Estava relembrando meus bons tempos, em uma época que a nação brasileira mergulhou nas trevas. Esses bons tempos existiram apesar dos pesares. Veraneávamos, passeávamos, íamos juntos aos cinemas e, também, tínhamos muitas brigas. Ela era, dos irmãos, a melhor informada, era minha protetora e defensora. Hoje ela parece estar brigada comigo, sem que eu saiba o motivo. Pouco importa, não briguei com ela! Minha amizade por ela e por meus irmãos, a despeito do meu estágio no mundo da adicção, não está marcada por nenhuma cicatriz. Evidente que ocorreram ranhuras.
Eu sempre fui um cara de falar as coisas pela frente e, quem sabe, devo ter deixado algumas feridas expostas na alma dela. Se deixei, que ela me desculpe e perdoe. Faço publicamente esta reparação que se estende aos demais irmãos, mulher e filhos.
Hoje lembrei dela e do tempo em que cursávamos francês, na "La Maison Française", de nossa cidade natal, que ainda guarda um certo ar provinciano.
O idioma francês, naquela época, dos anos 60, estava em declínio. O processo de aculturação ianque estava a todo vapor e, muita gente debochava do idioma que estávamos iniciando a aprender. Aprendemos muitas coisas, mas não tínhamos algo que era fundamental, gente para conversarmos em francês. Faltava-nos conversação...
Nosso pai, também fez um esforço grande em nos legar a aprendizagem do idioma inglês e francês. O inglês era mais fácil de encontrar com quem trocar algumas palavras. Depois me desencantei com o idioma, que representava a língua oficial do imperialismo norte-americano. Então a minha aprendizagem sofreu uma regressão.
Ela parece continuar estudando línguas, porque vive viajando pelo mundo, enquanto eu me perdi pela vida, mas essa minha "perdição" era uma busca, uma procura por mim mesmo, acho que buscava me encontrar. Ela é uma pequeno burguesa, como eu, só que eu sou consciente disso e muita gente não gosta de ser chamado de pequeno-burgues. Será que ela se chateia ?!
Hoje posso afiançar que mudei muito e mudei para melhor, embora ainda tenha em mim uma porção de coisas que preciso expurgar e outras tantas reeditar.
Devo deixar patente que amo toda a minha família que considero muito bonita, não apenas no aspecto "nuclear" da família, mas no sentido mais vasto da palavra, que inclui os que já partiram desta vida para outra, de toda parentela, sem distinção alguma.
Sei, entretanto, que "famílias" são muito cheia de juízos de valores, principalmente no que tange a moral e a adicção para boa parte da parentela pode soar como algo profundamente nebuloso e até vergonhoso, mas cada cabeça é um mundo e em cada mundo residem sentenças diferentes. Sou um cara de mente aberta e não tenho qualquer receio de escancarar as páginas do livro da minha vida, tão devassada. Mas o livro real, não o imaginário, são muito diferentes. No imaginário tem tanto blá-blá-blá, tanta falsificação, tanta loucura, que me deixa meio pasmo e apreensivo, ao mesmo tempo tem um lado cômico, porque existem mentiras que são risíveis.
Não quero contudo me aprofundar nestas coisas chatas. O que quero mesmo transmitir são as minhas saudades, dentro do todo cinza que há em mim, em certos momentos. Aprendi a ser como um "Severino", dentre tantos "Severinos", do João Cabral e, ao mesmo tempo um "José" Drumondiano, nessa divina comédia humana, que mescla Dante com Balzac, numa versão ligeiramente adaptada, para o "Elogio da Loucura" de Roterdã. Vai dizer que não entendeu? Então tá. Isso não muda o meu amor por vocês!
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