profissional acima citado:
1) Vida e Obra de Raul Seixas no cinema:
Este documento é uma entrevista dada recentemente por Kika Seixas ao jornalista Wanderley Araújo, correspondente da Agência Amazônia no Rio de Janeiro, sobre um filme documentário sobre Raul Seixas que está sendo preparado para entrar no circuito em 2007:
- Foi difícil conviver com o Raul alcoolizado e drogado?
Kika Seixas: Não foi fácil porque a situação foi se agravando cada vez mais. O nosso casamento saturou porque chegou num ponto em que o Raul não conseguia mais se desvincular do seu personagem. Ele passou a ser artista o tempo todo. Não conseguia tirar um tempo para o Raul pai, o Raul esposo, o Raul mais família. Eu acho até que o fato de estar sempre incorporado no papel de roqueiro foi um artifício que ele encontrou para criar uma barreira, uma forma de eu não poder repreendê-lo por estar alcoolizado e sob efeito de cocaína. O Raul consumia muito álcool, mas a cocaína ele só cheirava para compor. Ele achava que aquilo dava uma agilidade. No começo o pó ajudou muito, na cabeça, na fantasia dele, ele achava que entrava num processo de criação muito mais ágil e intenso, e a cocaína faz isso realmente. Ele acabou ficando dependente dela apenas para compor, porque no dia a dia ninguém consegue cheirar cocaína toda hora, a gente tinha filha para criar, tinha show para fazer. A bebida era a substância que ele fazia uso constante, a qualquer hora poderia estar bebendo. Nos shows o Raul não gostava de cheirar, porque ficava tenso. Ele gostava da cocaína nos momentos intimistas em que estava compondo. O Raul gostava de dizer que depois de dar uma cheirada ele ficava arquitetando como o professor Pardal, aquele cientista dos quadrinhos.
- Raul injetava drogas?
Kika Seixas: Nunca! Ele tinha horror à injeção. Há muitas fantasias sobre a vida de Raul. Uma delas foi inventada por uma editora espírita que lançou um livro sobre um tal Roqueiro do Além. O livro dizia que o espírito do Raul tinha baixado em não sei quem, e que o Raul estava agora no céu dizendo aos jovens que não se picassem, que não tomassem LSD. Não é verdade. Raul nunca se picou, tinha horror à agulha, não tomava LSD e não gostava de maconha. Achava que a maconha chapava muito, deixava-o lento para produzir. Eles venderam cinqüenta mil livros com essa farsa. O editor tentou se desculpar dizendo que aquilo foi uma forma de usar o prestígio do Raul para alertar os jovens sobre o perigo das drogas, mas eu achei um absurdo e disse a ele que não podia usar o nome de um artista, inventando uma situação monstruosa dessa para virar exemplo.
- As drogas só vieram depois de um tempo na carreira de Raul?
Kika Seixas: Até Ouro de Tolo, o Raul não conhecia cocaína. Só depois ele veio experimentar e gostou muito do efeito, da agilidade que proporcionava durante o processo de criação. As drogas do Raul foram álcool e cocaína. Ele tomou também pílulas contra depressão.
- Como foram os últimos momentos do Raul?
Kika Seixas: Não sei em detalhes porque não éramos mais casados. Ele estava solteiro, sua última mulher tinha sido a Helena Coutinho. Mas o fato é que era um final de semana e a Dalva, a empregada que forçava-o a tomar injeção de insulina contra a diabete, não estava em casa. Ele estava bebendo e ficou sem tomar insulina. Não agüentou. O Raul consumia Vodca, mas no final da vida só estava bebendo cerveja, o estômago rejeitava Vodca e ele vomitava. O fim da vida do Raul foi dramático. Ele estava inchado, não comia, tinha diabete, era hipertenso e estava com pancreatite aguda. O Raul muitas vezes caía em casa. Ele tinha um problema que poderia ter sido controlado se abandonasse o álcool, mas nunca aceitou o alcoolismo dele.
2) Declarações do próprio Raul Seixas, contidas na página 173 do livro “O Baú do Raul”, de Tárik de Souza e Kika Seixas.
Situações Vergonhosas
Eu jamais poderia mostrar ao mundo circundante atitudes e episódios tão chocantes e alarmantes sabendo da delicadeza do meu trabalho como um cantor e compositor de nome. Para ser objetivo, várias foram as minhas "vergonhas alcoólicas":
Em todas as excursões que fiz através do Brasil junto com meu conjunto e empresários, devido à sempre ser bem-sucedido nas apresentações, voltava na euforia da vitória e isso era, por certo, um bom motivo para beber. Ainda no palco, cantando, não via a hora de terminar meus 45 minutos para "comemorar" no hotel com algumas fãs e colegas de trabalho. E era uma conversalhada danada, e como era de se esperar, entre fileiras e mais fileiras, entre esvaziar a geladeira e mandar o hotel repor as bebidas, eu atendia às expectativas dos fãs e de todo mundo, sendo como sempre o centro das atenções. Após a festa acabar e todos irem embora eu continuava bebendo e cheirando, sabendo que pela manhã tinha que pegar o avião e ir para o outro estado para outro show à noite. Bebia sozinho ou com alguém até o ponto de chegar a quebrar o hotel. Quebrava os espelhos da sala, cama, quebrava tudo e no outro dia a cidade que eu deixava estava com a notícia noticiando minha façanha.
Uma outra vez, na cidade de Caieiras, no interior de São Paulo, estava tão bêbado que o público achou que não era eu que estava ali, pois eu esquecia as letras de minhas próprias músicas; era uma seqüência de "brancos" no palco. O público começou a ficar irritado e a gritar: "Fora farsante". Ainda por cima tive a audácia de me sentir indignado com a reação da platéia, vociferando para eles. Mandei chamar a polícia para me proteger de um linchamento. A polícia veio e me prendeu. Fui espancado, pois não conseguia sequer provar minha identidade ante o delegado. Nunca andei com documentos, confiava no nome e esqueci de me lembrar de não confiar no álcool.
Outra feita não compareci a um grande show na casa de espetáculos Adrenalina, onde o público quebrou a casa inteira, inclusive a aparelhagem de som, dando um prejuízo enorme e também pessoas foram pisoteadas e gravemente feridas.
Utilizei uma menina de onze anos, filha de Lena, para comprar éter na farmácia, pois já não vendiam para mim. Meu irmão, quatro anos mais novo do que eu, veio da Bahia para o Rio me visitar sabendo do meu problema. Eu sempre fui o seu herói e professor, ele sempre me respeitou. Hospedou-se lá em casa e me convidou para jantar fora. Minha ex-esposa não podia ir, pois tinha algo a fazer. Como eu não podia beber em sua frente, no restaurante, e a compulsão aumentava insuportavelmente, eu fui ao balcão e segredei ao barman para botar uma dose dupla de vodca na pia do banheiro. Sentei e conversei nervosamente com meu irmão dando tempo necessário para a trama. Pedi licença para ir ao banheiro, andei rápido, abri a porta e... O copo estava servido lá. Mas, no momento que pus as mãos em torno do copo, uma outra mão por detrás segurou a minha e tomou a bebida. Eu não ofereci resistência, e a bebida foi despejada na pia. Era meu irmão sério e determinado que me olhava fazendo-me esboçar um sorriso tímido e amarelo, bem infantil. Nunca me senti tão mal; foi uma experiência terrível. Em 74 abandonei minha primeira esposa e filha no meu primeiro apartamento, que comprei com esforço pela Caixa Econômica Federal. Abandonei as duas sem nenhum aviso, indo então para uma temporada em Brasília levando comigo a irmã do meu guitarrista americano. Seu nome era Gloria, que visitava o Brasil. Minha futura e segunda esposa. Minha família é que deu apoio moral e financeiro à Edith e à Simone, em Salvador; esta minha filha sou proibido de ver faz onze anos.
Fui internado por minha quarta esposa, mãe carioca da minha filha mais moça, pelo menos umas dez vezes. Enfermeiros fortes invadiam a minha casa no Brooklin e me jogavam na ambulância, sob os olhos de todos os vizinhos, e me levavam para hospitais psiquiátricos. Devia dinheiro em tantos bares da redondeza que para achar um novo tinha que dar voltas homéricas para escapar de ser visto. Às vezes minha música estava tocando numa padaria que não queria me servir, mas por causa da minha música que tocava na rádio era eu servido pelo cara que por certo achava que eu tinha alguma importância. Eu salvo pelo gongo. Ali naquele momento, com pose de artista, eu aproveitava e bebia enquanto o cara achava que eu era o Raul Seixas e não um bêbado...
Vila Serena - São Paulo, 31/9/1987
3) Declarações do próprio Raul Seixas, contidas na página 27 do livro “O Baú do Raul”, de Tárik de Souza e Kika Seixas.
Auto-Análise
1 - Não gosto de dar as costas a lugares. Imagino que algo vem atrás de mim.
2 - Inquietação. Tensão. Temo o possível desgoveno da minha mente criando algo que eu não quero ver.
3 - Temo a morte e todos os fatos que circundam este assunto.
4 - Nunca sento na latrina, sempre fico de cócoras. Algo me inquieta no sentido de que eu possa ser atacado por baixo (verme).
5 - Não gosto de escuro quando estou só (eu e minha mente).
6 - Sonho muito sendo perseguido.
7 – Ponho sempre a culpa no mundo por meus atos.
8 - Quando, ao banhar-me no chuveiro, tenho que passar sabão no rosto, inquieto-me de ter que conservar os olhos fechados e não saber o que se passa. Rápida e nervosamente tiro o sabão dos olhos para ver.
9 - Sensação de que estou sempre sendo observado, manifestação esta que, só se processa quando estou só, geralmente é noite e silêncio. Mesmo quando subo as escadas do edifício quando chego tarde do trabalho, subo inquieto, tenso, pois sempre está presente aquela sensação de que algo vem atrás.
10 - Uma vez meu irmão, meu primo e eu (os três influenciados por crendices na época) sentimos medo no quarto afastado da fazenda, e "acreditamos" que um conhecido nosso havia morrido e acreditamos tanto naquilo que sentimos que "ele" estava ali para nos avisar. Ficamos gelados, tremendo sem parar, brancos, como se tomados pelo espírito da pessoa.
Nota deste Blog: Raul Seixas. Morreu dia 21 de agosto de 1989, e foi encontrado morto às 7 da manhã de segunda-feira pela empregada Dalva Borges.
Fonte: Blog Raul Seixas
POSTAGEM TIRADA DO BLOG http://raulsantosseixas.multiply.com/
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