Em 20 de junho de 1985, Eric Clapton concedeu entrevista a Robert Palmer, publicada na Revista Rolling Stones. Dentre outros assuntos, também fio abordado o uso de drogas. Clapton fala que entrou no uso de ácido lisérgico até o fim da banda Cream:
"Sim, tomamos muito ácido, várias viagens, em nosso tempo livre. E tocamos cheios de ácido também, algumas vezes."
Palmer recordou que "a primeira vez que te encontrei foi durante aquelas sessões no Critéria Recording Studios. Havia muita droga espalhada, especialmente heroína, e, quando eu apareci, todo mundo estava jogado no carpete, chapado. " Clapton confirma: "Nós estávamos nesse hotel na praia, e qualquer droga que você quisesse, poderia conseguir na barraquinha mais próxima; a garota obedecia as suas ordens. Ficávamos prá lá e prá cá, a garota e o garoto, e a bebida era geralmente Ripple ou Gallo. Coisa muito pesada. Me lembro de Ahmet (Ertegun, presidente da Atlantic Records) chegando em casa em algum momento, me chamando de lado e chorando, dizendo que tinha estado nessa merda com Ray (Charles), e que sabia onde isso ia parar, e se eu poderia parar agora. Eu disse: "Eu não sei do que você está falando, cara. Isso não é problema." E, é claro, ele estava mais do que certo."
Clapton prossegue: "Quando comecei a usar (heroína), George (Harrison) e Leon (Russel) me perguntaram: "o que você está fazendo? Qual é a sua intenção?". E eu disse: "Eu quero fazer uma viagem na escuridão, sozinho, para descobrir como é estar lá. E depois sair pelo outro lado". Adiante, Eric Clapton recorda que também tinha problemas com bebidas alcoólicas, foi hospitalizado em 1981 e que teve que ir "ao limite da sanidade para poder parar. Foi só quando percebi que eu estava sendo responsável por mortes ao meu redor, ao mesmo tempo em que me matava, e indo à loucura, que eu decidi parar."
Robert Palmer fez a pergunta final: "Qual a graça, a atração, de um comportamento vicioso, seja usando droga ou bebida? " *
Eric Clapton respondeu: " É obsessivo. Parte de minha personalidade é feita de uma obsessão para me levar a um limite. Pode ser de grande utilidade se minha obsessão é conduzida para algo criativo, ou um pensamento mais positivo em relação às coisas, mas pode ser também física e mentalmente destrutivo. Acho que o que acontece a um artista é, quando ele sente as mudanças de humor de que todos sofremos quando somos criativos, em vez de encarar a realidade de que isso é uma oportunidade para a criação , ele vai se virar para algo que vai destruir aquela sensação, parar com essa coisa irritante. E isso vai ser heroína ou bebida ou qualquer outra coisa. Ele não vai querer encarar esse impulso criativo, porque sabe da auto exploração que precisa ser feita, a dor que precisa ser encarada. Isso acontece quase sempre, ou muito dolorosamente, a artistas. A menos que eles percebam o que é que está causando aquilo a eles, eles sempre vão tentar se apoiar em alguma coisa ou outra para mata-los."
O texto abaixo foi retirado do site Interpretação de Músicas, que cuida da composição de Eric Clapton, Tears In Heaven, após o óbito do filho dele em 1991.
Em 1991, o filho de Eric Clapton, de apenas 4 anos, caiu do 53º andar, uma vez que a empregada tinha deixado a janela aberta. (Sabendo da notícia, a moça teve colapso nervoso e teve até que ser hospitalizada.) Inspirado na morte do filho, Eric compôs Tears In Heaven, segundo ele, a música o ajudara a aceitar a perda. Em 2004, decidiu parar de tocá-la em público, pois achava que era pessoal demais. A mãe do filho se recusou a ouvir a canção. Não tinha intuito de ser publicada, porém acabou se tornando hit internacional. Uma das músicas mais comoventes de Eric, e mais pessoal.
Você saberia meu nome
Se eu te visse no Paraíso?
Você seria o mesmo
Se eu te visse no Paraíso?
Você saberia meu nome
Se eu te visse no Paraíso?
Você seria o mesmo
Se eu te visse no Paraíso?
Eric expressa o sentimento de que gostaria de reencontrar o filho no paraíso, não apenas uma alma, apenas uma luz, mas o mesmo filho que o acabara de deixar. Aquele que o reconhecesse, soubesse o nome, o chamasse de pai.
Na parte: "você seria o mesmo" eu juro que escuto "could it be the same"... não sei se é válido postar aqui, pode ser loucura minha.. haha mas talvez as traduções estejam erradas... se for equívoco meu, perdão.
Preciso ser forte
E continuar
Porque sei que não pertenço
Aqui no Paraíso.
Mas ele aceita a perda... admite que é preciso ser forte e continuar firme, pois, querendo ou não, ele não está com o filho no paraíso. Está aqui, por enquanto, não pertence ao paraíso, somente à Terra.
Você seguraria minha mão
Se eu te visse no Paraíso?
Você me ajudaria a levantar
Se eu te visse no Paraíso?
Mais uma vez, "você seguraria minha mão?" aquele sentimento: você me reconheceria? Seria a mesma coisa, seríamos os mesmos, você jura, filho, que lembraria do meu nome e seguraria minha mão como tinha costume?
"Me ajudaria a levantar": pois, se encontrasse o filho novamente, conseguiria sair da depressão, da profunda tristeza.
Encontrarei meu caminho
Pela noite e dia
Porque sei que não posso ficar
Aqui no Paraíso
Depois da "recaída", imaginando se encontraria o filho novamente e se este o reconheceria, mais uma vez aceita: "tenho que continuar, tenho que superar..." Entende que, dia e noite, ele tem que encontrar um caminho para continuar levando a vida, porque ele não está no paraíso...
O tempo pode te botar para baixo
O tempo pode fazê-lo curvar-se
O tempo pode partir seu coração
Fazê-lo implorar por favor
Implorar por favor
Além do escuro
Há paz
Estou certo
E eu sei que não haverão mais
Lágrimas no Paraíso
Ao passar do tempo você pode se ferrar. Pode acontecer desgraças com você. O destino nos arma cada uma. O tempo vai fazer você sofrer, quebrar seu coração... MAS, por trás de toda a dor, ele tem certeza de que há paz: e que no paraíso não existem lágrimas = não existe dor.
No paraíso, quando ele encontrar o filho, vai parar de sofrer.
Você saberia meu nome
Se eu te visse no Paraíso?
Você seria o mesmo
Se eu te visse no Paraíso?
Dizem que só um pai ou uma mãe pode descrever o sentimento que essa música desperta. Todos nós nos comovemos, mas acredito que não chegamos ao nível mais puro da música, tampouco conseguimos extrair a emoção 100% completa que nela está embutida.
Nota do Blog Só Por Hoje:
* Aqui abrimos um parêntese para constatarmos uma realidade que é a da distinção que o senso comum provoca ao usar a palavra droga separada da palavra bebida, como se a bebida alcoólica não fosse uma das piores drogas, dentre outras. Comentário do SPH
* Aqui abrimos um parêntese para constatarmos uma realidade que é a da distinção que o senso comum provoca ao usar a palavra droga separada da palavra bebida, como se a bebida alcoólica não fosse uma das piores drogas, dentre outras. Comentário do SPH
vdd...ainda não consideram bebida uma droga...e pelo que tenho visto, as futuras gerações logo mais vão considerar drogas, somente aquelas que levam o dependente a ir morar na rua...rs..o restante será apenas uma maneira de relaxar, ou talvez quem vá parar na rua será considerado um fraco... as pessoas cada vez mais querem evitar o inevitável, se conhecer para crescer, enquanto isso continuaremos anestesiando nossas consciências pra não enxergar quem de fato somos...um bom final de semana
ResponderExcluirOlá, Kel! gosto dos seus comentários. Vivemos cercado de drogas e as utilizamos quando um medico nos prescreve um medicamento qualquer. o que é droga? o que é tóxico? o conceito que a publicidade massiva incute nas cabeças de quem não ousa pensar, provoca alterações no modo de raciocínio de muita gente, no meu entendimento.
ResponderExcluirEsqueci de quem é a seguinte citação: " a diferença do remédio e da droga está na dosagem". Em outras palavras, a droga que usamos como medicamento, não é droga, se soubermos dosa-la. Significa dizer, em outras palavras, que a droga remédio, é só um fármaco, que se torna uma droga se a dosagem for modificada e utilizada de modo nocivo. Alcancei uma época em que pacientes com problemas cardiológicos usavam, como medicamento, veneno de rato, em doses não letais, como anticoagulantes.
Até hoje, a sociedade organizada, não conseguiu proibir, sequer, a veiculação de propagandas que estimulam o uso de bebidas alcoólicas. Na época da lei seca, o traficante de bebidas eram, apenas, contrabandistas. Hoje são comerciantes. Trata-se de uma droga de utilização tão disseminada que evita-se dizer que a bebida alcoólica não é uma droga. As pessoas que condenam o uso de drogas são as mesmas que riem quando uma pessoa embriagada torna-se engraçada, hilariante. Tudo isso é, realmente engraçado. Infelizmente, o álcool só é encarado como um problema quando a dependência química, verdadeira, se instala. Hoje ninguém ousa mais falar em dependência psicológica e dependência física, porque falar em dependência química parece algo mais abrangente e, rentável. Deixei de usar o "branco" tranquilamente. Não usava nas veias! Conheço craqueiros que deixam de usar o crack - após muitos anos de uso abusivo - da noite para o dia, sem aparentar problemas, disso ninguém fala. Parece que a pessoa decide dar um basta e pronto: funciona! com o álcool a dependência é completa, psicológica e física, mas por ser de uso quase generalizado, por ser socialmente aceito tal uso, deixa de ser droga porque nenhuma autoridade concebe aceitar ser chamado de usuário de droga. No caso eles usam como um "remédio" analgésico.
É barra pesada ver uma pessoa jogada nas ruas, relegada ao abandono. Um quadro que revela o grau de loucura que o problema causa e que é um problema social grave. A loucura de quem abandona me parece maior do que a loucura do abandonado. Vejo pessoas católicas da boca para fora, que têm um Deus na boca e um demônio no coração e anda pregando o evangelho por ai... Isso é cômico e trágico, na comédia da vida. Aquele lance do sonho que, em outro post levou você a tecer um comentário é algo que Freud explica. Você é psicanalista? Mergulhar para dentro de si mesmo pode ajudar muita gente a solucionar seus próprios problemas.
Do ponto de vista existencialista gosto do que Sartre disse e que cito de modo abreviado e extraído de um contexto maior: "o homem nada mais é do que o seu projeto; só existe na medida em que se realiza; não é nada além do conjunto de seus atos, nada mais que sua vida"
Tenha, igualmente, um ótimo final de semana, com essa sobriedade que lhe caracteriza e com todo seu bom humor.