Família
Dependentes da dependência
Familiares podem alimentar a dependência química de seus membros sem mesmo saber disso, apenas para - emocionalmente - esconder as próprias psicopatologias e conflitos existenciais
Por José Antonio Mariano
No Filme Quando um homem
ama uma mulher, uma mãe revive
um trauma do passado e passa a
beber, colocando seu casamento
em risco
É quase isto que o codependente busca: ele usa o dependente como um canal de comunicação, ou como um “anexo”, ao seu recontato com algo superior. É por isso que ele faz do usuário seu deus particular, para o qual faz confluir todas as suas energias e todo o seu sentido de realização. E é por isso que quando fracassa – porque ele, não o dependente, fracassa – tem tanta predisposição em recomeçar. Sem contar, obviamente, que isso o recompensa na medida em que é reconhecido por todos e por tudo graças à sua resistência, persistência e fortaleza. Puro teatro. Esse deus que ele, o co-dependente, elegeu, não o irá resgatar. O abusador de SPAs continuará a ser o centro do seu mundo, o que leva à conclusão de que, sem ser o centro do seu ser, o co-dependente pede emprestada a centralidade do outro. E mais uma vez, por causa disso, fica evidente por que o co-dependente não “pode” deixar o dependente parar de usar drogas. Se isso acontecer, tanto ele como a família terão de lidar com as próprias dificuldades. E a isso eles não estão dispostos.
CUIDADO ESPECIAL
Tratar o co-dependente, para vários especialistas, é muito mais difícil que tratar o próprio dependente. É por isso que quando o usuário vai a tratamento, é fundamental que também a família vá. Segundo Campos e Ferreira (2007), “o primeiro passo a ser tomado pelo codependente é ele aceitar que não é tão forte como pretende ser, ou como os outros gostariam que fosse. Deve deixar que a realidade atue e lhe mostre caminhos, e, a partir daí, ele não precisará mais fugir daquilo que está ali, na sua frente, para ser visto e vivido. Um segundo passo é filiarse a algum grupo de apoio, no qual interagirá com pessoas que sofrem dos mesmos males que ele mas estão conseguindo mudar o rumo da própria vida, graças ao apoio que recebem. Um terceiro passo é procurar terapia com profissionais do ramo que tenham experiência de cuidar de pessoas co-dependentes. E um quarto passo a ser tomado por co-dependentes que necessitem tratamento contra depressão, ansiedade, síndrome do pânico é procurar um bom psiquiatra e se medicar, tentando voltar a ter a mesma capacidade anterior aos fatos que geraram sua co-dependência”.
Sintomas da Co-dependência
• Dificuldade de estabelecer e manter relações íntimas sadias e normais, sem depender muito do outro.
• Congelamento emocional. Mesmo diante dos absurdos cometidos pela pessoa problemática o co-dependente mantém-se com a serenidade própria dos mártires.
• Baixa auto -estima.
• Perfeccionismo. Da boca para fora o co-dependente professa um perfeccionismo que, na realidade, gostaria que a pessoa problemática tivesse.
• Necessidade obsessiva de controlar a conduta de outros. Palpites, recomendações, preocupações, gentilezas quase exageradas fazem com que o codependente esteja sempre supersolícito com quase todos (Esta é uma forma de ele mostrar que sua solicitude não se restringe à pessoa problemática).
• Condutas pseudocompulsivas. Se o co-dependente paga as dívidas da pessoa problemática diz “nunca sei bem por que faço isso”, que não consegue se controlar.
• Sentir-se responsável pelas condutas de outros. Na realidade ele se sente responsável pela conduta da pessoa problemática, mas para que isso não motive críticas, ele aparenta ser responsável também por todos.
• Sensação de incapacidade. Nunca tudo aquilo que fez ou está fazendo pela pessoa problemática parece ser satisfatório.
• Constante sentimento de vergonha, como se a conduta extremamente inadequada da pessoa problemática fosse, de fato, sua.
• Dependência da aprovação externa, até pela própria auto-estima.
• Dores crônicas de cabeça e das costas como somatização da ansiedade.
• Gastrite e diarréia crônicas, como envolvimento psicossomático da angústia e do conflito.
• Como resultado final, tem-se a depressão.
José Antonio Mariano é psicanalista e jornalista especializado em saúde mental. Contato: marianopsi@i12.com
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