Se gosto de São Paulo não resta dúvida. O que não gosto em São Paulo é do vento gelado, não da temperatura. Acredito que suportaria até 5 graus, sem o vento gelado que penetra pela carne e alcança
os ossos.
Fiquei um mês e poucos dias numa cidade que não cheguei a conhecer. Próximo a ela havia uma cidade muito bonitinha. Cheguei na mesma durante a madrugada e sai pouco depois de ter deixado o Hotel São Roque, depois da 10 horas da manhã.
Estava todo feliz da vida, com dois dos três filho e a esposa juntos. Feliz por isso e feliz porque estava indo cuidar de minha recuperação. Madrugada adentro eu brincava, gargalhava, contava piada, brincava que nem um guri. Era todo satisfação. Ia voluntariamente para um lugar paradisíaco e, como São Paulo, pra mim, é sinônimo de progresso, estava me achando o máximo.
Cheguei naquele lugar (repare minha má vontade em não desejar citar o nome do lugar!) pouco mais das 10 horas da manhã. Neste meu primeiro dia o grude foi sair perto das 15 horas. Disseram-me que era assim mesmo a desordem de horários para as refeições. No 5 dia, já tendo reparado algumas anomalias, perguntei a dois senhores de Minas Geraes em que passo eles se encontravam e eles me falaram: - Passo, que passo? Os doze passos do NA, respondi. Eles riram. Não haviam iniciado porra nenhuma e já estavam ali por quase 3 meses. No dia seguinte fomos acordados aos gritos de "VIBRANDOOOOOOOOOOO"!
Dormia em um local que era chamado de segundo quarto de passagem. Na verdade não era um quarto, mas um ambiente que fora aproveitado para colocar mais quatro vítimas rentáveis no lugar. Foram companheiros de quarto, inicialmente, um GAP, que era marinheiro e carioca. Dormia na parte superior do beliche que eu chamava de balança mais não cai. Era um terror. O cara se mexia e sacudia o beliche, a parte superior parecia que ia desabar sobre mim. Ele foi substituído por um companheiro de Londrina, que gostava de farinha. Ele andava feliz só em saber que iria sair daquele inferno de lugar.
O Baiano era uma figura à parte. Estava internado por causa do grande amor que ele alimentava pela "Mary Jane", uma droga depressiva que pode lhe fazer parecer um bipolar. Tem momentos em que pinta uma onda de gargalhadas impressionante. Dá fome e tezão, mas retira a concentração, afeta a memória e pode desenvolver patologias em quem já é portador delas...
Ele declarava abertamente que não estava ali pela vontade dele e que "nunca" abandonaria o "seu amor" pela droga preferencial dele. A outra era vodka "Absolut". Me chamava de "Tio". Não precisava mais fumar nada, era muito louco e só ele não percebia. Ele vivia fazendo apologia, dai resolvi dizer a ele: fulano, repare bem, tem gente que pode usar marijuana e tem gente que não pode. Os que podem e sabem seguem aquela máxima de Bezerra da Silva: "vou apertar, mas não vou acender agora, se segura malandro, prá fazer a cabeça tem hora". São disciplinados, metódicos, calculistas, atentos e sabem quando podem e quando não podem e não devem fumar. São os "malandros" no bom sentido. Também podem ser outros malandros, no mau sentido. Os que não sabem e podem, vivem chapados, como um LP posto em uma vitrola em baixa RPM. Dentre as pessoas que não podem usar incluo você, de modo que, repense e reconsidere esse amor que você tem pela "mary".
Falei que ele iria levar a vida dele toda sendo internado. Também foi levado pra São Paulo enganado. Era piradão mesmo. Foi para um bar beber vodka e, em dado momento, sacou o baseado e acendeu. Não sei bem como, mas chegou o "resgate" e apanhou ele. O cara é bem novo e já passou por mais de 5 internações. É sem jeito do jeito que tratam ele, mas é permeável. Talvez fosse o caso dos pais, que são separados, arrumarem um analista pra ele. O caminho da internação deveria ser indicado para os pais dele. Na verdade, o que me pareceu, é que seus familiares, para se verem livres de problemas e de "uma cruz", internam o pobre coitado por conta da marijuanita dele. Tenham dó ! Perversidade pura.
Ele declarava abertamente que não estava ali pela vontade dele e que "nunca" abandonaria o "seu amor" pela droga preferencial dele. A outra era vodka "Absolut". Me chamava de "Tio". Não precisava mais fumar nada, era muito louco e só ele não percebia. Ele vivia fazendo apologia, dai resolvi dizer a ele: fulano, repare bem, tem gente que pode usar marijuana e tem gente que não pode. Os que podem e sabem seguem aquela máxima de Bezerra da Silva: "vou apertar, mas não vou acender agora, se segura malandro, prá fazer a cabeça tem hora". São disciplinados, metódicos, calculistas, atentos e sabem quando podem e quando não podem e não devem fumar. São os "malandros" no bom sentido. Também podem ser outros malandros, no mau sentido. Os que não sabem e podem, vivem chapados, como um LP posto em uma vitrola em baixa RPM. Dentre as pessoas que não podem usar incluo você, de modo que, repense e reconsidere esse amor que você tem pela "mary".
Falei que ele iria levar a vida dele toda sendo internado. Também foi levado pra São Paulo enganado. Era piradão mesmo. Foi para um bar beber vodka e, em dado momento, sacou o baseado e acendeu. Não sei bem como, mas chegou o "resgate" e apanhou ele. O cara é bem novo e já passou por mais de 5 internações. É sem jeito do jeito que tratam ele, mas é permeável. Talvez fosse o caso dos pais, que são separados, arrumarem um analista pra ele. O caminho da internação deveria ser indicado para os pais dele. Na verdade, o que me pareceu, é que seus familiares, para se verem livres de problemas e de "uma cruz", internam o pobre coitado por conta da marijuanita dele. Tenham dó ! Perversidade pura.
O Terceiro chegou por lá, naquele fim de mundo, todo ferido no braço. Era de Curitiba. Os caras do "resgate" chegaram na casa dele de surpresa.
A princípio ele imaginou que fossem policiais. Nessas horas o cara está fodido. Pegam, dopam, ou amarram, ou fazem as duas coisas juntas. São mestres em "mata-leão". Terapia ? acredite e depois não diga que foi São Benedito que lhe enganou.
Ele deve ter resistido... Era super tranquilo. Reflexivo e tímido. Um cara família, mas dessas famílias grã finas que morrem de medo quando assistem Datena. Ele ia bem, estava trabalhando e com possibilidade de progressão funcional. Gostava de farinha de vez em quando, era usuário social. Caiu no "de vez em quando" do azar. Pegaram ele de jeito. Dois dias por lá e parecia que ainda não tinha caído a ficha. Ele não compreendia a medida drástica adotada pelos pais. Ele não era problemático e o negócio era muito mais a vaidade da família que vive da negação e, para esconder essa vinculação do filho com a "branquinha", decidiram joga-lo em um pardieiro qualquer, em algum canto distante.
Ele desejava falar muito com a namorada. Conseguiu esta proeza no dia dos namorados. Todos eles viviam brincando de colocar chifres, uns nos outros, pondo em duvida a boa reputação de suas donzelas militantes. O pior é que essas minhocas, ou grilos, acabam funcionando e, lá um dia, todo mundo para pra pensar no viado do "ricardão". Essas minhocas são bem plantadas, psicologicamente falando, que o cara se torna corno, psicologicamente pensando.
Todo mundo, na verdade, confia desconfiando. Teve um novato, perto da minha saída, que escutei falando com a namorada. Foi comovente e convincente. Ela era chamada de "amor". Pronunciava a palavra com tanto amor que era impossível duvidar dele. Também temia a aparição do fantasma do "ricardão": - amor, jura que vai me esperar... cê jura, amor?! Amor, você não vai sair com aquelas amigas pras baladas, né amor? Prometa! Olhe, amor, me espere, aguente firme... diz pro vô que eu amo ele e que gostaria muito de vê-lo aqui, diz isso pra ele, promete amor?
Era um sujeito puro e competente. Tipo caubói americano sem chapéu. Falava inglês, cantava e tocava bem um violão. ele provou isso no dia em que todo mundo ficou à luz de velas, na escuridão. Era muito novo e amava os Beatles e Rolling Stones.
Pois os companheiros de "quartinho de passagem" nunca me incomodaram. Ouvia eles trocarem idéias loucas, enquanto eu estava em outra sintonia, mas não me atrapalhavam. Gostavam de um "business", O lugar é tão terapêutico que permite jogar cartas apostando cigarros, roupas, relógios e outros objetos.
Certa ocasião, em bate papo fechado, um interno me disse: - a cadeia era melhor que isso aqui!
Nesse lugar os "presidiários" arrumam um jeitinho de - sem saber - viver na base do só por hoje e conseguem manter a calma, a paciência e, de certa maneira, brincam entre si e apesar de todo sofrimento, conseguem parecer felizes.
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