Enviado por luisnassif, sab, 09/03/2013 - 15:41
Por Demarchi
Da Istoé
Amor, drogas e solidão
Como as drogas afastaram o vocalista da banda Charlie Brown Jr. da mulher, o levaram à depressão e precipitaram sua morte
Natália Mestre, Rodrigo Cardoso e Suzana Borin
Ele transitou pelo sucesso e o fundo do poço com a fúria própria de quem é intenso em tudo o que faz. Em uma mistura de desordem e criatividade, moldadas a partir da separação dos pais e da mudança, na adolescência, de São Paulo para Santos, Alexandre Magno Abrão se transformou em Chorão, o vocalista da banda Charlie Brown Jr. Expoente do rock nacional, embalou sonhos e inquietações da juventude com sua música nos últimos 20 anos. Chorão, porém, sucumbiu à própria dor. Na madrugada da quarta-feira 6, foi encontrado morto em seu apartamento na zona oeste paulistana. Tinha 42 anos. Estava de bruços no chão da cozinha, com as mãos ensanguentadas, em meio a latas de refrigerante e energético, garrafas de bebidas alcoólicas, ansiolíticos e móveis quebrados. Havia, ainda, um pó branco que a polícia suspeita se tratar de cocaína. “Tentei de tudo para salvar o Chorão”, afirmou, em entrevista exclusiva à ISTOÉ, a estilista Graziela Gonçalves, 41 anos, ex-mulher do roqueiro.
Chorão tinha mergulhado em um processo depressivo após ter se separado de Graziela, com quem estava casado havia 15 anos. Essa é a tese defendida por amigos e familiares do cantor. Esse revés afetivo, isoladamente, porém, não precipitou a morte do roqueiro. À ISTOÉ, Graziela revelou que o cantor vinha usando drogas há quatro anos – e há um ano e meio, compulsivamente. Mais: ela, Thais Lima, a primeira mulher do músico, o filho de Thais com Chorão, Alexandre, 23 anos, e a empresária da banda procuraram um advogado para providenciar uma internação involuntária do artista. Queriam levá-lo à revelia para uma clínica de recuperação para dependentes químicos, pois o processo autodestrutivo do cantor vinha se acelerando. “Mas não deixaram que ele fosse internado”, diz a estilista (leia entrevista completa à pág. 52). Depois dessa tentativa frustrada, Graziela resolveu se afastar do marido.
A separação se deu em janeiro, mas os dois não deixaram de se falar pelo telefone. Ela apostava que, com o distanciamento, o cantor optaria por se livrar do vício para reconquistar o grande amor da vida dele. A situação, porém, só piorou. “O Chorão sempre teve dificuldade para lidar com momentos de pressão”, conta um parente do músico. E assim aconteceu. Enquanto a mulher ficou em Santos, Chorão passou a perambular por flats na capital paulista. Nas últimas semanas, esteve em quatro, segundo o delegado Itagiba Vieira Franco, do Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP), que investiga as circunstâncias da morte. A hipótese inicial é a ingestão combinada de drogas, bebidas e remédios. Quando a tristeza e a solidão batiam, o lado bad boy do roqueiro se manifestava e ele quebrava tudo o que via pela frente. No último dos hotéis, permaneceu até segunda-feira 4. Após um desentendimento com funcionários, o músico resolveu seguir para o seu apartamento. “Ele acreditava que os empregados do hotel estavam colocando câmeras no quarto para filmá-lo”, conta o motorista do cantor, Kleber Atalla, primeira pessoa a encontrá-lo morto. “Ele tomava remédios para dormir e esses comprimidos o faziam acreditar que estava sendo perseguido.”
A família de Chorão responsabiliza Graziela pelo fim trágico do cantor. Ricardo Abrão, irmão dele, bateu boca com a cunhada no Instituto Médico Legal, em São Paulo, enquanto aguardavam a liberação do corpo. Em Santos, durante o velório ao qual compareceram cinco mil pessoas, houve um novo desentendimento entre os dois, que só não partiram para as vias de fato porque foram separados. “O Ricardo acha que ela o abandonou no momento em que ele mais precisava”, conta um amigo da família. Tania Wilma Abrão, irmã do músico, também acusou, aos gritos, Graziela de ser culpada pela morte de seu irmão. Graziela era tida como o porto seguro de Chorão. Ela o conheceu em uma fase em que o vocalista do Charlie Brown Jr. ainda sofria pelo fim de seu relacionamento com Thais, a mãe de Alexandre, seu único filho. “O Chorão foi criado nas ruas de Santos, foi levado para a delegacia algumas vezes por causa de maconha e brigas. Depois que a Graziela apareceu em sua vida, ele emagreceu, parou com tudo”, lembra um de seus amigos de infância.
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