terça-feira, 15 de junho de 2010

Psicánalise Freudiana, Id, Ego, Superego



PRIMEIRA TEORIA DO APARELHO PSÍQUICO
(PRIMEIRA TÓPICA).
ROTEIRO
   1-Introdução.
   2- Inconsciente.
2.1-Definição.
2.2-Histórico.
3-   Pré-Consciente.
3.1-Definição.
3.2-Histórico.
4-   Consciente.
4.1-Definição.
4.2- Histórico.
5- Bibliografia.

1-INTRODUÇÃO.
Freud empregou a palavra “aparelho” para caracterizar uma organização psíquica dividida em sistemas, ou instâncias psíquicas, com funções específicas para cada uma delas, que estão interligadas entre si, ocupando um certo lugar na mente. Em grego, “topos” quer dizer “lugar”, daí que o modelo tópico designa um “modelo de lugares”, sendo que Freud descreveu a dois deles: a “Primeira Tópica” conhecida como Topográfica e a “Segunda Tópica”, como Estrutural.
A noção de “aparelho psíquico”, como um conjunto articulado de lugares – virtuais – surge mais claramente na obra de Freud em “A interpretação dos sonhos” de 1900, no qual, no célebre capítulo 7, ele elabora uma analogia do psiquismo com um aparelho óptico, de como esse processa a origem, transformação e o objetivo final da energia luminosa.
Nesse modelo tópico, o aparelho psíquico é composto por três sistemas: o inconsciente (Ics), o pré-consciente (Pcs) e o consciente (Cs). Algumas vezes, Freud denomina a este último sistema de sistema percepção-consciência.
O sistema consciente tem a função de receber informações provenientes das excitações provenientes do exterior e do interior, que ficam registradas qualitativamente de acordo com o prazer e/ou, desprazer que elas causam, porém ele não retém esses registros e representações como depósito ou arquivo deles. Assim, a maior parte das funções perceptivo-cognitivas-motoras do ego – como as de percepção, pensamento, juízo crítico, evocação, antecipação, atividade motora, etc., processam-se no sistema consciente, embora esse funcione intimamente conjugado com o sistema Inconsciente, com o qual quase sempre está em oposição.
O sistema pré-consciente foi concebido como articulado com o consciente e, tal como sugere no “Projeto”, onde ele aparece esboçado com o nome de “barreira de contato”, funciona como uma espécie de peneira que seleciona aquilo que pode, ou não, passar para o consciente.
Ademais, o pré-consciente também funciona como um pequeno arquivo de registros, cabendo-lhe sediar a fundamental função de conter as representações de palavra, conforme foi conceituado por Freud, 1915.
O sistema inconsciente designa a parte mais arcaica do aparelho psíquico. Por herança genética, existem pulsões, acrescidas das respectivas energias e “protofantasias”, como Freud denominava as possíveis fantasias atávicas que também são conhecidas por “fantasias primitivas, primárias ou originais”. As pulsões estão reprimidas sob a forma de repressão primária ou de repressão secundária.
Uma função que opera no sistema inconsciente e que representa uma importante repercussão na prática clínica é que ela contém as representações da coisa. Portanto, numa época em que as representações ficaram impressas na mente quando ainda não havia palavras para nomeá-las. Funcionalmente, o sistema inconsciente opera segundo as leis do processo primário e, além das pulsões do id, tem também muitas funções do ego, bem como do superego.

2- INCONSCIENTE.
2.1- DEFINIÇÃO.
É o conteúdo ausente, em um dado momento, da consciência, que está no centro da teoria psicanalítica. O adjetivo inconsciente é por vezes usado para exprimir o conjunto dos conteúdos não presentes no campo efetivo da consciência, isto num sentido “descritivo” e não “tópico”, quer dizer, sem se fazer discriminação entre os conteúdos dos sistemas pré-consciente e inconsciente.
No sentido “tópico”, inconsciente designa um dos sistemas definidos por Freud no quadro da sua primeira teoria do aparelho psíquico. É constituído por conteúdos recalcados aos quais foi recusado o acesso ao sistema pré-consciente-consciente pela ação do recalque originário e recalque a posteriori. Freud acentuou desde o início que o sujeito modifica a posteriori os acontecimentos passados e que essa modificação lhes confere um sentido e mesmo uma eficácia ou um poder patogênico.
Podemos resumir do seguinte modo as características essenciais do inconsciente como sistema (ou Ics):
a) Os seus “conteúdos” são “representantes” das pulsões;
b) Estes “conteúdos” são regidos pelos mecanismos específicos do processo primário, principalmente a condensação e o deslocamento;
c) Fortemente investidos pela energia pulsional, procuram retornar à consciência e à ação (retorno do recalcado); mas só podem ter acesso ao sistema Pcs-Cs nas formações de compromisso, depois de terem sido submetidos às deformações da censura.
d) São, mais especialmente, desejos da infância que conhecem uma fixação no inconsciente.
A abreviatura Ics (Ubw do alemão Unbewusste) designa o inconsciente sob a sua forma substantiva como sistema; ics (ubw) é a abreviatura do adjetivo inconsciente (unbewusst) enquanto qualifica em sentido estrito os conteúdos do referido sistema.
No quadro da segunda tópica freudiana, o termo inconsciente é usado, sobretudo na sua forma adjetiva; efetivamente, inconsciente deixa de ser o que é próprio de uma instância especial, visto que qualifica o id e, em parte, o ego e o superego. Mas convém notar que as características atribuídas ao sistema Ics na primeira tópica são de um modo geral atribuídas ao Id na segunda. A diferença entre o pré-consciente e o inconsciente, embora já não esteja baseada numa distinção intersistêmica, persiste como distinção intra-sistêmica (o ego o superego são em parte pré-conscientes e em parte inconscientes).

2.2- HISTÓRICO.
O sonho foi para Freud o caminho por excelência da descoberta do inconsciente. Os mecanismos (deslocamento, condensação, simbolismo) evidenciados no sonho em “A interpretação de sonhos” de 1900 e constitutivos do “processo primário” são reencontrados em outras formações do inconsciente (atos falhos, chistes, lapsos, etc.), equivalentes aos sintomas pela sua estrutura de compromisso e pela sua função de “realização de desejo”.
O inconsciente freudiano é, em primeiro lugar, indissoluvelmente uma noção tópica e dinâmica, que brotou da experiência do tratamento. Este mostrou que o psiquismo não é redutível ao consciente e que certos “conteúdos” só se tornam acessíveis à consciência depois de superadas certas resistências.
O termo “inconsciente” havia sido utilizado antes de Freud para designar de forma global o não-consciente. Freud afasta-se da psicologia anterior, por uma apresentação metapsicológica, isto é, por uma descrição dos processos psíquicos em suas relações dinâmicas, tópicas e econômicas. Este é o ponto de vista tópico, que permite localizar o inconsciente. Uma tópica psíquica não tem nada a ver com a anatomia, refere-se a locais do aparelho psíquico. Este é “como um instrumento” composto de sistemas, ou instâncias, interdependentes. O aparelho psíquico é concebido sobre o modelo de um aparelho reflexo, do qual uma extremidade percebe os estímulos internos ou externos, encontrando sua resolução na outra extremidade, a motora. É entre esses dois pólos que se constitui a função de memória do aparelho, sob a forma de traços mnésicos deixados pela percepção que é conservado, mas sua associação, por exemplo, conforme a simultaneidade, a semelhança, etc. A mesma excitação encontra-se, portanto, fixada de forma diferente nas diversas camadas da memória. Como uma relação de exclusão liga as funções da memória e da percepção, é preciso admitir que nossas lembranças tornam-se logo inconscientes.
No artigo “O inconsciente” em 1915, Freud denomina-os “representante da pulsão”. Com efeito, a pulsão, na fronteira entre o somático e o psíquico, está aquém da oposição entre consciente e inconsciente; por um lado, nunca se pode tornar objeto da consciência e, por outro, só está presente no inconsciente pelos seus representantes, essencialmente o “representante-representação”.
Para Freud, é pela ação do “recalque” infantil que se opera a primeira clivagem entre o inconsciente e o sistema Pcs-Cs. O inconsciente freudiano é “constituído”, apesar de o primeiro tempo do recalque originário poder ser considerado mítico; não é uma vivência indiferenciada.

3- PRÉ-CONSCIENTE.
3.1- DEFINIÇÃO.
Como substantivo, designa um sistema do aparelho psíquico nitidamente distinto do sistema inconsciente (Ics); como adjetivo, qualifica as operações e conteúdos desse sistema pré-consciente (Pcs). Estes não estão presentes no campo atual da consciência e, portanto, são inconscientes no sentido “descritivo” do termo, mas distingue-se dos conteúdos do sistema inconsciente na medida em que permanecem de direito acessíveis à consciência (conhecimentos e recordações não atualizados, por exemplo).
Do ponto de vista metapsicológico, o sistema pré-consciente rege-se pelo processo secundário. Está separado do sistema inconsciente pela censura, que não permite que os conteúdos e os processos inconscientes passem para o Pcs sem sofrerem transformações.
No quadro da segunda tópica freudiana, o termo pré-consciente é sobretudo utilizado como adjetivo, para qualificar o que escapa à consciência atual sem ser inconsciente no sentido estrito. Do ponto de vista sistemático, qualifica conteúdos e processos ligados ao ego quanto ao essencial, e também ao superego.

3.2- HISTÓRICO.
Desde cedo Freud estabelece a diferença durante a elaboração de suas considerações metapsicológicas. Em “A interpretação de sonhos” em 1900, o sistema pré-consciente está situado entre o sistema inconsciente e a consciência; está separado do primeiro pela censura, que procura barrar aos conteúdos inconscientes o caminho para o pré-consciente e para a consciência; na outra extremidade, comanda o acesso à consciência e à motilidade.

4- CONSCIENTE.
4.1- DEFINIÇÃO.
No sentido descritivo, é a qualidade momentânea que caracteriza as percepções externas e internas no conjunto dos fenômenos psíquicos. Segundo a teoria metapsicológica de Freud, a consciência seria função de um sistema, o sistema percepção-consciência (Pcs-Cs).
Do ponto de vista tópico, o sistema percepção-consciência está situado na periferia do aparelho psíquico, recebendo ao mesmo tempo as informações do mundo exterior e as provenientes do interior, isto é, as sensações que se inscrevem na série desprazer-prazer e as revivescências mnésicas. Muitas vezes Freud liga a função percepção-consciência ao sistema pré-consciente (Pcs-Cs).
Do ponto de vista funcional, o sistema percepção-consciência opõe-se aos sistemas de traços mnésicos que são o inconsciente e o pré-consciente: nele não se inscreve qualquer traço durável das excitações. Do ponto de vista econômico, caracteriza-se pelo fato de dispor de uma energia livremente móvel, suscetível do sobre-investir este ou aquele elemento (mecanismo da atenção).
A consciência desempenha um papel importante na dinâmica do conflito (evitação consciente do desagradável, regulação mais discriminadora do princípio de prazer) e do tratamento (função e limite da tomada de consciência), mas não pode ser definida como um dos pólos em jogo no conflito defensivo.

4.2- HISTÓRICO.
Uma vez recusada a identificação do psiquismo com o consciente, restava a Freud investigar em que condições precisas o psiquismo vem a adquirir essa propriedade de ser consciente. A questão podia ser formulada então em dois terrenos. Seja um terreno reflexivo, numa determinação conceitual mais ou menos tributária da tradição; seja a partir do saber acumulado pela psicanálise. O primeiro desses pontos de vista é demonstrado na época da correspondência com Fliess, quando Freud recorre a Lipps. De fato, no tempo do “Projeto para uma psicologia científica”, Freud se distanciará de Lipps na medida em que falará de deslocamentos de energia psíquica ao longo de certas vias associativas e da persistência de traços quase indeléveis.
Considerando o consciente, pré-consciente e inconsciente, cuja significação não é mais puramente descritiva, vamos admitir que o pré-consciente está mais próximo do consciente que o inconsciente e, o latente ao pré-consciente.
Do primeiro ponto de vista, “a consciência constitui a camada superficial do aparelho psíquico”. Em outras palavras, escreve Freud em “O eu e o isso”, “vemos na consciência uma função que atribuímos a um sistema que, do ponto de vista espacial, é o mais próximo do mundo externo. Essa proximidade espacial deve ser entendida não apenas no sentido funcional, mas também no sentido anatômico. Assim também nossas pesquisas devem, por sua vez, tomar como ponto de partida essas superfícies que correspondem às percepções”.
A própria análise do “tornar-se consciente” tira partido dessa referência à percepção: “Eu já havia formulado em outro lugar a opinião de que a diferença real entre uma representação inconsciente e uma representação pré-consciente (idéia) consistiria em que a primeira se refere a materiais que permanecem desconhecidos, ao passo que a última (a pré-consciente) estaria associada a uma representação verbal. Esta será a primeira tentativa de caracterizar o inconsciente e o pré-consciente sem recorrer às suas relações com a consciência”.

5- BIBLIOGRAFIA.

FREUD, SIGMUND Obras Psicológicas Completas versão 2.0


ROUDINESCO, ELISABETH - Dicionário de Psicanálise, Jorge Zahar Editor, RJ-1997.

LAPLANCHE E PONTALIS – Vocabulário da Psicanálise, Martins Fontes, SP-2000.

KAUFMANN, PIERRE – Primeiro Grande Dicionário Lacaniano, Jorge Zahar Editor, RJ-1996.

ZIMERMAN, DAVID E. – Fundamentos Psicanalíticos, Artmed, RS-1999.

CHEMAMA, ROLAND - Dicionário de Psicanálise Larousse, Artes Médicas, RS-1995.

NICOLA ABBAGNANO, Dicionário de Filosofia – Martins Fontes, SP-2000

HANNS, LUIZ – Dicionário Comentado do Alemão de Freud, Imago, RJ-1996.

FENICHEL, OTTO, Teoria Psicanalítica das Neuroses, Atheneu, SP-2000

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