Por Andrea Dip
A segunda visita foi ao Juquery. “Há cinco anos, quando assumimos, o bicho pegava. Há dez, ele morava.” A frase é de Maria Alice Scardoelli, diretora técnica da divisão de saúde do Núcleo Assistencial II e do Departamento Psiquiátrico II do hospital. Foi ela que nos guiou em duas horas de caminhada pelos 1.927 hectares de terreno. Conta que chegou areceber ameaças de morte de funcionários “cronificados” – aqueles que, de tantos anos trabalhando na instituição, são resistentes às mudanças.
O primeiro lugar que visitamos foi o que restou do prédio principal, que pegou fogo em dezembro de 2005. Ficaram de pé apenas a estrutura externa e o busto de Franco da Rocha, primeiro médico a dirigir o hospital. Viraram cinzas mais de cem anos de história do Juquery, que se encontravam nos arquivos. Foi o terceiro incêndio no complexo, desde a década de 1970. O primeiro nos arquivos do cemitério, o segundo durante as investigações da Assembléia, e esse agora. A perícia ainda está investigando as causas do fogo.
Entramos, finalmente, em uma ala feminina de “agudos” – a dos pátios. Quando as enfermeiras nos viram, trataram logo de tirar uma mulher do chão. “Quando eu chego é igual batida policial, eles vão arrumando tudo”, diz Maria Alice. E dá bronca nas enfermeiras. O dormitório impressiona. Enorme, repleto de camas de ferro. Algumas vimos mais nem sequer um único paciente em toda a visita. Claro que não entramos na área de agudos, “perigosa, com pacientes em surto” – os tais grandes pátios que não me deixariam ver. Apenas um paciente nos pedindo cigarro pela grade. De resto, nada. Ninguém.
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