Em nossa rotina diária, vivendo em sociedade, observamos e participamos de todo um emaranhado de manifestações de solidariedade, que são relações vitais à sobrevivência da Humanidade. Auxiliamos as pessoas em suas diversas atividades e delas também recebemos auxílio, num ciclo que começa com o nascimento e nos acompanha até a morte.
Essa troca de assistência se dá unilateralmente cada vez que é posta em prática, ou seja, se recebo hoje um benefício de uma pessoa amiga, posso retribuí-lo amanhã, mas raramente se vê, nas relações do cotidiano, uma interação imediata quando se fala em troca de auxiliares - com exceção quando se fala em Alcoólicos Anônimos.
É interessante e maravilhoso quando paramos para refletir e vislumbramos como foi importante para a nossa recuperação individual dentro de A.A., ver uma pessoa que compareceu à nossa sala de reuniões, tendo muitas vezes somente o espírito de curiosidade, acabar se identificando com o nosso programa, decidir se levantar, ir até a cabeceira de mesa e ingressar em Alcoólicos Anônimos.
É magnífico o sentimento de alegria que um ato singelo como esse representa para a vida de um alcoólico, procurando se recuperar dentro da Irmandade.
Analisando mais a fundo essa situação, vemos que aquele recém-ingressado, não procurou A.A. para nos prestar ajuda, mas sim para recebê-la.
Partindo daí, podemos avaliar a importância de nossa Irmandade: poderia existir um gesto mais nobre e mais fraterno do que se sentir ajudado ao ver outra pessoa se ajudando?
Dentro de Alcoólicos Anônimos, vemos isso acontecer e olhando ao redor, concluímos: sem dúvida, é um dos poucos lugares onde essa reciprocidade ocorre. A literatura de nossa Irmandade nos mostra fartamente a existência dessa interação de auxílio.
O Capítulo 11 do livro "Viver Sóbrio", tratando do apadrinhamento em A.A., lembra que o membro não tem nenhuma obrigação de recompensar o padrinho, em espécie alguma, por este tê-lo ajudado. Ele ou ela o faz porque ajudar aos outros os auxilia a manter a sua própria sobriedade, estando cada membro livre para aceitar ou recusar ajuda. Se aceitar, não tem débito a pagar.
Esse binômio singular de ajudar e ao mesmo tempo ser ajudado, que é uma tônica em Alcoólicos Anônimos, nos leva à conclusão de que é fundamental à manutenção de nossa sobriedade, a sincera disposição de nossa parte em prestar socorro aos irmãos alcoólicos que ainda padecem da atividade de sua doença.
Isso nos conduz ao Terceiro Legado. O Serviço dentro de A.A. é de vital importância para que tenhamos uma sobriedade feliz. A partir do momento em que cada membro se obriga a participar das atividades relacionadas à nossa Irmandade, ele se afasta cada vez mais das decepções de seu alcoolismo.
Quando nos impomos a responsabilidade pelo irmão alcoólico, nós dizemos com sinceridade: "Quando qualquer um, seja onde for, estender a mão pedindo ajuda, quero que a mão de A.A. esteja sempre ali, e por isto: Eu sou responsável".
Partimos para o auxílio, nossa sobriedade cada vez mais se sedimenta no substrato firme que é a entrega de nossa vontade e nossa vida nas mãos do PODER SUPERIOR.
Kennedy L. - Machado/MG
Vivência n° 25 – Set./Out. 1993
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