Jorge Antonio Monteiro de Lima
Em nossa experiência empírica na prática da psicoterapia de base analítica na saúde mental observamos em certos casos a intensa ligação entre as dependências químicas e o estado depressivo, seja no usuário de álcool, maconha, cocaína, pessoas viciadas em medicação, ou qualquer outra droga.
A maior incidência deste processo está nos homens jovens cuja idade varia entre os 14 aos 35 anos. Geralmente estes tentando fugir dos sintomas isolados de crises de pânico ou da depressão tendem naturalmente a migrar para o uso de drogas lícitas ou ilícitas, o que transformará todo processo em dois problemas em um só. A incidência nas mulheres é pequena em proporção aos homens dependentes químicos sendo justamente por isto que as estatísticas de depressão tendem a ser menores no público masculino, visto que eles "mascaram" a patologia que os induz ao vício.
O uso de drogas tem sua ação variada. O álcool, a maconha e os calmantes inibem o sistema nervoso e tendem naturalmente a agravar os quadros de ansiedade, depressão e pânico. São buscados geralmente ou indicados visando relaxar ou tranqüilizar seu usuário contudo na prática assim que o efeito passar as crises tendem a voltar pioradas.
As drogas "estimulantes" como o crack, cocaína, e outras por sua vez geram um estado eufórico passageiro que terá ação direta na produção de adrenalina e outros hormônios mas que em contrapartida atacará o sistema nervoso assim que o efeito da mesma cesse o debilitando ainda mais. Sem a incidência de patologias como a ansiedade, depressão ou pânico o usuário destas drogas já tem como efeito colateral um estado de letargia intenso que ocorre principalmente no dia seguinte ao uso da droga.
Os calmantes nos casos de depressão e pânico da família dos benzodiazepínicos são extremamente desrecomendados por "deprimirem" o sistema nervoso. Justamente por isto foram criados os anti- depressivos e os ansiolíticos. Isto sem falar que hoje em dia o risco de dependência de calmantes é extremamente alto sendo que as estatísticas da O.M.S. apontam que estes são a segunda maior causa de dependência após o álcool em nossa sociedade.
Notamos na prática que boa parte dos fatores estimulantes para o uso de uma substancia química se relacionam diretamente com a insatisfação, ansiedade, fuga da realidade, necessidade de poder, desequilíbrio ou desajuste da personalidade, ausência de limites psíquicos e imaturidade afetiva. A ansiedade com características mórbidas induzindo a esta fuga do mundo pelo uso de uma substancia que de forma mágica levaria a um mundo de satisfação utópico. Em termos cognitivos após o uso da substancia "inebriante" a volta a realidade nua e crua conhecida em termos técnicos como a "ressaca moral" leva o usuário a buscar novamente o refúgio seguro na droga o que gradativamente faz com que aumente a freqüência de seu uso.
Este processo citado anteriormente aumenta as crises de depressão após o uso da droga seja ela qual for. Se somarmos a este processo os fatores psicológicos da inserção do usuário na marginalidade, as formas escusas para conseguir a substancia, a decadência moral e financeira, e a quebra de produtividade inerente ao uso de qualquer uma destas substancias teremos aumentados os fatores estressantes do usuário e a potencialização da crise de depressão após o uso da droga.
Nos casos de pânico o uso de drogas tende a rebaixar naturalmente o nível de consciência gerando um fator potencializador de crises de pânico que vão fundir se com os processos paranóicos e persecutórios, extremamente freqüentes.
O tratamento de crises de dependência misturadas com transtornos de ansiedade, depressão e pânico neste sentido terá de desenvolver se em duas frentes: quebra da dependência química em um primeiro plano e após esta quebra o tratamento da ansiedade, depressão ou pânico. A desintoxicação da droga deverá vir primeiro mesmo por que há uma tendência natural que estas outras doenças sejam apenas um sintoma da dependência. O corpo desintoxicado reagirá melhor ao tratamento medicamentoso.
Dependência ou Adicção
Adicção à Droga ou ao Álcool é um neologismo inadequado e até desaconselhado, em termos lingüísticos, que designa o uso repetido de substância(s) psicoativa(s), de forma que o usuário (chamado adicto) fica periódica ou cronicamente intoxicado, demonstra uma compulsão para tomar a(s) substância(s) preferida(s), tem grande dificuldade em interromper ou modificar voluntariamente o uso da substância e mostra determinação para obter a substância de qualquer maneira.
Adicção não tem nenhuma palavra correspondente em Português, e não se encontra consignado nem mesmo nos mais recentes dicionários da língua portuguesa. Apesar de não ser um termo diagnóstico na CID10, continua a ser amplamente utilizado por profissionais e principalmente pelo público em geral, mas seu uso é desaconselhado, mesmo na língua inglesa.
Segundo o CID.10, Dependência seria um conjunto de fenômenos psico-fisiológicos que se desenvolvem após repetido consumo de uma substância psicoativa. Tipicamente a Dependência estaria associada à várias Circunstâncias, como por exemplo, ao desejo poderoso de tomar a droga, à dificuldade de controlar o consumo, à utilização persistente apesar das suas conseqüências nefastas, a uma maior prioridade dada ao uso da droga em detrimento de outras atividades e obrigações, a um aumento da tolerância pela droga e por vezes e, finalmente, associado a um estado de abstinência quando de sua privação.
A Síndrome de Dependência pode dizer respeito a uma substância psicoativa específica (por exemplo, o fumo, o álcool ou o diazepam), a uma categoria de substâncias psicoativas (por exemplo, substâncias opiáceas) ou a um conjunto mais vasto de substâncias farmacologicamente diferentes.
Segundo o DSM.IV, a característica essencial da Dependência de Substância é a presença de um agrupamento de sintomas psico-fisiológicos indicando que o indivíduo continua utilizando uma substância, apesar de problemas significativos relacionados a ela. Existe um padrão de auto-administração repetida que geralmente resulta em tolerância, abstinência e comportamento compulsivo de consumo da droga. Um diagnóstico de Dependência de Substância pode ser aplicado a qualquer classe de substâncias, exceto à cafeína. Os sintomas de Dependência são similares entre as várias categorias de substâncias, mas, para certas classes, alguns sintomas são menos salientes e, em alguns casos, nem todos os sintomas se manifestam.
Jorge Antônio Monteiro de Lima é pesquisador em saúde mental, Psicólogo e musico Consultor de Recursos Humanos Consultoria para projetos de acessibilidade para pessoas com necessidades especiais email: contato@olhosalma.com.br - site:www.olhosalma.com.br
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Antes da minha adicção eu era diagnosticado como deprimido, isto é, portador de depressão reversível. O que eu não sei dizer e não ouvi qualquer parecer de especialistas é se minha adicção foi decorrente da depressão, ou não. Achei por bem deixar este comentário aqui na esperança de que, alguém, com conhecimento elevado, possa opinar a respeito desta minha condição sui generis. Tive uma amiga que nunca aceitou reconhecer ser uma adicta pois se considerava uma depressiva crônica e eu acho que ela e a tese que defendia estava correta. Nunca mais a vi, mas gostaria de ve-la para buscar entender a tese dela, pois acho que tinhamos muitas coisas em comum. A diferença estava no fato do caso dela ser simples e o meu complexo. Só por Hoje eu não quero permanecer na dúvida, preciso de alguém que me lance a luz da razão.
ResponderExcluirDeve-se ter em mente que usuário e viciado, o chamado dependente químico, existe uma grande diferença, em termos de números, de 100 usuários 2 se tornam viciados em cocaína,problema é saber quem que em seu DNA é o infeliz da hora, cada droga tem seu percentual viciante, ajustado ao mapa genético de seu usuário. Falar nisso, que já é provado seria sair da esfera policial e entrar na área de saúde, mas a quem interessa isso??? Daí você liberando as drogas, certamente o pessoal armado sumiria das comunidades e trataríamos as drogas, como deve ser uma questão de saúde
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