Quando digo que mudei para pior, não significa que não tenho valor, mas valores que podem ser sentidos e notados, por tanta diferente gente, de modo igual, parecido, ou diferente. Valores são relativos quando queremos ajuizar alguma coisa, atos, condutas, comportamentos. Quando digo que me desconheço, que sinto um estranho, em muitas coisas, não significa dizer que sou bom, ou ruim. A bondade vem do seu olhar generoso, este olhar generoso que perdi ao me ver, ao me sentir no mundo da adicção, pois percebo que ao negar a mim mesmo é o mesmo que perder a identidade, como quem perde o rumo, o prumo, a direção e o sentido da vida.
Não me permito divagar ou filosofar sobre a minha negação de valores e não busco nenhuma desculpa para tanto, em minha adicção.
Compreendo minhas insanidades como tal e isso já me serve como uma referência em busca do meu reencontro, com aquele cara que, em algum momento e lugar do passado, se desencontrou de si mesmo.
Meu juízo, fundamentado em valores adquiridos, em meu meio social, funciona severamente como algo auto-punitivo, vez que sou severo comigo mesmo.
Tal juízo - que se perde, em boa parte, na adicção ativa - me conduz e impulsiona a processar a busca pelo meu reencontro. Não sou uma nau à deriva.
No estado de insanidade posso cometer loucuras, sabendo que são loucuras que não valem à pena cometer-se e, ainda assim cometo. Então percebo que há em mim, um desajuste, mas tenho noção do que estou fazendo. Não sei se é um desgosto, um desapreço, uma desvalorização que me acomete e me conduz a praticar o que - para mim - é indesejável. Mas se sei o que desejo e faço o contrário, h[a algo de muito errado em minha cabecinha e, também, ai está, nesta contradição, a marca autodestrutiva, o sinal nítido de que estou me desfazendo, me desconstruíndo, me decompondo e reduzindo-me...
Tenho percepção analítica de tudo isso, como quem faz uma analise química, laboratorial, talvez psicanalitica, onde examino e sou o examinado, de pedaço em pedaço. Posso me perguntar mil coisas e as respostas não me são boas, me levam a um estado de insatisfação comigo mesmo, sinto repulsa e repulsivo e vou vivendo com estas minhas loucas contradições, conscientemente observadas, mas não equacionadas. Adianto que, neste processo auto-punitivo, não busco morrer, como pode parecer aos olhos de muita gente, é bom salientar esta ressalva, vez que considero esta descoberta como significativa, pois tenho medo da morte. É, neste ponto e aspecto que nasce em mim a certeza, a noção, de que sou portador de uma doença progressiva, incurável e fatal, mas que pode ser controlada.
A pergunta que me faço é em que momento da vida o imponderável, o inusitado, me aconteceu. Brotam dezenas e centenas de passagens amargas, que jamais deveriam ganhar corpo e terreno de modo a sobrepor-se aos momentos bons e felizes que tive e ainda posso ter, vez que faço fé em mim. Então me reconheço como um doente, mas não no plano genético. Creio que estou abreviando minha vida, mesmo sem querer, porque ninguém quer a morte, mesmo sabendo que a mesma é uma certeza que não me convém. Bem, vou deixando esta minha catarse, esquisita, sob o manto da partilha, enquanto vou solicitando e pedindo mil desculpas e o perdão de todos e faço isto ciente de que sou portador de uma doença que não pedi, no plano consciente, para ter.
Pra finalizar, devo realçar que me exponho em busca de ajuda, não quero ser meu próprio algoz, nem desejo permanecer na condição simplista, já conhecida, quero hipóteses que me conduzam a novas certezas e descobertas. Acho louco este mundo em que mergulhei de cabeça, verticalizando meu pensamento, saindo do obvio. Busco em mim a relação entre causa e efeito, o meu entendimento que pode vir de você, leitor analítico, e que não me seja - e sirva - como um algoz. De sobra quero ser feliz, viver em paz, andar de cabeça erguida, com natural tranquilidade.
Só por hoje vou descansar e parar de querer me auto-analisar. O texto não foi revisado e está sujeito a tal procedimento. Fui !
"As Nossas Dependências
ResponderExcluirCoisas há que dependem de nós - e outras há que de nós não dependem. O que depende de nós são os nossos juízos, as nossas tendências, os nossos desejos, as nossas aversões: numa palavra, todos os actos e obras do nosso foro íntimo. O que de nós não depende é o nosso corpo, a riqueza, a celebridade, o poder; enfim, todas as obras e actos que de maneira nenhuma nos constituem.
As coisas que dependem de nós são por natureza livres, sem impedimento, isentas de obstáculos; e as que de nós não dependem são inconsistentes, servis, susceptíveis de impedimento, estranhas.
Tem em mente, portanto, o seguinte: se avalias livre o que por natureza é servil, e julgas decente para ti o que te é estranho, sentir-te-ás embaraçado, aflito, inquieto - e em breve culparás os Deuses e os homens. Mas se crês teu o que unicamente é teu, e por estranho o que efectivamente estranho te é, então niguém te poderá constranger, nem tão pouco causar embaraços; não atacarás ninguém, a ninguém acusarás, nada farás contra a tua vontade; prejudicar-te, ninguém te prejudicará; e não terás um só inimigo - e prova disso é sobre ti a ausência de qualquer dano.
Epicteto, in 'Manual'"