terça-feira, 15 de junho de 2010

Bicho de Sete Cabeças


Bicho de Sete Cabeças

João Luís de Almeida Machado Doutor em Educação pela PUC-SP; Mestre em Educação, Arte e História da Cultura pela Universidade Presbiteriana Mackenzie (SP); Professor Universitário e Pesquisador; Autor do livro "Na Sala de Aula com a Sétima Arte – Aprendendo com o Cinema" (Editora Intersubjetiva).

Tentando resgatar nossos jovens 


O início do filme nos traz a imagem de alguns de nossos jovens e, no tocante aos professores, a de alunos que trazem problemas e geram enormes dificuldades para o exercício de nossa função. Há, inclusive, uma sintomática sequência que se desenvolve numa sala de aula, onde o personagem central, Neto (vivido por Rodrigo Santoro, surpreendente e bastante a vontade no papel) está totalmente desvinculado daquilo que está acontecendo na sala de aula, literalmente "no mundo da lua", desprezando solenemente a presença do professor. 

Já se trata de um bom início de discussões, afinal de contas, como devemos agir em relação a esses garotos e garotas que, evidentemente, "embarcaram numa viagem sem volta" e que estão em nossas aulas "matando o tempo"? O que fazer quando tivermos indícios muito fortes de que algum jovem, entre aqueles com os quais estamos trabalhando, está usando drogas? De que forma devemos abordar a questão dos tóxicos entre nossos alunos? Como encaminhar uma discussão com os pais desses dependentes? O álcool e a maconha, não são drogas?

Outras questões importantes que podemos inferir a partir do filme referem-se a própria conduta da escola no que se refere a forma como as aulas são conduzidas, seus métodos, a comunicação e sua efetivação dentro de uma classe, os recursos que estão sendo utilizados, o diálogo entre os professores e os alunos e entre a escola e os pais e, por aí vai; afinal, temos uma parcela de responsabilidade se pensarmos que, enquanto educadores, devemos fazer com que nossos alunos aprendam nossos conteúdos e, também, assumam responsabilidades e tenham posturas definidas quanto a vida, permitindo que eles tenham condições de evitar as armadilhas do cotidiano, entre as quais, a droga se inclui.

É perceptível, nesse aspecto, que não estamos cumprindo com nossos compromissos de forma plena. Temos nos preocupado muito com os conteúdos e pouco com a formação de conceitos seguros de cidadania, ética e responsabilidade social. O filme da diretora Laís Bodanzky nos dá uma alfinetada que deve doer no fundo da alma, que deve servir para abrir nossos olhos, que deve nos mobilizar em direção a práticas que nos permitam auxiliar e resgatar nossos jovens dos caminhos da droga.

Voltemos ao filme. Neto é um jovem estudante que, como qualquer pessoa dessa faixa etária (não generalizemos, há muitos garotos que não medem os riscos e entram em verdadeiras "frias", mas, há outros que assumem compromissos, investem numa vida saudável, estudam e respeitam os pais), arrisca-se de forma irresponsável em atividades como pichações, viajar com a "galera" para o litoral sem o consentimento dos pais e sem nem ao menos informar aonde está, "transar" sem camisinha e sem conhecer a parceira ou, ainda pior, se envolver com drogas.

Proveniente de uma família de classe média baixa, Neto tem pais esforçados porém, pouco informados e, sujeitos as opiniões alheias. Quando descobre em que situações seu filho se meteu, especialmente, ao encontrar um cigarro de maconha na roupa do rapaz, o pai (vivido pelo experiente Othon Bastos) decide-se pela internação imediata do jovem num sanatório. 

Nessa instituição, teoricamente uma das melhores disponíveis na cidade onde se passa a trama, Neto é submetido a situações absurdas como por exemplo, a tomar medicamentos sem qualquer avaliação prévia pelos médicos responsáveis ou ainda, é submetido a choques e ao convívio com doentes mentais em estágios avançados de enfermidade.

Seus apelos para que os pais o tirem dali são encarados como táticas de um viciado que pagaria qualquer preço para retornar ao convívio com as drogas, o que só faz com que se prolongue sua internação. Quando consegue sair, passa a conviver com o preconceito dos outros e tem dificuldades de readaptação que o levam a incorrer em novos erros e descaminhos, levando-o a nova internação Como escapar desse vai e vem? Como superar esse círculo vicioso? O que nós podemos fazer (pais, professores, sociedade em geral)?

Sensibilidade é uma das palavras essenciais nessa relação delicada. Compreensão e diálogo também fazem parte do caminho da recuperação. É ver para crer!

Ficha Técnica
Bicho de Sete Cabeças
País/Ano de produção: Brasil, 2000
Duração/Gênero: 74 min., drama
Distribuição: Columbia
Direção de Laís Bodanzky
Elenco: Rodrigo Santoro, Othon Bastos, Cássia Kiss, Jairo Mattos.

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