sábado, 30 de novembro de 2013

Entre a nora e a sogra existe uma ponte!

Vontade de mudar, durante o processo da adicção ativa, já existia dentro de mim, mas procrastinava. Era necessário alguém, de cabeça fria, para restabelecer a ponte com a família. Minha filha, neste aspecto, foi muito importante e competente. Foi me ver, para conversarmos. Ela é linda e eu olhava ela nos olhos e via aqueles olhinhos tão bonitinhos, tão tristonhos...Eu disfarçava porque saber que ela me olhava com tristeza,piedade e compaixão, é algo desconfortável.

Ela conversava comigo, numa boa. Soube que ela disse a alguém, que nem me lembro mais, que ela sabia me enrolar direitinho. Se sabe, ou não, não me importa. O que interessa é o fato dela saber me cativar, me ganhar, e eu prometi a ela que iria me internar, voluntariamente, para desintoxicação e abstinência. Só precisava resolver uns problemas...

Recair faz parte da doença, a recuperação é uma responsabilidade minha, é uma obra minha, mas precisava de um empurrão, competente. Eu queria, mas protelava. Era questão de um, ou dois dias a mais e eu estaria pronto para me entregar por vontade própria. 

Queria ir para um lugar em que, realmente, existe tratamento. Nada de clínicas Involuntárias, nada que se assemelhe a um carcere. Quando falo em tratamento eu creio muito é na ciência e sem a presença de um médico especialista e de toda uma equipe multidisciplinar, sem isso a recuperação fica complicada. O médico, depois de uma avaliação do quadro, poderia prescrever uma medicação capaz de conter a abstinência. A desintoxicação é menos complicada. Sóbrio o cara começa a enxergar os erros, os enganos, as insanidades, a burrice e vai caindo na real.

Comigo era complicado porque vivia em regime de separação de corpos e havia entre a mulher e minha mãe uma idiossincrasia absurda. Ninguém era favorável ao uso de drogas. Ninguém quer, mas é preciso entender. Não falo em facilitar, mas em negociar. Porque o cara quando cai no mundão, ele se joga mesmo. Se lhe fecham as portas e se não derem a ele o básico, ele pode dar inicio àquela loucura de se endividar, de empenhar coisas, de vender, de furtar, mendigar e assim por diante. Por isso é preciso haver uma intermediação, uma ponte, inteligente e competente, para ir preparando e persuadindo o adicto, na ativa, a se tratar, enquanto se cuida de encontrar o local mais qualificado para onde ele possa ir, sem ser enganado(a), ou sequestrado. Não há nenhum bicho de 7 cabeças. É preciso diálogo! 

Minha filha era a moderadora e eu tinha que cumprir o prometido a ela. O erro foi a mãe mandar - vou amenizar - me "resgatar" e colocar em um local inadequado, de modo involuntário, antes do tempo requerido. A filhinha sai de cena...Me pegaram na marra e me levaram. Fiquei assustado pois os caras nada falavam e tinham aspecto sinistro.

O adicto quando está decidido a parar, ele pára. Interrompe mesmo o processo da própria loucura. O problema é que, muitas vezes, nesse cabo de guerra, entre nora e sogra, quem sobra é o adicto, que, em dado momento, necessita de um moderador, de alguém que possa fazer a ponte e fazer ele abrir os olhos e retornar à realidade, numa boa. 

É quando mais erramos que mais precisamos de amor. Nessas horas é imperativo pensar. Sempre existe alguém que possa fazer uma "ponte"e restabelecer a conexão entre as famílias em descompasso. O importante é não desistir e, sem "queda de braço". 


NARCÓTICOS ANÔNIMOS, MEDITAÇÃO DIÁRIA - NASP


sábado, 30 de novembro de 2013

"Partilhando com outros, não nos sentimos isolados e sozinhos."

Intimidade é partilhar nossos mais profundos pensamentos e sentimentos com outro ser humano. Muitos de nós ansiamos pelo calor e a companhia que a intimidade traz, mas estas coisas não vêm sem esforço. Em nossa adicção, aprendemos a nos afastar dos outros para que não ameaçassem nosso uso. Em recuperação, aprendemos como confiar nos outros. Intimidade requer baixar nossas defesas. Para sentir a proximidade que a intimidade traz, devemos permitir que os outros cheguem perto de nós – de nosso verdadeiro eu.

Se vamos partilhar nosso mais profundo interior com os outros, devemos primeiro ter uma idéia de como é realmente nosso mais profundo interior. Regularmente examinamos nossa vida para descobrir que realmente somos, o que realmente queremos e como realmente nos sentimos. Então, com base em nossos próprios e regulares inventários, devemos ser tão completa e coerentemente honestos com nossos amigos quanto pudermos.

Intimidade é uma palavra da vida e, portanto, uma parte da vida limpa. Como tudo em recuperação, tem seu preço. O rigoroso auto-exame que a intimidade exige pode ser um trabalho duro. A honestidade total da intimidade freqüentemente traz suas próprias complicações. Mas o fato de libertar-nos do isolamento e da solidão compensa este esforço.

Só por hoje eu procuro libertar-me do isolamento e da solidão através da intimidade. Hoje, vou conhecer “meu verdadeiro eu”, fazendo o inventário pessoal, e vou praticar a honestidade completa com outra pessoa.

Reflexões Diárias, Alcoólicos Anônimos

sábado, 30 de Novembro de 2013

PROTEÇÃO PARA TODOS

Em nível pessoal, o anonimato possibilita à proteção de todos os membros identificados como alcoólicos, uma segurança muitas vezes de especial importância para os recém-chegados. Em nível de imprensa, rádio, TV e filmes, o anonimato acentua igualdade de todos os membros na Irmandade, freiando aqueles que, eventualmente, poderiam explorar sua filiação em A.A. para alcançar reconhecimento, poder ou benefício pessoal.

ENTENDENDO O ANONIMATO, p. 5
 
Atração é a força principal na Irmandade de A.A.. O milagre de sobriedade contínua de alcoólicos dentro de A.A. confirma este fato todos os dias. Seria perigoso se a Irmandade promovesse a si mesma, publicando através da mídia de rádio e TV a sobriedade de conhecidas personalidades públicas que se tornaram membros de A.A.. Se acontecesse dessas personalidades recaírem, estranhos iriam pensar que o nosso movimento não é forte e poderiam questionar a veracidade do milagre do século. Alcoólicos Anônimos não é anônimo, mas seus membros devem ser.
REFEXÕES DIÁRIAS, p. 343

sexta-feira, 29 de novembro de 2013

Meu silêncio

Tanta coisa pra contar, prefiro silenciar. Espero voltar a escrever quando chegar àquele estágio em que os mares, das baías e enseadas, ficam serenos.

Quem já morou defronte do mar, ou veraneou em algum lugar à beira-mar já deve ter reparado como as águas mostram-se tranquilas, ao amanhecer. 

Espero chegar a tal estado de depuração. Ainda é cedo.  Fiquei muito tempo distante, longe, mas voltei. Deixei de ler tanta coisa. Estou bem, mas espero estar completamente em paz comigo mesmo. 

Busco me distrair. Preciso de uma reformulação de vida, interna e externa. É importante mudar de vida, para melhor, é claro! 

Estou refazendo, reconstruindo e reconquistando amizades boas. Já iniciei algumas reparações de ordem material. Tenho rezado e pedido ao meu PS que interceda por todos e por mim, mediante preces e orações. 

O caminho é longo, mas já dei inicio a muitas coisa...  

Sabe, eu já não consigo ler o que escrevo. Preciso de muitos médicos, de diversas especialidades. Tenho em mente um cronograma a seguir. Primeiro as primeiras coisas e cuidar bem de mim é uma prioridade, tanto em essência, quanto na aparência. Irei buscar outros amigos e ex-companheiros no NA.. Tenho metas e planos.

Sinto-me mais centrado, despoluído. Minha serenidade não chegou a 100%. Tenho que aceitar muitas coisas ainda...

Só por hoje!


PSICANÁLISE - QUE BICHO É ESSE? Por Keli Arruda

É muito comum usarmos o termo "neurose" para nos referirmos a alguém que está demasiadamente preocupado com alguma coisa; ou mesmo para definir a ideia fixa de alguém. Mas você sabe, realmente, o que é uma neurose e como ela surge? Será que você não possui alguma "neurose de estimação"? Vou contar uma historinha que pode esclarecer melhor isso.

Um senhor, muito caprichoso em tudo o que fazia, resolveu fazer uma calçada na entrada de sua casa. Comprou todo o material necessário e pôs mãos à obra. Preparou o espaço, "virou" a massa da melhor forma que podia e a espalhou no lugar. Como queria que sua calçada ficasse perfeita, passou horas alisando o concreto, até que ele estivesse muito bem nivelado e não restasse qualquer imperfeição, retirando, inclusive, as sujeirinhas trazidas pelo vento. Quando terminou sentiu orgulho de si mesmo, pois tinha feito um excelente trabalho: "Fiz melhor do que muito profissional" - pensou satisfeito.

Isolou o local com uma corda bem grossa, para que nenhum distraído deixasse de perceber que poderia passar por qualquer lugar, menos por ali; deu por encerrado o trabalho do dia e foi descansar. Nem mesmo seus filhos puderam sair de casa para não estragarem o serviço. No dia seguinte, provavelmente, tudo já estaria seco , ou quase, e o risco de acontecer algum problema com a calçada seria menor.

Entretanto, com o que o caprichoso senhor não contava era que, durante a noite, um cachorrinho iria visitá-lo. E foi o que aconteceu. Como o cachorro era pequeno, passou por baixo da corda e deu boas voltas pela nova calçada, com o cimento ainda fresco. Obviamente as marcas de sua visita ficaram registradas. O homem, coitado, levou um choque ao ver todo o seu trabalho "estragado" e chorou de desgosto porque as patinhas, contra sua vontade, ficaram fazendo parte da calçada de sua casa...

O que esta historieta nos ensina sobre as neuroses? Na verdade, ela é uma parábola. A calçada lisa e bem trabalhada representa o nosso inconsciente; o homem e suas atitudes representam nosso emocional; o passeio do cachorrinho é o conflito e as marcas de suas patinhas são a neurose.

Eu explico: o inconsciente é o lugar da psiquê onde residem os desejos e as pulsões (instintos). Lá também, guardamos todas as impressões, situações vividas, como marcas permanentes (mesmo quando parecem ter sido esquecidas) que nos acompanham por toda a vida. Essas situações podem ser um abuso sexual, a separação dos pais, a perda de um emprego, de um amor, entre outras coisas. O que ocorre, é que muitas dessas situações são inesperadas e surgem em momentos em que não estamos emocionalmente preparados, como foi o caso do passeio do cachorrinho para aquele homem. Neste momento o emocional leva um choque, porque está preparado para uma coisa e recebe outra. Aquilo que ele recebe num desses momentos de despreparo é o seu conflito, que quando não é superado deixará marcas profundas que se transformam em neuroses. Entenda bem. O conflito interior precisa ser superado, não ignorado. Muitas vezes, numa situação de desentendimento, por exemplo, diz-se que não existe mágoa de A ou de B, enquanto o que, realmente acontece é a negação deste sentimento. É justamente aí que a neurose se fortalece, na negação do conflito e de suas consequências, o que traz doenças emocionais e somatizações.

Quer viver bem? Resolva seus conflitos interiores, perceba suas neuroses e não as alimente. Prepare seu emocional para lidar com a vida, porque ela sempre trará uns cachorrinhos para passearem na sua calçada. e quem sabe você consiga transformar as marcas de suas patinhas em diferenciais positivos em sua vida!?

Coragem para mudar...

Só por hoje funciona!

Alcoólicos Anônimos - Reflexões Diárias

Sexta-feira, 29 de Novembro de 2013

GUARDIÕES ATIVOS

Para nós, contudo, trata-se muito mais do que uma política salutar de relações públicas. É mais do que uma negação do egoísmo. Esta Tradição é um lembrete permanente e prático de que a ambição pessoal não tem lugar em A.A.
Nela cada membro se transforma num diligente guardião da nossa Irmandade.
OS DOZE PASSOS E AS DOZE TRADIÇÕES, p. 166


O conceito básico de humildade é expresso na Décima Primeira Tradição. Ela me permite participar completamente do programa numa maneira simples e profunda; ela preenche minha necessidade de ser parte integral de um todo significativo. Humildade me traz mais perto do espírito atual de companheirismo e unicidade, sem o qual eu não poderia permanecer sóbrio.

Lembrando que todo membro é um exemplo de sobriedade, cada um vivendo a décima Primeira Tradição, posso experimentar liberdade porque cada um de nós é anônimo.
Reflexões Diárias, p.342

Narcóticos Anônimos - Meditação Diária

SEXTA-FEIRA, 29 DE NOVEMBRO DE 2013

Os cuidados do nosso Poder Superior

"Acreditamos que o nosso Poder Superior tomará conta de nós." 
Texto Básico, p. 66 

O nosso programa baseia-se na ideia de que a aplicação de princípios simples pode provocar efeitos profundos nas nossas vidas. Um desses princípios simples é o de que, se pedirmos, o nosso Poder Superior cuidará de nós. Por parecer tão básico, tendemos a ignorar esse princípio. Se não aprendermos a aplicar conscientemente esta verdade espiritual, corremos o risco de perder algo tão essencial para a nossa recuperação como o respirar é para a própria vida. O que é que acontece quando nos encontramos sobre pressão ou em pânico? Se procurarmos melhorar a relação com o nosso Poder Superior, não teremos problemas. Sem nos precipitarmos, vamos parar por uns momentos e, calmamente, lembrarmos de alturas no passado quando o nosso Poder Superior demonstrou cuidar de nós. Isso assegura-nos que o nosso Poder Superior ainda está a comandar a nossa vida. Depois procuramos orientação e poder para determinada situação e procedemos com calma, confiantes em que as nossas vidas estão nas mãos de Deus. "O nosso programa é um conjunto de princípios", diz o Pequeno Livro Branco. Quanto mais procurarmos melhorar o nosso conhecimento destes princípios, mais prontos estaremos para os aplicar. 

Só por hoje: Vou procurar aperfeiçoar o contado com o Poder Superior que cuida de mim. Quando surgir a necessidade, sei que poderei confiar no seu cuidado.

quinta-feira, 28 de novembro de 2013

"Ninguém está sozinho, por mais que pense estar"

NARCÓTICOS ANÔNIMOS, Meditação diária,


28 de novembro de 2013

"Somos verdadeiramente humildes quando aceitamos e tentamos, honestamente, ser quem somos."

Humildade é um conceito enigmático. Sabemos bastante sobre humilhação, mas humildade é uma ideia nova. Ela parece ser, suspeitosamente, “submeter-se”, “dobrar-se”, “rastejar”. Mas a humildade não é isto. A humildade é, simplesmente, aceitação de quem somos.

No momento em que chegamos a um passo que usa a palavra “humildemente”, já começamos a colocar este princípio em prática. O Quarto Passo nos dá uma oportunidade de examinar quem realmente somos, e o Quinto nos ajudará a aceitar este conhecimento.

A prática da humildade envolve aceitar nossa própria natureza, sendo honestamente nós mesmos. Não temos que nos humilhar ou nos rebaixar, nem temos que tentar parecer mais inteligente, rico ou feliz do que realmente somos. Humildade simplesmente significa abandonar todas as pretensões e viver tão honestamente quanto pudermos.

Só por hoje: Eu vou permitir que o conhecimento de minha natureza guie minhas ações. Hoje, eu vou encarar o mundo sendo eu mesmo.
Crédito : http://nasp.org.br/

quarta-feira, 27 de novembro de 2013

Procurando Eu!: Você que cruzou meu caminho....

Procurando Eu!: Você que cruzou meu caminho....: Obrigada por cruzar meu caminho... deixar algumas coisas e levar tantas outras..."


Vivo na Roda Viva, na corda bamba, na roda do samba, procurando o que dizer

"Obrigada por cruzar meu caminho... deixar algumas coisas e levar tantas outras..."


O primeiro me chegou como quem vem do florista
Trouxe um bicho de pelúcia, trouxe um broche de ametista
Me contou suas viagens e as vantagens que ele tinha
Me mostrou o seu relógio, me chamava de rainha
Me encontrou tão desarmada que tocou meu coração
Mas não me negava nada, e assustada, eu disse não
O segundo me chegou como quem chega do bar
Trouxe um litro de aguardente tão amarga de tragar
Indagou o meu passado e cheirou minha comida
Vasculhou minha gaveta me chamava de perdida
Me encontrou tão desarmada que arranhou meu coração
Mas não me entregava nada, e assustada, eu disse não
O terceiro me chegou como quem chega do nada
Ele não me trouxe nada também nada perguntou
Mal sei como ele se chama mas entendo o que ele quer
Se deitou na minha cama e me chama de mulher
Foi chegando sorrateiro e antes que eu dissesse não
Se instalou feito um posseiro dentro do meu coração

Meditação Diária, Narcóticos Anônimos


Quarta-feira, 27 de novembro de 2013


Procurando ajuda de Deus

"Há momentos em nossa recuperação em que a decisão de pedir ajuda a Deus é a nossa maior fonte de força e coragem."
Texto Básico, pág. 28

Quando praticamos o Terceiro Passo, decidimos permitir que um Poder Superior amoroso nos oriente e cuide de nós em nossa vida diária. Tomamos a decisão de permitir esta orientação e cuidado dentro de nossas vidas. Alguns de nós acreditam que, uma vez tomada à decisão do Terceiro Passo, Deus nos conduzirá; daí em diante, é só uma questão de prestar atenção para onde somos levados.

A decisão do Terceiro Passo é um ato de fé, e pedir a ajuda de Deus é uma maneira de renovar este ato de fé. Fazer a fé funcionar em nossa vida diária nos dá toda a coragem e a força de que precisamos, porque sabemos que temos a ajuda de um Poder amoroso. Confiamos que nossas necessidades serão atendidas. Podemos conseguir esta fé e confiança apenas pedindo.

Só por Hoje: Eu vou relembrar que não estou sozinho, pedindo a meu Poder Superior ajuda em cada passo do caminho.

terça-feira, 26 de novembro de 2013

O que será,que será ?




Ontem ou ante-ontem resolvi ler um blog dessas meninas inteligentes que prestam à sociedade um enorme favor em trazer à luz do conhecimento humano, coisas que gostaríamos de dizer e explicar escrevendo e acabamos inibidos em assim proceder, até porque foge da nossa alçada falar de coisas que se assemelham, mas que não está dentro da gente. Sei lá, já toquei em tantos sentimentos e fui tão mal compreendido, que resolvi mudar. Quem sou eu para escrever sobre codependência? 

Ai me veio a ideia de transcrever algo que julguei notável porque traduz, para mim, o que projeto no próximo, ou seja, posso ver a minha imagem virtual espelhada. Vejo mais não posso tocar, não posso mudar. A alma é como um maravilhoso mundo feito de espelhos, onde o real e o virtual podem ser vistos, apreciados, mas, apenas o real pode ser tocado. O lado mais fantástico de nós fica detrás do vidro de um espelho, que tudo reflete e não podemos tocar. Imagens virtuais de um coração atado, acorrentado e adoecido, machuca e me sinto machucado por ter machucado tanta diferente gente. 

Ouso, porque viver é ousar e ousar é lutar; lutar o bom combate, porque viver, como diria o poeta, é luta renhida e viver é lutar. Portanto, publicar aqui o que lí no blog da Poly P., Amando um dependente Químico, é um atrevimento e faço isto com imensa timidez, movido por bons propósitos,que me exige ética, mas meu acanhamento em pedir autorização, para transcrição do texto, causa-me inibição, de modo que peço, humildemente, a permissão da Poly P., com antecipadas desculpas, para publicar, parcialmente, o texto que pertence a ela. Vamos ao que interessa. Antecipadamente agradecido:
Eis o texto:
 (...)
"Inicialmente, perguntei quantos dos presentes nunca ouviram falar sobre codependência, antes do curso. Umas 15 pessoas levantaram a mão. Ao perguntar quem sabia, exatamente, o que era a codependência, umas 10 pessoas se pronunciaram. E a grande maioria já havia escutado falar sobre o assunto, mas de forma superficial.

“História da codependência: Na década de 30, a codependência era atribuída às esposas de alcoolistas. Na década de 70, o conceito foi ampliado aos familiares de dependentes químicos. E hoje, inclui os familiares de pessoas que possuem problemas de personalidade, podendo atingir também profissionais e amigos próximos dessas pessoas.”

“Conceito de codependênciaDistúrbio mental juntamente com ansiedade, angústia e compulsividade obsessiva em relação a tudo o que envolve a vida do dependente químico.”

“O dependente químico passa 24 horas pensando na droga, e o codependente passa 24 horas pensando no dependente...”

“Segundo pesquisa do UNIAD em parceria com o UNIFESP e INPAD, o número de pessoas afetadas pelo uso de álcool e drogas de alguém, é de 9,94. Tem muitos codependentes por aí.”

“Sintomas físicos comuns nos codependentes: stress, hipertensão arterial, distúrbio do ritmo intestinal, distúrbios alimentares e do sono, perda da libido, impotência, dores de cabeça e nas costas, gastrite e diabetes. E, ainda assim, tendem a negligenciar o cuidado da própria saúde.”

“Sintomas emocionais comuns nos codependentes: auto anulação, sentimentos controlados pelo externo, “fome” anormal de amor, necessidade extrema de controlar e salvar, dependência patológica de cuidar, busca de aprovação e medo de ficar sozinho.”

“Sintomas psiquiátricos e psicológicos comuns nos codependentes:angustia, ansiedade, pena, culpa, baixa autoestima, insegurança, depressão, fobias, síndrome do pânico, compulsão (trabalho, jogo, compras, comida, e outros), podendo chegar ao suicídio.”

“Características de famílias codependentes: comunicação confusa e indireta, isolamento social, inversão de papéis dos membros, o dependente está no centro.”

Fases da Codependência: Leia o post Em qual fase você está?, e entenda.

“Atitudes prejudiciais da família, em relação ao dependente: minimizar, controlar, proteger (excesso), assumir responsabilidades e compactuar.”

Na sequência narrei experiências vividas por mim, ao lado dos meus familiares adictos, e o que me fez mudar, e como tenho lutado por essa mudança, a cada dia. Esses relatos vocês têm acompanhado pelo blog e pelos livros.

“As famílias precisam saber que:

3 Cs - Não causei, não controlo e não curo.
3ª tradição de NA: “Um adicto que não queira parar de usar não vai parar de usar. Pode ser analisado, aconselhado, pode se rezar por ele, pode ser ameaçado, surrado ou trancado, mas não irá parar até que queira parar.” Ou seja, não depende de nós, depende do querer DO ADICTO.
Codependência não é amor.
Amor próprio não é egoísmo.
Desligamento com amor é benéfico para ambos.”

“E os frutos da mudança para aquelas famílias que optam por um novo estilo de vida, chegam. E os maiores frutos são: paz e harmonia, dentro e fora; capacidade de enxergar e educar os filhos de forma saudável, aprendizado de um amor saudável, força para assumir as próprias responsabilidades, e a sensação de voltar a ser inteiro novamente e não mais uma sombra do familiar adicto.”

Por fim, falei sobre as ações do Projeto Ame, mas não sofra!, o primeiro projeto governamental voltado para os familiares de dependentes químicos. Clique aqui, e entenda o projeto."

Acordei para publicar isto e volto à cama, para voltar a sonhar. Grato, mil vezes grato!

Narcóticos Anônimos = Meditação Diária

26 de novembro de 2013

"Muitas coisas acontecem em um dia, tanto negativas quanto positivas. Se não nos damos tempo para apreciar ambas, podemos estar perdendo o que nos ajudaria a crescer."

As responsabilidades da vida estão em todo lugar. “Devemos” usar cintos de segurança. “Devemos” limpar nossas casas. “Devemos” fazer algumas coisas para nossa esposa/esposo, nossos filhos, as pessoas que apadrinhamos. Acima de tudo isto, “devemos” ir às reuniões e praticar nosso programa o melhor que pudermos. Não é de admirar que, algumas vezes, queiramos fugir de todas estas tarefas e ir par uma ilha isolada onde não haja nada que “devamos” fazer.

Nestes momentos, quando nos sentimos esmagados por nossas responsabilidades, é porque esquecemos que a responsabilidade não precisa ser um fardo. Quando temos o desejo de fugir de nossas responsabilidades, precisamos nos acalmar, relembrar por que as escolhemos e prestar atenção nas dádivas que elas nos trazem. Um trabalho que normalmente achamos desafiador e interessante, um parceiro cuja personalidade normalmente nos entusiasma, ou uma criança com a qual gostamos de brincar ou cuidar – existe uma alegria para ser descoberta em todas as responsabilidades de nossas vidas.

Só por hoje: Cada momento é especial. Eu vou prestar atenção, ser grato por minhas responsabilidades e pelas alegrias especiais que elas trazem.

Crédito : http://nasp.org.br/

Reflexões Diárias de Alcoólicos A.nônimos


QUARTA-FEIRA, 26 NOVEMBRO DE 2013

OS RISCOS DA PUBLICIDADE


Pessoas que simbolizam causas e ideias preenchem uma profunda necessidade humana. Nós de A.A. não colocamos dúvida quanto a isso. Mas somos obrigados a reconhecer o fato de que permanecer exposto à curiosidade pública é arriscado, particularmente no nosso caso.


Os Doze Passos e as Doze Tradições, 
p. 164


Como alcoólico recuperado, devo fazer um esforço para colocar em prática os princípios do programa de A.A., que são baseados em honestidade, verdade e humildade. Quando bebia, estava constantemente querendo ser o centro de atenção. Agora que estou consciente de meus erros e de minha anterior falta de integridade, não seria honesto procurar prestígio, mesmo com o propósito justificável de promover a mensagem de recuperação de A.A. Não é muito mais valiosa a publicidade que está centrada em torno da Irmandade e os milagres que ela produz? Por que não deixar as pessoas à nossa volta apreciar por si mesmas as mudanças que A.A. nos trouxe? Esta será a melhor recomendação para a Irmandade que qualquer um pode fazer.

Meditação do dia:

“É necessária muita modéstia e humildade, por parte de cada membro de A.A., para sua própria recuperação permanente. Se essas virtudes são necessidades tão vitais para o indivíduo, elas também devem ser vitais para A.A. como um todo. Este princípio do anonimato perante o público em geral pode assegurar permanentemente esses atributos áureos, para o movimento de Alcoólicos Anônimos, se o levarmos suficientemente a sério. Nossa política de Relações Públicas deve apoiar-se principalmente no princípio da atração e, raramente, na promoção.”
(A Linguagem do Coração, p.23)

Crédito:Grupo Carmo Sion



segunda-feira, 25 de novembro de 2013

João Gilberto


Ruy Castro, em seu livro, "Chega de Saudade", faz revelações de impressionante beleza a respeito do pai da bossa-nova. Possui um olhar generoso, bem aventurado e cheio de bondade, em suas abordagem a respeito de João Gilberto. Sua pena é leve e escreve magistralmente bem. Conta "a história e as histórias da Bossa Nova", com tamanha suavidade, que entretêm qualquer leitor à primeira leitura. 

Fala-nos de um João Gilberto, pai da bossa nova, pouco conhecido. Em cada linha ele dá um toque de mágica, abrido corações e mentes.  Aborda temas tabus, com sutileza, acariciando o leitor, com humanidade, e fala-nos sobre o tempo em que João Gilberto fez uso da marijuana. Naquela época deveria ser algo tão escandaloso, o fim do mundo, um verdadeiro tabu  fazer uso da erva, como ainda é até hoje, um bicho papão de sete cabeças.

Hoje a maconha não é mais a "Geni" das drogas...

Houve um tempo em que João tomou aversão à maconha e resolveu parar de usar "aquilo". Depois de perambular por várias cidades, voltou à sua terra natal, Juazeiro, na Bahia, quando "Sua alma cheia de calos doeu mais do que nunca". 

Joãozinho não tinha a paz e o sossego merecido, sequer era reconhecido em sua genialidade. O próprio pai fulminava ele quando dizia : - "Isto não é música. Isto é nhém-nhém-nhém." .

Para o Sr. Juveniano o filho, com aquele jeito novo de cantar, "parecia pouco másculo para os padrões juazeirenses".

Geralmente digo que a genialidade e a loucura são fronteiriças e, quando nossa capacidade de compreender algo novo falece,  encaramos o novo com estranheza. 

João Gilberto, como uma concha, estava produzindo uma pérola, mas o pai achava que o mesmo estava ficando "tantã". Essas sandices provincianas acontecem ainda hoje, por incompreensões diversas, em qualquer lugar, em qualquer família.

O diferente, ou tudo o que é novo, mexe com a cabeça da gente. Quem tem a mente aberta e olhar generoso, é capaz de ver beleza em tudo. Com a mente fechada a inteligência trava, congela...

Dando um salto na história, João Gilberto foi levado à capital da Bahia, pelo primo irmão, Dr. Dewilson, médico psiquiatra, para exames. Não ficou internado, mas hospitalizado no Hospital das Clínicas.

Lá um dia, ,no hospital, olhando a janela, "com ar perdido", comentou com u:ma das psicólogas, que estavam submetendo ele  "a uma bateria de entrevistas" :

- "Olha o vento descabelando as árvores"
- " Mas árvores não tem cabelos, João" 
- "E há pessoas que não têm poesia". "Fulminou, cortante".

Agora vamos em frente pois águas passadas não movem moinhos, servem apenas para revelarmos a tanta diferente gente, descabeladas e sem poesia, que nós guardamos o que há de bom em nós e só mostramos o verdadeiro valor, na hora certa. Afinal. Deus escreve certo em linhas tortas!
  

Nelson Gonçalves, um lutador!

Nelson Gonçalves, O Rei da Rádio, costumava dizer que "é mais fácil sustentar dez filhos que um só vício". Coube a Stella Miranda e ao seu talento, escrever o perfil biográfico de Nelson Gonçalves, retratando a vida de um homem que merece aplausos, em memória.

Conforme Stella "Em 55  sua interpretação da música "Meu Vício é Você" ( a inesquecível Boneca de Trapo) já era um prenúncio sombrio do que as drogas, o ciúme, a euforia e os anos negros viriam operar em Nelson".

"No mictório do Restaurante El Greco, em Copacabana, Nelson experimenta um pozinho branco capaz de leva-lo à loucura. Uma cheiradinha. Uminha só. Era a nova onda, deixava legal. Entre euforia e a solidão dos drogados, o Rei do Rádio viveu sua tragédia particular. De  1958 a 1966. Aos 39 anos, cheirava cocaína todo dia e da boa." Nelson confessou publicamente: "Cheirei mais de 50 quilos de pó! Fiquei na roda 8 anos. Fiz coisa que até o diabo duvida".

Prossegue Stella, em sua narrativa:  "literalmente, de 58 a  66, sua carreira virou pó". Não tinha secreção nasal, mas  a voz não se alterara, graças a Deus. A droga fez dele um ídolo tombado". Andou preso, saiu de circulação, ninguém mais ouvia falar em Nelson Gonçalves. Em 1964, narra Stella, "o Brasil, assim como Nelson, tinha virado molambo".

Enfim, Nelson se rendeu, "era a derrocada final, a decadência. O Rei do Rádio era um dependente" químico e tinha que se "curar". Junto com a esposa, D. Maria Luiza da Silva Ramos, resolveu se tratar. Antes, porém, tinham que se livrar dos traficantes do Rio de Janeiro. Mudaram de domicílio. Passou a submeter-se a um tratamento decrescente. Nelson atravessou um período tenebroso, chegou a surrar a mulher. Em 05 de maio de 1966 foi preso, em flagrante. Era dia das mães e ele foi preso na frente dos filhos. A polícia encontrou 10 gramas de pó na casa deles. Um traficante denunciou Nelson. A droga fazia parte do tratamento dele. Na casa de detenção os presos, colheram 3.000 assinaturas e, mediante abaixo assinado, ofereciam, respectivamente, um dia de cadeia, da pena que deveriam cumprir, em troca da liberdade de Nelson Gonçalves. E os presos entoaram a canção Boêmia.

"Queria parar de estalo"... "Foram quatro meses de sofrimento insano. Tranca-se no quarto escuro, numa batalha mortal, enfrenta a barra pesada que vive um viciado quando resolve curar-se sem ajuda de ninguém. Um drama...A travessia do inferno é um círculo de horrores".

Recuperado, a TV Excelsior, canal 9, lhe fecha as portas, enodoando-se com as marcas do preconceito e discriminação. "Era uma emissora familiar", disse o apresentador do programa Baile da Saudade, Francisco Petrônio. Não permitia viciados no programa que ele apresentava. Comportamento diverso e muito digno teve Silvio Santos: "Se o Nelson voltou a cantar, bota o Nelson pra cantar, ora essa! E não é nenhum de nós que vai julgar. Contrata o Homem".

Fonte: Nelson Gonçalves, O Rei do Rádio, por Stella Miranda. Acompanha o perfil biográfico três excelentes CDs.


Reconheço a queda e não desanimo...


Imagino-me, neste momento, como um "LOUCO", andando pelas ruas da cidade, como um vagabundo, sem querer encontrar, pelos sinuosos caminhos, qualquer conhecido. Vergonha de mim mesmo. Estropiado era como me sentia. Um farrapo humano, em pleno estado de decomposição, sem código, degradado, sujo, transtornado.Vivendo um problema, super dimensionado, que não era do interesse de ninguém conhecer, ou centena de outros problemas, quem sabe? Era eu e as circunstâncias. 

O que é que eu estava fazendo com o que fizeram de mim, ou com o que não fizeram de mim, porque,quem estava exposto, nas ruas, era eu, mais ninguém? 

Era eu e  minhas culpas, desgostos, carregando minha maluquês, misturada com minha lucidez. Era um fardo pesado viver tal drama. 

As pernas e os pés cansados. A musculatura quase travada e eu seguia lentamente em busca de um porto seguro, chamado lar. Invariavelmente era assim o meu terceiro dia de abandono, que eu próprio me dava, vivendo quase ao Deus dará. 

O que realmente me levou às tortuosas ruas da cidade e deflagrou minha adicção? 

"O que será que será
Que dá dentro da gente e que não devia
Que desacata a gente, que é revelia
Que é feito uma aguardente que não sacia
Que é feito estar doente de uma folia"

Só o vento responderá, ao som de Blowin' In The Wind, ou Philadelphia, como fundo musical.



FORÇA!

Narcóticos Anônimos - MEDITAÇÃO DIÁRIA

Segunda-feira, 25 de novembro

"Acalmar a mente, através da meditação, traz uma paz interior que nos põe em contato com o Deus dentro de nós."

À medida que nossa recuperação progride, freqüentemente refletimos sobre o que nos trouxe para Narcóticos Anônimos, em primeiro lugar, e se estamos prontos para apreciar quanto à qualidade de nossas vidas melhorou. Não precisamos mais temer nossos próprios pensamentos. E quanto mais oramos e meditamos, mais experimentamos uma tranquila sensação de bem-estar. A paz e tranqüilidade que experimentamos durante nossos momentos de quietude confirmam se nossas necessidades mais importantes – nossas necessidades espirituais – estão sendo alcançadas.

Estamos prontos para nos identificar com outros adictos e reforçar nossa conscientização neste processo. Aprendemos a evitar julgar os outros e experimentamos a liberdade de sermos nós mesmos.Em nossa reflexão espiritual, intuitivamente descobrimos “O Deus dentro de nós” e percebemos que estamos em harmonia com um Poder maior do que nós.

Só por hoje eu vou refletir sobre a dádiva da recuperação e ouvir tranquilamente a orientação de meu Poder Superior.

Amando um dependente Químico

Um rapaz, com seus trinta e poucos anos, branco, de estatura baixa, de família abastada, deixou o emprego e buscou internar-se, voluntariamente, em uma "clínica". Fomos convivendo e, na clausura do quarto, batíamos papo sobre nossas vidas, nossas angústias, sobre a saudade que tínhamos de nós mesmos, da saudade dos nossos familiares quase todos ausentes. Éramos três no mesmo quarto. Um era advogado que nos provocava momentos de descontração devido às confusões que fazia, fruto de falhas na memória. Havia em todos nós um sentimento profundo de dor e desgosto. Conjecturávamos sobre nossas famílias. Sentíamos muito com o esquecimento e o desprezo com que éramos tratados. A ausência de visitas e de ligações telefônicas. Era lugar comum o pensamento de que fomos - eu mais o advogado - postos naquele lugar, supostamente para sermos "tratados" e o tratamento consistia no come-e-dorme. Tivemos momentos de rara felicidade, quando recebíamos alguma ligação telefônica. Dois filhos me ligavam e me davam alento. Mandaram livros e foram estes livros que me deram suporte para resistir aquele sistema prisional. 

O sentimentos dos três - e da coletividade - era o de estarmos sepultados vivos, enquanto oferecíamos paz, sossego e tranquilidade a nossas respectivas famílias. Cada caso era um caso, mas havia essa convergência de pensamento. Éramos incômodos e, assim, as famílias se viam livres de problemas e preocupações. Salvo F., eu e R., fomos apanhados de surpresa e lançados em uma instituição, queiram, ou não queiram, carcerária. Achavamos impressionante  o elevado grau de "inteligência" e de civilidade, que denotava uma mentalidade familiar, surpreendentemente triste. 

A realidade de F. era a de que não tinha mais para onde  ir. Era um rejeitado pela desinteligência familiar, vivendo a crise de confiabilidade, ou, quem sabe, pelo que chamam de intolerância de codependentes que ignoram tal condição. Rapaz de família rica submetido à triste condição de maior abandonado. Minha situação era a de buscar minha recuperação, mas sabia que tantas coisas aconteciam lá fora, que por serem muito recentes, não merecem comentários. Sei que incomodaria e não é esse meu propósito. Minha intenção é abrir os olhos dos "cegos"que não aceitam enxergar os próprios erros, os exageros, os abusos e a falta de inteligência para solucionar problemas equacionáveis. A vida está cheia de bons exemplos de pessoas que conseguiram se recuperar, dos mais pobres, aos mais ricos, incluindo os que alcançaram a fama. Nada está perdido. Mas não vou chover no molhado. O tempo haverá de mostrar que não há mal que sempre dure, encurtando o dito popular. Minha perspectiva era a de reconquistar a família e me desvencilhar de tudo que pudesse me levar pelas veredas da morte e eu rezava muito. Devorava livros, como "Casagrande e seus demônios". Lia e lia porque fora disso era o eterno come-e-dorme. 

Não havia monitores para sacanear e, verdade seja dita, podíamos falar todas as verdades que desejássemos a respeito de tudo. Não fui mal tratado. Tanta a família, quanto eu, desembolsamos uma grana. Tinha que ter, pelo menos o meu cigarro, vez por outra uma coca-cola e algumas coisas mais, como remédios e até duas pizzas. Eu lutei e tinha planos de novas fugas surpreendentes  e que seriam definitivas até um certo tempo. Não aceitava viver naquela cripta que o quarto simbolizava. Ali eu era apenas um morto-vivo, dentro de um cemitério de humanos com sérios problemas de natureza psíquica, física e espiritual. Meu direito à liberdade, para mim, é mais sagrado que o direito de defesa. Enquanto isso meditava, rezava, pedia a Deus minha liberdade, que aconteceu. 

R. ficou só. F. saiu antes de mim. Soube que havia arrumado um emprego ruim, mas não havia outro meio, salvo esperar que a mãe chegasse da Suiça, onde residia, e o levasse com ela, para o exterior.  A possibilidade de R. sair - para mim - era remota.  Sinto o sofrimento dele, aquele aperto no coração, o sofrimento do castigo imposto, como uma punição. A família sabe que ali não há tratamento algum. 

Vou finalizando, pois é tarde. E, tudo quanto fui escrevendo neste texto tem a ver com o que  eu queria dizer sobre codependência e que foi maravilhosamente escrito no blog AMANDO UM DEPENDENTE QUÍMICO. Gostaria de publicar parte do texto deste blog para ver se familiares, de qualquer dependente, consegue ler e compreender alguma coisa. Eu mudei e gostaria que todos ao meu redor mudassem e eu mudei para melhor.

Estou cansado e já passei da hora de dormir. Espero que me compreendam e busque, cada qual, suas respectivas melhoras. Qualquer um pode vencer o vício, então não custa nada estender uma mão para ajudar quem sofre nas garras da adicção. 



sábado, 23 de novembro de 2013

REFLEXÕES DIÁRIAS, Alcoólicos Anônimos


23 de Novembro de 2013

LEVANTE A CABEÇA PARA A LUZ


“Acredite mais profundamente: Levante a cabeça para a Luz, ainda que no momento você não possa ver.”

NA OPINIÃO DO BILL
p. 3

Num domingo de outubro, durante minha meditação matinal, olhei pela janela a árvore de freixo no pátio da frente. Uma vez mais fui vencido pela sua magnífica cor dourada! Enquanto olhava com admiração a obra de arte de Deus, as folhas começaram a cair e, dentro de minutos, os galhos estavam nus. A tristeza me assaltou quando pensei nos meses de inverno à frente, mas enquanto estava refletindo no processo anual do outono, a mensagem de Deus apareceu. Como as árvores, despidas de suas folhas no outono germinam novas flores na primavera, eu, despojado de meus modos compulsivos e egoístas removidos por Deus, posso florescer como um sóbrio e alegre membro de A.A..

Obrigado, Deus, pela mudança das estações e por minha vida em mudança contínua.

REFLEXÕES DIÁRIAS, p. 336

A vontade de Deus


A vontade de Deus
"O alívio de 'entregar a Deus' ajuda-nos a desenvolver uma vida que vale a pena viver." Texto Básico, 
p. 30 

Na nossa adicção ativa, tínhamos medo do que poderia acontecer se não controlássemos tudo à nossa volta. Muitos de nós inventaram mentiras elaboradas para proteger o nosso uso de drogas. Alguns de nós manipularam toda a gente numa tentativa frenética para conseguir qualquer coisa que nos permitisse usar mais drogas. Alguns de nós foram bem longe para evitar que se falasse de deles, pois poderiam descobrir as nossas mentiras.

Sofremos para manter a ilusão de controle sobre a nossa adicção e sobre as nossas vidas. Nesse processo impedimo-nos de experimentar a serenidade que vem quando nos rendemos à vontade de um Poder Superior. 

Na nossa recuperação é importante largarmos a ilusão de controle e rendermo-nos a um Poder Superior, cuja vontade para nós é melhor do que qualquer coisa que possamos comandar, manipular ou projetar para nós. 

Se virmos que estamos a tentar controlar os resultados, e sentirmos medo do futuro, podemos meter ação para inverter essa tendência. Vamos ao nosso Segundo e Terceiro Passos e olhamos para aquilo em que viemos a acreditar sobre um Poder Superior. 

Será que aceitamos, realmente, que esse Poder pode cuidar de nós e devolver-nos à sanidade? 

Se sim, poderemos viver com todos os altos e baixos da vida - os desapontamentos, as mágoas, os encantos, e as alegrias. 

Só por hoje: Vou render-me e deixar que a vontade do meu Poder Superior se manifeste na minha vida. Vou aceitar a dádiva da serenidade que esta rendição me traz.

sexta-feira, 22 de novembro de 2013

Filosofia da involuntariedade


Transcrevemos trecho de um dos palestrantes do Seminário Internacional, Dr. Massimo Barra, realizado pela Comissão de Seguridade Social e Família em Brasília nos dias 5 e 6 de julho de 2010. 

"Para ele, (Dr. Massimo Barra) num ambiente social em que a droga é o diabo, os toxicodependentes, criminosos ou pecadores, viciados sem redenção, pode haver políticas nas quais se justifique a violação dos direitos humanos fundamentais com o objetivo de ajudar uma pessoa a abandonar a droga. Familiares, amigos e terapeutas se esforçam para piorar a qualidade de vida do toxicodependente, para acelerar o momento em que ele se arrependerá dos seus pecados e ação parlamentar aceitará cada tipo de punição com o objetivo de reencontrar uma nova vida sem Drogas."

Para nós, é injustificável a adoção de políticas de tal natureza, em um mundo civilizado. A inteligência humana não absorve tamanho desrespeito, embora seja este o pensamento que norteia o funcionamento da maioria das "Clínicas Involuntárias". É algo inconcebível e revoltante e essa mentalidade criminosa, que viola os direitos humanos e não redime ninguém. Os resultados, de tal tratamento, não são nada bons. É preciso evoluir!

Ponto culminante


O ponto culminante do debate foi extraordinário. A mesa era composta por autoridades que assumiam posicionamentos retrógrados, no que concerne a questão das drogas. Esperava-se coisa melhor, ao menos alguém que se manifestasse como um ser humano, falando entre humanos, sobre uma questão que exige de todos nós humanidade. Falava-se em repressão, punição, criminalização, que o debate se transformou em uma droga pavorosa.

O eixo do debate modificou-se e caiu no terreno de quem financiava o tráfico. Em um dado momento, alguém, da exausta platéia, seriamente indagou a um debatedor palestrante, nitidamente conservador - e a pergunta me parecia ter um sentido arrasador, embora parecesse um mero deboche - : 

"Quem surgiu primeiro, a droga, ou o usuário?". 

Sem que tivesse chance de responder, um jovem assistente se antecipou, levantou-se,com presença de espírito, gracejou e respondeu, bem alto: 

- Foi o traficante! 

O barulho ensurdecedor das risadas antecipou o fim do debate. 







terça-feira, 19 de novembro de 2013

Onde estão os problemas?

"Temos que saber como as famílias recebem o seu querido membro usuário e quais as dificuldades que ela tem tido para encaminha-lo. Onde estão os problemas? Isso vai trazer algumas realidades que não conhecemos ainda, apenas estimamos que existem."
General Paulo Roberto Yog de Miranda Uchoa


Mente aberta, boa vontade e honestidade de Antônio Nery Filho


TEXTO PUBLICADO 
por Antonio Nery Filho, em 6 de maio de 2013.

QUE DEUS NOS AJUDE


Não raras vezes me opus ao que parecia ser o senso comum sobre as drogas e seus usos. Há muitos anos, declarei minha oposição ao modo como os usuários de maconha eram (des)tratados. Mais recentemente, discordei publicamente em evento internacional promovido pela Senad, em Brasília, da fórmula “crack e outras drogas”, onde um produto grave, é verdade, mas de insignificante alcance se considerado frente a outros agravos, ocupava o lugar do álcool, de histórico reconhecimento como um dos mais sérios problema de saúde pública no mundo ocidental. Desde então recusei-me a participar de qualquer evento que colocasse o crack em evidência, por não querer contribuir para fortalecimento de uma falsa verdade, socialmente construída, e sustentada por uma mídia largamente desinformada ou defensora de interesses comerciais. Em São Paulo, no final de abril deste ano, aceitei convite do Professor Elisaldo Carlini (CRR/Cebrid/Unifesp), para participar de Simpósio sobre Redução de Danos e crack. Por que a exceção? Porque precisava reafirmar minha velha posição, encontrar profissionais sérios e de larga experiência na atenção aos usuários de substâncias psicoativas e seus familiares; recusar publicamente, mais uma vez, a política míope, medíocre, que o Parlamento Brasileiro quer nos impor, longe de tudo que as ciências sociais, humanas e da saúde produziram ao longo das duas últimas décadas, e apoiar o Deputado Paulo Teixeira em sua tenaz resistência. Em audiência pública na Câmara dos Deputados, promovida pela Comissão responsável pela proposta de alteração da atual Lei de Tóxicos (11.343/2006), pude avaliar a dimensão do retrocesso que nos aguardava. A proposta do Deputado Osmar Terra, é o cataclisma anteriormente anunciado. Contudo, não são os deputados evangélicos, ou os deputados proprietários de comunidades terapêutica que me inquietam mais. Cinicamente, penso que estão defendendo seus interesses. Inquieto-me, sobremodo, com os usuários e seus familiares pela pequena ou quase nula possibilidade de serem ouvidos; me inquieta a alma “o silêncio dos inocentes” que nunca tiveram de cuidar de um filho, de um marido, de um amigo-quase-irmão, envolvidos com uma ou mais drogas, legais ou não, seja como experimentador, usuário eventual ou dependente; perturba-me uma classe média acomodada em casas protegidas (ma non troppo) por câmeras, grades e vigilantes. Dói-me, profundamente, a “cegueira branca” de que falava Saramago em seu Ensaio Sobre a Cegueira, que acomete, epidemicamente, a quase todos, qualquer que seja a cor, o credo ou a classe social. Por tudo isto, desejo que o Ministro da Justiça e o novo Secretário de Políticas Sobre Drogas, Defensor Público, tenham olhos para ver, ouvidos para ouvir e a sensibilidade indispensável para cuidar da coisa pública, no seu sentido original (rex publica), dando ao Manifesto assinado pelos Centros Regionais de Referências das Universidades Federais, a importância devida, porque representa, no mínimo, outra versão da sociedade brasileira. 

Por oportuno, anexo aqui o texto do psiquiátra Luís Fernando Tófoli, professor da Unicamp, e publicado na Revista Carta Capital em 17 de abril próximo passado, para esclarecimento dos que ainda duvidam:

Em suas manifestações públicas em relação ao projeto de drogas que redigiu, o deputado Osmar Terra (PMDB-RS), médico e ex-secretário de Saúde de seu estado, tem sido profícuo ao citar dados. Em uma declaração ao jornal O Globo, ao criticar o viés “ideológico” daqueles que objetam contra seu projeto, não hesitou em dizer que “cada parágrafo” dele seria “baseado em evidências científicas”.

Dados científicos são frequentemente incompletos, sujeitos a contingências metodológicas e difíceis de interpretar. A própria construção do que é uma evidência científica e a decisão de nortear políticas a partir delas são também opções ideológicas, embora os médicos não se deem conta disso. No século XXI já parece ser bastante claro que não existe Ciência absolutamente neutra, e que é na análise de estudos que apontam posições e resultados contraditórios que poderemos nos aproximar da realidade. Esse é, por excelência, o caminho possível no campo das políticas públicas sobre drogas.

O PL 7663/2010 de Osmar Terra – transformado no substitutivo do deputado Givaldo Carimbão (PSB-AL) – está longe de ser uma peça legislativa baseada em dados científicos inquebrantáveis. Para começar, o projeto parte da concepção de que a dependência química é uma doença cerebral que leva a alterações permanentes causadas pelas drogas, uma doença para a qual não existe cura e para qual o único tratamento possível é a abstinência. Essa premissa é desafiada na literatura científica recente, e certamente não pode ser tomada como uma verdade para todos os casos. Como explicar, por exemplo, os vícios que não envolvem substância psicoativa, como o jogo patológico? Ainda que essa concepção da dependência fosse assumida como correta, caberia examinar se o projeto de lei, a fim de amenizar o terrível sofrimento social causado pelas drogas, está suficientemente assentado em evidências científicas. Vejamos aqui algumas que foram ignoradas no processo de elaboração do PL.

Em primeiro lugar, o projeto faz uma grande trapalhada ao emaranhar dependência química com uso de drogas. A literatura mostra claramente que o contingente de dependentes das drogas ilegais mais comuns no Brasil é algumas vezes menor do que o número total de usuários. Políticas e eventuais medidas para estes grupos devem ser distintas. Ao misturar os conceitos, o projeto dá a chance, por exemplo, de que um usuário leve de maconha seja submetido a uma versão contemporânea da internação forçada apresentada no filme Bicho de Sete Cabeças, de Laís Bodanzky.

Outra confusão feita pelo PL está na proposta de uma classificação das drogas por seu potencial de gerar dependência. A ideia é baseada em uma classificação feita pelo Reino Unido e não é delineada no texto legislativo, ficando para ser decidida posteriormente. Atualmente há críticas à própria classificação britânica, e um famoso estudo publicado na respeitável revista científica Lancet colocou em cheque a própria noção de que seriam as drogas ilegais as mais daninhas para o indivíduo e a sociedade.

Não bastasse isso, o projeto ainda aumenta a pena para tráfico de drogas, sem distinguir usuários de traficantes de forma objetiva. Considerando o desproporcional aumento de apenados por tráfico no Brasil dos últimos anos – muitos deles com um perfil muito mais próximo de usuários do que de traficantes perigosos – tomar uma medida como essa sem determinar critérios objetivos de distinção é bastante temerário, ainda mais se considerarmos que o próprio endurecimento legislativo pode ser confrontado. Por exemplo, na Europa, o consumo por adolescentes é menor em países onde há menores restrições para o porte e uso pessoal de drogas. A resposta que o deputado Osmar Terra tem dado – que é o de que os “aviõezinhos” iriam carregar somente a quantidade permitida para porte e que “ninguém mais vai ser preso” – não é condizente com os dados do Observatório Europeu de Drogas e Dependência, que mostra que em países que se tornaram menos rigorosos com o uso e porte de drogas, as prisões por tráfico não diminuíram.

O autor do projeto já disse que as ações de consultório na rua – proposto como uma das alternativas às duas únicas formas de tratamento presentes no PL, a internação compulsória e o acolhimento voluntário em comunidades terapêuticas – não têm evidência de efetividade. Pode ser que o enfoque das provas científicas feito pelo deputado revele também um viés ideológico, já que o mais respeitável repositório de Medicina baseada em evidências, a Biblioteca Cochrane, indica que não há provas suficientes para apoiar o modelo das comunidades terapêuticas no tratamento da dependência química. Além disso, segundo afirma Gilberto Gerra, do Escritório das Nações Unidas para o Crime e Drogas, também não há evidências que justifiquem o uso de internações forçadas a não ser em situações críticas de risco de vida e quando outras tentativas não tiverem dado certo – o que, aliás, já determina a atual lei brasileira que dispõe sobre os tipos de internação psiquiátrica.

Há muitos outros pontos problemáticos – como o financiamento de entidades religiosas, o cadastro de usuários de drogas, as formas estranhas de regulação de um sistema de tratamento paralelo ao Sistema Único de Saúde, só para citar alguns. Num projeto tão questionado – rejeitado ou fortemente criticado por notas técnicas do Governo e por ONGs, por pareceres de entidades como a Fundação Oswaldo Cruz, o Instituto dos Advogados Brasileiros e o Conselho Federal de Psicologia, e até pela opinião de políticos de posições opostas na arena eleitoral como o deputado Paulo Teixeira (PT-SP) e o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB) – a presença de evidências científicas que contradigam seus parágrafos deve ser mais um elemento para, no mínimo, refrear o regime urgente em que o projeto tramita e, no limite, sepultá-lo em definitivo na busca de respostas mais consensuais.

Mas, no Brasil, onde “política baseada em evidências” se confunde com “evidências baseadas em política” e a mídia – com honrosas exceções – ajuda mais a embaralhar e estigmatizar a questão do que estimular o debate qualificado, é bem possível que as evidências sejam soterradas pela urgência política vinculada ao atual projeto em tramitação. Aguardemos para ver o que os legisladores brasileiros têm a responder diante deste projeto que representa um conjunto de retrocessos míopes à pesquisa científica e às reais e sérias demandas de cuidados que a questão do uso problemático de substâncias impõe a este país”.




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