1- APRESENTAÇÃO
A epidemia de uso de crack que se apresenta no país preocupa a todos os brasileiros. A estimativa da
OMS para o Brasil é que existam 3% de usuários, o que implicaria em 6 milhões de brasileiros. O Ministério da Saúde trabalha com 2 milhões de usuários e estudo da Unifesp patrocinado pela SENAD demonstra que um terço dos usuários encontra a cura, outro terço mantém o uso e outro terço morre, sendo que em 85% dos casos relacionados à violência.
Não existe ainda uma droga específica. Os psiquiatras preconizam internação para desintoxicação de cerca de 7 a 14 dias, drogas usadas comumente como opióides e tratamento das comorbidades constituem-se em medidas iniciais, devendo o paciente ter acesso à rede de tratamento ambulatorial bem como aos processos integrados;
grande ação de cidadania. Diretrizes Gerais Médicas para Assistência Integral ao Crack .|
As entidades médicas (Conselho Federal de Medicina, Federação Nacional dos Médicos e Associação
Médica Brasileira) se disponibilizam para fazer parte dessa grande causa.
A presidência da República já se manifestou ao declarar o enfrentamento a essa grande mazela social.
As diretrizes a seguir foram formatadas a partir de trabalhos elaborados por especialistas, presentados
em Brasília –DF, na sede do CFM¹.
1 – a. ‘Guia da OMS de Intervenção para Transtornos Mentais, Neurológicos e por Uso de Substâncias em locais de cuidados não especializados’; do Dr. José Manoel Bertolote; Consultor da Secretaria Nacional de Políticas sobre Drogas
b. ‘Crack – Dimensão do Problema’ – do Dr. Salomão Rodrigues Filho membro da Associação Brasileira de Psiquiatria.
c. ‘Crack: abordagem clínica’ – do Dr. Carlos Salgado, Membro da CT Psiquiatria do CFM e Presidente da ABEAD
d. ‘Política do tratamento do CRACK’ – do Dr. Ronaldo Laranjeira, Professor Titular de Psiquiatria da UNIFESP e Presidente do INPAD-CNPq - Instituto Nacional de Políticas do Álcool e Drogas
e.’ Crack construindo um consenso’ – da Dra. Jane Lemos, Presidente da Associação Médica de Pernambuco.8| CFM Conselho Federal de Medicina.
2- DEFINIÇÕES DE USO, ABUSO E
DEPENDÊNCIA
USO: qualquer consumo de substâncias, para experimentar, esporádico ou episódico; ABUSO ou USO NOCIVO: consumo da SPA associado à algum prejuízo (biológico, psíquico ou social); DEPENDÊNCIA: Consumo sem controle, geralmente associado a problemas sérios para o usuário – diferentes graus.
3- INTRODUÇÃO
3.1 - O QUE É O CRACK?
Crack é produzido a partir da cocaína, bicarbonato de sódio ou amônia e água, gerando um omposto, que pode ser fumado ou inalado. O nome “crack” vem do barulho que as pedras fazem ao serem queimadas durante o uso.
3.2 - COMO É O USO?
O usuário queima a pedra em cachimbos improvisados, como latinha de alumínio ou tubos de PVC, e Diretrizes Gerais Médicas para Assistência Integral ao Crack aspira a fumaça. Pedra menores, quando quebradas, podem ser misturadas a cigarros de tabaco e maconha, chamado pelo usuário de piticos, mesclado ou basuco.
3.3 - O CAMINHO E AS CONSEQUÊNCIAS DA DROGA NO ORGANISMO
A fumaça tóxica do Crack atinge o pulmão, vai à corrente sanguínea e chega ao cérebro. É distribuído pelo organismo por meio da circulação sanguínea e, por fim, a droga é eliminada pela urina. Sua ação no cérebro é responsável pela dependência. Algumas das principais conseqüências do uso da droga são: doenças pulmonares, alguns doenças psiquiátricas, como psicose, paranóia, alucinações e doenças cardíacas. A conseqüência mais notória é a agressão ao sistema neurológico, provocando oscilação de humor e problemas cognitivos, ou seja, na maneira como o cérebro percebe, aprende, pensa e recorda as informações. Isso leva o usuário a apresentar dificuldade de raciocínio, memorização e concentração.
4- HISTÓRICO
A cocaína é consumida pela humanidade há 5000 anos. A população dos Andes permanece com o hábito de mascar coca para amenizar fome e cansaço.
No século XIX surgiu o interesse pelas propriedades farmacológicas, cujo princípio ativo, a critroxilina, possui ação estimulante para exaltar o humor e espantar a depressão (FREUD).
Na década de 80, a cocaína emerge como droga das elites, com perfil eminentemente urbano.
Na década de 90, surge um subproduto da cocaína, que ficou conhecido como crack, atingindo um
extrato social e uma faixa etária mais baixos.
Sua utilização provoca uma euforia de grande magnitude e curta duração, com intensa fissura e síndrome de urgência para repetir a dose. Pelo seu baixo preço, agregou facilmente novos consumidores.
O uso da substância psicoativa aumenta a chance de outros transtornos mentais, podendo mimetizar, atenuar ou piorar sintomas. No caso específico do crack, é comum sua associação a transtornos de humor, personalidade, conduta e déficit de atenção. Cerca de 20% de pessoas dependentes de substância psicoativa, procuram emergências por agitação psicomotora. O perfil do consumidor de crack é o de um jovem, desempregado, com baixa escolaridade e baixo poder aquisitivo, proveniente de família desestruturada com antecedentes de uso de droga e com comportamento de risco.
5- ASPECTOS GERAIS NO TRATAMENTO DO USUÁRIO DE CRACK
MULTIFATORIEDADE do Dependente Químico (DQ) O tratamento deve ser interdisciplinar, dirigido às diversas áreas afetadas : física, psicológica, social, questões legais e qualidade de vida. Objetivo: iniciar a abstinência e prevenir as recaídas.
DESAFIO – Não há uma droga específica apesar de pesquisas empreendidas. É preciso identificar precocemente, avaliar padrão de consumo, grau de dependência, comorbidades e fatores de risco. Garantir disponibilidade para o tratamento e facilitar acesso aos serviços de atendimento, além de, buscar adesão ao tratamento com intervenções familiares.
TRATAMENTO – Intervenções medicamentosas de suporte: sintomáticas e tratamento das comorbidades psiquiátricas e complicações clínicas. A cocaína aumenta a neurotransmissão da dopamina e serotonina relacionadas aos efeitos prazerosos e reforçadores da droga e desregulação do sistema, com papel importante na Síndrome de Abstinência, levando a inúmeros ensaios clínicos com intervenções farmacológicas sem resultados satisfatórios. As drogas utilizadas ainda estão sem evidência científica comprovada ou experiência clínica consistente. Anticonvulsivantes, agentes aversivos, antidepressivos tricíclicos, estabilizadores de humor e antipsicóticos são utilizados e serão comentados ao final.
ABORDAGEM INTERDISCIPLINAR E REDE INTEGRADA DE ATENÇAO PSICOSSOCIAL
- Ações preventivas:sensibilização e capacitação dos profissionais de saúde e educação
- Identificação precoce e encaminhamento adequado
- Desintoxicação: tratamento e suporte sintomático
- Tratamento das comorbidades: clínicas e psiquiátricas.
- Estratégias de psicoeducação: trabalhar fatores de risco
- Grupos de auto-ajuda
- Acompanhamento ao longo do tempo na Estratégia Saúde da Família
- Abordagens psicoterápicas por profissionais habilitados, terapias individuais, grupais
- Terapia cognitiva comportamental.Diretrizes Gerais Médicas para Assistência Integral ao Crack
- Treino de habilidades sociais e prevenção de recaídas
- Reabilitação neuropsicológica e psicossocial
- Redução de danos com base em evidências médicas e legais
- Rede de atenção: leitos em hospitais gerais e psiquiátricos para desintoxicação, ambulatórios, CAPS
AD, albergamento sócio-terapeutico e moradias assistidas (todos com infraestrutura para correta abordagem terapêutica).
6-DIMENSÃO DO PROBLEMA
-Os serviços comunitários, geralmente religiosos, são muitos, são precários, carecem de base científica e beneficiam pouco o Dependente Químico.
-As ações na área de saúde nas três esferas de governo e entre os diversos órgãos em uma mesma
esfera não são integradas e não são harmônicas.
-Os serviços de assistência ao Dependente Químico de Crack (DQC) com qualidade são poucos e
geralmente privados e universitários.
-O uso de substâncias psicoativas (SPA) lícitas prediz o uso de SPA ilícitas e no Brasil não temos nenhum controle sobre publicidade, preço e disponibilidade das SPA lícitas.
-Os usuários recreativos, que sustentam o tráfico, são vistos pela lei 11.343/2006 como dependentes.
-A repressão ao tráfico é insuficiente.
-Não existe tratamento único e ideal para a DQC.
Diretrizes Gerais Médicas para Assistência Integral ao Crack
O melhor seria organização de um sistema de serviços que levasse em conta a diversidade de problemas (saúde mental e física, social, familiar, profissional, conjugal, criminal, etc), buscando a proporcional diversidade de soluções.
-Devido a natureza da DQC alguns pacientes podem beneficiar-se de intervenções breves e outra
parte, necessitar de tratamentos mais sistematizados e com diferentes níveis de complexidade e variedade de recursos;
7- FLUXOGRAMA DE ENCAMINHAMENTO AOS PACIENTES E PSIQUIÁTRICO
Obs: não foi possível colocar a imagem do fluxograma.8. GUIA PARA A AVALIAÇÃO E O MANEJO DE CASOS DE URGÊNCIA
-Pupilas dilatadas
-Excitação, pensamento acelerado e desorganizado, paranóia
-Uso recente de cocaína, crack ou de outros estimula-Pulso e pressão arterial aumentados
-Comportamento agressivo, imprevisível ou violento
8.2. A pessoa está sob uma overdose de algum sedativo?
(Overdose de um opioide ou de outro sedativo ou de mistura de drogas com ou sem overdose de álcool)
-Sem reação ou com reações mínimas
-Frequência respiratória baixa
-Pupilas puntiformes (overdose de opioide)
8.3. A pessoa está em estado de abstinência aguda de opioide?
-História de dependência de opioide, com uso pesado e interrupção recente (nos últimos dias)
-Náusea, vômitos, diarréia
-Pupilas dilatadas
-Pulso e pressão arterial aumentados
-Bocejos repetidos, lacrimejamento e coriza e piloereção
-Ansiedade, inquietação
8.4. Intoxicação aguda ou overdose de cocaína, crack ou estimulante do tipo da anfetamina
-Dê diazepam em doses fracionadas até que a pessoa se acalme e fique levemente sedada. Se os sintomas psicóticos não responderem aos benzodiazepínicos, pense em usar antipsicóticos de ação
rápida.
-NÃO introduza anti-psicóticos de longa ação.
-Monitorize a pressão arterial, a frequência cardíaca, a frequência respiratória e a temperatura de 2 em 2 horas.
-Se a pessoa se queixar de dor no peito, se apresentar taquiarritmias ou se tornar violenta ou incontrolável, transfira imediatamente para um hospital.
-Durante a fase pós-intoxicação, fique atento a pensamentos ou atos suicidas.
-Desejo muito forte ou compulsão para usar drogas.
-Dificuldades para controlar o uso em termos de iní-Diretrizes Gerais Médicas para Assistência Integral ao Crack cio, término ou quantidade.
-Um estado fisiológico de abstinência quando o uso da droga foi interrompido ou reduzido, indicado pelas características da síndrome de abstinência da droga; ou uso da mesma substância (ou outra muito parecida) com a intenção de aliviar ou evitar os sintomas da abstinência.
-Evidência de tolerância, ou seja, são necessárias doses maiores da substância para obter os mesmos efeitos que antes eram obtidos com doses menores.
-Negligência progressiva de interesses ou prazeres alternativos devido ao uso, ou ao tempo necessário
para obter ou consumir a droga, ou para se recuperar de seus efeitos.
-Persistência do uso da droga, apesar das claras evidências de suas consequências nefastas.
- Informe claramente o paciente sobre os resultados da avaliação do uso de drogas e explique a ligação entre o nível do uso, seus problemas de saúde, e os riscos de curto e longo prazo de continuar usando no mesmo nível.
- Pergunte sobre o uso de álcool e de outras substâncias psicoativas.
- Discuta rapidamente com o paciente sobre seu uso de substâncias.
- Forneça, de maneira bem clara, recomendações para interromper o uso nocivo de substâncias e sua
disponibilidade para ajudar o paciente nesse sentido.
-Se a pessoa estiver disposta a reduzir ou interromper o consumo, discuta os melhores meios de atingir esse objetivo.
-Se não, insista que é possível interromper ou reduzir tanto o uso novico como o arriscado de substâncias, e encoraje o paciente a voltar se desejar conversar mais sobre isso.
-Se se tratar de um adolescente, veja a seção sobre uso de substâncias por adolescentes.
-Se for uma mulher grávida ou que esteja amamentando,reavalie-a com freqüência
- Procure apoio de um especialista para os casos de
pessoas que continuam usando drogas de forma nociva e que não responderam a intervenções breves.
- Informe claramente o paciente sobre o diagnóstico e sobre os riscos de curto e longo prazo.
- Investigue as razões que a pessoa tem para usar drogas, empregando técnicas de intervenção breve.
- Aconselhe a pessoa a parar completamente com o uso da droga e sinalize sua intenção de ajudá-la
nesse sentido.
- Pergunte à pessoa se está preparada para deixar de usar a droga.
- Faça uma intervenção mais intensiva (isto é, até 3 sessões, de até 45 minutos cada).
- Trate os sintomas de abstinência.
- Transfira para um serviço de desintoxicação, se necessário.
8.8. EM TODOS OS CASOS
*Pense no encaminhamento para grupos de autoajuda, e para albergamentos terapêuticos ou de reabilitação.
*Examine as necessidades de habitação (alojamento)
e de emprego.
*Forneça informações e apoio ao paciente, a seus cuidadores e a seus familiares.
*Se disponível, aplique intervenções psicossociais, tais como aconselhamento ou terapia familiar, aconselhamento ou terapia para a resolução de problemas, terapia cognitivo-comportamental, terapia de reforço motivacional, terapia de manejo de contingências.
*Proponha estratégias de redução de danos de acordo com evidências científicas e com base legal
8.9.1 AVALIAÇÃO:
*A obtenção da história clínica (Como perguntar sobre o uso de drogas)
*O que buscar no exame
*Exames a serem considerados
8.9.2. Como perguntar sobre o uso de drogas
*Pergunte sobre o uso de drogas ilícitas sem deixar transparecer nenhum juízo de valor, talvez depois de perguntar sobre o uso de cigarros, álcool e qualquer outra droga que seja relevante.
*Pergunte sobre o padrão e a quantidade consumida, e sobre quaisquer comportamentos associados ao uso de drogas que possam prejudicar a própria saúde, e a dos demais (por exemplo, drogas fumadas, drogas injetadas, atividades durante a intoxicação, implicações financeiras, capacidade de cuidar das crianças, violência em relação a outros).
*Pergunte sobre o início e o desenvolvimento do uso de drogas em relação a outros eventos da vida, em sua anamnese
*Pergunte sobre danos decorrentes do uso de drogas, mais particularmente:
- ferimentos e acidentes
- dirigir sob o efeito de drogas
- problemas de relacionamento interpessoal
- drogas injetáveis e os riscos a elas associados
- problemas legais / financeiros
- sexo arriscado enquanto intoxicado, motivo de arrependimento posterior.
*Investigue a dependência, perguntando sobre o desenvolvimento de tolerância, sintomas de abstinência, uso de quantidades maiores ou por mais tempo do que pretendia, continuação do uso apesar de problemas relacionados, dificuldade para parar ou reduzir o uso, e fissura pela droga.
8.10 INTERVENÇÕES PSICOSSOCIAIS
- Intervenções breves (Como abordar o uso de drogas)
- Grupos de auto-ajuda (Narcóticos Anônimos)
- Necessidades habitacionais e de emprego
- Apoio a familiares e cuidadores
- Estratégias de redução de danos
- Mulheres: gravidez e amamentação
8.11. Como abordar o uso de drogas (Intervenção breve)
*Converse sobre o uso de drogas, de forma que a pessoa perceba que pode falar tanto do que acha de suas vantagens quanto de seus danos reais ou potenciais, levando em consideração o que a pessoa acha de mais importante em sua vida.
*Leve a conversa no sentido de uma avaliação equilibrada dos efeitos positivos e negativos da droga,
questionando opiniões exageradas sobre os benefícios e destacando alguns dos aspectos negativos que ela tenha porventura minimizado.
*Evite discutir com a pessoa e tente mudar o jeito de falar, se ela apresentar resistências, buscando sempre esclarecer o real impacto da droga na vida daquela pessoa, no limite do que ela seja capaz de entender, naquele momento.
*Estimule a pessoa a decidir por si mesma se quer Diretrizes Gerais Médicas para Assistência Integral ao Crack mudar o padrão de uso da droga, principalmente após uma conversa equilibrada sobre os prós e os contras do padrão de uso atual.
*Se a pessoa ainda não estiver preparada para parar ou reduzir o uso da droga, peça que volte num outro dia para continuarem a conversa, quem sabe acompanhada por um familiar ou amigo.
8.12 Mulheres: gravidez e amamentação
*Interrogue sobre o ciclo menstrual e informe mulheres que o uso de drogas pode interferir com o ciclo menstrual, por vezes dando a falsa impressão de não poderá engravidar.
*Aconselhe as grávidas a parar com o uso de qualquer droga, e apóie-as nesse sentido. As grávidas dependentes de opioides devem ser aconselhadas a usarem uma droga de substituição agonista, como a metadona.
*Examine os bebês nascidos de mães usuárias de drogas para verificar a presença ou ausência de sintomas de abstinência (conhecida como síndrome de abstinência neonatal). A síndrome de abstinência neonatal devida ao uso materno de opioides deve ser tratada com doses baixas de opioides (como a morfina) ou barbitúricos.
*Aconselhe e apóie as mães que amamentam a não usarem nenhum tipo de droga.
*Aconselhe e apóie as mães com transtornos por uso de drogas a apenas amamentarem seus bebês ao menos durante os seis primeiros meses, a menos que haja uma recomendação de um especialista para não amamentar.
*Às mães com uso nocivo de drogas e filhos pequenos deve-se oferecer serviços de apoio social, onde houver, incluindo visitas pós-natais adicionais, treinamento do pais, e cuidados das crianças durante as consultas.
8.13 - Farmacoterapia da síndrome de abstinência de crack
- Manejo sintomático, isto é, trate os sintomas da abstinência à medida em que forem surgindo: náuseas com anti-eméticos, dores com analgésicos comuns, insônia com sedativos leves, etc.
- Mantenha a hidratação.
- Evite a contenção física.
- Não retenha o/a paciente, se ele/ela quiser deixar o serviço, na forma da lei.
- Durante ou logo após a abstinência podem surgir sintomas depressivos, ou o/a paciente pode ter uma depressão pré-existente. Observe e trate de acordo com o Capítulo sobre Depressão. Fique atento/a ao risco de suicídio.
8.14 - Redução de danos
*Conforme evidências médicas e bases legais
8.15 - Internações compulsórias
*As internações voluntárias, involuntárias e compulsórias devem obedecer aos preceitos da legislação.
10- ASPECTOS GERAIS NO TRATAMENTO AO USUÁRIO DE CRACK E MANUSEIO DE MEDICAMENTOS
TRATAMENTO.
As drogas utilizadas não apresentam evidências científicas ou experiência clinica consistente:
I-ANTICONVULSIVANTES:
-Efeitos colaterais: tonturas, mal estar gástrico, sonolência, náuseas, ataxia, leucopenia e rush cutâneo são os mais comuns.
-Recomendação: Dosagem sérica da droga e controle da função hepática.
2 - Topiramato - Dose: 200 a 400 mg/dia
-Mecanismo: envolvimento dos sistemas GABAérgicos e Glutamatergicos na modulação do sistema de recompensa cerebral (ação anti Craving)
-Efeitos colaterais: Sonolência, parestesia, dificuldade de concentração, redução do peso corporal.
3 – Gabapentina - Dose: 900 a 1800 mg/dia (inicial com 300 mg)
-Propriedades GABAérgicos e Glutamatergicas.
-Efeitos Colaterais: Sedação, ataxia, fadiga e tonturas.
4 – Lamotrigina - Dose: 100 a 150 mg/dia
-Atua sobre os canais de cálcio sensibilizando a diferença de potencial para estabilizar as membranas
neuronais
-Efeitos Colaterais: Ataxia, cefaléia, rush cutâneo, sonolência e tonturas.
5 - Valproato de sódio - Dose: 500 mg/dia
-Mecanismo Gabaérgico - modificando o mecanismo do GABA modificando o metabolismo, com aumento da liberação do GABA, diminuição do turnover e aumento da recaptação do GABA B.
-Recomendação: controle da função hepática e hematológico.
II- AGENTES AVERSIVOS:
1- Dissulfiram - (Antietanol) - Dose: 250 a 500mg/
dia.
– Bloqueio da enzima da degradação da cocaína e dopamina. Historicamente tem sido usado na Dependência Alcoólica. Objetiva diminuir o craving, através de mecanismo de aversão a droga pelos efeitos decorrentes da mesma.
III – ANTIDEPRESSIVOS:
1-TRICICLICOS:
- Efeitos Colaterais: Boca seca, tonturas, constipação intestinal, aumento de peso, tremores, hipotensão ortostática, tonturas, visão borrosa etc.
2- INIBIDORES SELETIVOS DA RECAPTAÇÃO DA
SEROTONINA, NORADRENALINA E DUAIS.
- Paroxetina – Dose: 20 a 40mg/dia
- Sertralina - Dose: 100 mg/dia.
- Efeitos Colaterais: melhor tolerados que os tricíclicos.
- Podem apresentar: diminuição do apetite, retardo da ejaculação, diminuição da libido etc.
- ISRNs – Reboxetina - Dose: 4 a 8 mg/dia.(Prolifit)
- Duais – Bloqueio serotonina, noradrenalina, dopamina ou histamínicos.
- Mirtazapina - dose: 45 a 60mg.
- Tem efeito sedativo e aumenta o peso corporal.
-Venlafaxina – Dose: 75 a 300 mg.
-Cuidado com Hipertensão em doses de 300mg ou mais.
Bupropiona – Dose; 150 a 300 mg/dia.
Tem sido utilizado, com resultados em dependência da Nicotina.
IV – ESTABILIZADORES DO HUMOR:
-Efeitos Colaterais: tremores, ataxia, problemas intestinais no inicio do tratamento. Contraindicado para os que têm comprometimento da função renal.
- Recomendado: Controle da concentração sérica.
V- ANTIPSICÓTICOS:
Típicos:Haloperidol – Dose: 5 a 20mg/dia
-Efeitos colaterais: sintomas extrapiramidais, comprometimento da esfera sexual, hipotensão ortostá-
tica, visão borrosa etc.
Atípicos: Bloqueio dos receptores serotoninérgicos, dopaminérgicos e bloqueio D2 e D4.
RISPERIDONA - Dose: 2 a 06mg/dia
OLANZAPINA. (zyprexa) - Dose: 05 a 20 mg/dia.
Outras drogas: Propranolol - Dose: 40 a 80 mg/dia.
- Beta Bloqueador Beta adrenérgico
VI - TRATAMENTO DA SINDROME DE ABSTINÊNCIA DE COCAÍNA/CRACK.
O tratamento é basicamente suporte e sintomático. Geralmente o atendimento é em Serviços de
Emergência, sendo extremamente importante uma avaliação criteriosa. A dor torácica costuma ser sintoma de Infarto Agudo do Miocárdio devendo ser solicitado os exames adequados.
Quando há inquietação aguda com ansiedade utilizam-se benzodiazepínicos (Diazepam – dose: 05
a 40 mg/dia) ou outro similar. Em quadros psicóticos ou agitação psicomotora e/ou agressividade violenta há indicação de Antipsicóticos de alta freqüência como Haloperidol (Haldol) 5mg IM, podendo repetir-se, se necessário, fazendo de 12/12h ou 8/8 horas mantendo-se controle dos sinais vitais. Pode-se também associar benzodiazepínicos de ação sedativa como Midazolam 15mg IM (Dormonid).
Vale sempre ressaltar que a dose utilizada depende de vários fatores como condições gerais, nutritivas, idade, intensidade da sintomatologia etc. Importante também identificar e tratar as comorbidades clinicas além das psiquiátricas.
11- ONDE PROCURAR AJUDA
Procure a secretaria municipal de saúde ou o conselho municipal de saúde ou ainda o ministério pú-
blico,sempre que tiver dificuldades em obter o tratamento desejado. Acesse http://www.enfrenteocrack.org.br e obtenha a lista de locais para atendimento em todo o país. Utilize o 08005100015 para acessar a central de atendimento gratuito para informações (projeto viva voz da SENAD)
12 - BIBLIOGRAFIA
Cordioli, A; Psicofármacos – Consulta rápida –
Porto Alegre –Artmed- 2005.
Diehl, A; Cordeiro, D; Laranjeira, R – Tratamentos Farmacológicos para Dependência Química – Da
evidencia Científica à Prática Clinica – Porto Alegre
- Artmed – 2010
Diehl, A; Cordeiro, D; Laranjeira e colaboradores
– Dependência Quimica – Porto Alegre-Artmed –
2011.
Figlie, NB; Bordin, S; Laranjeira, R – Aconselhamento em Dependência Química – São Paulo -Editora Roca Ltda, 2004.
Gigliotti, A; Guimarães, A – Diretrizes Gerais para
Tratamento da Dependência Química – Rio de Janeiro – Editora Rubio/ABEAD – 2010.
CNM, Confederação Nacional dos Municípios.
Cartilha Observatório do Crack. Brasília 2011. 24p.
OMS, Organização Mundial de Saúde. Manual de
Orientação para Atenção ao Crack.
ONU. Relatório Anual Sobre Drogas. 2009, 2010.
Ribeiro, M; Laranjeira, R. O Tratamento do Usuá-
rio de Crack. Casa de Leitura Médica, São Paulo, 2010.
- Diretrizes ABP/CFM/AMV adotadas pela resolução
CFM 1952/2010.36| CFM Conselho Federal de Medicina
EXPEDIENTE
Diretoria do Conselho Federal de Medicina
Roberto Luiz d´Avila
Presidente
Carlos Vital Corrêa Lima
1º vice-presidente
Aloísio Tibiriçá Miranda
2º vice-presidente
Emmanuel Fortes Silveira Cavalcanti
3º vice-presidente
Henrique Batista e Silva
Secretário-geral
Desiré Carlos Callegari
1º Secretário
Gerson Zafalon Martins
2º Secretário
José Hiran da Silva Gallo
Tesoureiro
Frederico Henrique de MeloDiretrizes Gerais Médicas para Assistência Integral ao Crack | 37
2º Tesoureiro
José Fernando Maia Vinagre
Corregedor
José Albertino Souza
Vice-corregedor
Comissão de Assuntos Sociais do CFM
Henrique Batista e Silva
André Longo de Araújo
Ricardo Albuquerque Paiva
Ricardo Resende
Jô Mazzarolo
Assessores
Jane Lemos
Rafaela Pacheco
Michel Felipe do Rego
Fernanda Soveral
Claudia Brandão
Nathalia Siqueira
Ítalo Rocha Leitão
Crédito e Download da Cartilha: http://portal.cfm.org.br/images/stories/pdf/cartilhacrack.pdf
O texto lido diz que:
ResponderExcluir“Os psiquiatras preconizam internação para desintoxicação de cerca de 7 a 14 dias, drogas usadas comumente como opióides e tratamento das comorbidades constituem-se em medidas iniciais, devendo o paciente ter acesso à rede de tratamento ambulatorial bem como aos processos integrados; “
Dai me vem uma pergunta: porque a maioris das clínicas involuntárias estabelecem um longo período de tempo de internação para seus “pacientes”, digamos assim?
Não acredito que o tempo seja fator preponderante, mas o querer individual. Nas clínicas involuntárias inexiste esse “querer” exigido no terceiro passo para clínicas que trabalham com os doze passos. Existem casos de pessoas que se internam em clínicas involuntárias de modo voluntário, é verdade. Nestes casos particulares a recuperação poderá funcionar.
Não existem dados estatísticos oficiais coletados nas diversas clínicas que operam no Brasil, sejam as voluntárias, ou involuntárias. O tempo para desintoxicar aliado a um um tempo posterior para que uma dada terapia venha a funcionar não deve, no meu entendimento, ultrapassar a barreira de estimado dois meses. Lapsos de tempo maiores deveriam ser acrescidos após uma visita de médico de família especializado no ramo da dependência química, evitando-se abusos por demais conhecidos.
Uma excrescência existente em clínicas involuntárias são as solitárias. Essa concepção sinistra para lidar com seres humanos é terrível e só não mudamos este absurdo posto que não nos demos o luxo de apresentarmos a solução. Dentre outros inconvenientes mencionamos a desqualificação profissional de GAP´s e de Monitores.
Não bastasse isso o nome dado às “clínicas” parece equivocado, vez que de clínicas nada têm. Quase todas são presídios, onde impera um regime autoritário, opressivo, que em nada contribui para a recuperação de quem quer que seja.
A mídia, talvez sofrendo pressão de grupos evangélicos que entraram no ramo, para faturar e que possui uma bancada com mais de oitenta parlamentares. Está induzindo a população em aceitar a implantação do regime de força e o Estado não pode ser conivente com uma legislação que vem permitindo pessoas serem sequestradas, não importa qual seja o argumento, sequestro é sequestro e cárcere privado é cárcere privado. Nessas O que difere, este tipo de sequestro, quase institucionalizado, é a modalidade do pagamento do resgate. Nas clínicas o resgate do familiar custa diversas prestações mensais. Incomoda saber que o Governo aceita e ajuda clínicas que operam de maneira tão imprópria, quanto inadequada, para evitar dizer que operam de forma criminosa antes e durante a estadia dos nossos “entes queridos”
"OMS para o Brasil é que existam 3% de usuários, o que implicaria em 6 milhões de brasileiros. O Ministério da Saúde trabalha com 2 milhões de usuários e estudo da Unifesp patrocinado pela SENAD demonstra que um terço dos usuários encontra a cura, outro terço mantém o uso e outro terço morre, sendo que em 85% dos casos relacionados à violência."
ResponderExcluirBem, para a OMS estima que no Brasil existem 6 milhões de usuários de crack. A Unifesp calculou 2 milhões de brasileiros de usuários. Os dados não batem, correto? Depois, levando em conta a situação conf. dados da Unifesp 1/3 de de 2 milhões encontra a "CURA". Qual é o significado de CURA para uma doença progressiva, INCURÁVEL e fatal. Talvez fosso mais oportuno consideramos que este contigente de brasileiros, salvo engano, cerca de 666,66 milhões de pessoas, aproximadamente, se encontram em estado permanente de recuperação, sem levarmos em conta as recaídas, que fazem parte da doença. Contingente igual se acha em uso e outros 666,66 de brasileiros morrem e 85% desse contingente morrem devido à casos de violência. Não é um número expressivo de mortos se pudéssemos acreditar nesta pesquisa, que reparte um bolo em três pedaços, exatamente iguais ? É um dado chocante, talvez, na realidade, a situação seja pior. O SENAD deveria solicitar da Unifesp esclarecimentos, se são reais os dados apresentados e qual a metodologia empregada na pesquisa que me pareceu não confiável. Se aplicássemos o contingente de 6 milhões de usuários, cf. a OMS, a situação seria gravíssima. Creio que a violência, na maioria dos casos são devido a existência de grupos de extermínio e de "justiçeiros" e milicianos e, outros tantos aos traficantes e, em menor parcela, por conta dos delitos dos usuários em estado doentio, portanto anormal.Será que há quem se preocupe com isso. Porque não estimular uma política que promova um PACTO PELA VIDA de forma verdadeira e punindo exemplarmente os assassinos de gente indefesa e doente? Posto este comentário na certeza de que alguma autoridade da área da justiça, direitos humanos e segurança pública leiam, inclusive a OAB e o CMF e o SENAD.
"Críticas ao local e à duração da internação por dependência química
ResponderExcluirOs médicos fazem críticas à política de internação de doentes mentais, entre eles os que possuem dependência química, em leitos dos hospitais gerais. Além de onerosa, a internação de pessoas que têm dependência química junto com outros doentes pode colocar a equipe médica e demais pacientes em risco, por conta da natureza dessas doenças.
“Para oferecer seis leitos em ala própria para doentes mentais é preciso ter psiquiatra e equipe de enfermagem, além de plantonistas, psicólogo e assistente social, toda uma equipe, quando sabemos que essa mesma equipe, com um psiquiatra e duas enfermeiras, atenderia quarenta leitos. A gente tem que entender que não podemos jogar dinheiro fora”, argumenta Fortes.
Outra medida do governo que tem recebido críticas dos psiquiatras é o limite do tempo de internação. “O médico é quem tem de dizer o tempo de que a pessoa precisa. O que há hoje é uma ingerência extraordinária na ação do médico. Você tem de fazer todo o trabalho em 15 dias, ainda que esse período seja insuficiente”, critica o representante da Associação Brasileira de Psiquiatria.
Essas críticas sobre a internação por dependência química também é a posição do CFM, representado pelo vice-¿presidente, Carlos Vital Corrêa Lima, que afirmou ser necessária a internação do dependente de crack por até três meses, dependendo dos danos ao cérebro, do tempo de consumo e da gravidade das doenças associadas."
MAIS:
Em resposta às críticas sobre a internação de pessoas que possuem dependência química, o secretário de Atenção à Saúde do Ministério da Saúde, Helvécio Magalhães, garantiu à ABP, em reunião realizada em 2 de junho, que o ministério irá rever a política de saúde mental, avaliar a eficiência dos Caps, analisar a criação de ambulatórios de psiquiatria e a contratação de psiquiatras para as emergências, e definir o que é serviço médico e serviço social dentro das comunidades terapêuticas.
ESSE AJUSTE CONCERNENTE AO TEMPO PODE SER REVISTO SE LEVARMOS EM CONTA A LUCRATIVIDADE QUE O FATOR TEMPO PROLONGADO OFERECE A CLÍNICAS E, INFELIZMENTE, TEMOS QUE RACIOCINAR DE MODO PRAGMÁTICO, E OS PREJUÍZOS CAUSADOS A OUTROS TIPOS DE PACIENTES, ALÉM DOS PREJUÍZOS FINANCEIROS, GASTOS DE MANEIRA INCOMPATÍVEL COM O TRATAMENTO DE UM DQ.
DE RESTO, É PRECISO DAR UM NOVO RUMO À ATUAL POLÍTICA QUE TRATA DAS INTERNAÇÕES DE DQ´s EM CLÍNICAS PARTICULARES, CUJAS CONCEPÇÕES DE TRATAMENTO SÃO ABSURDAS E NÃO ENTRAREI NO MÉRITO, POR ENQUANTO. UMA CLÍNICA SÓ PODE SER CONSIDERADA COMO TAL, SE NA EQUIPE ESTIVER UM MÉDICO COMPETENTE PARA ASSISTIR AOS DQ´s INTERNADOS. É PRECISO ACABAR COM ESSA MANIA DE PASTORES E DEMAIS LEIGOS LUTAREM ABERTAMENTE CONTRA A CLASSE MÉDICA E PROFISSIONAIS DA ÁREA DE SAÚDE E, EM ALGUNS CASOS, PRATICAREM O EXERCÍCIO ILEGAL DE DETERMINADAS PROFISSÕES. DE RESTO, É PRECISO ACABAR COM OS QUARTOS QUE SÃO MODELOS DE ANTIGOS SISTEMAS PRISIONAIS BRASILEIROS. TAMBÉM É IMPERATIVO CRIAR MECANISMOS DE FISCALIZAçÂO AOS ABUSOS E CASOS DE VIOLÊNCIA PRATICADOS EM CLÍNICAS. AS FAMÍLIAS TAMBÉM DEVEM SER ESCLARECIDAS QUANTO A EXISTÊNCIA DE ABUSOS CONTRA A SAÚDE DE SEUS ENTES E DA RESPONSABILIDADE QUE O FAMILIAR RESPONSÁVEL TEM QUANDO INTERNA UM PARENTE PRÓXIMO. ESTÁ FALTANDO INTELIGÊNCIA NO RAMO ! sph