Escrito pelo Dr. Eduardo Mascarenhas
Os grupos Anônimos - que se diga em alto e bom som - não são contra o fato de alguém ser celebridade. Muita gente famosa - atores, cantores, políticos, empresários, astros e estrelas de televisão - já fez ou ainda faz parte desses grupos. Muitos deles, aliás, só não caíram no anonimato, arruinados pelo alcoolismo ou pelas drogas, por causa dessa participação...
O que não é possível é tornar-se célebre às custas dos grupos anônimos. Como cidadão, cada um é livre para fazer o que quiser ou o que puder. Como membro de um grupo anônimo, está sujeito a restrições. Estas, contudo, limitam-se aos meios de comunicação, onde nenhum membro deve mostrar seu rosto ou falar em nome da organização, cuja identidade paira além das personalidades de seus membros e não se confunde com elas. Ninguém deve mostrar o rosto, porque um grupo anônimo não tem um rosto; tem todos os rostos. Ninguém deve falar em nome de um grupo anônimo, porque ele não tem uma fala; está aberto para todas as falas.
Fora dos meios de comunicação ninguém é obrigado a preservar o seu anonimato enquanto membro de um grupo anônimo. Fora do espaço público, no espaço privado, qualquer um pode revelar sua condição a quem quiser, se este for o seu desejo. O que não deve é sair dizendo por aí o nome das outras pessoas que fazem parte de seu grupo. Simples questão de ética: afinal os outros membros têm direito ao sigilo e à privacidade.
Esse direito ao sigilo e à privacidade é tão importante para o funcionamento dos grupos anônimos que jamais será solicitado a ninguém um documento, folha corrida, certificado de bons antecedentes ou comprovação de nada. Mais: ninguém é obrigado sequer a usar seu verdadeiro nome, nem relatar qualquer fato que seja revelador de identidade. Pelo contrário, quando um membro se levanta para dar um depoimento, não deve dizer seu sobrenome e pode usar o nome que quiser. Até o verdadeiro.
É que um grupo anônimo não está interessado em olhar pelo buraco da fechadura a vida íntima de ninguém, nem em obrigar seus membros a nenhum strip-tease psicológico. Só tem como propósito enfrentar a compulsão e a dependência química a que seus membros se vêem presos.
Um grupo anônimo não é anônimo para ser algo fechado ou escuro, mas para ser completamente aberto. Lá, entra quem quer, fica quem quer. Se alguém não gostar e quiser ir embora, não lhe será cobrado aviso-prévio ou satisfação. E pode voltar, sem explicações.
Por outro lado, se um membro de um grupo anônimo transgredir todas essas recomendações, nada será feito contra ele! Não existem punições! Nada é imposto. Não é obrigado. Tudo é, no máximo, sugerido.
Dr. Eduardo Mascarenhas ( Psicanalista falecido )
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