Nelson Gonçalves, O Rei da Rádio, costumava dizer que "é mais fácil sustentar dez filhos que um só vício". Coube a Stella Miranda e ao seu talento, escrever o perfil biográfico de Nelson Gonçalves, retratando a vida de um homem que merece aplausos, em memória.
Conforme Stella "Em 55 sua interpretação da música "Meu Vício é Você" ( a inesquecível Boneca de Trapo) já era um prenúncio sombrio do que as drogas, o ciúme, a euforia e os anos negros viriam operar em Nelson".
"No mictório do Restaurante El Greco, em Copacabana, Nelson experimenta um pozinho branco capaz de leva-lo à loucura. Uma cheiradinha. Uminha só. Era a nova onda, deixava legal. Entre euforia e a solidão dos drogados, o Rei do Rádio viveu sua tragédia particular. De 1958 a 1966. Aos 39 anos, cheirava cocaína todo dia e da boa." Nelson confessou publicamente: "Cheirei mais de 50 quilos de pó! Fiquei na roda 8 anos. Fiz coisa que até o diabo duvida".
Prossegue Stella, em sua narrativa: "literalmente, de 58 a 66, sua carreira virou pó". Não tinha secreção nasal, mas a voz não se alterara, graças a Deus. A droga fez dele um ídolo tombado". Andou preso, saiu de circulação, ninguém mais ouvia falar em Nelson Gonçalves. Em 1964, narra Stella, "o Brasil, assim como Nelson, tinha virado molambo".
Enfim, Nelson se rendeu, "era a derrocada final, a decadência. O Rei do Rádio era um dependente" químico e tinha que se "curar". Junto com a esposa, D. Maria Luiza da Silva Ramos, resolveu se tratar. Antes, porém, tinham que se livrar dos traficantes do Rio de Janeiro. Mudaram de domicílio. Passou a submeter-se a um tratamento decrescente. Nelson atravessou um período tenebroso, chegou a surrar a mulher. Em 05 de maio de 1966 foi preso, em flagrante. Era dia das mães e ele foi preso na frente dos filhos. A polícia encontrou 10 gramas de pó na casa deles. Um traficante denunciou Nelson. A droga fazia parte do tratamento dele. Na casa de detenção os presos, colheram 3.000 assinaturas e, mediante abaixo assinado, ofereciam, respectivamente, um dia de cadeia, da pena que deveriam cumprir, em troca da liberdade de Nelson Gonçalves. E os presos entoaram a canção Boêmia.
"Queria parar de estalo"... "Foram quatro meses de sofrimento insano. Tranca-se no quarto escuro, numa batalha mortal, enfrenta a barra pesada que vive um viciado quando resolve curar-se sem ajuda de ninguém. Um drama...A travessia do inferno é um círculo de horrores".
Recuperado, a TV Excelsior, canal 9, lhe fecha as portas, enodoando-se com as marcas do preconceito e discriminação. "Era uma emissora familiar", disse o apresentador do programa Baile da Saudade, Francisco Petrônio. Não permitia viciados no programa que ele apresentava. Comportamento diverso e muito digno teve Silvio Santos: "Se o Nelson voltou a cantar, bota o Nelson pra cantar, ora essa! E não é nenhum de nós que vai julgar. Contrata o Homem".
Fonte: Nelson Gonçalves, O Rei do Rádio, por Stella Miranda. Acompanha o perfil biográfico três excelentes CDs.
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