terça-feira, 15 de abril de 2014

O que são Transtornos Mentais?


Instado por um codependente decidi publicar, aqui e agora, um texto básico sobre TRANSTORNOS MENTAIS, cujo autor é o Dr. Osvaldo Lopes do Amaral, Diretor Clínico do INEF - Instituto de Estudos e Orientação da Família. Vejamos o que ele escreveu sobre o tema:

"O que são Transtornos Mentais?"

"Transtornos mentais são alterações do funcionamento da mente que prejudicam o desempenho da pessoa na vida familiar, na vida social, na vida pessoal, no trabalho, nos estudos, na compreensão de si e dos outros, na possibilidade de autocrítica, na tolerância aos problemas e na possibilidade de ter prazer na vida em geral.

Isto significa que os transtornos mentais não deixam nenhum aspecto da condição humana intocado.

Porque falamos de transtornos mentais e não de doenças mentais?

Em medicina, são consideradas doenças as alterações da saúde que tem uma causa determinada, com a ocorrência de alterações físicas detectáveis. O termo transtornos, por outro lado, é reservado para designar agrupamentos de sinais e sintomas associados a alterações de funcionamento sem origem conhecida.

Os transtornos mentais, em geral resultam da soma de muitos fatores como:

- Alterações no funcionamento do cérebro
- Fatores genéticos
- Fatores da própria personalidade do indivíduo
- Condições de educação
- Ação de um grande número de estresses
- Agressões de ordem física e psicológica
- Perdas, decepções, frustrações e sofrimentos físicos e psíquicos que 
perturbam o equilíbrio emocional

Podemos então afirmar que os transtornos mentais não tem uma causa precisa, específica, mas que são formados por fatores biológicos, psicológicos e sócio-culturais.

Quais exemplos de transtornos mentais poderiam ser citados?

- Estados de depressão ( sentimentos persistentes de tristeza, desânimo, idéias pessimistas e de morte ou suicídio ou tentativas de suicídio, dificuldades de concentração e de memória ou de tomar decisões. Sintomas físicos persistentes que não respondem a tratamento como dores de cabeça, transtornos digestivos e dores crônicas. Perda de interesse ou prazer em atividades, incluindo sexo. Alterações de sono, energia diminuida e fadiga).

- Estado de mania ( irritabilidade, idéias de grandiosidade, atividade aumentada, incluindo atividade sexual, acentuado aumento de energia, comportamento social inadequado, julgamento empobrecido, o que leva a comportamentos de risco, necessidade de sono diminuída, pensamentos acelerados, fala aumentada).

- Estado de ansiedade exagerada ( são transtornos sérios que trazem um nível de ansiedade muito elevado, de caráter crônico, incessante e que pode aumentar progressivamente quando não tratados. Há um comprometimento na realização de tarefas, consequência da dificuldade de concentração, da agitação. Há também o aparecimento de fobias, que não são apenas medos exagerados, são medos irracionais ).

Pertencem a este grupo de transtornos:

- A síndrome do pânico. Onde ocorrem períodos de intensa ansiedade, que surgem espontaneamente e que usualmente duram menos de uma hora. Estes ataques de pânico ocorrem aproximadamente duas vezes por semana, podendo ser muito mais ou muito menos frequentes. Estes ataques de pânico podem estar associados a agorafobia - medo de estar sozinho em lugares públicos, especialmente em situações nas quais uma saída rápida seria difícil.

- Fobia social ( transtornos de ansiedade social ).  Há o surgimento de uma intensa ansiedade, às vezes até semanas antes da situação temida, onde a pessoa sente que será exposta ao exame de outras pessoas e tem medo de agir de uma maneira humilhante ou embaraçante.

- Transtornos obsessivo-compulsivos. As pessoas pensam determinadas coisas de uma forma repetitiva que chega a ser muito perturbadora ou repetem determinados atos inúmeras vezes ao dia, chegando a comprometer a execução de suas tarefas diárias por consumir muito tempo para lidar com as idéias (obsessões ) ou executar comportamentos que se tornam verdadeiros rituais (compulsões). Os comportamentos repetitivos ( compulsões ) são uma tentativa de reduzir a ansiedade relacionada às idéias repetitivas e invasoras (obsessões) mas nem sempre funcionam, podendo até aumentar a ansiedade. Nestas situações a pessoa pode apresentar somente obsessão, somente compulsão ou ambos.

Há mais exemplos de transtornos mentais?

Sim e talvez seja o momento de falarmos um pouco do grupo de transtornos mentais psicóticos, cujo exemplo mais conhecido é a esquizofrenia.

Os transtornos psicóticos implicam numa perda da diferenciação entre o mundo real e o mundo imaginário, em grau variável, fazendo com que as pessoas atingidas tenham desde uma vida relativamente normal até uma grande incapacitação.

Os sintomas mais comuns deste grupo de transtornos mentais são as alucinações (alucinações são percepções sem uma conexão com a fonte apropriada. Podem ocorrer na forma auditiva (sons) visual (visões) gustativa (sabores) e olfativa (cheiros) - ouvir vozes que outras pessoas não ouvem é o tipo de alucinação mais comum na na esquizofrenia. As vozes descrevem as atividades da pessoa, comentam de coisas que podem acontecer e, às vezes, dão ordens à pessoa ) e os delírios (são falsas crenças pessoais que são mantidas mesmo quando confrontadas com evidências que as contradizem. Os delírios podem estar relacionados a diferentes temas. Por exemplo, o delírio que ocorre em aproximadamente um terço das pessoas com esquizofrenia é o que chamamos de paranoide: a pessoa acredita que está sendo perseguida, enganada, envenenada e que existe um plano contra ela. Às vezes o foco da perseguição é colocado em um familiar, às vezes em pessoas fora da família.Os delírios também podem ser de grandeza e a pessoa acredita que ela é uma figura muito importante ou famosa. Algumas vezes as pessoas com esquizofrenia experimentam delírios bizarros; por exemplo, acredita que um vizinho controla a sua mente com aparelhos; que as pessoas nos filmes ou na televisão estão mandando mensagens especiais para elas; que os seus pensamentos estão sendo transmitidos por ondas magnéticas para toda a cidade ).

Nos transtornos mentais psicóticos as pessoas afetadas perdem a habilidade de ´´pensar corretamente``. Os pensamentos mudam muito rapidamente e não tem um encadeamento lógico; a pessoa não pode se concentrar em um pensamento por muito tempo, se distrai com facilidade. Neste caso dizemos que apresenta um ´´transtorno do pensamento``. Tudo isto leva a que seja difícil que a pessoa seja compreendida pelos outros, que se afastam, deixando a pessoa muito isolada.

Outro aspecto importante nos quadros psicóticos é a alteração da expressão emocional. A pessoa não tem as reações emocionais comuns, são apáticas, desinteressadas das coisas comuns da vida, a motivação pode estar muito reduzida. Em casos mais severos a pessoa pode passar o dia sem fazer praticamente nada e negligenciar até a higiene pessoal. Nestas situações é muito comum os familiares, ainda sem noção de que trata-se de uma perturbação mental, considerarem como má vontade, uma fraqueza da pessoa.

A dependência química é um transtorno mental?

Consideramos a dependência de qualquer substância química, lícita ou ilícita, como um transtorno mental. Hoje praticamente todos os adolescentes são expostos às drogas, mas os que se tornarão dependentes são uma minoria. Podemos afirmar que a diferença entre os que se tornam dependentes e os que não se tornam está na personalidade, nas condições mentais da pessoa. Uma vez estabelecido o hábito do uso de drogas, estas se tornarão causas de outros transtornos mentais, pela  destruição das células do cérebro, os neurônios. Mesmo com esta destruição e todos os prejuízos causados à vida familiar, social, de estudos, de trabalho. O indivíduo afetado pela dependência não pára o uso da droga, uma vez que perdeu a liberdade de escolha. É muito difícil que ele saia sozinho desta situação sem um tratamento, sem o apoio de um grupo.

A droga mais comum em nosso país é o álcool e constitui o maior problema de saúde pública que temos. Mais da metade dos leitos dos nossos hospitais estão ocupados por alcoolistas, seja pelas consequências diretas ou indiretas do álcool ( doenças físicas, acidentes de trabalho, acidentes automobilísticos, atropelamentos, etc ).

É fácil diagnosticar, identificar os transtornos mentais?

Alguns transtornos mentais são bastante conhecidos do grande público através de publicações em jornais, revistas e televisão e são mais facilmente reconhecíveis. Outros são mais difíceis e menos conhecidos, requerendo experiência profissional para o seu diagnóstico. O diagnóstico em psiquiatria é predominantemente clínico (exames de laboratório, de imagens, raramente dão uma contribuição importante) e muitas vezes é necessário uma diferenciação com doenças físicas que se manifestam na área mental ( transtornos glandulares, metabólicos, tumores e outras doenças ).

Qualquer pessoa pode ter um transtorno mental ou existe um grupo específico de pessoas que padecerá deste tipo de transtornos?

Qualquer ser humano, ao longo de sua vida, terá momentos de desequilíbrio mais ou menos profundos e dependendo da intensidade do seu sofrimento e de suas condições mentais básicas, poderá ter um transtorno mental mais grave ou menos grave, mais recuperável ou menos recuperável, mais passageiro ou mais permanente.

Disto podemos concluir que os transtornos mentais são extremamente frequentes ( de uma maneira geral um em cada cinco pessoas terá um diagnóstico de transtornos ) e nenhum grupo social, racial, econômico, educacional ou de faixa de idade é poupado. É raro encontrar uma família que não tenha um membro atingido por um transtorno mental.

O custo social dos transtornos mentais é muito alto em termos materiais e de sofrimento humano. É enorme o número de horas de trabalho perdidas, de carreiras profissionais mutiladas e de relacionamentos humanos cortados pelos transtornos mentais. Daí a importância de que toda pessoa tenha uma possibilidade de reconhecimento da ocorrência destes transtornos em familiares, amigos, empregados e colegas, tornando-se um elo na corrente de ajuda pára minimizar a devastação representada pelos transtornos mentais.

Se ninguém está livre de ter um transtorno mental e em quase todas as famílias alguém pode ser diagnosticado como portador de um transtorno mental, por que há tantos preconceitos em relação a este tema?

Os preconceitos e a discriminação são uma consequência de nossos valores culturais e da ignorância; dá-se muita importância ao sucesso, a mostrar-se forte, a ser um super-homem.

Os transtornos mentais mostram que a pessoa é apenas humana, é frágil, e falível. Até a pessoa que sofre do transtorno mental tem preconceito de si próprio, tem vergonha de sua condição, o que dificulta que ela procure ajuda para tratar de sua perturbação, do seu sofrimento.

Como são os tratamentos para os transtornos mentais?

Os transtornos mentais são tratados, de uma maneira geral, como uma associação de meios psicológicos e medicamentos ( psicofármacos ). Algumas condições não requerem o uso de medicamentos e são tratados apenas por meios psicológicos. Caberá ao profissional que faz o diagnóstico ao ter o primeiro contato com o paciente, fazer a indicação de que recursos serão necessários para a recuperação da saúde mental do paciente.

Há um certo pessimismo em relação aos tratamentos dos transtornos mentais?

Sim. É um produto também do desconhecimento destes temas e de expectativas mágicas em relação aos tratamentos que obviamente não se cumprem. Os tratamentos para os transtornos mentais são efetivos, dão muito bons resultados, na maioria dos casos, mas requerem um esforço sustentado por períodos prolongados, dedicação e paciência. Os benefícios não surgem no curto prazo.

Onde posso procurar ajuda para alguém que está manifestando algum tipo de transtornos mentais?

As possibilidades são inúmeras. Obviamente as pessoas que podem pagar pelo seu tratamento contarão com mais opções pois terão acesso a um grande número de profissionais de saúde mental em seus consultórios particulares. Para as pessoas que não disponham de recursos financeiros para tanto, nem da cobertura de plano de saúde ou convênios, poderão recorrer a Centros de Saúde Mental mantidos pelo Estado ou pela Municipalidade, a clínicas de atendimento psicológico mantidas por Universidades ou a serviços oferecidos por Organizações Não Governamentais, sem fins lucrativos.

O importante é começar a procurar por algum ponto. Uma pessoa que queira tratar-se não deixará de fazê-lo por problemas financeiros. A comunidade dispõe de recursos acessíveis a todos.

Caso você deseje maiores informações sobre este tema entre em contato com o 
INEF - Instituto de Estudos e Orientação da Família
RuaTuriassú 1450 - Perdizes SP.
Fone: 3871-3398 ou 3676-1902
e-mail: inef@inef.com.br

Recomendo que leiam mais sobre o tema no link abaixo:



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