terça-feira, 15 de abril de 2014

Um dia na vida de M

M e irmãos se envolveram em uma briga na proximidade do "Céu Azul", uma pastelaria que arrendaram e transformaram em bar. Em dado momento M. viu seu irmão G levando uma gravata de um desconhecido. Correu e pegou uma peixeira e partiu pra cima do ofensor do seu mano querido. Quando ia desferir o golpe, no braço do estranho, que engravatava o irmão dele,  este levantou o braço e a faca penetrou na axila do sujeito, numa estocada mortal. 

A intenção não era matar, mas resultou em morte. M era usuário de drogas, sendo sua preferencial a marijuana. O irmão G era careta e o morto era o "pacato" cidadão, que finado ficou com o corpo estendido no chão. 

M e G fugiram rapidamente de carro e buscaram esconderijo em uma cidade praiana, onde permaneceram até livrarem-se do flagrante. 

Depois de apresentados à Policia, pelo advogado contratado, passaram a responder pelo crime em liberdade. A tese seria de autoria desconhecida, Que o inocente irmão de M, que não matou ninguém, aceitou. 

G, o caretão, estava próximo de casar, com a vida arrumada, com um futuro que parecia promissor. Sete anos passados foram levados ao tribunal e condenados a cumprir sete anos de sentença em regime fechado.

M tinha um bom emprego no governo e estava na iminência de perde-lo, quando sua esposa, desesperada, passou a pedir ajuda. Acabou encontrando um amigo de M. cujo pai era deputado e obteve para os dois irmãos, mediante exposição de motivos, a prisão albergue e, mais que isso, conseguiu com o Secretário da pasta, que M servia, abono das faltas e manutenção do emprego. 

Soltos, nunca se manifestaram gratos. M continuou a usar sua droga, que na época gozava a mesma reputação que o crack goza nos tempos atuais. 

M esconde o uso de outras drogas e fuma "unzinho", tranquilo, na laje da casa da esposa. G. foi ser taxista e, sem nunca ter matado alguém, consta nos autos processuais como um dos assassinos. Uma história triste. 

M, hoje em dia, vive a julgar e comentar a vida alheia. Também é taxista, além de servidor público. G. adquiriu um quê lombrosiano e é um sujeito silencioso. Havia um outro irmão envolvido na briga, que na época não era pescador predatório e nem usava drogas, mas ficou fora do processo. 

M não era de arruaça, muito menos G, mas encanados foram salvos pela esposa que, após bater em muitas portas, chegou à porta certa.

Gratos ou ingratos, M, comentarista e juiz de vidas alheias, parece guardar em segredo, não o crime praticado por ele, que destruiu os projetos de vida do irmão, mas o fato de ter arrastando o próprio irmão, sabidamente inocente, para um presidio, como autor de um crime que não cometeu. Grande irmão foi G que nunca abriu a boca para salvar-se das grades, delatando M, como autor do crime.

Do amigo que o ajudou e que o levou ao deputado a lhes permitiu continuar trabalhando sem perca de emprego, deve falar bem em seus pareceres sobre vidas alheias, presumo. Trabalhava durante o dia, apenas dormido na cadeia, que era um quarto perfeito.

Naquela época a maconha era vista como o crack é visto hoje em dia e muita gente falava que a culpa toda, naquele crime, foi o uso da droga, que o levou a matar.

O tempo passa, as drogas mudam, mudam-se os conceitos, mas o preconceito de M, usuário de droga, de tudo o que foi narrado, é o mais inexplicável. Mas é isso mesmo, reduziu-se em ser mero comentarista da vida alheia, enquanto oculta outros pesadelos. Não "mora na filosofia", mas no mundo dos fariseus. 

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