quarta-feira, 16 de junho de 2010

Consumo de bebidas alcoólicas em Portugal e no Brasil


A Organização Mundial da Saúde (World Health Organization, WHO) estima que 3,2% do “ônus da doença” (burden of disease, o impacto da doença na expectativa de vida e nas perdas econômicas e sociais) se deve ao consumo de bebidas alcoólicas. Atualmente Portugal é o oitavo país do mundo em termos de consumo de álcool. O impacto do consumo de álcool naquele país representa um ônus econômico considerável para o sistema de saúde lusitano.

Segundo a gastroenterologista Helena Cortez-Pinto, o surgimento de cirrose hepática em decorrência do consumo de álcool leva a um quadro de alta morbidez e mortalidade. O estudo coordenado pela Dra. Cortez-Pinto foi considerado brilhante pelo presidente da Sociedade Européia de Pesquisa Biomédica de Álcool, Helmut K. Seitz. Segundo Seitz, “O estudo realizado demonstra claramente que o consumo de álcool é não somente um fator de risco para várias doenças, principalmente doenças do fígado, mas que tais doenças apresentam um enorme custo para a sociedade. Dados similares foram obtidos em outros países, como o Canadá e a Inglaterra, e estamos coletando dados adicionais para mostrar à sociedade, aos médicos e aos políticos que é necessário se tomar providências.”

O estudo coordenado por Cortez-Pinto analisou 2500 dados estatísticos de saúde e demográficos, utilizando a abordagem DALY (Disability-Adjusted Life Years). Tal abordagem considera o conjunto dos efeitos que as doenças decorrentes do consumo de álcool podem ter sobre mortalidade prematura. Ou seja, o quanto o consumo de álcool pode influenciar na redução qualidade e da expectativa de vida das pessoas que são diagnosticadas com doenças decorrentes do consumo de álcool.

Segundo o estudo, 3,8% das mortes de Portugal são causadas pelo consumo de álcool. Desta porcentagem, 31,5% corresponde a doenças de fígado, 28,2% a acidentes de carro, 19,2% a vários tipos de câncer e doenças cardiovasculares. Em termos econômicos, tais perdas correspondem a 191 milhões de Euros para Portugal em custos diretos, 0,13% do PIB daquele país e 1,25% dos gastos nacionais com saúde.

O consumo exagerado de álcool é observado especialmente por homens de baixo nível educacional e fumantes. Além disso, o consumo de álcool é considerado o maior fator de risco para o surgimento de câncer na boca, laringe, faringe, esôfago, fígado, de mama e colo-retal, tipos de câncer de alta prevalência.

Segundo a Dra. Cortez-Pinto, outros países deveriam realizar estudos desta natureza para observar as conseqüências severas do consumo de álcool para a sociedade e para a economia. Os resultados de tais pesquisas deveriam servir para governos implementarem medidas para a diminuição do consumo de bebidas alcoólicas, principalmente jovens. “O público têm que entender que o consumo de álcool é um problema de saúde muito sério, e o número 1 em termos de causas de doenças na Europa. E, se quisermos controlar este problema, várias medidas devem ser implementadas, como aumentar significativamente o preço das bebidas e restrições para sua compra.”

Na Europa, os países do leste europeu são os que apresentam o maior consumo de álcool, bem como a Alemanha e o Reino Unido. A fonte destas informações é o ScienceDaily.

Enquanto isso, embora cerca de 10% da população brasileira seja de alcoólatras (veja aqui), a AMBEV comemora o aumento no consumo de bebidas alcoólicas e promete investir 2 bilhões de reais para aumentar ainda mais a oferta de bebidas desta natureza (veja aqui).

Segundo dados da Prefeitura Municipal de São Paulo (veja aqui), levantamentos realizados por pesquisadores com base em dados do Grupo Interdisciplinar de Estudos de Álcool e Drogas (GREA), da Associação Brasileira de Bebidas (ABRABE), da AMBEV e do Ministério da Saúde, a indústria do álcool movimenta recursos equivalentes a 3,5% do PIB brasileiro. Esse mesmo estudo calculou que o custo anual de problemas relacionados ao álcool é de 7,3% do PIB brasileiro. Ou seja, as despesas com tratamento de doenças causadas ou agravadas pelo álcool superam os impostos pagos pelas empresas para livremente comercializarem e divulgarem o seu produto em nosso país. É a indústria das bebidas alcoólicas que determina as principais iniciativas dessa política, da difusão do consumo, na publicidade e áreas afins. A indústria de bebidas alcoólicas conta com forte apoio no Congresso Nacional e no Senado.

Ainda de acordo com os dados da Prefetura do Município de São Paulo, o consumo de álcool é hoje um dos mais graves problemas de saúde e segurança pública do Brasil, porque:

- É responsável por mais de 10% de todos os casos de adoecimento e morte no país.

- Provoca 60% dos acidentes de trânsito.

- É detectado em 70% dos laudos cadavéricos de mortes violentas.

- Transforma 18 milhões de brasileiros em dependentes do álcool.

- Leva 65% dos estudantes de 1º e 2º grau à ingestão precoce, sendo que a metade deles começa a beber entre 10 e 12 anos;

- Está ligado ao abandono de crianças, aos homicídios, delinqüência, violência doméstica, abusos sexuais, acidentes e mortes prematuras.

- Causa intoxicações agudas, coma alcoólico, pancreatite, cirrose hepática, câncer em vários órgãos, hipertensão arterial, doenças do coração, acidente vascular cerebral, má formação do feto; está ligado a doenças sexualmente transmissíveis e gravidez indesejada.

- Impõe prejuízos incalculáveis, atendimentos em pronto-socorros, internações psiquiátricas, faltas no trabalho; além dos custos humanos, com a diminuição da qualidade de vida dos usuários e de seus familiares.

Resta saber quando a sociedade vai acordar para o consumo excessivo de álcool no Brasil, um problema crônico.

Crédito: http://quiprona.wordpress.com/2010/06/01/consumo-de-bebidas-alcoolicas-em-portugal-e-em-sao-carlos-sp-brasil/

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