quinta-feira, 1 de maio de 2014

O pensamentos de Caio Fernando Abreu e referências a drogas



Fragmentos da carta endereçada a Hilda Hilst, em 04 de março de 1970:

"A. K. está preso em São Paulo: invadiram o Gigetto e o levaram, por tráfico e consumo de LSD. O grotesco da história é que nas chamadas “leis” não existe nada sobre LSD. Porto Alegre sempre foi uma cidade nazista, cheia de grupos de defesa familiar e coisas do gênero: tudo isso repercute aqui da maneira mais alvissareira (do ponto de vista deles) possível. Os lugares onde eu costumo ir, bares onde se reúne gente de teatro e outros desgraçados, estão cheios de espiões — não se tem a menor segurança para falar sobre qualquer assunto menos “familiar”.

"A minha maneira de fugir, tu sabes, é dormindo. Andei dormindo até quinze horas por dia, durante quase duas semanas. Nos contatos que tenho com gente da minha geração, ou de outras, mas unidos pela mesma lucidez, percebo de maneira intensa a mesma sensação de abandono e de inutilidade. Sobretudo de impotência. O consumo de drogas como meio (ótimo) de alienação e como meio (falso) de libertação é uma coisa incrível, assustadora mesmo. A maconha rola em Porto Alegre, as “picadas” também, agora descobriram mescalina em Santa Catarina e uns conhecidos meus, pintores, estão fazendo tráfico e vendendo para toda a “classe artística” de PA. Eo mais assustador nessa estória de drogas é que são consumidas justamente pela parte mais esclarecida da população, pelos que poderiam fazer alguma coisa, Os outros, as camadas mais baixas, têm a televisão, as novelas, as revistinhas de amor. Eu tenho o sono, talvez a fuga mais saudável, se bem que igualmente desesperadora."

Trecho de carta endereçada ao Zézim, Porto, 22 de dezembro de 1979:

"Zézim, eu acho que tá tão bom. Fiquei completamente cego enquanto escrevia, a personagem (um publicitário, ex-hippie, que cisma que tem câncer na alma, ou uma lesão no cérebro provocada por excessos de drogas, em velhos carnavais, e o sintoma — real — é um persistente gosto de morangos mofados na boca) "
                                                         

 CAIO PARTIU
"Volta à França em 1994, a convite da Casa dos Escritores Estrangeiros. Lá escreveu Bien Loin de Marienbad. Ao saber-se portador do vírus da AIDS, em setembro de 1994, Caio Fernando Abreu retorna a Porto Alegre, onde volta a viver com seus pais. Põe-se a cuidar de roseiras, encontrando um sentido mais delicado para a vida. Foi internado no Hospital Menino Deus, onde faleceu no dia 25 de fevereiro de 1996."
Crédito de RELEITURAS


"As pessoas suportam tudo, as pessoas às vezes procuram exatamente o que será capaz de doer ainda mais fundo, o verso justo, a música perfeita, o filme exato, punhaladas revirando um talho quase fechado, cada palavra, cada acorde, cada cena, até a dor esgotar-se autofágica, consumida em si mesma, transformada em outra coisa que não saberia dizer qual era."
Caio Fernando Abreu em VERSOS DE CFA



"Apronto agora os meus pés na estrada.
Ponho-me a caminhar sob sol e vento.
Eles secam as lágrimas,
Vou ali ser feliz e já volto."

FONTE CLARICEAR

"Um cego vê mais que um homem comum porque não precisa olhar para fora de si, porque o que ele deseja ver está completamente dentro e é inteiramente seu."
Caio


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