sexta-feira, 14 de fevereiro de 2014

No final, quem tinha razão?

Ontem, 13/02/2014, tomei conhecimento de que uma determinada "clínica", que denunciei por uma série de razões, foi exemplarmente punida, com a interdição total do estabelecimento e remoção de internos.  

Fui levado a tal estabelecimento prisional enganado, imaginando que estava indo para uma clínica voluntária. Aquele lugar era um alçapão, um caçuá, um centro de confinamento e detenção de adictos, totalmente indefesos.

Como os familiares são catequizados em acreditar que tudo que adicto diz é mentira, quando acareados e confrontadas com os donos destes cativeiros, o adicto "problemático" , acaba desacreditado, vez que a família, que não ousa raciocinar, ou não raciocina bem, sempre tende a acreditar na palavra de proprietários(as). 

É verdade que adictos sabem manipular, mas são meros iniciantes se comparados com os atores e atrizes que vendem a ilusão da recuperação, de adictos, às famílias fragilizadas, que acreditam em tudo quanto é mentira dessa gente inescrupulosa, exploradores da boa fé alheia e que exercem uma atividade que deveria ser levada a sério no Brasil. Bem, está começando a ser levada a sério, mas é preciso melhorar a legislação.

Os adictos, devido ao que passaram, saem fortemente revoltados esses lugares, outros traumatizados e, quando saem desses centros de terror, logo recaem, quando não saem loucos. Os que primam em manter suas identidades preservadas e livres, guarnecidas e inabaladas, engolem a própria dor.

Famosos, sempre buscam se preservar do mundo das fofocas. É justo! Nada de escandalizar... O desgaste na mídia seria inevitável e os projetos de futuro, de retomada da vida, seguindo os padrões de normalidade, poderiam ser sacrificados. O silêncio, contudo, acaba por recalcar o que deveria aflorar. Tudo é sublimado. Evitam qualquer embate de natureza jurídica e acabam não se manifestando a respeito do que vivenciaram e viram nestes locais nada prazerosos. Na verdade muitos se sentem envergonhados e preferem silenciar. Não querem comprar uma briga, quase sempre indigesta. 

Fico satisfeito em ter cumprido com um dever de cidadão ao ter denunciado um "local" que não tinha qualquer tipo de terapia, salvo a da enrolação. Muitos desejavam fazer o que fiz, mas morriam de medo.

Não vejo e nem sei mais dos companheiros torturados e aprisionados, por longos períodos de tempo, como se o tempo fosse algo determinante nestes tipos de "terapias carcerárias". 

Se prisões fossem algo bom, os presos não sairiam formados dos presídios, com mestrado e doutorado. Eu, por exemplo, acabei aprendendo a quebrar cadeados, serrar grades, fazer uma "teresa" e com esta corda feita de lençóis, consegui empreender duas fugas, correndo rico de vida. Lá dentro lia Capitães de Areia, de Jorge Amado, um incentivo para quem luta pela liberdade e contra a injustiça social. Onde estava era como um "reformatório"... Isso foi em outro local. Qual era o meu crime? Não importa mais! O fato é que estou limpo por decisão própria. Relembro conversas com pessoas que me aconselhavam e me fortaleciam.

Familiares e autoridades devem atentar para o fato de que os "donos desses carceres" são exímios na arte da manipulação e por isso devem observa-los com muita cautela. É preciso ouvir o adicto que sofre nas garras desta gente desalmada. 

O fato de ter sido desacreditado pelos mais íntimos, me faz revelar que estava certo e que a justiça foi feita. Muita gente olhava para mim, sabendo que fiz a denúncia, e escarnecia, não cria na justiça, nem em minhas verdades. Saber que a verdade dos fatos, que denunciei, não resultou inútil, que a verdade foi restaurada pelas autoridades competentes, me causa conforto na consciência. Sei que isso me recompõe e decompõe os que desacreditaram em mim, sem magoas, nem ressentimentos de minha parte.

Sei que foi muito triste o meu último dia naquele lugar. Mas não posso esquecer as armações. Posso perdoar e venho tentando esquecer determinadas lembranças, reeditando o que foi depositado no solo da minha memória.

Ninguém é santo, nem pode querer posar de bonzinho no mundo da adicção. Não espero qualquer pedido de desculpas posto que fui ensinado a sempre estar me curvando, com toda humildade, diante de quem me prejudicou, a pretexto do bem querer.

Apesar de tudo, acredito no amor. Principalmente no amor paterno, materno, fraterno, filial e cristão.  No amor a Deus, acima de tudo. À meus queridos pais, a quem devo infinitos pedidos de desculpas e de perdão, guardo minha eterna gratidão.  A eles e a uma filha devo minha decisão de deixar de usar. Não quero mais sofrer, nem mentir e não quero que mais ninguém cometa erros...

Outro motivo que me leva escrever, prende-se ao fato de ter a minha consciência apaziguada. Quando criança minha irmã mais velha me ensinou que morrer é não ser mais visto. Então, sei que morri para muita gente e a reciproca é verdadeira. Um corte lento e profundo se deu entre seres humanos que deveriam permanecer humanos, mas o destino parece irônico, em todos os aspectos da vida. Não sou determinista nem fatalista.  Mas morremos, uns para os outros, porque morrer também é ser esquecido e esquecer, quem nos esquece, também. é um pensamento doloroso, não é mesmo. Mas é real!

Saber que aquelas pobres criaturas que sofreram no cativeiro, embora não tenham sido reparadas, de diferentes maneiras, agora podem carregar dentro de si o sentimento de reparação, feita como requer o processo civilizatório. Jamais quis e sequer pensei em reparação financeira, mas a restauração da verdade.

Não vou me aprofundar, mas devo dizer que me sinto melhor em saber que a justiça tarda, mas não falha, principalmente aquela que vem de Deus. 

Para finalizar, ponho a seguir trechos, cortados, da correspondência que recebi e que só ontem tomei conhecimento, a respeito do estabelecimento prisional em que estive:

"Prezado Senhor ,,,,

Em atenção a sua denúncia, informo que a GGTES/ANVISA recebeu, em setembro de..., Ofício do Centro de Vigilância Sanitária (CVS)- Divisão Técnica de Serviços de Saúde, com novas informações referente a Clínica ... T... R... (corte) 

Conforme o documento, foi realizada inspeção no dia 10/08/..... No momento da inspeção sanitária, a equipe de vigilância sanitária do município de ...  constatou que o estabelecimento não atendia as exigências da Resolução 29/2011, sendo classificada em relação ao risco sanitário como Insatisfatória com interdição total e com Risco Sanitário Elevado. Foram aplicados os Auto de Infração e Auto de Imposição de Penalidade e Interdição Total do Estabelecimento, com determinação de remoção dos residentes, no prazo de 09 dias."

Sinto muito ter que publicar isto, mas também devo agradecer à luta dos que acreditaram em minhas palavras e foram até o final, para que a justiça se efetivasse. Parece tarefa fácil, mas não é não. É muito difícil fechar tais estabelecimentos e devo agradecer aos que combateram o bom combate, por este feito. Muito agradecido!


2 comentários :

  1. Hoje o blogue conta com a colaboração de algumas pessoas. Seguimos o princípio do anonimato, não gostamos de expor nomes de pessoas. O nome da clínica foi omitido. Mas vou lhe dar uma colher de chá:: tudo fica no Estado de SP.

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soporhoje10@gmail.com

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