segunda-feira, 2 de junho de 2014

Curiosidade a respeito da Cocaína



A cocaína no século 19

 Escrito por John E. Burns, PhD

Foi somente em 1860 que Albert Nieman, um estudante de graduação em farmacologia em Gottingen, isolou a base alcalóide que viria a ser conhecida como cocaína.[x]  Seu uso foi imediatamente controlado na Europa mas não nos Estados Unidos, onde cresceu a proporções epidêmicas no final do século 19.[xi]

Em 1884, a companhia farmacêutica Merck produziu 3.179 libras de cocaína (aproximadamente 1.442 kg).  Em 1886, a Merck produziu 158.352 libras de cocaína (aproximadamente 71.733 kg).[xii]

Arthur K. Donoghue cita três razões pelas quais a cocaína era interessante para a profissão médica naquele tempo:

Albert Nieman isolou o alcalóide concentrado de cocaína em 1860;

A agulha hipodérmica foi inventada em 1853; e

Médicos buscavam desesperadamente soluções para problemas clínicos já que eles não podiam fazer muito além de aliviar a dor com morfina e isto estava sendo reconhecido como causa de severas conseqüências.[xiii]

Freud pode ter estado sozinho na Europa ao defender as virtudes da cocaína, mas ele tinha muitos colegas com a mesma convicção nos Estados Unidos.[xiv]

Influência das experiências norte-americanas.

Freud citou freqüentemente fontes norte-americanas, como em seu artigo “Contribuições ao conhecimento e o efeito da cocaína”: “A Detroit Therapeutic Gazette publicou, em anos recentes, uma série completa de reportagens sobre abstinência de morfina e ópio que foram superadas com a ajuda da cocaína...”[xv] Havia mais de dezesseis artigos relacionados ao tema.[xvi]

Um efeito colateral do episódio da cocaína na vida de Freud talvez tenha sido a sua subseqüente amargura com a América do Norte.  Ele confiava bastante no apoio das autoridades norte-americanas quanto à sua afirmação de que a droga era inofensiva.  A experiência e o tempo mostraram-lhe seu equívoco.  O seu primeiro encontro com a América do Norte havia sido uma decepção.  Embora os EUA tenham sido o país mais receptivo à psicanálise a partir das palestras de Jung e Freud na Clark University este, mesmo no fim de sua vida, poucas vezes deixou de encontrar falhas e emitir julgamentos, argumentando a favor de posicionar a análise contra a psiquiatria americana e a medicina.[xvii]

Uso pessoal.

Por muitos anos, Freud sofreu de depressões periódicas e de fadiga ou apatia, sintomas neuróticos que, mais tarde, tomaram a forma de ataques de ansiedade antes que fossem dissipados por sua própria análise.[xviii]

Em minha última depressão severa, eu usei coca novamente e uma pequena dose elevou-me às alturas de uma forma maravilhosa.  Agora mesmo, estou envolvido em pesquisar a literatura para uma canção de louvor a esta substância mágica.[xix]

Um pouco de cocaína, para soltar a minha língua [para visitar Charcot].  Fomos para lá numa carruagem... R. estava terrivelmente nervoso, eu estava bem calmo com a ajuda de uma pequena dose de cocaína...  Essas foram as minhas conquistas (ou melhor, as conquistas da cocaína), que me deixaram muito satisfeito.[xx]

Os primeiros anos de Freud como jovem médico no Hospital Geral de Viena foram tempos muito difíceis para ele.  Ele buscava reconhecimento, não tinha dinheiro e estava separado de sua noiva:

Nessa situação, cansaço, humor deprimido, ansiedade, preocupações e indigestão repetiam-se, diminuindo sua felicidade e sua eficiência no trabalho.  Alguns desses estados podem ter-lhe parecido, de alguma forma, conectados à sua situação frustrante e inquietante... mas todos eles enfraqueceram seu poder de concentração e auto-controle... A cocaína, para ele, era um remédio quase perfeito contra seus acessos neurastênicos.[xxi]

Naquela época, eu estava fazendo uso freqüente da cocaína, para reduzir desagradável congestão nasal  e eu havia ouvido, alguns dias antes, que uma de minhas pacientes, que tinha seguido meu exemplo, desenvolveu uma extensa necrose da mucosa nasal.  Eu fui o primeiro a recomendar o uso da cocaína, [entretanto] essa orientação fez com que eu me censurasse severamente.  O mal uso dessa droga apressou a morte de um caro amigo meu.[xxii]

Sabemos, através da “Interpretação dos sonhos”, que Freud ainda estava usando a droga em 1895[xxiii], um uso de onze anos entre as idades de 28 e 39 anos, entretanto não há nenhuma indicação de que ele era dependente ou que a usava compulsivamente.  Como faz notar um autor:

O desejo de erguer-se acima e além foi canalizado, por Freud, para a ciência.  Reconhecimento profissional imediato era o tipo de libertação que ele buscava.  Ele não esperava o Nirvana diretamente através do seu próprio uso de cocaína e é por isso que ele não corria o risco da dependência. 

E novamente:

O fator arquetípico que influencia a compulsão pela droga (“craving”), que concede tamanha intensidade ao desejo e convicção à crença, nunca venceu Freud completamente.  A ciência significava muito mais para ele.  A razão e um respeito pelos fatos faziam-no ficar sóbrio.[xxiv]

Aplicações terapêuticas

“Freud ainda considerava o campo da cocaína, por assim dizer, sua propriedade particular”[xxv] e estava fazendo experiências com ela em diversas aplicações terapêuticas:

Eu, agora, encomendei um bocado dela e, por razões óbvias, vou experimentá-la em casos de doenças do coração e, depois, em exaustão nervosa, particularmente na condição horrível que se segue à abstinência de morfina...[xxvi]

Ele esperava curar diabetes com cocaína[xxvii] e experimentou cocaína em muitos amigos, colegas e pacientes.[xxviii]

Freud insistia que a dependência ou o abuso da cocaína nunca fora reconhecido como um fenômeno em si, mas, em vez disso, que ocorria entre pessoas que haviam sido, anteriormente, dependentes da morfina[xxix] e que se fosse usada por um longo período, mas moderadamente, não seria prejudicial ao corpo.[xxx] Freud concluiu que a cocaína não tinha ação direta no sistema neuromuscular, podendo, porém, atuar sobre ele, em certas circunstâncias, quando melhorava o bem-estar geral.[xxxi]


"Em 1863, a substância foi adicionada ao vinho por um francês, Angelo Mariani. O seu “Vinho Mariani” continha 6 g de cocaína alcalóide por onça e era mundialmente popular para uma variedade de enfermidades, especialmente na abstinência de opióides. Entre os usuários famosos desse preparado estão Thomas Edison, Robert Louis Stevenson, Júlio Verne e o Papa Leão XIII. "



Nota do blog: O texto foi publicado parcialmente. Não citamos as fontes que se encontram na íntegra, no link abaixo e que nos serviu de fonte:

Nenhum comentário :

Postar um comentário

soporhoje10@gmail.com

LinkWithin

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...