quarta-feira, 30 de abril de 2014

No tempo das brilhantinas

luzdoconsolador.wordpress.com
Havia muita mentira que era difundida a respeito de drogas. Muitas delas eram direcionadas à maconha. 

Haviam pessoas que contavam casos curiosos. O mais comum era o da garota que aparecia em casa, tarde da noite, dizendo que ao passar por determinado local, viu o sujeito fumando, pensava que era cigarro e,  quando estava próxima, recebeu uma baforada de maconha no rosto e dai não lembrava mais de nada, salvo quando recobrou os sentidos e estava em um local deserto, sozinha. Desesperada tomava o rumo de casa. Outras, também "barrunfadas", chegavam em casa descabeladas e só lembravam do instante em que alguém jogou  fumaça de maconha no rosto dela. 

Também haviam garotas, geralmente vindas do interior, que indagadas sobre o tamanho da barriga diziam que sofriam de barriga d´água e que a razão de estar na capital era para tratar do problema, que, na verdade, era gravidez e o tratamento era o aborto. 

Nas cidades pequenas era era comum as famílias retirarem da cidade as garotas que engravidavam, evitando-se o escândalo.  

Outra conversa fiada era a de que se sentou em assento quente e contraiu doença venérea.  

Era comum, também, garotas contarem que alguém, durante o carnaval, lhe ofereceu um copinho de cerveja e que a mesma aceitou e depois desfaleceu e dai em diante não sabia dizer o que aconteceu. Esses casos podiam ser  reais, ou não. 

Como se ouvia falar muito sobre isso, tornou-se lugar comum os pais recomendavam às filhas que não aceitassem qualquer oferta de bebida, de estranhos, podia ser guaraná, ou até mesmo água, pois podiam conter "bolinha" dissolvida. Seria, no caso, uma espécie de "boa noite Cinderela". O conselho, abstraindo mentiras,  tanto serve para homens e mulheres, nos tempos atuais. 

Estas versões eram mais aceitáveis, porque haviam entorpecentes e soníferos pesados. Mas, no caso da maconha, a barrunfada era uma mentira vergonhosa, mas que o senso comum aceitava.

Lembro que, quando acontecia algum crime, geralmente, os de repercussão social, colocavam a culpa na maconha. Em muitos desses casos havia mesmo o uso da maconha, mas quem a utilizava já tinha o precedente de ser portador de qualquer distúrbio mental. 

Rememoro uma entrevista que Gilberto Gil deu ao Pasquim e, respondendo a uma pergunta, disse algo interessante: "tem gente que pode usar e tem gente que não pode". 

Também era preconceito comum dizer que todo surfista era usuário de droga, tanto quanto um roqueiro. Raul Seixas, foi muito discriminado. Os pais mandavam que suas filhas ficassem longe dele, porque ele era "perigoso". Perigoso porque tinha argumento e boa aparência, vestia-se bem, Nos tempos iniciais de Raulzito e seus Panteras,  Raul era careta. Tocava em festinhas, de quinze anos, de gente da classe média. 

Todo jovem que se vestisse como um James Dean, era discriminado só pela aparência. Podia usar, ou não, pouco importava, seria vítima de preconceito. 

Assim, muitos rapazes possuíam seus amores proibidos e neste rol posso me incluir.

Bem, no mundo das drogas e fora dela, a mentira é uma verdade concreta. O ser agressivo, pode ter tal condição agravada, ou até atenuada, pelo uso da maconha, mas não é a maconha, em si , quem pratica determinada ação. As patologias são casos para a psiquiatria forense. O que posso elencar, como coisas que a maconha, no meu conceito, pode me parecer prejudicial é a perda da capacidade de concentração e isso para quem estuda é muito ruim. A memória fica afetada, mas não tanto quanto se imagina. Depois, o cara funciona como uma radiola que toca um disco de alta rotação em uma RPM inferior. Isto é, o cara fica mais lento, principalmente quando fica chapado. 

Mas, é sempre bom lembrar o que Marx preconizou: Não é a consciência quem determina o ser social, mas o ser social é quem determina a consciência do ser. Isso significa que nossas consciências são fruto de experiências e vivências neste, ou naquele meio social. 

Não significa dizer que somos produto do meio, mas que podemos, através do conhecimento, da educação, do que fazemos da aprendizagem vivenciada e experimentada, em qualquer meio social, modificarmo-nos, não nos permitindo ser moldado pelo meio social em que nos achamos inseridos. Assim, muita gente tem uma maneira de ser própria, que busca seus objetivos na vida, que deseja se realizar, que prega a paz e possui traços benignos de personalidade, não se entregando a cultura da violência.

 Assim, não é real o pensamento comum de que nas favelas só tem gente ruim. Isso é um sofisma que não vamos debater. O que queremos dizer, resumindo a ópera, é que até na lama nasce flor. E são muitas as flores que habitam as favelas, muitas das quais, castigadas pela pobreza. Nunca devemos generalizar o que tem caráter particular. No "mundão", tem muita gente com boa consciência e o fundamental é combater as mentiras que geram preconceitos.


Nenhum comentário :

Postar um comentário

soporhoje10@gmail.com

LinkWithin

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...