quarta-feira, 30 de abril de 2014

No tempo das brilhantinas

luzdoconsolador.wordpress.com
Havia muita mentira que era difundida a respeito de drogas. Muitas delas eram direcionadas à maconha. 

Haviam pessoas que contavam casos curiosos. O mais comum era o da garota que aparecia em casa, tarde da noite, dizendo que ao passar por determinado local, viu o sujeito fumando, pensava que era cigarro e,  quando estava próxima, recebeu uma baforada de maconha no rosto e dai não lembrava mais de nada, salvo quando recobrou os sentidos e estava em um local deserto, sozinha. Desesperada tomava o rumo de casa. Outras, também "barrunfadas", chegavam em casa descabeladas e só lembravam do instante em que alguém jogou  fumaça de maconha no rosto dela. 

Também haviam garotas, geralmente vindas do interior, que indagadas sobre o tamanho da barriga diziam que sofriam de barriga d´água e que a razão de estar na capital era para tratar do problema, que, na verdade, era gravidez e o tratamento era o aborto. 

Nas cidades pequenas era era comum as famílias retirarem da cidade as garotas que engravidavam, evitando-se o escândalo.  

Outra conversa fiada era a de que se sentou em assento quente e contraiu doença venérea.  

Era comum, também, garotas contarem que alguém, durante o carnaval, lhe ofereceu um copinho de cerveja e que a mesma aceitou e depois desfaleceu e dai em diante não sabia dizer o que aconteceu. Esses casos podiam ser  reais, ou não. 

Como se ouvia falar muito sobre isso, tornou-se lugar comum os pais recomendavam às filhas que não aceitassem qualquer oferta de bebida, de estranhos, podia ser guaraná, ou até mesmo água, pois podiam conter "bolinha" dissolvida. Seria, no caso, uma espécie de "boa noite Cinderela". O conselho, abstraindo mentiras,  tanto serve para homens e mulheres, nos tempos atuais. 

Estas versões eram mais aceitáveis, porque haviam entorpecentes e soníferos pesados. Mas, no caso da maconha, a barrunfada era uma mentira vergonhosa, mas que o senso comum aceitava.

Lembro que, quando acontecia algum crime, geralmente, os de repercussão social, colocavam a culpa na maconha. Em muitos desses casos havia mesmo o uso da maconha, mas quem a utilizava já tinha o precedente de ser portador de qualquer distúrbio mental. 

Rememoro uma entrevista que Gilberto Gil deu ao Pasquim e, respondendo a uma pergunta, disse algo interessante: "tem gente que pode usar e tem gente que não pode". 

Também era preconceito comum dizer que todo surfista era usuário de droga, tanto quanto um roqueiro. Raul Seixas, foi muito discriminado. Os pais mandavam que suas filhas ficassem longe dele, porque ele era "perigoso". Perigoso porque tinha argumento e boa aparência, vestia-se bem, Nos tempos iniciais de Raulzito e seus Panteras,  Raul era careta. Tocava em festinhas, de quinze anos, de gente da classe média. 

Todo jovem que se vestisse como um James Dean, era discriminado só pela aparência. Podia usar, ou não, pouco importava, seria vítima de preconceito. 

Assim, muitos rapazes possuíam seus amores proibidos e neste rol posso me incluir.

Bem, no mundo das drogas e fora dela, a mentira é uma verdade concreta. O ser agressivo, pode ter tal condição agravada, ou até atenuada, pelo uso da maconha, mas não é a maconha, em si , quem pratica determinada ação. As patologias são casos para a psiquiatria forense. O que posso elencar, como coisas que a maconha, no meu conceito, pode me parecer prejudicial é a perda da capacidade de concentração e isso para quem estuda é muito ruim. A memória fica afetada, mas não tanto quanto se imagina. Depois, o cara funciona como uma radiola que toca um disco de alta rotação em uma RPM inferior. Isto é, o cara fica mais lento, principalmente quando fica chapado. 

Mas, é sempre bom lembrar o que Marx preconizou: Não é a consciência quem determina o ser social, mas o ser social é quem determina a consciência do ser. Isso significa que nossas consciências são fruto de experiências e vivências neste, ou naquele meio social. 

Não significa dizer que somos produto do meio, mas que podemos, através do conhecimento, da educação, do que fazemos da aprendizagem vivenciada e experimentada, em qualquer meio social, modificarmo-nos, não nos permitindo ser moldado pelo meio social em que nos achamos inseridos. Assim, muita gente tem uma maneira de ser própria, que busca seus objetivos na vida, que deseja se realizar, que prega a paz e possui traços benignos de personalidade, não se entregando a cultura da violência.

 Assim, não é real o pensamento comum de que nas favelas só tem gente ruim. Isso é um sofisma que não vamos debater. O que queremos dizer, resumindo a ópera, é que até na lama nasce flor. E são muitas as flores que habitam as favelas, muitas das quais, castigadas pela pobreza. Nunca devemos generalizar o que tem caráter particular. No "mundão", tem muita gente com boa consciência e o fundamental é combater as mentiras que geram preconceitos.


terça-feira, 29 de abril de 2014

O que é a terapia cognitiva?

Como nossos pensamentos afetam nossas emoções e ações?

ESCRITO POR André Rabelo


Como nossos pensamentos afetam nossas emoções e ações?

A terapia cognitiva, também conhecida como terapia cognitiva comportamental* (Cognitive-Behavior Therapy, CBT) é um tipo específico de psicoterapia que enfatiza a importância dos processos cognitivos na compreensão e no tratamento de diversos transtornos mentais. A terapia cognitiva é estruturada para ter uma duração curta e se baseia na teoria cognitiva, uma teoria composta por 10 axiomas formais que embasam teoricamente diversos modelos e aplicações na prática clínica [2]. Alguns autores defendem que esta abordagem oferece um arcabouço conceitual sobre o qual diversas abordagens psicoterapêuticas poderiam ser integradas [2].

A teoria cognitiva pode ser entendida como uma “teoria das teorias” que as pessoas possuem sobre a sua realidade [2], ou seja, uma teoria sobre as influências que as construções particulares de significado da realidade têm no comportamento mal-adaptativo de pessoas que apresentam algum transtorno.

Desenvolvida por Aaron Beck no final dos anos 1950, esta especialidade se tornou de lá para cá uma das psicoterapias mais investigadas empiricamente e com mais evidências científicas de eficácia [1].  Muitas evidências indicam a sua eficácia para diversos quadros como transtorno depressivo maior, transtorno de ansiedade generalizada, transtorno de pânico, fobias, abuso de substâncias, transtornos alimentares, problemas de casais, transtorno obsessivo-compulsivo, dor crônica, transtorno de personalidade, transtornos do sono e outros quadros.

Mais recentemente, têm sido publicadas evidências de que a terapia cognitiva pode ser um eficiente complemento no tratamento de sintomas da esquizofrenia [1]. Um artigo recentemente publicado na Archives of General Psychiatry, por exemplo, traz o relato de um estudo randomizado onde uma intervenção de 18 meses indicou evidências de maior eficácia no tratamento quando houve uma intervenção de terapia cognitiva como um complemento no tratamento padronizado de esquizofrenia, em comparação com um grupo de pacientes que só passaram pelo tratamento padronizado [3]. Trata-se, portanto, de um sistema de psicoterapia embasado por evidências advindas de diversos estudos controlados, em diversas culturas e para diversos transtornos.

A teoria que embasa a terapia cognitiva propõe simplificadamente que a maneira como representamos a realidade ativa motivações, emoções e processos cognitivos associados que, por sua vez, influenciam as nossas ações, ou seja, dependendo da maneira como interpretamos aspectos da nossa realidade, teremos, por exemplo, reações emocionais diferenciadas que nos induzirão a tomar diferentes cursos de ação [2]. Ao longo de nossas histórias de vida, formamos diferentes estruturas de significado (esquemas) que por sua vez influenciarão a maneira como interpretaremos a realidade e formaremos novos esquemas. A terapia cognitiva afirma que os esquemas disfuncionais resultantes desta história de vida são comuns a todos os transtornos mentais e que a modificação destes esquemas costuma resultar em mudanças no humor e no comportamento das pessoas [1].


SERÁ DE FATO O TABAGISMO UM VÍCIO? enfoque espírita

Tabagismo: Vício ou hábito?

Os primeiros estudos médicos, transformados em relatório em 1964 não consideravam o tabagismo como vício e sim como hábito. Não se constataram na ocasião sintomas de Síndrome de Abstinência nem mesmo evidências conclusivas que demonstrassem o desenvolvimento de tolerância ou de um comportamento anti-social. Trabalhos recentes e profundos de entidades famosas e de renome mundial de todas as acionalidades demonstram o contrário. Dentre eles encontram-se a Columbia University, a Harvard Medical School, a   niversidade de Michigan, The London University e cerca de 500 mil entidades médicas de porte. Baseados em tamanha evidência, no ano de 1977 o Royal College of Phisicians (algo comparável ao nosso Conselho Federal de Medicina) na Inglaterra, incluiu a Nicotina como droga tóxica. Em 1979 a Secretaria de Saúde, Educação e Bem-Estar dos EUA publicou seu relatório, "O Fumo e a Saúde, o Relatório Final", em que consideram a nicotina como tóxico. No ano de 1980, a "Organização Mundial de Saúde" dedica o Dia Mundial da Saúde, o dia 7 de abril com o lema: "A Escolha é Sua: Fumo ou Saúde", no qual afirma que o tabagismo constitui um vício epidêmico no mundo moderno, sem dúvida a maior causa de doença, e o que é mais trágico, evitável e desnecessário. 

ENTÃO O TABAGISMO LEVA À “SÍNDROME DE ABSTINÊNCIA”? 

O relatório inglês do Royal College, em 1977 declarou existir a evidência de uma “Síndrome de Abstinência” da nicotina, composta por: desejo intenso de fumar, tensão, irritabilidade, nervosismo, depressão e dificuldade de concentração, o que concordamos por experiência própria..

E A TOLERÂNCIA? 

Ao iniciar-se no tabagismo geralmente se começa com um a dois cigarros por dia aumentando-se progressivamente a dose até atingir-se a dose habitual. Ao atingir-se esta dose dificilmente aumenta-se o consumo. 

E HÁBITOS ANTI-SOCIAIS? 

Enquanto os cigarros forem baratos e facilmente obtidos, de fato seu consumo não levará a tais hábitos, contudo se seu preço fosse aumentado ao nível da heroína e seu uso fosse proibido, os viciados em nicotina teriam os hábitos similares aos viciados em heroína. 
Por exemplo: durante a II Guerra Mundial, na Alemanha, quando o racionamento chegou a 2 maços por mês para os homens, e a um maço por mês para as mulheres, o cigarro passou a ser bem mais precioso, substituindo até o dinheiro. Muitas mães de família trocavam açúcar e banha por cigarro e nos campos de concentração, onde as rações diárias não passavam de 1.000 calorias/dia, chegou-se ao extremo de trocar comida por cigarro. 

QUAL A SUBSTÂNCIA DA FUMAÇA DO CIGARRO QUE VICIA? OU QUE CAUSA DEPENDÊNCIA? 

A fumaça do cigarro é composta de inúmeras substâncias, tais como: monóxido de carbono, alcatrão, várias substâncias cancerígenas, contudo é a Nicotina, segundo estudos realizados, a droga existente no cigarro que vicia. Neste estudo conseguiu-se substituir o cigarro de fumantes inveterados pela dose equivalente diária de Nicotina. 
 Estudos da equipe da New York Medical College provaram, por meio de um nebulizador especial que a Síndrome de Abstinência do cigarro é provocada pela Nicotina. 

Tóxicos: O que são - O que causam - Como evitá-los – Alexandre G. da Fonseca 

3.2. Definição de vício

É todo hábito prejudicial, que nos desvia de nossas corretas funções, seja em que setor de atividade 
for, causando desgaste de energias e perda de tempo, sem produzir o bem e o progresso. Devemos 
comandar nossas necessidades e sentimentos. A partir do momento em que eles passam a dirigir o 
indivíduo, ele está sob o vício, escravizado. 

Curso de Iniciação ao Espiritismo – Apostila – CEAK-SP – 4º fascículo – pág. 124

 - Chico, apenas umas palavras sobre o vício. 
 - Eu não entendo o vício como um problema de criminalidade, mas como um problema de desequilíbrio nosso, diante das leis da vida, isso não apenas no terreno em que o vício é mais claramente examinado. Por exemplo: se eu falo demasiadamente, eu estou viciado no verbalismo excessivo e infrutífero; se bebo café em demasia eu estou destruindo também as possibilidades de meu corpo me servir um tanto mais. 

É verdadeira a afirmação que o cigarro acalma? 


 Na verdade não é o cigarro que acalma e sim a falta do cigarro que deixa a pessoa irritada, irritação esta que desaparece com um único cigarro. Laboratorialmente provou-se que as condições de "stress" levam a um aumento da excreção de nicotina pela urina, com a conseqüente diminuição da nicotina plasmática, necessitando o dependente de uma manutenção destes níveis, abaixo dos quais se torna inquieto e irritadiço. Investigações posteriores provaram que não é só o stress, mas toda a condição que leva a um aumento da acidez urinária, como por exemplo a ingestão de bebidas alcoólicas acarreta um aumento da excreção de nicotina, o que explica o fato de que quando se bebe fuma-se mais. 

3.3. Efeitos do cigarro no corpo físico 




segunda-feira, 28 de abril de 2014

Reflexão Diária - Alcoólicos Anônimos


Segunda-feira, 28 de abril de 2014

DOIS MAGNÍFICOS PADRÕES


Todo o progresso de A.A. pode ser expressado em apenas duas palavras: humildade e responsabilidade. Todo o nosso desenvolvimento espiritual pode ser medido, com precisão, conforme nosso grau de adesão a estes magníficos padrões.

NA OPINIÃO DO BILL

Conhecer e respeitar as opiniões, talentos e prerrogativas dos outros, e aceitar estar errado, mostra-me o caminho da humildade.

Praticar os princípios de A.A. em todos o meus assuntos me leva a ser responsável. Respeitar estes preceitos dá crédito à Quarta Tradição - e a todas as outras Tradições da Irmandade.
Alcoólicos Anônimos tem desenvolvido uma filosofia de vida cheia de motivações válidas, rica dos mais altos e relevantes princípios e valores éticos, uma maneira de vida que pode ser estendida além dos limites da população alcoólica. Para honrar estes preceitos, preciso somente rezar e cuidar de cada companheiro como se cada um fosse meu irmão.

Meditação Diária - Narcóticos Anônimos


Segunda-feira, 28 de Abril de 2014

Quem realmente melhora


Podemos também usar os passos para melhorar as nossas atitudes. Nosso melhor raciocínio meteu-nos em encrencas. Reconhecemos a necessidade de mudar.

No início da recuperação, a maioria de nós tinha pelo menos uma pessoa que não podia suportar. Pensávamos que aquela pessoa era a mais grosseira, a mais detestável de todo o programa. Sabíamos que existia alguma coisa que podíamos fazer, algum princípio de recuperação que podíamos praticar para superar a maneira como nos sentíamos em relação a ela – mas qual? Pedíamos orientação a nosso padrinho ou madrinha. Provavelmente nos asseguravam com um sorriso divertido que, se continuássemos voltando, veríamos a pessoa melhorar. Isto nos pareceu sensato. Pensávamos que os passos de NA funcionavam na vida de todo mundo. Funcionando para nós, poderiam funcionar também para esta pessoa horrível.

O tempo passou, e em algum momento, percebemos que aquela pessoa não parecia mais tão grosseira e detestável como antes, De fato, ele ou ela tinha se tornado uma pessoa tolerável, talvez até agradável. Tivemos uma boa surpresa ao perceber quem, na verdade, tinha melhorado. Por continuar voltando e trabalhar os passos, nossa percepção dessa pessoa tinha mudado. Aquela “praga” tornou-se tolerável. Porque desenvolvemos alguma tolerância; ele ou ela tornou-se agradável porque desenvolvemos a capacidade de amar.

Então, quem realmente melhora? Nós! À medida que praticamos o programa, adquirimos uma visão totalmente nova daqueles que nos cercam por obter uma nova visão de nós mesmos.

Só por hoje à medida que eu melhoro, outros melhoram. Hoje, eu praticarei a tolerância e tentarei amar aqueles que eu encontrar.

domingo, 27 de abril de 2014

Uso de drogas e performance sexual dos usuários



Este blog resolveu tratar de uma questão cuja abordagem é muito evitada por usuários de drogas. Evitamos emitir nossa opinião, mas escolhemos três artigos de sites diferentes e resolvemos publica-los logo a seguir:

PRIMEIRO ARTIGO:

PESQUISA REVELA QUE USO DE DROGAS PODE CAUSAR DISFUNÇÃO ERÉTIL

Um estudo realizado com 215 pessoas em tratamento de dependência química por álcool e outras drogas aponta que 47% dos homens apresentam alguma disfunção sexual. Número bem maior do que o encontrado pelo Estudo da Vida Sexual do Brasileiro (EVSB), realizado em 2004, com 7.103 brasileiros, quando era de 18,2%.

O tabagismo, o alcoolismo e a dependência de drogas como maconha, cocaína e crack, são importantes fatores de risco para o desenvolvimento de disfunções sexuais, principalmente disfunção erétil nos homens. Entre os principais problemas relatados pelos entrevistados, a ejaculação precoce lidera, atingindo 39% deles, seguido pelo desejo sexual diminuído (19%), dificuldade de ereção (12%), retardo na ejaculação (8%) e dor durante a relação (4%). 

"O álcool e a nicotina, por exemplo, promovem alterações na arquitetura vascular de forma generalizada, atingindo órgãos vitais para o bom desempenho sexual. Já a cocaína, apesar de aumentar a libido, acaba, com seu uso crônico, fazendo o efeito contrário", explica Alessandra Diehl, coordenadora da Enfermaria de Dependência Química da Unidade de Pesquisa em Álcool e Drogas (UNIAD) da UNIFESP e autora da pesquisa.

Outras drogas, como o ecstasy, o crystal e o ácido gama-hidroxibutírico (GHB), também conhecido como "Boa Noite Cinderela", aumentam a libido e, por esse motivo, são muito procuradas. No entanto, Alessandra alerta que o uso crônico acaba por prejudicar o desejo sexual e a busca por essas drogas passa a ser mais para aliviar sintomas de abstinência do que pelo prazer propriamente dito.

Outro dado que chamou a atenção dos pesquisadores foi o comportamento sexual de risco entre os entrevistados. Além de 41% deles não usarem preservativos durante a relação sexual e 27% usarem esporadicamente, a média de parcerias sexuais relatada foi de cinco ao ano. Quase duas vezes maior que a média recomendada pela Organização Mundial da Saúde (OMS), que é de três ao ano, para o comportamento "não promíscuo". Na população geral brasileira a média encontrada no EVSB foi de 1,47 parcerias entre as mulheres e, 2,96, entre os homens.

Confira o perfil do comportamento sexual dos dependentes químicos de acordo com a pesquisa.

47% relataram alguma dificuldade sexual
5 parcerias sexuais é a média no último ano
3 relações sexuais é a média por semana
87% tiveram atividade sexual nos últimos 12 meses
90% são heterossexuais
36% tiveram experiências homossexuais
15% tiveram experiências homossexuais relacionada à aquisição ou troca por droga
41% não usam preservativos e, 23%, usam esporadicamente
49% avaliam como bom o seu desempenho sexual
31% já tiveram alguma DST (doença sexualmente transmissível)

Crédito e fonte: SUA DIETA http://suadieta.com.br/Materias/1095/saude/MAT_598


Legalize Já !



Para colaborar com o debate, segue abaixo um bom artigo publicado na revista Fórum sobre a legalização da Maconha pelo professor de Direito Penal da UFMG e blogueiro Túlio Vianna. Leitura recomendada:


Por Túlio Vianna

A maconha é o maior tabu criado no século XX. Após a era vitoriana (1837-1901), com forte predomínio dos tabus sexuais, a repressão social do prazer deslocou-se dos genitais para a mente. Drogas cujo uso havia sido permitido, ou ao menos tolerado durante a maior parte da história da humanidade, passaram a ser combatidas com veemência durante o século XX.

A primeira grande iniciativa de combate às drogas se deu com a Lei Seca estadunidense que, entre 1920 e 1933, proibiu a comercialização de bebidas alcoólicas. Nesta época, ainda se podia fumar maconha legalmente nos EUA, mas a cerveja e outras bebidas estavam proibidas. A medida não impediu que as pessoas continuassem bebendo, mas alterou seus hábitos de consumo. Os destilados eram mais fáceis de serem produzidos clandestinamente e eram consumidos na forma de coquetéis, pois dissimulavam a baixa qualidade das bebidas que, muitas vezes, continham alvejantes, solventes e formol na sua fórmula. Com isso, longe de resguardar a saúde dos estadunidenses, a Lei Seca acabou por agravar o problema, já que não havia qualquer controle estatal da qualidade das bebidas. A pior consequência da lei, porém, foi o advento dos gângsters que, tal como os traficantes de drogas de hoje em dia, matavam e praticavam inúmeros outros crimes graves para levar as bebidas alcoólicas à mesa dos consumidores da época.

A criminalização do álcool revelou-se um desastre. Não foi capaz de acabar com o alcoolismo, impediu o uso casual e responsável da bebida e, ainda por cima, fortaleceu como nunca a atuação dos criminosos. Quando, em 1933, a 21ª Emenda Constitucional dos EUA revogou a Lei Seca, os estadunidenses pareciam ter aprendido a lição de que criminalizar uma droga é a pior maneira de se tratar um problema de saúde pública. Não tardaria, porém, para que a maconha substituísse o álcool como o tabu número um daquele país.


Manual Merck

Dependência e toxicomania


A dependência é a actividade compulsiva e a implicação excessiva numa actividade específica. A actividade pode ser o jogo ou pode referir-se ao uso de praticamente qualquer substância, como uma droga. As drogas podem causar dependência psicológica ou então dependência psicológica e física.
dependência psicológica baseia-se no desejo de continuar a tomar uma droga por prazer ou para reduzir a tensão e evitar um mal-estar. As drogas que produzem dependência psicológica actuam no cérebro e têm um ou mais dos seguintes efeitos:
  • Reduzir a ansiedade e a tensão.
  • Causar alegria, euforia ou outras alterações aprazíveis do humor.
  • Provocar a sensação de aumento da capacidade mental e física.
  • Alterar a percepção.
A dependência psicológica pode ser muito poderosa e difícil de superar. É particularmente frequente com as drogas que alteram o humor (e as sensações) e que afectam o sistema nervoso central.
Para os dependentes, a actividade relacionada com as drogas chega a ser uma parte tão grande da sua vida diária que a dependência interfere, geralmente, com a capacidade de trabalhar, de estudar ou de se relacionar normalmente com a família e os amigos. Na dependência grave, os pensamentos e as actividades do dependente são dirigidos predominantemente para a obtenção e consumo da droga. Um dependente pode manipular, mentir e roubar para satisfazer a sua dependência. Os dependentes têm dificuldade em abandonar a droga e muitas vezes retomam-na depois de períodos de abstinência.
Algumas drogas causam dependência física, mas esta não se acompanha sempre de dependência psicológica. Com as drogas que causam dependência física, o corpo adapta-se quando se utilizam de modo contínuo, conduzindo à tolerância e à síndroma de abstinência quando se deixa de consumir. A tolerância é a necessidade de aumentar progressivamente a dose de uma droga para reproduzir o efeito originariamente alcançado por doses menores. A síndroma de abstinência ocorre quando se deixa de tomar a droga ou quando os efeitos desta são bloqueados por um antagonista. Uma pessoa com a síndroma de abstinência sente-se doente e pode ter muitos sintomas, como dor de cabeça, diarreia ou tremores. A abstinência pode provocar uma doença grave e inclusive pôr a vida em risco.

quinta-feira, 24 de abril de 2014

Eric Clapton, superando barreiras

 
Em 20 de junho de 1985, Eric Clapton concedeu entrevista a Robert Palmer, publicada na Revista Rolling Stones. Dentre outros assuntos, também fio abordado o uso de drogas.  Clapton fala que entrou no uso de ácido lisérgico até o fim da banda Cream:
 
"Sim, tomamos muito ácido, várias viagens, em nosso tempo livre. E tocamos cheios de ácido também, algumas vezes."
 
Palmer recordou que "a primeira vez que te encontrei foi durante aquelas sessões no Critéria Recording Studios. Havia muita droga espalhada, especialmente heroína, e, quando eu apareci, todo mundo estava jogado no carpete, chapado. " Clapton confirma: "Nós estávamos nesse hotel na praia, e qualquer droga que você quisesse, poderia conseguir na barraquinha mais próxima; a garota obedecia as suas ordens. Ficávamos prá lá e prá cá, a garota e o garoto, e a bebida era geralmente Ripple ou Gallo. Coisa muito pesada. Me lembro de Ahmet (Ertegun, presidente da Atlantic Records) chegando em casa em algum momento, me chamando de lado e chorando, dizendo que tinha estado nessa merda com Ray (Charles), e que sabia onde isso ia parar, e se eu poderia parar agora. Eu disse: "Eu não sei do que você está falando, cara. Isso não é problema." E, é claro, ele estava mais do que certo."
 
Clapton prossegue: "Quando comecei a usar (heroína), George (Harrison) e Leon (Russel) me perguntaram: "o que você está fazendo? Qual é a sua intenção?". E eu disse: "Eu quero fazer uma viagem na escuridão, sozinho, para descobrir como é estar lá. E depois sair pelo outro lado". Adiante, Eric Clapton recorda que também tinha problemas com bebidas alcoólicas, foi hospitalizado em 1981 e que teve que ir "ao limite da sanidade para poder parar. Foi só  quando percebi que eu estava sendo responsável por mortes ao meu redor, ao mesmo tempo em que me matava, e indo à loucura, que eu decidi parar." 
 
Robert Palmer fez a pergunta final: "Qual a graça, a atração, de um comportamento vicioso, seja usando droga ou bebida? " *
Eric Clapton respondeu: " É obsessivo. Parte de minha personalidade é feita de uma obsessão para me levar a um limite. Pode ser de grande utilidade se minha obsessão é conduzida para algo criativo, ou um pensamento mais positivo em relação às coisas, mas pode ser também física e mentalmente destrutivo. Acho que o que acontece a um artista é, quando ele sente as mudanças de humor de que todos sofremos quando somos criativos, em vez de encarar a realidade de que isso é uma oportunidade para a criação , ele vai se virar para algo que vai destruir aquela sensação, parar com essa coisa irritante. E isso vai ser heroína ou bebida ou qualquer outra coisa. Ele não vai querer encarar esse impulso criativo, porque sabe da auto exploração que precisa ser feita, a dor que precisa ser encarada. Isso acontece quase sempre, ou muito dolorosamente, a artistas. A menos que eles percebam o que é que está causando aquilo a eles, eles sempre vão tentar se apoiar em alguma coisa ou outra para mata-los."
 
                                             ************************************

 
 
O texto abaixo foi retirado do site Interpretação de Músicas, que cuida da composição de Eric Clapton,  Tears In Heaven, após o óbito do filho dele em 1991.
 
Em 1991, o filho de Eric Clapton, de apenas 4 anos, caiu do 53º andar, uma vez que a empregada tinha deixado a janela aberta. (Sabendo da notícia, a moça teve colapso nervoso e teve até que ser hospitalizada.) Inspirado na morte do filho, Eric compôs Tears In Heaven, segundo ele, a música o ajudara a aceitar a perda. Em 2004, decidiu parar de tocá-la em público, pois achava que era pessoal demais. A mãe do filho se recusou a ouvir a canção. Não tinha intuito de ser publicada, porém acabou se tornando hit internacional. Uma das músicas mais comoventes de Eric, e mais pessoal.

Você saberia meu nome
Se eu te visse no Paraíso?
Você seria o mesmo
Se eu te visse no Paraíso?

Eric expressa o sentimento de que gostaria de reencontrar o filho no paraíso, não apenas uma alma, apenas uma luz, mas o mesmo filho que o acabara de deixar. Aquele que o reconhecesse, soubesse o nome, o chamasse de pai.

Na parte: "você seria o mesmo" eu juro que escuto "could it be the same"... não sei se é válido postar aqui, pode ser loucura minha.. haha mas talvez as traduções estejam erradas... se for equívoco meu, perdão.

Preciso ser forte
E continuar
Porque sei que não pertenço
Aqui no Paraíso.

Mas ele aceita a perda... admite que é preciso ser forte e continuar firme, pois, querendo ou não, ele não está com o filho no paraíso. Está aqui, por enquanto, não pertence ao paraíso, somente à Terra.
 
Você seguraria minha mão
Se eu te visse no Paraíso?
Você me ajudaria a levantar
Se eu te visse no Paraíso?

Mais uma vez, "você seguraria minha mão?" aquele sentimento: você me reconheceria? Seria a mesma coisa, seríamos os mesmos, você jura, filho, que lembraria do meu nome e seguraria minha mão como tinha costume?
"Me ajudaria a levantar": pois, se encontrasse o filho novamente, conseguiria sair da depressão, da profunda tristeza.

Encontrarei meu caminho
Pela noite e dia
Porque sei que não posso ficar
Aqui no Paraíso

Depois da "recaída", imaginando se encontraria o filho novamente e se este o reconheceria, mais uma vez aceita: "tenho que continuar, tenho que superar..." Entende que, dia e noite, ele tem que encontrar um caminho para continuar levando a vida, porque ele não está no paraíso...

O tempo pode te botar para baixo
O tempo pode fazê-lo curvar-se
O tempo pode partir seu coração
Fazê-lo implorar por favor
Implorar por favor


Além do escuro
Há paz
Estou certo
E eu sei que não haverão mais
Lágrimas no Paraíso

Ao passar do tempo você pode se ferrar. Pode acontecer desgraças com você. O destino nos arma cada uma. O tempo vai fazer você sofrer, quebrar seu coração... MAS, por trás de toda a dor, ele tem certeza de que há paz: e que no paraíso não existem lágrimas = não existe dor.
No paraíso, quando ele encontrar o filho, vai parar de sofrer.  

Você saberia meu nome
Se eu te visse no Paraíso?
Você seria o mesmo
Se eu te visse no Paraíso?


Dizem que só um pai ou uma mãe pode descrever o sentimento que essa música desperta. Todos nós nos comovemos, mas acredito que não chegamos ao nível mais puro da música, tampouco conseguimos extrair a emoção 100% completa que nela está embutida.
 
 
Nota do Blog Só Por Hoje:
* Aqui abrimos um parêntese para constatarmos uma realidade que é a da distinção que o senso comum provoca ao usar a palavra droga separada da palavra bebida, como se a bebida alcoólica não fosse uma das piores drogas, dentre outras. Comentário do SPH












Meditação Diária, Narcóticos Anônimos


Quinta-feira, 24 de abril de 2014.

                             Os Doze Passos da vida


" Através da abstinência e da prática dos Doze Passos de Narcóticos Anônimos, nossas vidas tornaram-se úteis. "
                                                                        Texto Básico, Pág. 8
    Antes de chegar a Narcóticos Anônimos, nossas vidas giravam em torno do uso. Para a maioria de nós, sobrava muito pouca energia para o trabalho, relacionamentos ou outras atividades. Éramos escravos de nossa adicção.

Os Doze Passos de Narcóticos Anônimos nos proporcionam uma maneira simples de dar uma virada em nossas vidas. Começamos por ficar limpo, um dia de cada vez. Quando nossas energias não estão mais canalizadas para nossa adicção, descobrimos que possuímos energia para perseguir outros objetivos. À medida que crescemos em recuperação, nos tornamos capazes de manter relacionamentos saudáveis. Passamos a ser empregados confiáveis. O lazer e a diversão ficam mais convidativos. Através de nossa participação em Narcóticos Anônimos, ajudamos os outros.

Narcóticos Anônimos não é a garantia de que iremos conseguir bons trabalhos, relacionamentos amorosos ou uma vida plena. Mas, quando trabalharmos os Doze Passos com nosso melhor desempenho, descobrimos que podemos nos tornar o tipo de pessoa que é capaz de encontrar emprego, manter relacionamentos amorosos e ajudar os outros. Paramos de servir à nossa doença e começamos a servir a Deus e aos outros. Os Doze Passos são a chave para a transformação de nossas vidas.


Só por Hoje: Eu vou ter a sabedoria de usar os Doze Passos em minha vida e a coragem para crescer em minha recuperação. Eu vou praticar meu programa par me tornar um membro produtivo e responsável da sociedade.

Crédito da fonte: CSA-SP (Comitê de Serviço de Área - São Paulo)

http://csa-saopaulo.org/

Tempo de Travessia


Hoje algumas coisas me fizeram perder o prumo do viver o aqui e o agora. Fiquei desfocado e estou insone. 

Recordo, agora, dos meus tempos de "residente" (vou chamar aqueles lugares com esse eufemismo meu, porque só eu seu o que vivi) em que me distanciava de muitos companheiros para pensar na minha família; era um momento exclusivamente meu. Sozinho eu podia proceder reflexões e eu orava por todos, pela família e, ao mesmo tempo, me perguntava tantas coisas.

Estava preso e o pouco tempo em que saia do confinamento aproveitava para fumar, pensar em fugir, pedir a Deus força para suportar o tempo que deveria ficar enclausurado e, em minha reflexões, podia observar os meus erros e os erros de quem me punha em tais lugares. Nestes locais o que escutava era o pessoal dizer que ao sair daquele lugar, a primeira coisa era sair e usar, como que busca se vingar. É uma imaturidade, mas é assim que funciona quando a família adoecida toma decisões equivocadas.

Sempre evitei conflitos. E os conflitos entre internos são um problema que agrava o estado psíquico dos envolvidos e de todos.

Confortava companheiros, mas não os iludia. O que todo mundo que chega quer saber é quanto tempo vai ficar em tal lugar. E o minimo são seis meses de mentira e enrolação!

Em outros momentos difíceis, para ficar livre dos pensamentos ruins, que só maltratam a cabeça, brincava com os novatos e outros internos alimentavam a brincadeira.

Quando entra um novato chega ele aparenta desamparo, desconsolo e mostra-se confuso. Fica perdidão e nós começávamos a indagar coisas do tipo: - Qual foi o crime que você cometeu lá fora? Pode se abrir e confessar, porque aqui ninguém é santo, nem otário. Geralmente o cara dizia que nada fez, ou contava abobrinha. 

Quando o cara era alcoólico nós, residentes, falávamos que o cara estava ali porque ofendeu a honra do juiz, tirou a roupa, em público, e estava cumprindo sentença obrigatória. O sujeito negava e dizíamos que vimos tudo pois estava escrito na ficha dele e, caso ele não estivesse lembrado, era por conta do elevado grau de embriagues do mesmo. O cara ficava na dúvida: será? Tinham aqueles que iam além da conta e abordavam as relações sentimentais dos novatos. Havia um descendente de árabe que era quase um comediante. Depois de fazer tantas perguntas a um novato, casado, sobre como a esposa se comportava com ele, concluía sua avaliação dizendo em voz alta, à turma de quarto: - temos um novo corno no pedaço!

Risos à parte os novatos são seres humanos indefesos, deslocados, desambientados e chegam baqueados pelo trauma do resgate e, por isso, não reagiam. Sofriam calado. Depois mostrávamos ao sujeito que tudo aquilo era uma forma de distrair e descontrair.  

Nas reuniões do "Só por Hoje",  as partilhas eram agressivas, outras desonestas, haviam as mais centradas e outras tantas endereçadas ao lugar, ou ao fato de vivermos confinados, como detentos.

Quem passasse dos limites tinha que ser levado para a contenção, antes apanhava, depois aplicavam no mesmo uma mistura louca de medicamentos, não prescrito por médico, para o residente que extrapolou tomar, apagar por completo.

A contenção era um cubículo, com um respiradouro pequeno, com cheiro de mijo e de mofo. Passei três dias numa delas, com forte esquema de isolamento. No amanhecer do primeiro dia escutei muita gente cantando canções evangélicas... Era a galera querendo me ver, exigindo que abrissem a porta da contenção, para me abraçarem, enquanto cantavam belas canções de cunho religioso. Conseguiram. A manifestação foi muito bonita, algo inesquecível para mim. Os caras se arriscavam para me jogar cigarro através de frestas, correndo risco de ser apanhado e ser jogado no mesmo buraco medieval.

Uma ocasião verifiquei um operário serrando vergalhões de ferro e os cortes durava cerca de 30 segundos, quando a serra era nova. Um dia aproveitei o descuido de um desses operários e peguei a serra. Guardei debaixo da cama. Tracei meu plano. Era tão bonito e seria uma fuga de mestre. Sairia pelo portão principal. Um colega de quarto, contudo, assumiu a tarefa de serrar os locais que indiquei, mas o mesmo mudou os locais e o que seria perfeito, culminou em um desastre. Mas, depois do ocorrido, parei para refletir e vi o dedo de Deus naquilo tudo. Não tinha dinheiro, lenço nem documento, então como iria empreender tal fuga,  com sucesso? Seria uma fuga, mas logo seria capturado e, tanto eu, quanto o companheiro de fuga não éramos marginais. Queríamos a nossa liberdade de volta.

Em outro lugar, que estive, consegui fugir duas vezes; foram fugas cinematográficas e arriscadas demais. A mais perigosa de todas foi a segunda e nela poderia, por um vacilo qualquer, encontrar a morte. Escalei a casa com uma "teresa", que um companheiro sustentava  no braço. Quando estava a um metro do chão, ele soltou a teresa e eu cai de costas no gramado da casa vizinha. A pancada não foi maior que a vontade de ganhar a liberdade.

Soube que o dono mandou me caçar e empreenderam, por três dias, uma imensa busca, 24 horas por dia. Quando soube, no local em que me encontrava, que as buscas já se iniciavam naquele lugar, fui ver meus pais. Vi e depois refleti: - agora que ninguém me pegou, posso voltar de forma voluntária e com a decisão de cessar o uso, de ficar limpo, Levei um bom tempo limpo, sem usar. Lá dentro me ofereciam drogas e eu recusava usar. Depois de ter saído daquele local, muitos meses depois sofri uma recaída. Algo absurdo me aconteceu, acabei sendo assaltado, depois, em um dado município furtaram minha bagagem  e, desolado, cai com força no uso. Sei lá, parecia viver um stress pós traumático. Veio o arrependimento e o regresso da sanidade. Recomecei tudo outra vez e, vencido um mês, nova recaída.

Agora, novamente limpo, vivo em outro plano de vida e pretendo me desligar de muita gente. Tudo converge para que eu conclua, que a minha escolha em busca da minha recuperação está em viver apenas com quem me compreende, com quem me estende a mão de amigo e me ajuda.

Não estou certo, mas, parafraseando frase duma composição de Roberto Carlos, parece que a "felicidade começa num adeus". Posso estar com o pensamento desfocado, sei que estou assoberbado de problemas, mas tenho fé em solucionar tudo. Sei que nos primeiro tempos tudo vai ser duro demais, mas tenho que enfrentar esta nova realidade. Posso até pensar melhor depois de concluir este post de partilha. 

Hoje, aqui e agora, penso dessa maneira. Isto pode ser decorrência das coisas que me sucedem e intranquilizam. Também não quero ser um embaraço pra quem quer que seja. Quero ser livre e voar mundo afora, com responsabilidade e ciente de que não posso e não devo mais usar droga alguma. Meu sentimento não é dos melhores, por isso busco partilhar. Só por hoje!       

quarta-feira, 23 de abril de 2014

Robin Williams

Em 25 de fevereiro de 1988, Robin Williams, há 5 anos limpo, concedeu entrevista  a Bill Zehme, para a Revista Rolling Stones, deixando registrado seu breve relato quanto ao uso que fazia da cocaína:

"Eu percebi que a razão pela qual usei cocaína era que por causa daquilo eu não precisaria falar com ninguém. A coca me fez tão paranoico: se eu estivesse dando esta entrevista sob o efeito da cocaína, eu estaria olhando para fora da janela, achando que alguém poderia estar escalando quatorze andares para me jogar lá embaixo ou chutar a porta. Então eu não precisaria conversar. Algumas pessoas podem ter o metabolismo onde a cocaína as estimula, mas eu literalmente quase caía no sono. Para mim, era como sedativo, uma maneira de fugir das pessoas e de um mundo do qual eu morria de medo"

Ressaltamos que a adicção do referido ator envolvia o uso da coca e do álcool. Talvez voltemos a falar sobre a adicção, sobre como se libertou do alcoolismo, mas, no momento, ficamos contente em saber que o mesmo superou seus maus momentos.

O mundo das celebridades tem uma galeria de personalidades que conseguiram se recuperar do uso e permanecem limpos até hoje, outros não e muitos chegam à fatalidade de morrer. Teria mais para escrever sobre esta figura humana extraordinária, mas, só por hoje, contenta-me pinçar este breve relato de como a cocaína o levava a se transformar e, até, contraditoriamente, leva-lo à sedação. 

CANTO DOS MALDITOS, de Austregésilo Carrano Bueno

Austregésilo Carrano faleceu em São paulo, em 27/05/2008, aos 51 anos de idade. 
Hoje vamos publicar trecho do livro, CANTO DOS MALDITOS, cujo autor chama-se Austregésilo  Carrano  Bueno, que inspirou o filme Bicho de Sete Cabeças.

O texto que publicamos é longo e incompleto. Para quem não tem muito tempo para leitura de textos longos, sugerimos a impressão do texto, que retrata como funciona - de verdade - os manicômios, estes lugares surreais, absurdos, muitas vezes inimagináveis por familiares. Lembro que quando estava numa "clínica" prisional chegou um novato, muito lúcido, como outros tantos que se achavam encarcerados e submetidos a um regime louco, que nossos familiares acham que são locais aptos a "tratar" a dependência química... Pois bem, perguntei ao jovem paranaense qual a droga que o trouxe a tal lugar e ele me respondeu que o pai achou um baseado na gaveta do armário dele e isso resultou em escândalo que resultou em mais um novo absurdo. Ele estava internado naquela espelunca, de fachada, porque era mero iniciante no uso de maconha.

O texto transcrito me conduz a pensar e alguns companheiros que entraram sãos, nestes lugares,  e saíram pirados. Em "Clínicas", cuja internação é compulsória, podemos observar muita podridão denunciada em Canto dos Malditos. Também lembro, adictos, muitas vezes, não sabem se defender, nem se organizar, nem reagir com inteligência, protestando e denunciando internações malditas.

Eis o texto, que segmentarei, Se tiver tempo de sobra tentarei reformatá-lo, sem prejuízo à obra e ao que o autor quis transmitir :

"J a m a i s  SONHARIA  aonde   os   caminhos  da  minha adolescência  me  levariam.  Algo  que  supus  acontecer apenas  em filmes  americanos  de  terror  aconteceu.  Em  meados  de  outubro de  1974,  chegando em casa,  fui convidado por meu pai a acompanhá-lo  em  visita  a  u m  amigo  seu,  hospitalizado.  Estranhei aquele convite, pois não tínhamos o hábito de sair juntos, mas fui.

Chegando ao hospital, antes mesmo de entrarmos nas instalações  de  imediato  dois  enfermeiros vieram ao  nosso  encontro. 

Com sorrisos, postaram-se um de cada lado.  Desconfiei daquela posição.  Pegaram em meus braços.
— Ei! pera aí...  o que está acontecendo?  perguntei assustado  e olhando para meu pai.
— Calma,  filho,  é para o  seu bem! respondeu meu pai.
— Seu pai  o  trouxe  aqui  pra você  fazer uns  exames,  apenas isso...
 — falou um enfermeiro negro.
— Mas  que  exame,  pai?  eu não  estou  doente...
— perguntei, forçando para soltarem os meus braços.
— Calma,  filho!  é para o seu bem...
— Que calma?  eles  estão me puxando...  qual é, velho?
— Nós sabemos que você não está doente. Ele só quer que você faça uns exames e mais nada... 
— disse, tentando me acalmar,  o enfermeiro negro. Puxaram-me para dentro de um pavilhão.
— Ei!...  espere  aí,  meu pai não vai entrar? — falei e vi  a por­ta atrás de mim fechar-se.
— Venha comigo! — disse o negro.

Largaram os meus braços. Caminhamos  por  um  corredor.  Do  lado  direito  ficavam quartos,  do lado  esquerdo,  uma  sala  não  muito  grande  com mesas e cadeiras. Entramos num quarto logo ao lado da sala. Era um  quarto  que  usavam  como  enfermaria.  Sentaram-me  numa cama alta.  Havia um pequeno armário com vidro e um suporte para  braço.  O  enfermeiro  negro  sentou-se  ao  meu  lado  na cama,  o  outro sentou-se  a uma mesinha de  enfermagem.

— Com o  é  o seu nome? — perguntou  o  enfermeiro negro.
— Austry.
-  Bem,  Austry,  o  que  na  realidade  está  acontecendo  é  o seguinte...
 —  Fez  uma  pausa.
 —  Seu  pai  encontrou  maconha numa jaqueta sua.  Ele  acha  que  você  é viciado  e  trouxe-o  aqui para fazer tratamento.
- Não acredito.  Meu velho pensa que sou viciado? Ele nem conversou  comigo  e já me trouxe pra cá?!...
- E  o fumo,  você fuma maconha? - o  negro.
—  Dou  meus  peguinhas,  mas  isso  não  significa  que  seja viciado.
- Bom,  só  sei  que seu pai o internou  e  a gente vai tratar de você.
- Tratar de mim?  Isso é uma piada. Eu não sou um viciado, podem  fazer  o  exame  que  quiserem.  Não  sou  dependente  de droga  nenhuma.  Vamos,  façam  os  exames!  Podem  fazer  qual­quer  tipo  de  exame,  vocês  verão  que  não  tenho  dependência nenhuma...  Isso  é,  se  vocês forem capazes  de  entender o  que  é ser  um  viciado!  Cara!  tô  afirmando  pra  vocês:  eu  não  sou nenhum dependente!  Então,  que tratamento vocês vão fazer?
- Todos os viciados que passam por aqui começaram com a maconha e as bolas.  E agora  estão nos picos.
—  Problema  deles.  Pico  não  é  o  meu  caso  e  nunca  será. Podem olhar meus canos,  não tenho uma marca.  Se eu tomasse pico,  tá  certo,  vocês  podiam  me  classificar  como  viciado,  dependente, caso eu não passasse sem uma picada. Mas maconha... a maconha faz menos mal que  o  cigarro  comum.
- É  o que você  diz.  Os  estudos médicos dizem outra coisa. Agora vou lhe aplicar uma injeção  e você  vai  dormir um pouco.  Não precisa ficar com medo!  Meu nome  é Marcelo.
— disse o enfermeiro negro.

terça-feira, 22 de abril de 2014

LEMA DO PSICODRAMA - Jacob Levy Moreno


"Um Encontro de dois:
olhos nos olhos,
 face a face.

 E quando estiveres perto,
arrancar-te-ei os olhos e
 colocá-los-ei no lugar dos meus;

 E arrancarei meus olhos
 para colocá-los no lugar dos teus;

 Então ver-te-ei com os teus olhos
 e tu ver-me-ás com os meus"

CIDADE DOS ESQUECIDOS, por Andrea Dip


A ideia desta matéria veio de um sonho que tive uma noite.Eu andava por um corredor longo, escuro e esverdeado de hospital psiquiátrico, ouvindo as histórias das pessoas, conversando com com médicos. Acordei resolvida a conhecer de perto esse assunto que tanta gente não lembra que existe: a loucura. O que não imaginava é que, em vez de deparar com o sofrimento psíquico, tropeçaria em problemas escandalosos.

O Brasil tem hoje 42.000 internos em 240 hospitais psiquiátricos. É o terceiro maior repasse do SUS(Sistema Único de Saúde) e,apesar da política do Ministério da Saúde de diminuição gradual dos leitos, 63 por cento das verbas de saúde mental vão para os manicômios.

"Na primeira metade do século 20, através da Liga Brasileira de Higiene Mental, intelectuais simpáticos às ideias eugenistas e racistas do nazifascismo procuraram fundamentar o papel do hospital psiquiátrico como instituição de tratamento. enquanto nos seus porões produziam experiências biológicas e mutiladoras", explica o doutor Dr Nacile Daúd Júnior, psiquiatra. pesquisador e militante
do ainda pequeno movimento anti manicomial no Brasil.

De 1934 (quando surge a primeira lei psiquiátrica que atribui ao poder público a defesa da sociedade "contra os loucos de todos os gêneros", até 1965 já havia no pais 135 hospitais psiquiátricos superlotados. "O hospício no Brasil nasce com uma vocação: a da higienização, que vem de braços dados com uma perspectiva capitalista da produtividade. Se o indivíduo não tivesse a capacidade de produzir, não servia. Então, o hospício brasileiro recebia os indesejáveis, não só os loucos. mas os negros. as prostitutas, os mendigos e os imigrantes. E acabou com o "campo de concentração", diz Maria Cristina Lopes, psicóloga, ex-coordenadora da ONG SOS Saúde e atual diretora de um centro de convivência para doentes mentais em São Paulo.

A década de 1960 inauguraria uma nova fase. "A partir da política privatista pós-64", comenta o doutor Nacile, "expandiu-se o parque asilar através de hospitais psiquiátricos privados, conveniados com o Estado. Em 1966, o INPS ( Instituto Nacional de Previdência Social) ampliou o financiamento de empresas de saúde. De 1966 a 1981, os hospícios passaram de 135 para 430, num total de 105.000 leitos, 80 por cento controlados pela iniciativa privada. Além disso,  a ditadura aproveitou os hospícios para submeter presos políticos ao eletrochoque, contenções, celas fortes e drogas poderosas como a escopolamina, prescrita como 'medida disciplinar'.

A escopolamina era usada por Hitler durante o nazismo, como a droga da verdade. Ela causa sensação de morte iminente "e faz o sujeito confessar qualquer negócio", explica Maria Cristina.

Só no Juquery, hospício em Franco da Rocha, na Grande São Paulo, havia 16.000 internos, nos anos 1960 e 70. Pessoas dormiam amarradas a troncos pelos Pátios, para não fugir.

Austregésilo Carrano, autor do livro Canto dos Malditos, tinha 16 anos quando seu pai achou, em 1974, um baseado na sua jaqueta. O pai o internou. Foram quatro anos de internação em diferentes hospitais. Vinte e uma sessões de eletrochoque, drogas pesadíssimas, maus tratos, Carrano conta no livro - que deu origem ao filme Bicho de Sete Cabeças - que nem sequer recebeu diagnóstico em todo esse tempo. O Canto dos Malditos foi proibido em 2002 e só voltou a circular em 2004. Além de Carrano nunca ter sido indenizado, foi condenado a pagar 60.000 reais aos hospitais onde esteve internado. "Nâo existem indenizações às vitimas psiquiátricas, com exceção recente de um caso de abuso na aplicação de eletroconvulsoterapia em São Paulo", conta ele que hoje luta contra o que chama de "chiqueiros psiquiátricos". 

O país chegou aos anos 90 (a "década do cérebro" da Organização Mundial de Saúde, pelo avanço em remédios contra depressão e outros transtornos mentais) com quase 100.000 pessoas internadas; e a 2006, com mais de 300.000 mortos (ao longo de 154 anos) dentro dos muros dos manicômios, diz o doutor Nacile: "A morte é a face mais cruel da violência inevitável dos hospitais. Os familiares assinam um termo em que a instituição não se responsabiliza por eventuais acidente,. suicídios e outras ocorrências durante a internação. Por isso, raramente denunciam os abusos e violências de que tomam conhecimento. Mesmo com a diminuição dos leitos, o número de mortes se mantém. De 1992 a 2005 morreram dentro dos manicômios aproximadamente 16.000 pessoas. e outras tantas fora de seus muros. mas em decorrência de violências praticadas em seu interior". A violência consiste na administração errada de remédios e de eletrochoque, descaso e contenções malfeitas, por exemplo.

Em 1991 foi encontrado no Juquery um cemitério clandestino com restos de 30.000 cadáveres de homens, mulheres, crianças, bebês e pedaços de corpos, como braços e pernas. "Houve uma denúncia anônima à SOS Saúde. A Assembléia Legislativa de São Paulo constituiu uma comissão parlamentar para investigar o caso", conta Maria Cristina. "Achamos uma italiana que desembarcou no Brasil, mas se perdeu do marido. Como tinha quatro filhos pequenos, nenhum dinheiro e não falava português, não poderia ser aproveitada como força de trabalho. Ela e os quatro filhos foram parar no Juquery e lá ficaram até morrer. Estão enterrados lá. " Sobre presos políticos, nenhum teria morrido no Juquery, mas pelo menos quatro têm registro de entrada: David Capistrano da Costa, ex-deputado do PCB, desaparecido em 1974; Antônio Carlos MeIo Ferreira, o Melinho, da VAR Paimares; Aparecido Galdino Jacinto e Dorgival de Souza Damasceno, da Ação Libertadora Nacional. Muitos dos restos mortais de crianças, segundo Cristina, seriam de filhos de internas com enfermeiros, médicos ou funcionários (não de internos, já que as alas eram separadas em masculinas e femininas). 

E em 1991 aconteceu um incêndio "misterioso" nos arquivos do hospital, durante as investigações. O segundo, porque em 1978 os livros do cemitério haviam pegado fogo e ninguém foi condenado. apesar deter sido provado que o incêndio foi provocado. O processo gerado pelo relatório da comissão da Assembléia foi arquivado por falta de provas e porque "os corpos já estão lá há muitos anos", declarou o doutor Carlos Calsavalla, promotor de Franco da Rocha. Hoje existe uma capela no local, onde há missas e visitas no Dia de Finados.

Nota do Blog: estamos postando trechos de CIDADE DOS ESQUECIDOS, de Andrea Dip, jornalista, por reputarmos este artigo como sendo relevante e da maior importância para esclarecer pessoas ingênuas, além de lutarmos por reformas abrangentes, que nos conduza a um estágio civilizatório digno... e esperamos que todos dediquem, um pouco de tempo,  à leitura do que ela escreveu, neste libelo que denuncia e revela de tantas mazelas ocultas das pessoas comuns, sobre o que os manicômios representaram e representam para o que chamamos de civilização. O artigo será publicado de modo ainda incompleto, pois esperamos acrescentar mais um pequeno trecho que lança luz na escuridão que reina sobre o tema. Infelizmente não poderemos publicar tudo, na íntegra. Mas os fragmentos do que já postamos dá para chegarmos á uma conclusão: muita coisa tem que mudar para melhor, incluindo as chamadas "clínicas" e "centros" de recuperação para dependentes químicos, que também estão se transformando em verdadeiros cemitérios de gente sepultada, em vida, inclusive pessoas portadoras de doenças mentais.


segunda-feira, 21 de abril de 2014

Balada do Louco

Das minhas passagens por lugares destinados a cuidar da recuperação de dependentes químicos, apenas uma, me conduziu ao caminho duradouro da recuperação e só recaí foi por um ato de protesto voluntário. As outras instituições, com equipes de resgate, salas de contenção, agentes penitenciários, não me serviram de nada, salvo como uma espécie de castigo, em que vivia submetido a um regime prisional que feria de morte os 12 passos. 
Mas porquê escrevo isto: porque a ignorância e o preconceito imperam e a mentira é amiga de quase todos os sentimentos doentios. Então quando alguém diz que fulano de tal foi internado, ou tomou um remédio tarja preta, significa, nessas cabecinhas, que o cara é louco.

Nunca estive em um manicômio, em um hospício. Nunca recebi nas "casas" prisionais, tratamento de ordem psiquiátrico.  São lugares onde prevalece a lei do lucro. Porém, muita gente se serve destas instituições prisionais para depositar pessoas com transtornos e doenças mentais, como também depositam menores de idade e pessoas que cumprem "sentença" de ordem judicial. Um saco de gatos, onde logo aparecem facções, como em presídios. 

Então o meu "tratamento" resumia-se aos 12 passos e tudo era diferente dos manicômios. Mas o bicho de sete cabeças me atingia. São locais inadequados para quem deseja, realmente, recuperar-se espiritualmente. 

Mas pouco importa dizer essas coisas porque a maldade do gênero humano é por demais conhecida. Por isso faço questão de postar a letra de uma composição de Rita Lee e de Arnaldo Baptista, intitulada Balada do louco, que me diz muita coisa e que serve como uma sátira aos "normais" que são movidos por desajustes comportamentais que ferem a verdade. A  Balada diz o seguinte:

"Balada Do Louco
Os Mutantes

Dizem que sou louco por pensar assim
Se eu sou muito louco por eu ser feliz
Mas louco é quem me diz
E não é feliz, não é feliz

Se eles são bonitos, sou Alain Delon
Se eles são famosos, sou Napoleão
Mas louco é quem me diz
E não é feliz, não é feliz

Eu juro que é melhor
Não ser o normal
Se eu posso pensar que Deus sou eu

Se eles têm três carros, eu posso voar
Se eles rezam muito, eu já estou no céu
Mas louco é quem me diz
E não é feliz, não é feliz

Eu juro que é melhor
Não ser o normal
Se eu posso pensar que Deus sou eu

Sim, sou muito louco, não vou me curar
Já não sou o único que encontrou a paz
Mas louco é quem me diz
E não é feliz, eu sou feliz"

Assim, sem dar trela pra futricas e falsas versões de fatos, vou levando minha vida cantando e algumas vezes dançando, para os males espantar. Finalizo com aquele conhecido ditado popular: "De médico e louco, todos tem um pouco, ou, na visão de Caetano: de perto ninguém é normal!

Renato Russo de A a Z


DROGAS 

■ Não quero mais ficar usando drogas, a ponto de perder o fio da meada. E que nem doce: pode ser bom comer um doce de vez em quando, mas o excesso é que te faz perder a cabeça. Tudo que é excesso não presta, como excesso de discos vendidos e excesso de talento, que não é meu caso. Teve fase em que eu precisei tomar droga para funcionar. Agora, quero parar e ficar com os pés no chão. (1987) 

■ Há um consumo de drogas muito grande em apresentações de rock, isso é notório. Uma coisa muito comum entre a juventude de Brasília é o loló, e ele leva à violência. Sou contra qualquer tipo de drogas. É como a gente diz em Conexão amazônica: "Alimento para cabeça nunca vai matar a fome de ninguém". (1988) 

■ Parei não foi por medo, nem nada. Simplesmente não tinha mais prazer em tomar um ácido; me sinto bem quando estou feliz e careta. Antigamente, quando estava feliz, usava a droga para exacerbar e me 
sentir melhor ainda. Bebida também não é a solução. As coisas estão de tal maneira que o que vai te dar felicidade é, justamente, ficar careta orque todo mundo está louco. (1988) 

■ Você não pode ter uma boa relação com as drogas. As drogas são uma coisa muito negativa. (1989) 

■ Em Brasília, rolou aquela coisa bem de Christiane E. Eu fiquei até muito chateado, porque depois, num review do show da Legião, falaram que eu fazia posturas nazistas, falava de drogas como se soubéssemos o que era aquilo. Eu não pude falar na época, mas me deu vontade de dizer: "Olha, a gente não só sabe como é, como a gente viveu isso também". Agente fazia qualquer coisa para se divertir. Se alguém tivesse uma idéia, tipo "vamos dar um passeio de bicicleta", todo mundo ia. Era tão louco! Passeio de bicicleta ou baseado! Não tinha muito parâmetro. Era uma coisa, naturalmente, muito irresponsável. (1989) 

■ Deus me livre! Eu quase morri com isso. Eu tenho me esforçado muito para sair, e estou conseguindo. (1991) 

■ Eu não sei se seria a favor da liberação total, mas acho que não pode continuar como está. A droga é só mais um sinal de que as pessoas são manipuladas. Porque, se as pessoas tivessem mais dignidade, mais respeito entre si, eu acho que a droga ficaria no seu devido lugar. Acredito que existem pessoas que gostam de usar drogas, gente que sente prazer com isso, mas elas devem ser uns três por cento da população. Hoje em dia, todo mundo usa, e quer, porque não se tem saída para nada. Ninguém se encontra. (1991) 

■ A coisa vai num crescendo. Depois que você faz sucesso, todos te oferecem, aparecem os traficantes de plantão. Experimentei de tudo, mas sempre terminava em álcool e tranquilizantes. No bar e na farmácia. 
(1994) 

■ Eu era assim: o álcool eu pegava no bar e o tranquilizante eu pegava na farmácia. Hoje eu não faço mais nada, absolutamente nada. A única coisa que sobrou foi o cigarro, e eu estou tentando largar essa coisa. (1994) 

■ De repente, é um saco ter a pessoa sempre de mau humor, pelos cantos. Todo mundo se divertindo na piscina do hotel e eu lá, trancado. No começo, tem até um certo glamour, mas não leva a nada. (1994) 

■ Sei que, quando o Sid Vicious, do Sex Pistols, morreu, tomei o primeiro porre da minha vida. E, a partir daí, comecei a usar muitas drogas. É, quer dizer... eu já usava, mas era em fim de semana. Até essa época, eram só bagulhinho e álcool. A cannabis [maconha], você sabe, afeta a memória, mas acho que já tínhamos formado o Aborto Elétrico. (1995) 

■ Eu acho muito bonito o Robert Plant e o Jimmy Page dizendo: "Quando a gente usava heroína, nossa espiritualidade foi para o buraco". E vai. Se você está quebrando o teu ritmo e a tua energia, você vai pagar por isso. É espiritualidade zero. Se você encher este copo pela metade, tem gente que vai achar que ele está quase vazio, mas tem gente que vai achar que ele está quase cheio. (1995) 

■ Infelizmente, a droga é um meio de confraternização social. No meio artístico, quando você faz sucesso, todo mundo oferece droga. E você vai pegando porque o negócio é bom. De madrugada, no estúdio, quando alguém faz uma presença, você vai tomar um cafezinho? E comigo ainda tinha essa história de romantizar. E o pior é que a coisa chega a um ponto que é vergonhoso. Eu vi que a situação estava feia quando começaram a dizer que eu armei cena em festa que eu nem fui, só porque já era lugar-comum. É completamente degradante, e eu gosto de falar sobre isso porque me dá força. Faz parte da programação, para nos lembrar como era ruim. E o negócio é que não tem meio-termo. 
(1995) 

■ Tomei ácido umas quatro vezes, e foi uma coisa que realmente mudou minha cabeça. Foi uma coisa de "uh!", de sentir as moléculas, o ying-yang, tudo. Você chega para o sofá: "Oi, sofá, você é meu amigo, sabe?". É uma coisa muito assustadora. Agora que estou limpo, vejo o quanto a droga é pesada. Se eu preciso de um baseado para gostar de um filme, é porque o filme não presta, eu não deveria estar assistindo. (1996) 

" AS VERDADEIRAS RAZÕES DO ANONIMATO " - AABR

Escrito pelo Dr. Eduardo  Mascarenhas


Os grupos Anônimos - que se diga em alto e bom som - não são contra o fato de alguém ser celebridade. Muita gente famosa - atores, cantores, políticos, empresários, astros e estrelas de televisão - já fez ou ainda faz parte desses grupos. Muitos deles, aliás, só não caíram no anonimato, arruinados pelo alcoolismo ou pelas drogas, por causa dessa participação...

O que não é possível é tornar-se célebre às custas dos grupos anônimos. Como cidadão, cada um é livre para fazer o que quiser ou o que puder. Como membro de um grupo anônimo, está sujeito a restrições. Estas, contudo, limitam-se aos meios de comunicação, onde nenhum membro deve mostrar seu rosto ou falar em nome da organização, cuja identidade paira além das personalidades de seus membros e não se confunde com elas. Ninguém deve mostrar o rosto, porque um grupo anônimo não tem um rosto; tem todos os rostos. Ninguém deve falar em nome de um grupo anônimo, porque ele não tem uma fala; está aberto para todas as falas.

Fora dos meios de comunicação ninguém é obrigado a preservar o seu anonimato enquanto membro de um grupo anônimo. Fora do espaço público, no espaço privado, qualquer um pode revelar sua condição a quem quiser, se este for o seu desejo. O que não deve é sair dizendo por aí o nome das outras pessoas que fazem parte de seu grupo. Simples questão de ética: afinal os outros membros têm direito ao sigilo e à privacidade.

Esse direito ao sigilo e à privacidade é tão importante para o funcionamento dos grupos anônimos que jamais será solicitado a ninguém um documento, folha corrida, certificado de bons antecedentes ou comprovação de nada. Mais: ninguém é obrigado sequer a usar seu verdadeiro nome, nem relatar qualquer fato que seja revelador de identidade. Pelo contrário, quando um membro se levanta para dar um depoimento, não deve dizer seu sobrenome e pode usar o nome que quiser. Até o verdadeiro.

É que um grupo anônimo não está interessado em olhar pelo buraco da fechadura a vida íntima de ninguém, nem em obrigar seus membros a nenhum strip-tease psicológico. Só tem como propósito enfrentar a compulsão e a dependência química a que seus membros se vêem presos.

Um grupo anônimo não é anônimo para ser algo fechado ou escuro, mas para ser completamente aberto. Lá, entra quem quer, fica quem quer. Se alguém não gostar e quiser ir embora, não lhe será cobrado aviso-prévio ou satisfação. E pode voltar, sem explicações.

Por outro lado, se um membro de um grupo anônimo transgredir todas essas recomendações, nada será feito contra ele! Não existem punições! Nada é imposto. Não é obrigado. Tudo é, no máximo, sugerido.


Dr. Eduardo  Mascarenhas   (  Psicanalista falecido  )

Kurt Cobain bate na porta do Céu...


UM ALÉM LEONARD COHEN 
Seattle, Washington 
Abril de 1994 - maio de 1999

"Give me a Leonard Cohen Aftworld, so I can sigh eternally" 
[Dêem-me um além Leonard Cohen para que eu possa suspirar eternamente.] 
De "Pennyroyal Tea". 


NA MANHÃ DE SEXTA-FEIRA, 8 de abril, o eletricista Gary Shith chegou ao número 171 do Lake Washington Boulevar. Smith e vários outros vinham trabalhando na casa desde quinta-feira, instalando um novo sistema de segurança. A policia passara duas vezes por lá e pedira aos trabalhadores que a avisasse caso Kurt aparecesse. Às 8h 40 da sexta-feira, Smith estava perto da estufa e olhou para dentro dela. "Eu vi um corpo estendido lá no chão", contou ele depois para um jornal. "Pensei que fosse um manequim. Depois notei que havia sangue na orelha direita. Vi uma espingarda estendida ao longo de seu peito, apontando para o seu queixo." Smith ligou para a policia e, em seguida, para sua empresa. Um amigo do plantonista da empresa incumbiu-se de avisar a emissora de rádio KXRX. "Ei, caras, vocês vão ficar me devendo uns bons ingressos para o Pink Floyd por isso", disse ele ao Dj Marty Riemer. 

A policia confirmou que o corpo de um jovem havia sido encontrado na casa dos Cobain e a KXRX divulgou a noticia. Embora a policia ainda não o tivesse identificado, os primeiros boletins noticiosos 
especulavam que se tratava de Kurt.

Após vinte minutos, a KXRX recebeu um telefonema choroso de Kim Cobain, que se identificou como irmã de Kurt, e perguntou, furiosa, por que eles estavam transmitindo um boato tão falacioso. Disseram a ela que ligasse para a policia. Kim ligou e, depois de ouvir a noticia, ligou para sua mãe. Um repórter do Aberdeen Daily World logo apareceu na porta da casa de Wendy. 

Sua declaração seria passada para a Associated Presss e reproduzida no mundo inteiro: "Agora ele se foi e entrou para aquele clube estúpido. Eu disse a ele para que não entrasse para aquele clube estúpido". Ela estava se referindo coincidência de que Jimi Hendrix, Janis Joplin, Jim Morrison e Kurt haviam morrido aos 27 anos de idade. Mas uma outra coisa que sua mãe havia dito não era noticiada em nenhum outro jornal — embora nenhum pai que tenha ouvido a noticia da morte de Kurt precisasse lê-la para saber da perda que ela sofrera. Ao final da entrevista, Wendy disse sobre seu único filho homem: "Eu nunca mais vou abraça-lo novamente.  Não sei o que fazer. Não sei para onde ir". 

Don ficou sabendo da morte do filho pelo rádio — ele estava arrasado demais para conversar com repórteres. Leland e Íris souberam pela televisão. Íris teve de se deitar depois da notícia — ela não sabia se o seu coração debilitado poderia suportar aquilo. 

Enquanto isso, em Los Angeles, COurtney havia se tornado paciente do Exodus, depois de ter se internado na quinta-feira á noite. Na mesma quinta-feira ela havia sido detida no hotel Península depois que a policia chegou ao seu "Quarto sujo de vômito e sangue" e encontrou uma seringa, um bloco de receituário em branco e um pequeno pacote que eles acreditaram tratar-se de heroína (verificou-se que a substância eram cinzas de incenso hindu). 

Depois de ser libertada mediante uma fiança de 10 mil dólares, ele se registrou para um tratamento como paciente internada, desistindo da desintoxicação em hotel. 

Na manhã da sexta-feira, Rosemary Carroll chegou ao Exodus. Quando Courtney viu a expressão no rosto de Rosemary, soube da noticia antes mesmo de ouvi-la. As duas mulheres finalmente se entreolharam durante vários minutos em total silêncio até que Courtney proferiu uma única pergunta; "Como?" Courtney saiu de Los Angeles num Learjet com Frances, Rosemary, Eric Erlandson e a babá jackie Farry. Quando chegaram á casa do lago Washington, ela estava cercada por equipes dos telejornais, que colocaram lonas sobre a estufa para que a mídia não ficasse espiando o que havia lá dentro. 

Antes que os toldos fossem armados, o fotógrafo Tom Reese do Seattle Times tirou algumas fotos da estufa através de um buraco no muro. "Eu achei que poderia não ser ele", lembra Reese, "Pois podia ser qualquer um. Mas quando vi o tênis, eu soube." A foto de Reese, que saiu na primeira página do Seaatle Times de sábado, mostrava o que se via pelas portas francesas, ou seja, metade do corpo de Kurt — sua perna direita, o tênis e seu punho cerrado junto a uma caixa de charutos. Naquela tarde, o legista de King County emitiu uma declaração confirmando o que todos já sabiam: 

"A autópsia demonstrou que Cobain morreu de um ferimento de tiro de espingarda em sua cabeça e neste momento o ferimento parece ter sido auto-infligido". O dr. Nikolas Hartshorne fora quem realizara a autópsia — a tarefa foi particularmente comovente porque outrora ele havia promovido uma apresentação do Nirvana na faculdade. "Na época relatamos ferimento de tiro de espingarda "aparentemente" auto-infligido porque ainda queríamos colocar todos os pingos nos is", lembra Hartshorne. 

"Não havia absolutamente nada que indicasse que se tratava de alguma coisa diferente de um suicídio." No entanto, devido a atenção da mídia e da celebridade de kurt, a policia de Seattle apenas concluiu a 
investigação depois de quarenta dias e passou mais de duzentas horas entrevistando os amigos e a família de Kurt. 

Apesar de rumores em contrário, foi possível identificar o cadáver como sendo de kurt, embora seu aspecto fosse macabro: as centenas de bolinhas de chumbo do cartucho de espingarda haviam expandido sua cabeça e o haviam desfigurado. A policia retirou digitais do corpo e as impressões correspondiam aquelas já arquivadas no caso da prisão por violência doméstica. Embora uma análise posterior da espingarda concluísse que "quatro fichas de impressões latentes levantadas não contêm nenhuma impressão legível", Hartshorne disse que as impressões na arma não eram legíveis porque esta teve de ser retirada á força da mão de Kurt depois que se instalara o rigor mortis. "Eu sei que suas impressões digitais estão lá, porque ele estava com a arma na mão", explica Hartshorne. Determinou-se que a data da morte foi o dia 5 de abril, embora possa ter sido 24 horas antes ou depois disso. Muito provavelmente. Kurt já estava morto na estufa enquanto várias buscas ocorriam no prédio principal da residência. 

A autópsia encontrou traços de benzodiazepinas (tranqüilizantes) e heroína no sangue de Kurt. O nível de heroína encontrado era tão alto que mesmo Kurt — famoso pela enorme quantidade que tomava — não poderia ter sobrevivido por muito mais tempo do que o que levou para disparar a arma. 

Ele havia lavrado um feito bastante notável, embora portasse semelhanças com os de seu tio Burle (tiros na cabeça e no abdome) e os de seu bisavô James Irving (que se esfaqueara no abdome e depois rasgara os pontos): Kurt conseguiria se matar duas vezes, usando dois métodos igualmente fatais. 

Courtney estava inconsolável. Insistiu para que a policia lhe desse o casaco de veludo manchado de sangue de Kurt, que ela vestiu. Quando os policias finalmente deixaram o local, e com apenas um guarda de segurança como testemunha, ela reconstituiu os últimos passos de Kurt, entrou na estufa — que ainda tinha de ser limpa — e mergulhou as mãos em seu sangue no chão, ajoelhada, ela rezou, uivou e gemeu de dor, ergueu as mãos cobertas de sangue para o céu e gritou "Por quê?". Ela encontrou um pequeno fragmento do crânio de Kurt com cabelo preso a ele. Ela lavou e passou xampu nesse horripilante suvenir. E depois começou a pagar sua dor com drogas. Naquela noite, ela vestiu várias camadas de roupas de Kurt — elas ainda tinham o seu cheiro. Wendy chegou, e mãe e nora dormiram na mesma cama, agarrando-se uma á outra durante a noite. 

No sábado, 9 de abril, Jeff Mason foi incumbido de levar Courtney até a agência funerária para ver o corpo de Kurt antes de ser cremado — ela já tinha solicitado que fossem feitos moldes de gesso de suas mãos. Grohl também foi convidado e declinou do convite, mas Krist compareceu, chegando antes de Courtney. Ele passou alguns momentos a sós com seu velho amigo e desatou a chorar. Quando ele saia, Courtney e Mason foram introduzidos na sala de inspeção. Kurt estava sobre uma mesa, vestido com suas roupas mais elegantes, mas seus olhos tinham sido costurados. Era a primeira vez em dez dias que Courtney viu o marido e foi a última vez que seus corpos físicos ficaram juntos. Ela acariciou seu rosto, falou com ele e cortou uma mecha de seus cabelos. Depois, baixou as calças dele e cortou uma mecha de seus pêlos púbicos — seus adorados púbicos, os pelos que ele esperara por tanto tempo quando adolescente, de algum modo precisavam ser preservados. Finalmente, ela subiu em cima de seu corpo, abraçando-o com as pernas e recostou a cabeça em seu peito e lamentou: "Por que? Por quê? Por quê?". 

Naquele dia os amigos tinham começado a chegar para confortar Courtney e muitos trouxeram drogas, que ela ingeria indiscriminadamente. 

Entre as drogas e seu pesar, ela estava uma calamidade. Os repórteres telefonavam a cada cinco minutos e, embora ela não tivesse muito em condições de falar, de vez em quando atendia ás ligações para fazer perguntas, não para respondê-las: "Por que Kurt fez isso? Onde ele esteve na semana passada?". Como muitos amantes enlutados, ela se concentrava nos detalhes minúsculos para se desviar de sua perda. Ela passou duas horas ao telefone falando com Gene Stout, do Seattle Post-Intelligencer, ponderando essas cismas e declarando: "Eu sou durona e posso agüentar tudo. Mas não 
posso agüentar isto". A morte de Kurt ganhou a primeira página do New York Times e dezenas de repórteres de televisão e jornais desembarcaram em Seattle, tentando cobrir uma matéria em que poucas fontes falariam com a mídia. A maioria deles enviava artigos opinativos sobre o que Kurt significava para uma geração. O que mais se poderia dizer? 

Era preciso organizar um funeral. Susan Silver da Soundgarden tomou a iniciativa e marcou um culto reservado em uma igreja e, simultaneamente, uma vigília pública á luz de velas no Seattle Center. 

Naquele fim de semana, uma lenta procissão de amigos chegou á casa do lago Washington — todos pareciam com neurose de guerra, tentando encontrar explicações para o inexplicável. Para aumentar o seu pesar havia o desconforto físico: na sexta-feira, quando Jeff Mason chegou, encontrou o tanque de óleo completamente seco. Para aquecer a enorme residência, ele começou a enviar limusines para comprar lenha da Safeway. "Eu estava quebrando cadeiras porque a lareira era o único meio de aquecer a casa", lembra ele. Courtney estava no quarto do casal no andar de cima, embrulhada em camadas de roupas de Kurt, gravando uma mensagem para ser apresentada na celebração pública. 

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