domingo, 8 de junho de 2014

Orlando Silva – o “Cantor das Multidões


Orlando Garcia da Silva (Rio de Janeiro, 3 de outubro de 1915 — Rio de Janeiro, 7 de agosto de 1978)
Em 1932, com 17 anos, Orlando Silva perdeu parte do pé esquerdo em um acidente de bonde, o que o obrigou a ficar quatro meses hospitalizado, com dores que só cediam com doses de morfina. Após seu restabelecimento, tornou-se trocador de ônibus.

Costumava cantar para os amigos e vizinhos até que um conhecido o apresentou ao cantor Luiz Barbosa, que o levou para a Rádio Cajuti. Um dia, em 1934, o violonista e compositor Bororó o ouviu e levou-o ao Café Nice, onde o apresentou ao homem mais influente da música popular na época - Francisco Alves. Duas semanas depois, Orlando Silva estreava no programa do Chico Alves na própria Rádio Cajuti. Em 1935 gravou seus primeiros discos.

Em março de 1937 lança o que seria um de seus maiores sucessos: "Lábios que Beijei" (J. Cascata/ L. Azevedo), com o inovador arranjo de cordas feito pelo maestro Radamés Gnattali.

Por volta de 1940 a carreira de Orlando Silva, então no auge da fama, começa a entrar em declínio. Uniu-se à atriz Zezé Fonseca, num relacionamento turbulento que perdurou até 1943. Além disso, fazia uso freqüente de morfina, tornando-se dependente químico e tendo crises de abstinência quando não podia usar a droga. A partir de maio de 1942, passou alguns meses afastado dos estúdios, em parte por ter sido acometido por uma gengivite ulcerativa necrosante aguda, precisando extrair os dentes da arcada superior, em parte porque ficou internado para livrar-se da morfina. Tentando livrar-se de uma dependência, acabou vitimado por outra, o alcoolismo.

Quando Orlando voltou aos estúdios, em novembro de 1942, suas cordas vocais já não eram as mesmas. Era como se o cantor tivesse envelhecido muitos anos em seis meses - e ele estava com apenas 27 anos. Não se sabe exatamente a raiz do problema, mas o que se especula é que a voz não resistiu aos problemas pessoais, à perda dos dentes, ao álcool e à morfina. O próprio Orlando não tocava no assunto. Na verdade, nunca admitiu que sua voz declinara.

Não há dúvidas que, de 1935 a 1942, Orlando Silva foi o mais perfeito cantor popular que o Brasil já teve. Voz cristalina de tenor, viajava dos graves aos agudos com extrema facilidade. Timbre de beleza e maciez inigualáveis. Técnica respiratória perfeita, que entrelaçava frases e palavras sem se permitir respirar entre elas. Suas interpretações do período são magistrais, assim como o repertório, que alternava canções, sambas e valsas que se tornaram clássicos da nossa música. Boa parte está na caixa “O cantor das multidões”, lançada em 1995, com 66 das 152 gravações de Orlando no período ( http://300discos.wordpress.com/2009/03/04/027-orlando-silva-o-cantor-das-multidoes-1995/ ). Incluo mais uma de suas gravações, do início de 1942, o samba “Aos pés da Cruz” (Marino Pinto / Zé da Zilda), que mostra que, na ocasião, sua voz ainda estava perfeita.

Ele ensaiou diversas "voltas", prosseguindo na carreira com alguns sucessos, mas já não era mais o mesmo cantor que influenciou várias gerações de cantores. Para comparação, anexo as mesmas músicas anteriores, com “a outra voz de Orlando Silva”, em gravações da década de 1950. Aquela maciez da voz e suavidade de interpretação se perderam para sempre, ficando um bom cantor, mas com uma voz cansada e sem cor. 

Fonte: Brasilianas.org





O cantor pediu ao amigo que o mandasse chamar quando tudo estivesse pronto. Estaria numa saleta reservada, concentrando-se nas músicas a interpretar. Ali sozinho, depositou, ao lado no sofá, as folhas de papel que continham as letras que iria cantar, tirou do bolso um estojo metálico; retirou dele uma seringa de injeção de vidro e anéis inoxidáveis, carregou-a com o líquido extraído do vidrinho. retirou o paletó, arregaçou uma das mangas da camisa de palha de seda, circulou o braço com um fio de elástico e espetou a agulha na veia. O líquido escorreu vagarosamente da seringa até esgotar-se. Com cuidado, os apetrechos foram recolhidos, a manga da camisa reajustada e o paletó lançado no braço. O cantor pousou a cabeça no encosto do divã, suspirou com um ar de enfado, cerrou os olhos e procurou repousar.

“Quero dizer-te adeus
de forma singular
cantando a nossa valsa
sem chorar…”

Fonte: Sávio Soares

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