segunda-feira, 27 de junho de 2011

FÓRUM GOIANO DE SAÚDE MENTAL MANIFESTA CONTRA CRIAÇÃO DE CREDEQ


NOTA DE REPÚDIO

Os participantes do Seminário “A Rede de Prevenção e Atenção aos Usuários de Alcool e Outras Drogas”, realizado nos dias 01 e 02 de Dezembro de 2010, no Auditório Jaime Câmara da Câmara de Vereadores de Goiânia, promovido pela Prefeitura de Goiânia por meio da Secretaria Municipal de Saúde representada pelos CAPSad Girassol e CASA, reafirmam os princípios e diretrizes do Sistema Único de Saúde, da Política Nacional de Saúde Mental - Lei 10216/2001 – e do Plano Nacional de Direitos Humanos e repudiam veementemente a criação do CREDEQ (Centro de Recuperação do Dependente Químico). Dentro de uma visão reducionista e autoritária, vem sendo apresentada ao Estado de Goiás, proposta de criação de um “Centro de Referência Especializado em Dependência Química - CREDEQ” para internação de usuários de álcool e outras drogas. Estes “hospitais especializados” apresentam características de aprisionamento, criminalização, cerceamento à liberdade e aos direitos civis, excluindo as pessoas do convívio familiar e comunitário.  Mais de 450 pessoas, usuários do SUS, defensores dos direitos humanos e trabalhadores da saúde, educação, cultura, justiça, assistência social, entre outros, vindos de Goiânia, Trindade, Aparecida de Goiânia, Silvânia, Caldas Novas, Anápolis e Brasília participam da manifestação por entenderem que os documentos citados expressam a materialidade de uma luta histórica da sociedade no sentido de garantir à pessoa com transtorno mental e usuários de álcool e outras drogas o exercício de sua cidadania e o direito de ser tratada com humanidade e respeito, ser protegida contra qualquer forma de abuso e exploração, receber cuidados em ambiente terapêutico pelos meios menos invasivos possíveis e em liberdade. Em suma, o CREDEQ representa um retrocesso e retomada do modelo manicomial em Goiás. Assim, exigimos que o Estado faça investimentos orientados pelos princípios do modelo psicossocial conforme diretrizes do Ministério da Saúde.

Goiânia, 02 de Dezembro de 2010


3 comentários :

  1. O INFERNO É O CRACK



    Gilberto G. Pereira
    Em palestra ministrada em Goiânia, psiquiatra baiano diz que demonização das drogas só atrapalha
    O problema é complexo e não é de hoje que se vem falando dele. Desde que foi criado e ganhou o mercado das drogas ilícitas, o crack (forma impura de cocaína, fumada num cachimbo) tem sido abordado como a grande vedete do mal.

    Atualmente seu consumo se alastra nas camadas mais desfavorecidas da sociedade, mas também ganha adesão na classe média. E o problema se potencializa nos meios de comunicação, como tudo se potencializa ali quando atinge um patamar mais protegido da sociedade.

    Para discutir questões ligadas ao uso de psicoativos e o modelo de tratamento dos pacientes, o CASA CAPSad – Centro de Atenção à Saúde de Alcoolistas e Toxicômanos e o CAPS Girassol realizaram o seminário “A Rede de Prevenção e Atenção aos usuários de Álcool e Outras Drogas”, nos dias 1 e 2 deste mês, em Goiânia.

    O ponto alto do evento foi o médico psiquiatra baiano, Antonio Nery, fundador e coordenador do Centro de Estudos e Terapia do Abuso de Drogas (CETAD) da Faculdade de Medicina da Universidade Federal da Bahia. Nery é idealizador do Consultório de Rua, projeto criado em 1999 dentro do CETAD e que atende crianças e adolescentes usuários de drogas que vivem nas ruas e não têm condições ou não querem frequentar as casas de apoio.

    No primeiro dia de evento, Nery ministrou uma palestra sobre os problemas causados pelo uso do crack. Segundo ele, o desafio dos profissionais de saúde mental e da própria sociedade é encarar a droga como aquilo que ela é, um produto, e, ao mesmo tempo, não coisificar o usuário, retirando sua condição humana.

    Mesmo porque, argumenta, essa atitude é inócua. Muitas drogas já estiveram na mesma situação do crack, como a cocaína, o LSD (Ácido Lisérgico Dietilamida), a heroína e várias outras que já entraram para o hall daquelas que não escandalizam mais.

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  2. De acordo com o psiquiatra, que intitulou sua palestra de “A Demonização do Crack”, algumas pessoas formadoras de opinião, entre médicos e profissionais da mídia, não se atêm ao problema que o usuário tem como ser humano, mas à droga em si, dando a ela o status de demônio.
    Combate
    Nery apoia o movimento antimanicomial, que há décadas luta para um tratamento mais humano e sem internação de usuários de psicoativos (drogas e álcool) e pessoas que sofrem de transtorno mental. O movimento engloba os próprios usuários e trabalhadores de hospitais e manicômios.
    O principal alvo do combate é a hegemonia das clínicas psiquiátricas. O seminário foi realizado justamente para discutir essas questões e fortalecer os laços da bandeira antimanicomial, que defende um modelo de tratamento chamado psicossocial, em contraposição ao modelo asilar.

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  3. Segundo Lourival Belém, médico psiquiatra de Goiânia, que faz parte do movimento e um dos organizadores do evento, o pensamento conservador não aceita as diretrizes humanitárias do tratamento psicossocial. “Eles agora nos dizem claramente que os ‘fatores psicossociais podem estar presentes no início do consumo’, mas que ‘a dependência química é uma doença cerebral crônica’.
    A psicóloga da Secretaria Municipal de Saúde, Elaine Mesquita, que também é integrante da comissão organizadora do seminário, diz que a maioria das internações de qualquer paciente, seja ele usuário de droga (internado para desintoxicação e uso de medicamento) ou portador de transtorno mental, é ineficaz.

    No caso dos usuários de psicoativos, “muitas vezes, eles só transitam de uma dependência para a outra, saindo de uma droga ilícita e caindo na esparrela do consumo da droga lícita receitada pelos médicos”, diz Elaine. “É preciso haver um controle dessa medicação. Às vezes só é necessária num momento de alta fragilidade, de crise, para que depois esse indivíduo seja tratado terapeuticamente”, pondera a psicóloga.

    Diante de um público de 450 pessoas no auditório da Câmara Municipal de Goiânia, o psiquiatra baiano, de 63 anos de idade, 30 deles dedicados à psicoterapia, nessa perspectiva da valorização do humano, fez uma palestra sensível. “Desculpem-me por ser complexo, mas não dá para tratar de um assunto tão complexo com a leviandade que querem alguns”, exclamou.
    Consciência
    Para tratar da demonização do crack, Nery colocou no cerne de sua fala a questão humana. Segundo ele, a droga é uma espécie de chave mágica que abre várias outras percepções, porque altera a consciência. O problema é que ao se deslocar de sua própria identidade, muitas pessoas não se situam do ponto de vista psíquico (que é o vício).

    Quando isso acontece, não é a droga que percebe o mundo diferente, é o ser humano, é quem consome. As atenções devem estar voltadas para quem consome a droga e não para a droga. Não adianta eleger o crack como demônio do momento e jogar no lixo a pessoa que se perdeu momentaneamente.

    Pior ainda, argumenta o médico, não se deve descartar um ser humano porque usa drogas. Nesse momento, a fala de Nery evoca a contestação de Belém, segundo a qual, alguns médicos defendem a tese de que o vício do crack é um inferno sem volta. Para Nery, isso não é verdade.

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soporhoje10@gmail.com

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