quinta-feira, 4 de abril de 2013

Revendo a vida


Sempre que busco rever quem fui e quem sou agora, me ocorre uma imensa saudade de mim. Vem à mente aquela canção dos Titãs, que traduz muito dos meus sentimentos a respeito de mim mesmo. Intitula-se "Não Vou me Adaptar". Bate uma onda de nostalgia, cresce o grau de arrependimento e eu já não consigo me enxergar, hoje, como a negação de tudo o que eu preguei e fui, ou busquei ser. Não encontro uma explicação que me satisfaça. Pergunto-me sobre o que é que eu fui fazer com o que fizeram comigo, no meu existencialismo, e o que me vem na cabeça são coisas terríveis, um monte de merdas, de insanidades, mescladas com asneiras, burrices dilacerantes. Bate-me outros tipos de sentimentos que, comparados com os que me acontecem, quando faço uso de qualquer substância que altere meu humor, são muito desconfortáveis, porquanto dolorosos. 
Não busco a piedade de ninguém, nem um mar de lágrimas, meu e/ou seu. Não é por aí! existe em mim um ser humano, dotado de razoável sensibilidade que, em determinados momentos, adquire contornos melancólicos. Quem pensa com humanidade deve entender esta minha dose elevada de sensibilidade.

Cometi, cometo e sei que continuarei a cometer erros, que podem parecer imperdoáveis. Tenho vontade de me aproximar de tanta diferente gente e conversar sobre a minha pessoa e, no entanto, invade-me a sensação de distanciamento, em que me encontro, de todas essas pessoas que gostaria de me reaproximar. 

Vejo fotos, recordações de álbuns de retratos, momentos congelados para nos olharmos com outros novos olhares. Penso na minha infância, que teve seus bons e maus momentos, mas todos eles traduziam, para mim, ensinamentos e me acrescentavam conhecimento. Assim fui, igualmente um adolescente que seguia o rumo do sucesso e, não mais que de repente, muito pelo envolvimento com pessoas que tinham uma maneira diferente de viver e pensar. Algumas doses de curiosidade. 

Não posso dizer que aquela gente que pregava a paz e o amor, não me aproximou de um tipo de droga, cujo uso era muito comum, na época final da minha adolescência; mas tal droga, a "maconha" (palavra que me soa mal), adquiriu um certo glamour, de um lado e uma imensa rejeição, do outro, comumente apelidado como "careta" e/ou "quadrado". Era o nascimento de uma contracultura que foi sendo dizimada pela triste mentalidade, das cabecinhas ditas "humanas", que transformaram esta droga em um BICHO DE 7 CABEÇAS. 

Então, ao entrar no uso da marijuana, minha vida no seio familiar se transformou bastante. Não era mais como antes. "Nada do que foi será do jeito que já foi um dia". Foi um estrago geral, em uma relação marcada por dogmas, tabus, desinformação, falsos conceitos e falsos valores. Hoje não uso mais esta droga, porque me deu muita dor de cabeça e minha relação com ela se acabou quando me ocorreu um trauma. Dai, recomecei a reescrever minha vida. Segui caminhando pelas veredas das virtudes. E assim se passaram trinta anos!

Veio o casamento, com seus altos e baixos... 

Inexiste um casal que não tenha seus problemas particulares, que podem ser parecidos e até quase iguais, em alguns adquirem contornos dolorosos irreversíveis, noutros leva ao nirvana. No começo a felicidade bate à porta e, se as mentes dos parceiros começarem a desafinar, os acordes ficam dissonantes, a harmonia vai se diluindo e o elo que unia foi aos poucos se perdendo. Há que haver muita compreensão, renúncias mútuas, uma inteligência que seja usada de maneira construtiva, portanto benéfica a uma convivência salutar. Sem escândalos já é ótimo, sem altercações públicas, muito legal... Não posso dizer que não fui feliz, mas com o correr dos anos se não nos reciclarmos, em todos os aspectos da vida, e aplicando nossa inteligência e conhecimento para a edificação de um estado de convivência, tal que se não for totalmente feliz, adquire contornos tais, que nos faz ver a felicidade como se fosse uma imperatriz que reina suavemente como a brisa do mar.

Poxa, acho que estou escrevendo demais. O que eu queria dizer, disse em parte. Queria mesmo falar de muitas coisas que vejo e sinto, revejo e ressinto, insano insisto, permaneço. Fiz um arrodeio grande apenas para reconhecer meus erros, minhas quedas, minhas lutas, meus fracassos, sucessos e insucessos... 

Devo dizer que não mais me reconheço e que aceito e admito uma mudança radical em mim, que é algo anormal. Seria, noutras palavras, como se eu estivesse dando "respostas" às sensações, reais, ou fictícias, de agressões verbalizadas, sofridas e sentidas. Como não posso valer-me de respostas, igualmente agressivas, que em algum plano do nosso mundo mental transformou-se em outra agressividade, nesta situação, direcionada para e contra minha própria pessoa. Algo insano, burro, incompetente, quase intraduzível, que me levou ao mundo da adicção, que é uma doença que conduz um ser humano a penar pelos caminhos da vida, em clara contradição com o sentido que a palavra "vida" encerra. Passei a ser assim, autodestrutivo. 

Só sei que mudei para pior e as pessoas que me rodeiam, não podem gostar de um sujeito que era um, depois virou outro. 

Assim como não me entendem, não entendo os que me desentendem e o conviver se transforma em uma torre de Babel . É algo que muita gente só observa no adicto, mas que existe em seu derredor, afetando as relações amistosas e abalando a estruturas de convivência física, espiritual e mental, entre todos, em uma doença louca, em que um contamina o outro, de outra maneira. As relações podem virar pelo avesso e assim sucessivamente, caso as pessoas não aceitem que no universo do adicto há sempre um outro universo parecido, que chamam de co-dependência. Como em nossas relações sociais, no que concerne às drogas e dependência química, ainda impera o ignorar que ignora, comumente denominado. por nós, como sendo a  ignorância que nos define. 

Enfim, mudei, mudamos, mas pouca gente aceita conjugar o verbo mudar em todos os modos, tempos e pessoas. 

Parece haver uma luz no final do túnel em que vivemos e convivemos, falta apenas aquele "quê" de lucidez!

Só posso falar por mim, tentando deixar  aqui, um registro do que penso e sinto e, para finalizar, parece que mora dentro de mim, uma dor que, parece imensa e, no entanto, o que não existe e me parece fundamental existir, sempre, é o raciocínio funcionando, o discernimento combinando e a inteligência resolvendo. 

Observação:
Este texto foi escrito e publicado sem a devida revisão. Publico mesmo assim, esperando resultados diferentes.

Um comentário :

  1. "A dependência química tem tratamento, assim como o uso e o abuso de drogas. A psicoterapia é uma das ferramentas para ajudar o usuário a entender o por quê do seu uso de drogas e encontrar maneiras de continuar sua vida de forma prazerosa sem a necessidade das substâncias psicoativas."
    PROMUT

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