sexta-feira, 27 de dezembro de 2013

Casagrande e Seus Demônios

Levei uma noite inteira preso à leitura do livro "CASAGRANDE E SEUS DEMÔNIOS", escrito pelo próprio Casagrande e por Gilvan Ribeiro. O livro foi muito bem estruturado e, evidentemente, não contempla tudo o que Casagrande passou e viveu durante seu longo estágio no mundo da drogadição.

Ele, Casagrande, no curso da leitura, menciona o que denomino de "Bad Trip", como "surto psicótico".

É muito interessante conhecer um pouco do que ele vivenciou, em termos de "má viagem", no meu entendimento.

Pincei um trecho para enfatizar os efeitos que a droga é capaz de produzir na cabeça de um ser humano e, dessa forma, ajudando os não usuários em querer passar por experiência semelhante.

Usar é perder, todo adicto, que conhece o NA, sabe disso. Agora reproduzo o trecho, sui generis`, que me causou impacto:

“Eu tinha visões horríveis, tudo parecia muito real. Estava assustado pra caralho, via demônios pelo apartamento inteiro. Eram maiores do que eu, com dois ou três metros de altura. Alguns apareciam no quarto, outros na sala, e até uma imagem de mulher surgiu refletida na geladeira.

Aí comecei a ficar com medo de ir à cozinha, já não comia, nem me sentava no sofá, porque eu os via em todos os lugares, todos os dias, constantemente. Não falavam ou me ameaçavam, mas a simples presença deles era aterrorizante. Isso durou um mês, sei lá, um mês e meio”, conta o ídolo.

O pavor de se deparar com aqueles seres dos infernos o levava a desviar o olhar e a evitar qualquer tipo de contato. Por isso não chegou a guardar as feições de todas as criaturas. Em sua mente ficou registrada apenas a imagem de um deles: “O formato era de homem, só que muito maior. Os olhos, vermelhos, brilhavam. Tinha as orelhas grandes, o nariz também, a boca com os dentes caninos saindo pra fora”, descreve.

Atualmente, libertado das profundezas, Casagrande procura dar uma explicação racional para a loucura daqueles dias. “Eu entrei em surto psicótico pelo uso exagerado de drogas e privação de sono. Também foi uma coisa induzida pelas pesquisas que eu estava fazendo, na época, sobre demônios”, justifica.

(...)

Mas não eram somente os demônios que infernizavam a vida de nosso herói. Lembram-se daquela mulher que apareceu na porta da geladeira? Pois é, ele começou a cismar que fosse uma espécie de alma penada. Uma jovem morta naquele apartamento, antes de sua mudança para lá, que agora buscava algum tipo de redenção. “Vi uma imagem muito nítida dessa mulher e fiquei gelado dos pés à cabeça. Era uma garota, de 20, 22 anos, por aí, e eu não sabia se era real ou alucinação. A impressão foi de que ela estava atrás de mim, às minhas costas, com o reflexo na geladeira.”

Enquanto vivia esse pesadelo interminável, não parava de se drogar. A porção de heroína já havia acabado fazia algum tempo. Mas ele aplicava cocaína nas veias, cheirava pó, bebia tequila, tomava remédio para dormir, tudo junto. Com esse nível de alteração de consciência, a paranoia atingiu níveis cada vez mais alarmantes. Assim, convenceu-se de que o corpo daquela mulher encontrava-se escondido em algum lugar dentro do apartamento. E entregava-se à procura insana pelo suposto cadáver. Sempre com a companhia indesejável dos demônios. Em alguns momentos, pensou em pedir socorro. Mas não sabia a quem recorrer naquela situação tão vulnerável. Evidentemente, deixara de trabalhar como comentarista de futebol da TV Globo durante esse período. Não reunia a menor condição de sair de casa, quanto mais de botar a cara no ar em rede nacional. Fugia dos amigos, porque tinha certeza de que não seria compreendido. O mundo externo lhe parecia ameaçador, embora, ali, estivesse mergulhado nas profundezas do inferno. Se bobeasse, poderia ser internado como doido varrido. Fechado naquele universo sombrio, estava às raias da loucura mesmo."

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