Tenho sonhos incríveis. Parecem tão reais e são bonitos em todos os aspectos. Houve uma época, não muito distante, em que os sonhos se transformaram em um martírio. Não sou chegado a ter pesadelos, mas eles me ocorreram. Possivelmente, os momentos de dificuldade motivaram a aparição dos mesmos. É chato, tanto quanto, em noites de insônia, ficar relembrando coisas desagradáveis. É desconfortável. Mas, lendo o blog de uma inteligente amiga, parece que ela sabe bater papos, muito legais, com Deus, conforme ela o concebe.O Deus da minha concepção é Nosso Senhor Jesus Cristo devido minha formação católica, da qual não abro mão. Respeito todas as religiões, é bom ressalvar. Mas os pesadelos me fizeram lembrar composições de Chico Buarque, como "Não Sonho Mais", da qual destaco o seguinte verso:
"Quanto mais tu corria
Mais tu ficava, mais atolava,
Mais te sujava. Amor, tu fedia,
Empesteava o ar."
A outra composição foi "Pelas Tabelas", cujo verso guarda identidade com outro pesadelo, em que minha cabeça rolava, como uma bola de futebol:
"Quando vi um bocado de gente descendo as favelas
Eu achei que era o povo que vinha pedir
A cabeça de um homem que olhava as favelas
Minha cabeça rolando no Maracanã"
Bem, nesse quadro louco, que não consta no livro ´A Interpretação dos Sonhos´, lembrei de Deus e de que, desde muito cedo, converso com Jesus. Na infância, em minha santa inocência, era muito comum pensar nele e em sua bela história de vida. Um homem exemplar, enquanto esteve entre os vivos. Sei que ele está entre nós, que junto ao Pai e o Espírito Santo, constituem uma única pessoa. Não quero entender mas que isso.
Ontem me ocorreu a ideia de bater uma papo com Deus, de modo diferente. Nada igual ao jeito e maneira que Cicie descreveu. Pensei em minha vida e me veio à mente uma poesia sacra de Gregório de Matos, que publiquei em um blog dedicado a quem gosta de literatura. Nessa poesia sacra, dedicada a Nosso Senhor Jesus Cristo, Gregório de Matos, com muita elegância, traduz algo que já me ocorreu pensar. Reproduzo, pois, a poesia, para quem quiser conhece-la e interpreta-la. Ela diz, pela via obliqua, através do poeta morto, o que gostaria de transmitir a Jesus Cristo, Nosso Senhor:
Pequei, Senhor, mas não porque hei pecado,
Da vossa alta clemência me despido;
Porque, quanto mais tenho delinquido,
Vós tenho a perdoar mais empenhado.
Se basta a vos irar tanto pecado,
A abrandar-vos sobeja um só gemido:
Que a mesma culpa, que vos há ofendido,
Vos tem para o perdão lisonjeado.
Se uma ovelha perdida e já cobrada
Glória tal e prazer tão repentino
Vos deu, como afirmais na Sacra História,
Eu sou, Senhor, a ovelha desgarrada,
Cobrai-a; e não queirais, Pastor Divino,
Perder na vossa ovelha a vossa glória.
É de uma beleza rara, impressionante, feita por uma inteligência iluminada. Destaco dois versos da poesia, muito sugestivos, que ajudam a me enxergar como sendo uma manifestação da obra de Deus.
São estes:
..."quanto mais tenho delinquido,
Vós tenho a perdoar mais empenhado."
O outro é :
"Eu sou, Senhor, a ovelha desgarrada,
Cobrai-a; e não queirais, Pastor Divino,
Perder na vossa ovelha a vossa glória."
Não há heresia alguma se olharmos a história de vida de Jesus Cristo, que, por antecipação, sabia qual seria seu final. Um quadro de predestinados pela obra divina.
Não é necessário uma interpretação minha, esta poesia traduz meus sentimentos e gostaria de deixar de ser esta ovelha desgarrada do rebanho, por Deus Nosso Senhor !Este aventureiro errante já não pode mais sofrer nas garras da drogadição e aguarda pelo seu divinal parecer, augusto e favorável.
Sinceramente eu não compreendo a razão pela qual ingressei em um mundo que repudiava, em minha santa ignorância, que mereço perdão. É um mundo com o qual não me identifico e, no entanto, vira e mexe, regresso e volto para usar.
Hoje entendo muitas outras coisas que me ocorreram quando perdia dinheiro, era furtado, minhas drogas eram carpeadas...
Ali, por mais absurdo que possa parecer, Deus estava presente a me proteger e a me punir, sem me deixar no desamparo. Quando estas "maldades" me aconteciam, sofria resignadamente. Não era para sofrer, mas para agradecer. Ele, Deus, em sua Santíssima Trindade, estava me livrando do uso das drogas e isso reduzia muito o meu consumo. Mesmo com essas perdas financeiras, devo agradecer a Deus pela sua intercessão.
Estou vivo. Se tivesse consumido o volume de drogas que o dinheiro, perdido, permitia, provavelmente não mais estaria aqui para contar qualquer acontecimento que me tenha ocorrido.
Já tive muito mal pelo uso abusivo de álcool, droga nefasta. Foi a primeira das drogas que utilizei, depois veio o tabaco, a maconha e, nos anos setenta, barbitúricos e psicotrópicos. Carnaval cheirava loló e lança-perfume, da melhor qualidade, e o pior é que sabia usar. Usei LSD e muitas drogas sintéticas. Acho que só não usei êxtase. Imaginava-me acelerado de tal forma que mas parecia uma um grão de milho quando pipoca. Um mal exemplo, que ninguém deve seguir, porque é um atraso de vida e não conduz a lugar algo, salvo ao mundo dos pesadelos.
Cheirava cocaína quando um amigo de infância aparecia e fazia uma "presença". Por temer joga-la nos canos, nunca a utilizei por via endovenosa. Mas tinha muitos amigos que faziam tal uso. Utilizei outros tipos de drogas, muito mais brandas, sob a forma de pico. Felizmente, com o advento do HIV, estava fora de tudo, bem careta. Todo certinho!.
No ano de 1977 me aconteceu um fato bastante desagradável e até mesmo chato de contar, posto que ainda me causa incomodo. Esta ocorrência me fez despertar para a vida e acabei deixando a drogadição de uma vez por todas.
Entrei na onda da geração saúde, casei, me tornei pai e assumi minhas responsabilidades. Ah, vale dizer que a minha droga preferencial era a marijuana. Que enjoei...
É raro enjoar, mas enjoei e me libertei. Também deixei de fumar por 30 anos e, por um desses desastres que ocorrem na vida de qualquer um, voltei a usar drogas, desta feita passei a usar cocaína, misturando-a com bebidas alcoólicas.
Em toda minha vida de drogadição o álcool esteve presente, tanto quanto o tabaco. Pois bem, passados trinta anos, fui direto para a cocaína. Usei muitas daquelas consideradas puras, "escama de peixe" e a "nine-nine", da embromação. Mas ai o mercado deu para transformar a cocaína em porcaína, com tanta mistura. Chegou um dado momento que usar essas porcaínas começou a me fazer muito mal. Era um usuário que cheirava muito mesmo. Tive dois episódios de overdose, que eu mesmo tratei. Depois me ocorreu mudar de endereço e fui morar em outro bairro. Sabe, pelo tempo de uso e pelo alto consumo, era de se esperar que a falta da droga me causasse abstinência, mas isso não aconteceu. Passei um bom tempo sem sentir a menor falta.
Voltei a ser careta, até que um dia, numa crise conjugal, a esposa me deixou (nada por conta de drogas) e partiu para a casa da mãe. Dei para beber e, na rotina dos bares, encontrei um velho conhecido que me falou do crack. Como estava levemente embriagado, resolvi experimentar, ai´começou outro capitulo dessa minha vida agitada. Desorganizei-me totalmente. Começou outro pesadelo!
O crack é uma droga amaldiçoada e o que foi um mundo dantesco, em que habitavam almas penadas de todas as classes sociais, fazendo uso desta droga, "demonizada"pela mídia, de tal modo que a transformou no fim do mundo, em franca campanha de terror, levando a população a ver fantasma e a crer em mitos.
Infelizmente eu entrei no uso. Contudo, sem melodramas, sempre tive fé em Deus e muita fé em mim e na minha capacidade de superação. Mas a vida da gente muda, a família entra em parafuso e pira; a razão some e a loucura ocupa o espaço vazio. E a coisa fica parecida como nessas casas em que, ao faltar comida, todo mundo briga e ninguém tem razão.
Sem delongas, volto-me a nosso senhor Jesus Cristo pedindo, como se numa conversa estivéssemos, que recupere esta ovelha negra, que hoje represento, e a resgate de volta ao seu rebanho. Estou vivo e o fato de estar vivo constitui um milagre, pelo qual agradeço ao Senhor.
Não sou pessimista e sei que tenho capacidade de vencer, mas é preciso que a família entenda que careço vibrações positivas e não dessa carga de negativismo com que me fuzilam e outras coisas mais, como papos desaforados e a falta de dialogo e entendimento. Que sejam otimistas e acreditem na minha recuperação e é isso que peço a Deus, que me ajude a vencer, vez que estou disposto a superar este capitulo infeliz da minha vida, e que a minha família permita me reencontrar com a ajuda deles e o divinal querer.
Reconheço, Nosso Senhor que tenho delinquido e aceite a poesia de Gregório como um pedido meu, ainda que recaia sobre o Senhor, este meu desvio de conduta. Como ovelha, fora do rebanho, peço-lhe que não perca, nesta sua ovelha, a vossa glória.
Obrigado senhor!