domingo, 28 de agosto de 2011

bad trip

O texto que reproduzo abaixo é de minha autoria. Gostaria que não fosse pois é um auto-retrato que esbocei de mim mesmo em um dia muito triste. O texto reflete meu sentimento - julguem como desejarem. Foi um dia de cão e teria muito mais que escrever sobre o que me aconteceu antes de estar com os pés em brasa e sem dinheiro, com muita sede e fome e apenas vestindo uma bermuda. Fui forçado, pelas circunstancias a andar sobre pedras. Eis ai uma lição que hoje, refletindo, tem um novo significado moral para este blogueiro "desadictivado". Este é um dos meus dias de "bad trip", que gostaria de apagar. O que me ocorreu me fazia pensar sempre no "Lema do Psicodrama", que nada mas é do que uma inversão de papéis, como o terapeuta londrino sugeriu, certa feita, a Ozzy Osbourne em relação a codependente dele. Essa inversão de papéis é de pirar qualquer cara. Eis o texto:


Recentemente um homem, descalço e faminto, quase imóvel, foi visto por centenas e centenas de pessoas, andando com dificuldade. Tinha os pés queimados. A maioria dos olhares endereçados a este estranho cidadão, eram da mais pura indiferença e até de escárnio.

Como se fosse um leproso, ou um drogado*, ninguém ousou aproximar-se. Ele nada pedia em seu sofrimento evidente e os circunstantes, que o olhavam, sequer se dispuseram a perguntar-lhe: precisa de ajuda? quer um copo com água? Que posso fazer para amenizar a sua dor? 

O rapaz, olhava todos e imaginava quais os sentimentos que se processavam na mente de Cristo, enquanto percorria a via Crucis, diante de uma multidão enorme de gente. Aquela gente que o rapaz via, em nada diferia dos indiferentes, ignorantes e covardes, que presenciaram o suplicio de Jesus, com aquela coroa de espinhos na cabeça, exausto, sedento, tropeçando e, açoitado, carregando uma pesada cruz.

Alguns exemplos dignos de caridade cristã ficaram marcados na história, outros tantos servem apenas como exemplo do que não devemos ser, nem fazer com o próximo.

O cidadão se foi, carregando sua dor interior e nunca mais voltou**. Aqueles que escarneceram, foram indiferentes e, certamente, ele os absolveu, como Cristo fez. Aquela gente também não sabia o que fazia***. 

Um dia, que Deus os livre e guarde, poderão passar pela mesma situação e talvez encontrem uma mão amiga, talvez a mão daquele cidadão que passou vilipendiado em sua dor, sem ninguém para estender-lhe a mão. 

Os bons são diferentes: sabem perdoar os fracos, que, invariavelmente, se imaginam fortes e superiores diante da desgraça alheia. 

(texto do Blog Outros Olhares)



* estava drogado, infelizmente. O texto era para um blog que nada tem a ver com drogas;

** Infelizmente voltei (depois de muito tempo) e tentei fazer tudo diferente e só não queimei os pés, nem fique de corpo nú;

*** Eu também não era sequer um cisco do que Cristo foi.

Então estas lembranças me causam mal. Recordar que gastei tudo, outra vez, repetindo os mesmos erros incomoda muito. Nesse dia eu achava que todos eram uma droga e a pior seria aquela que parece gente e que pensa feito gente, mas não é flor que se cheire. É isso mesmo, tem muita gente ruim neste mundo. Agora me diga, que droga filha da puta é essa?!

3 comentários :

  1. uauu... que texto heim....
    to sem palavras... Muito tocante...
    Beijos e tamo junto!

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  2. È a maldita droga da insanidade, mas além de perguntar isso, você poderia ter perguntado também: Que droga de sociedade é essa?
    É a droga da sociedade do eu sozinho! A dor do outro me causa angustia, depressão, e até medo, mas não nos causa compaixão!
    Vemos as pessoas sofrendo, mas aí é só virar a esquina, parar num fast food e pronto! O dia voltou a ser um dia MC LANCHE FELIZ!!!!
    Não importa se o outro ainda sofre, importa apenas que eu não sofra mais!
    Infelizmente....

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  3. Eduardo Dusek em o "rock da cachorra" pede que troquem "seu cachorro por uma criança pobre" e, por ironia, houve um ministro do trabalho que humanizou os caninos quando, ao justificar seus gastos com seu cachorro, disse: "ele também é um ser humano"... Acho que foi Rogério Magri. Particularmente gosto de cachorros, mas tem momentos na vida que somos lançados a uma categoria, no mundo animal, como desprezíveis, ou seres invisíveis. Nossa cultura é humanamente contraditória.
    Lembrar o passado me incomoda muito. Neste dia eu poderia ter voltado para casa, mas estava muito difícil tocar os pés no chão. Quando pisava no chão sentia o incomodo tremendo causado pelas pedras. Só precisava forrar os pés, mas não havia como. O que antecedeu esse quadro ridículo, típico de fundo de poço, foi uma tragicomédia em que eu vivia o trágico e quem souber a história vai acabar morrendo de rir. Estava cansado. Precisava dormir. Estava fora há dois dias, sem dormir e sem me alimentar direito. Não tinha coragem de dormir na favela, donde sai em busca de um quarto de solteiro para dormir. TUDO ARRUMADO, FUI PARA O QUARTO. Tranquei a porta. Quando entrei no banheiro para tomar banho (eu estava tão bem vestido, com relógio, sapato, cinto, tudo de marca, incluindo celular...Foi quando percebi alguém forçando a porta. De repente flashs de máquinas fotográficas sendo acionados através de uma janela, no fundo do quarto. Porra, fiquei louco. Quem seria? quem estava atrás de mim. Estava com uma toalha presa na cintura. Segurava a porta de banda. De repente parece que quem intentava me pegar saiu para buscar uma cópia da chave do quarto. Eu sequer tinha droga, mas estava sob efeito do uso e era tudo real. Uma onda de pânico veio com razão. A portaria do Hotel não conseguiu barrar quem me buscava, então só poderiam ser bandidos, ou policiais. Mas porquê?! O que sei é que, no instante de silêncio, abri a porta e me piquei correndo. Ví a porta de um quarto aberta e entrei na sala onde servem a refeição, mas o quarto estava ocupado e, com medo de encrenca, sai deste e cai noutro. Desesperado, subi um andar, pelo corredor achei um que estava vazio. Entrei. bati a porta, não acendi luz alguma, entrei no banheiro, fechei a porta e fiquei dentro do boxe de lado. Nisso já ouvia certo alvoroço do tipo: "queria pegar minha mulher"..."queria assaltar"..."é ladrão"... a porta abre e meu coração gela, acenderam a luz, passaram os olhos e sairam apagando a luz. Que alivio. Subi mais um andar e era o terraço onde ficava a lavanderia. Me joguei debaixo de um monte grande de lençois de modo a deixar um pequeno buraco que me permitisse ver quem entrasse. Um cara magro, alto, branco e de cabelo liso, parecendo meu filho examinava tudo com olhos e faro de doberman. Eu morria de medo e já pressentia a encrenca em que havia me metido. O cara saiu e eu sai do lençol. Pensei em me esconder no telhado vizinho, de eternit... (o resto fica por conta de vocês... Uma mulher ao abrir a porta me viu e gritou socorro... A policia chegou, mas o porteiro - causador de tudo, me protegeu. Pedi uma saida de emergência, sempre tem, né? Era pela cozinha... Sai e voltei para a favela... amanheceu e eu estava sendo caçado, mas na favela eu estava protegido porque não tem caguete vivo... contei demais, chega!

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soporhoje10@gmail.com

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