domingo, 1 de dezembro de 2013

O passado é uma lição!

Não sei quantas e  quantas vezes percorri o "mundão". Jogava-me nas favelas e nela ficava. Muitas vezes com vergonha de voltar pra casa, o que seria correto, mesmo depois do erro cometido. Noutras ocasiões, nelas permanecia porque uma dose não basta e mil ainda é pouco. É um processo louco a compulsão e o descontrole.
De barraco em barraco ia percorrendo favelas, andando pelas quebradas. Muitas vezes acompanhado, noutras acompanhado por Deus. Sinceramente, é preciso ter coragem e, apesar de ter noção de muitas coisas, ficava atordoado e atento. Tinha medo, sim. De um lado é a polícia, do outro gente que não conhecemos e que acabamos nos deixando envolver.

A favela parece ser um mundo à parte. Tem gente fina, educada, honesta, trabalhadora, que não usa e nem quer drogas na família. Tem os religiosos. Estudantes... também tem os caras do "movimento", o tráfico e muita gente vende e centenas e centenas de pessoas compram as mercadorias.

Creio que dentro da favela estava noutra cultura e o que me ensinavam era não ser educado, ser uma espécie de bad boy. Nada de  "dá licença", "por favor", "muito obrigado"... Essas coisas são coisas de veado, para a galera dá pesada. Nada de lero lero, explicações porque não pagou. O que vale é o dinheiro. 

Usuários tem de todos os tipos e caracteres. Preponderam os maus caracteres, infelizmente. Eles(as) se aproximam, mostram-se prestativos, convidam-nos para seu, ou outros barracos, aonde seremos lesados depois de certo tempo.

Os caras ligados ao movimento são rígidos e não gostam de sujeira na área, nem dessa gente que gosta de intimidar, para extorquir. Isso dá bronca para quem pratica sujeira. O movimento quer clientela. Passarinho não caga no ninho. Ladrão pode ser derrubado, ou ter que sumir da área. Os malandros permanecem...

Então se jogar no mundão é correr riscos, principalmente quando não se tem respaldo. É um mundo perigoso e quem manda na favela é quem tem o poder e esse poder se acha em mãos de quem lida com drogas. Os conselheiros de família precisam cair na real. Aquele papo de que adicto é manipulador é verdadeiro, mas nem sempre um adicto é um mentiroso. O mundão mudou e muita gente ficou naquela "velha opinião formada sobretudo". Acordem para a realidade. Muitos conselheiros estão jogando seres humanos nas ruas das cidades, porque estão desatualizados e com a mente fechada. 

O uso continuado, dentro da favela, prende o sujeito. A droga é prioritária. Supera as necessidades primárias, como a de se alimentar. O cara não come, ingere pouco líquido, fica desidratado, cansado, com exaustão mental e, neste estado fica a mercê de tudo. Fica completamente desorientado, perdido. Cobram dividas inexistentes. Promovem armações. O  usuário passa a ser uma vítima perfeita, ou uma "ótima presa" para os malandros(as) tirarem vantagens. 

Quando acaba o real, tudo mais acaba. Mas o usuário quer mais e já é considerado um estorvo. Tomaram o dinheiro dele. Limparam a pessoa, que na verdade passa a funcionar como um robô, ou um sujeito em estado quase que hipnótico, em transe, completamente dominado. Mas uma dose é pouca e mil não basta. O cara quer continuar e as portas dos barracos, com raras exceções, se fecham, quando não se tem dinheiro prá gastar com drogas. Existem viciados, donos de barracos, que tratam o usuário condignamente, protegendo-o, mas é claro que tiram, também, proveito. São exceção!  

Então, "certo" procedem os que entram e logo saem, para seus próprios cantos e recantos de uso. Digo certo porque assim procedendo os riscos diminuem. Ninguém fica sujeito a se tornar "presa" de astutos dependentes, aproveitadores da péssima condição que um dependente químico apresenta, vez que se tornam verdadeiros molambos, desorientados. Muitas vezes sob efeito de outras drogas consumida, sem que o mesmo saiba o que lhe foi servido em um copo de suco, cerveja, água, refrigerante, copo de leite e etc. O dependente, enquanto na ativa, deve ser aconselhado a se tratar e enquanto isso não ocorre, que regresse a algum porto seguro, em seu meio social.

Lembre-se: muita coisa mudou, senhores conselheiros, falta vocês mudarem os velhos e arcaicos conselhos, reacionários e conservadores, do tipo: FODA-SE!

Ficar na rua e nas quebradas é que não dá. Usar está errado, mas a realidade existe e tem que ser encarada e o adicto protegido das feras da cidade de Deus. Sabe lá o que é ficar no centro de um tiroteio, de uma verdadeira guerra, com balas para todos os cantos? Os barracos são vulneráveis e as balas penetram pelos tijolos.  

Um comentário :

soporhoje10@gmail.com

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