terça-feira, 8 de março de 2011

Crack é uma droga de otário



Sabe, meu camarada, o crack é uma droga de otário. Sabe quem foi que me disse isso: um traficante. Mesmo, assim, comprei a droga na mão dele. Não importa dizer como foi que entrei nessa onda bizarra. Logo eu, que era tão contra as drogas?!

Entrei mesmo de gaiato. Fui no embalo. A droga é uma merda que muita gente diz ter prazer. Pra mim ela sempre foi  fonte de desprazer. Gera um estado tétrico de paranóia, provoca alucinações auditivas e gera idéias persecutórias, compondo um quadro patológico típico de um esquizóide. 

Dentro das bocadas medo lhe assalta. Tudo assusta. Teme-se tiros,  balas perdidas, a polícia, os bandidos, que não são poucos e, até mesmo, do usuário que vai estar ali na mesma condição. 

Fora das bocadas a paranóia persegue. Há sempre alguém lhe espreitando, algo de ruim lhe aguardando. É um submundo que mais se assemelha ao inferno. Tudo bem que nesse meio, por onde andei, o exército de excluídos é assustador. Do crack não escapa crianças, tem gente de todos os tipos e gêneros. As classes mais altas já chegaram até as bocadas, você pode ver, principalmente as mulheres. A classe, conhecida como média, já está dentro faz mais tempo. 

Por falta de ter aonde usar você acaba sendo conduzido por barracos de gente desconhecida, em troca da droga que você possui. 

Aos poucos você vai usando e sua memória recente vai desaparecendo. Você esquece o dinheiro que tem no bolso, e, num misto de paranóia e displicência, você será furtado e quando se der conta, já era. É um submundo cruel, cheio de pilantras, vagabas, periguetes e ladronas. Os rapazes são todos oportunistas. Vão lhe oferecer a própria mulher. Vão usar sua droga e ainda vão dizer que você deve alguma coisa e você tem que pagar, porque está em um meio que não é o seu, onde as regras são feitas ao sabor dos interesses do momento. 

Mulheres se prostituindo, se oferecendo, se dando por qualquer trocado, estão dentro deste quadro dantesco.

Não pense que será discriminado e estigmatizado apenas fora desses antros, lá mesmo você vai ser olhado e encarado como um merda, um otário mesmo. Mesmo os que acham que não são, mesmo os ladrões e ladras, todos os que fazem uso dessa droga, não passam de otários. 

Se você tem uma boa índole, certamente vai sair ileso das bocadas, mas tenha certeza que vão lhe arrancar o último tostão. Você vai se desfazer dos seus pertences, vai perder o juízo, vai ficar sem noção, vai se degradar, vai ser humilhado e vai se humilhar.Certamente passará vergonha e, depois, quando o pesadelo acabar e você chegar perto da normalidade, vem o desgosto, o arrependimento, a culpa e o pior é que você promete a si mesmo que não mais voltará a repetir tantos desatinos e não dá outra. O retorno é certo. A droga lhe intoxica. Você pensa que ela cessou de operar e é ai que vem, de novo, aquele ímpeto de insanidade que lhe faz negar a própria vontade e, esquecido de tudo que lhe aconteceu, volta para sofrer tudo outra vez e assim sucessivamente. 

Não me pergunte quem ganha com isso, pergunte a você mesmo o quanto você perdeu entrando neste vício tão ordinário, quanto repugnante. 

Pois é, meu camarada, não sei mais o que lhe dizer, salvo que você vai se transformar em um perdedor, em um fracassado e mesmo sendo um pacato cidadão, vai ser observado com maus olhos. Vão lhe nivelar por baixo. 

Sua família e o meio que o cerca vão lhe encarar como um estorvo. Você passa a ser como um tumor, que incomoda, dói, lateja, até que alguém venha e esprema. Mas, continuará sendo um tumor. 

Será considerado nocivo, vai ser rejeitado, será olhado com indiferença, será isolado em muitos lugares e, em outros tantos recusado... Sua vida, camarada, já não tem mais o mesmo valor. Você se torna desprezível. 

Este é o quadro que pinto do inferno por onde andei. Do inferno onde um usuário de crack entra e, pra sair, é preciso receber estímulos que lhe resgate o corpo, a alma e o coração, além de lhe fazer despertar para a razão. Mas terá que sofrer muito antes de compreender que não pode mudar o mundo, não pode mudar nada, além de você mesmo. Vai ter que se render à realidade que é o seu descontrole total.  Você vai recusar ajuda, vai negar tanta coisa, vai insistir nas mentiras, mas um dia você chega a um estado tal, que, se for ajudado por um lampejo de razão, talvez se renda, admita e aceite muitas coisas...

Então, camarada, é a hora e o momento de você pegar a pista para percorrer a estrada dos 12 passos. Dai em diante você vai recobrando e resgatando tanta coisa que perdeu pelos descaminhos dessa vida vulgar e repugnante. 

Você vai se sentir tão bem ao recobrar a sobriedade perdida que vai lutar para conserva-la sempre. No momento, meu camarada, é o que tenho a lhe contar sobre o inferno que é o submundo do crack. É um mundo sombrio... Todos desejam sair, mas algo os amarra, os prende e a isso denominam como sendo o vício. 

Então tá tudo mais ou menos dito e agora só resta você compreender e tomar uma decisão para sair do inferno e entrar no purgatório. Não tenha pressa de chegar ao céu. Isso todos os mortais desejam. Vá devagar, mas vá. Volte primeiro para a estrada da razão. 

Liberte-se e venha viver com sobriedade, novamente. 

Um forte abraço, 
meu camarada.

Fui !


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