POR ANDREA DIP
O Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas, o IPQ, em nada se parece com o Juquery ou com o Pinel. Depois de uma reforma bancada em 30 milhões de reais pelo governo do Estado, está mais perto de um shopping center high tech.
As enfermarias são pequenas, bem divididas. Há residentes o tempo todo, há médicos professores da faculdade de medicina da USP. Os quartos são para até duas pessoas. E tudo parecia calmo no momento em que andei por lá.
Duas mulheres me chamaram a atenção. Uma estava sentada na cama, lendo, de brincos, roupas bonitas. A outra veio conversar com o doutor Renato Del Sant, que me acompanhava.
Dizia, com a maior lucidez do mundo, que estava bem melhor. “Melhor do que, doutor?”, pergunto. “Depressão”, diz o doutor.
Chega um grupo de estudantes, futuros residentes. Carregavam cadernos e faziam mais ou menos o mesmo que eu – conheciam o hospital.
O Instituto de Psiquiatria não tem na aparência o ranço dos hospitais psiquiátricos. Mas é inevitável pensar que aquilo tudo funciona como um grande laboratório para os alunos de medicina. Lá se fazem psicocirurgias, aplicações de ECT (eletroconvulsoterapia, o eletrochoque), tudo com a mais alta tecnologia, sob a responsabilidade de médicos renomados da psiquiatria brasileira.
O Instituto é declaradamente um dos maiores inimigos da reforma psiquiátrica
no Brasil e do movimento antimanicomial, por considerar o atual modelo – lei desde 2001 – “irresponsável”.
Tem, por tradição, formação biologicista, que acredita mais na indústria farmacêutica do que nos tratamentos humanistas. Seu atual diretor, Valentim Gentil Filho, é “matemático”.
Doença tem de ser tratada com remédio, como afirmou em entrevista à Revista Latino-Americana de Psicopatologia Fundamental: “(...) psiquiatria é medicina e, como em qualquer outra área médica, a partir de um diagnóstico há uma formulação clínica, propõe-se uma conduta terapêutica e espera-se um determinado resultado dentro de um prazo determinado. Isso não é nada além de medicina; em todas as áreas é assim”.
Paulo Amarante, psiquiatra fundador do movimento antimanicomial e autor de vários livros, diz que é impossível não considerar o social na doença psiquiátrica. “Então eu tenho um susto, aquilo aumenta a adrenalina. Abaixa a descarga, aumenta a emoção, que aumenta de novo a adrenalina. Não! As pessoas sofrem miséria, sofrem depressão, sofrem violência sexual! Você vai dizer que o medo é porque elas têm a serotonina aumentada?
Agora, o impressionante é que os pesquisadores, as universidades, recebem direitos "da indústria farmacêutica”, desafia.
Saí do Instituto de Psiquiatria com um compromisso marcado para o dia seguinte.
Assistir a uma sessão de ECT.
Nenhum comentário :
Postar um comentário
soporhoje10@gmail.com