sexta-feira, 25 de maio de 2012

ÉTICA E SOCIEDADE, Luiz Gonzaga de Sousa


O QUE SE ENTENDE POR SENTIMENTO?

O termo sentimento é uma palavra muito comum na sociedade humana, originando-se da própria condição em que as pessoas se encontram, como também outros sintomas que se apresentam naqueles que convivem com algo estranho, que martiriza, que machuca, e que torna a pessoa vulnerável a uma dor que não se sabe a origem. Assim, sentimento incorpora diversos conceitos, ou diversas caracterizações, ou diversos modos de se apresentar, pois algumas vezes indica algo bom, e prazeroso. Em muitos outros momentos aparece como coisa ruim, tal qual uma idéia latente se apresenta para exercitar uma maldade qualquer. É, neste sentido, que se buscam investigar as diversas definições de sentimento que muitas pessoas têm e denota os muitos tipos de manifestações que cada ser humano deixa transparecer para com todos aqueles que os cercam dentro do princípio de ignorância e desconhecimento.

Detalhando um pouco mais os objetivos que se pretendem investigar com precisão, intenta-se: a) entender o que é sentimento, b) como se caracterizam os seus diversos tipos, c) a maneira como se manifestam nas pessoas, d) as condições como se processam, e) se o sentimento é bom ou é ruim, f) a técnica de como eliminar o sentimento ruim, e g) como alimentar o bom para que a vida do ser humano possa ser melhor. O sentimento é algo que está dentro de cada um, apresentando-se de forma que poucos entendem o seu real sentido, ao considerar que existe toda uma formação de sensações, de idéias, de objeto, e porque não dizer de piedade, que muitas pessoas possuem sobre as outras que sofrem os dissabores da vida física, quer dizer, os que pedem esmolas, os doentes, os pobres e algumas outras formas de desajuste social.

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NA, Meditação do dia, sexta, 25 DE MAIO DE 2012.



Sentimentos "bons" e "maus"

"Num só dia acontecem muitas coisas, coisas positivas e coisas negativas. Se não dermos a nós mesmos a oportunidade de viver ambas, perderemos decerto algo que nos ajudará a cresce!" 


A maioria de nós parece julgar inconscientemente aquilo que acontece em cada dia nas suas vidas, como sendo bom ou mau, como sucesso ou falhanço. Temos tendência a sentirmo-nos felizes com o "bom" e zangados, frustrados ou culpados, com o "mau". No entanto, bons e maus sentimentos têm pouco a ver com o que realmente é bom ou mau para nós. Podemos aprender mais com os nossos falhanços do que com os nossos sucessos, principalmente se o falhanço advier de um risco que tomámos. Quando associamos julgamentos de valor às nossas reacções emocionais ficamos presos às nossas velhas maneiras de pensar. Podemos mudar o modo de pensar sobre os incidentes do dia-a-dia, vendo-os como oportunidades para crescer, e não como bons ou maus. Podemos procurar lições em vez de atribuir rÓtulos de valor. Quando fazemos isso, aprendemos algo em cada dia. O nosso Décimo Passo diário é um excelente instrumento para avaliar os acontecimentos do dia e aprender tanto com os sucessos como com os erros.

Só por hoje: É-me dada uma oportunidade de aplicar os princípios de recuperação para que eu aprenda e cresça. Quando aprendo com os acontecimentos da vida, sou bem sucedido.

quinta-feira, 24 de maio de 2012

Narcóticos Anônimos, Meditação do dia, quinta-feira, 24 de maio de 2012


Arriscar é ser vulnerável

"À medida que crescemos, aprendemos a superar a tendência para fugirmos e nos escondermos de nós próprios e dos nossos sentimentos." 
Texto Básico, p. 95

Em vez de arriscarmos ser vulneráveis, muitos de nós desenvolveram hábitos que mantêm os outros a uma distância segura. Esses padrões de isolamento emocional podem dar-nos a sensação de estarmos irremediavelmente presos atrás das nossas máscaras. Costumávamos arriscar as nossas vidas; agora arriscamos com os nossos sentimentos. Ao partilharmos com outros adictos, aprendemos que não somos únicos; não nos tornamos exageradamente vulneráveis só porque estamos a deixar os outros saberem quem somos, pois estamos em boa companhia. E ao trabalharmos os Doze Passos do programa de NA, crescemos e mudamos. Não queremos nem precisamos mais de esconder as nossas personalidades que emergem. É-nos dada a oportunidade de largar a camuflagem emocional que desenvolvemos para sobreviver na nossa adicção activa. Ao nos abrirmos aos outros, arriscamos tomar-nos vulneráveis, mas esse risco vale bem a pena. Com a ajuda do nosso padrinho ou madrinha, e de outros adictos em recuperação, aprendemos a expressar os nossos sentimentos honesta e abertamente. Em troca somos alimentados e encorajados pelo amor incondicional dos nossos companheiros. À medida que praticamos princípios espirituais, encontramos força e liberdade em nós próprios e naqueles à nossa volta. Somos livres para ser quem somos e para apreciar a companhia dos nossos amigos adictos.

Só por hoje: Vou partilhar aberta e honestamente com outros adictos em recuperação. Vou arriscar tornar-me vulnerável, e celebrar quem sou e a minha amizade com outros membros de NA. Vou crescer.

terça-feira, 22 de maio de 2012

Narcóticos Anônimos, Meditação do Dia, terça-feira , 22 DE MAIO DE 2012



Sintomas de um despertar espiritual

"Os passos conduzem a um despertar de uma natureza espiritual. Este despertar é demonstrado através das mudanças nas nossas vidas." 
Texto Básico, p. 56

Sabemos reconhecer a doença da adicção. Os seus sintomas são incontestáveis. Para além de um apetite descontrolado por drogas, temos comportamentos doentios egocêntricos e egoístas. Quando a nossa adicção activa se encontrava no seu auge, nós encontrávamo-nos obviamente em grande dor. Julgávamos implacavelmente nós próprios e os outros, e passávamos a maior parte do tempo preocupados ou a tentar controlar os resultados. Assim como a doença da adicção é evidenciada por sintomas definidos, também o despertar espiritual se manifesta por determinados sinais óbvios num adicto em recuperação. Podemos observar uma tendência para pensar e agir espontaneamente, uma perda de interesse em julgar ou interpretar as acções de outra pessoa qualquer, uma capacidade clara de apreciar cada momento, assim como frequentes ataques de risos. Se virmos alguém a demonstrar sintomas de um despertar espiritual, deveremos estar avisados de que esses despertares são contagiosos. O nosso melhor curso de acção é aproximarmo-nos dessas pessoas. Quando começarmos a ter frequentes e enormes episódios de gratidão, uma receptividade crescente ao amor dado pelos nossos companheiros adictos, e uma vontade descontrolada de retribuir esse amor, vamos compreender que, também nós, tivemos um despertar espiritual.

Só por hoje: O meu desejo mais forte é ter um despertar espiritual. Vou estar atento aos seus sintomas e alegrar-me quando os descobrir.

sexta-feira, 18 de maio de 2012

PROPAGANDA E CLÍNICA ENGANOSA

Na tarde do dia 15 de maio percebi que aquela casa não era lugar para ninguém estar ali. Aquilo não era uma clínica, mas um local de confinamento, de reclusão. Se prestasse, ninguém tentaria fugir e fugir era o que a maioria desejava fazer. No terceiro dia, pela tarde, vi a chegada de um cara que havia fugido, arrancando uma das grades do quarto em que estava recolhido. Chegou carregado e ainda tomando porrada. Levaram ele para o "quartinho do pânico". Do quarto de passagem, onde dormia, até o quarto do terror, havia apenas um banheiro, sempre sujo, a nos separar. O banheiro, com seu fedor nauseabundo, incomodava o sono. Respirar um ar fétido é horrível. O sanitário só ficava limpo durante a limpeza matutina.

Do quarto em que ficava podia ouvir o camarada chorando (R.) e chamando pela mãe. Não seria o primeiro, nem o último a ser espancado e amarrado na cama. Houve outro que também sofreu muito e chorou bastante, foi o Fa...; Fazia dó ouvi o choro do mesmo. No momento não recordo a causa pela qual F. foi conduzido até aquele local.

Finda a primeira semana, eis que surgiu uma psicologa. Fui chamado. Comecei a conversar com ela as coisas erradas que vinha observando, na vã tentativa de que ela pudesse ajudar a modificar alguma coisa, mas era uma pobre dependente do emprego e da função que exercitava contrariando a própria profissão de fé e a ética. Ela tinha muitas fichas, individualizadas, mas meio bagunçadas. Queixei-me e ela disse que tudo era um problema de educação e que a educação no Brasil ia muito mal. Para finalizar ela disse que o ensino deveria voltar a ser como era antigamente, quando o professor colocava o aluno de joelhos sobre caroços de milho. Pra mim isso foi o fim da picada.

Buscava me manter sereno. Era difícil, mas necessário. Deveria evitar promiscuidade, amizades...não dava brecha para ninguém brincar comigo. Era desconfiado e de pouca conversa. Por dentro uma amargura e uma angústia me devoravam, me consumia, incomodava, ardia, e eu rezava muito. Mais de três vezes por dia. Ia muito cedo para a cama, umas 19 horas, mais, ou menos... Jantava, fumava um cigarro e, depois, ia para o quarto de passagem morrendo de frio. Cobria-me e rezava. Pedia a Deus que me tirasse daquele inferno. Pedia pela mulher e filhos, pelos meus irmãos e por meus pais. Ficava imaginando o que seria de mim se, por um acaso, um dos meus pais viesse a falecer. E me vinha a sensação de impotência. Rezava muito. Escrevia escondido as irregularidades observadas.

A comida era horrível, preparada por adictos como eu, pobres coitados, todos indefesos. Se submetiam a fazer aquela merda apenas para ficarem fora das grades e comer algo mais que nós outros. Dei para escrever cartas secretas, para serem entregues no dia da minha visita. Como eu ansiava por este dia.

Usava um livro e fazia de conta que copiava alguma coisa do mesmo, evitando uma inspeção, com minhas verdades expostas em pedaços de papel de caderno. Lá um dia, conheci um poeta, A.M., que vivia dopado e que me emprestou um livro de sua autoria, então eu copiava poesias de verdade e, ao mesmo tempo, ia escrevendo coisas que desagradariam muito o pastor, caso levassem ao conhecimento do mesmo, e o resultado seria imprevisto. 

Logo nos primeiros dias, dois senhores, ambos mineiros, se aproximaram de mim e puxaram conversa. Em dado momento eles começaram a me dar toques. Eram cinquentenários, de cabelos brancos. Começaram dizendo que quando houvesse qualquer reunião que eu não contestasse o pastor e ouvisse tudo calado... Eles diziam, baixinho: "eh, tem umas coisinhas erradas por aqui mas você vai ter que se conformar". Para mim estava tudo dito. Aquilo ali era um regime ditatorial e ao mesmo tempo um regime carcerário, em que a voz do pastor era inconteste. E este sujeitinho, nas preleções de araque, obrigava as pessoas a concordarem com ele, pronunciando alto a palavra "amém". "Certo ou errado gente", indagava ele, e o coro repetia: certo! "Gente, vocês concordam comigo?" e a resposta do coro era: sim! Então ele dizia algo e em seguida dizia "amém' e todos deveriam endossar o amém dele com um amém geral. Eu ficava de boca entreaberta, mas não dizia amém. Ficava altivo, cabeça erguida e, esta maneira de manter minha postura levou o pastor, numa discussão que tivemos, a primeira, a dizer que eu me julgava melhor que todos os demais ali dentro. Não era nada disso, era a minha maneira de me defender, de me resguardar de intrigas e fofocas, que rolava muito.  Sou um cara calejado, gato escaldado. 

Só poderia receber telefonemas depois de 15 dias, mas, meu filho ligou e o pastor mandou me chamar. Estava naquele lugar cerca de 12 dias e já não suportava mais a opressão. Era um sufoco. Então foram me chamar e fui, livre das grades, conduzido até o escritório. O pastor me falou "seu filho ligou e vai voltar a telefonar, pois quer falar com você". Tudo bem!  O celular do pastor tocou, ele atendeu e, antes de me passar o aparelho, colocou no viva voz. Meu filho queria saber como eu estava, se estava gostando e eu respondia dizendo: -´precisamos conversar com urgência! compre uma passagem para você e sua mãe e venham aqui, com a máxima urgência, pois quero conversar com vocês. Meu filho estava preparado para achar que tudo que eu fizesse e dissesse era manipulação, provocada pela abstinência e o forte desejo de usar. Insisti em dizer que tinha um assunto particular para conversar com ele. O pastor arrebatou o telefone de minha mão, desligou o viva voz... Antes, porém, teve um momento em que eu, irritado, comecei a dizer para meu filho: - ouça as perguntas que irei fazer ao pastor e ouça as respostas que ele vai dar. Que loucura esta minha! Perguntei: - Pastor, o senhor tem cozinheira, ou são os internos que preparam a comida que nos é servida? foi ai que ele tomou o celular da minha mão. Depois quis saber de mim o que é que eu tinha a falar com urgência com meus filhos e eu respondi que isso não era da conta dele. O clima ferveu e acabei dizendo que tinha que assinar uma procuração. Dai o FDP mandou me recolher.

Sai dali esperando o pior, pois o pastor mandou chamar todos os residentes, sem faltar uma única pessoa, dentro daquele recinto fechado. Então ele, por volta das 22 horas, apareceu sorrindo e saudando todos como se fosse um deputado em campanha eleitoral. Eu sentado esperando a cacetada. Sério pra caralho. Nervoso, mas sem querer demonstrar. Intimamente me dizia que não podia responder nada. Não deveria reagir as esperadas agressões. Pois bem, o pastor começo a preleção dele, fazendo um gesto obsceno, enquanto dizia: "bem, gente, hoje vou mostrar pra vocês o que é que existe debaixo do tabuleiro da baiana e, simultaneamente fez o gesto. E por ai ele foi falando merda, disse que eu tinha esculhambado os internos que trabalhavam na cozinha, que havia me queixado da comida e, ainda foi dizer que em minha casa talvez não tivesse sequer empregada. Ai, puta que pariu, eu abri a boca e disse: - não tem uma só não, pastor, tem duas e a comida é de qualidade e muito boa. Hoje são três! O FDP ficou embasbacado por alguns segundos, com cara de bundão, vez que não esperava minha reação. Fez outra tímida agressão e, eu, pedi a palavra para responder a ele, com serenidade, algumas pequenas coisas, serenamente, mas fervilhando por dentro. Jurei pra mim que ele receberia a resposta, no momento certo, sobre o que é que existe por baixo do tabuleiro da baiana, o que cumpri no meu último dia, quando desabafei, esbravejei... Eles viram e ouviram as minhas respostas e minhas acusações frontais.

Naquela primeira reunião ele sentiu que eu não era o babaca que ele imaginava. Então começou a ler salmos e falar besteiras religiosas, que eu debateria com ele, por horas e horas a fio, contestando-o. Lá pra meia noite terminou a reunião. O pessoal me disse: ele pegou leve com você! conte o que foi que você fez de verdade? não ligue pra intriga que ele fez, porque aqui todo mundo conhece os métodos dele. Contei aos interessados o que houve e eles me falaram para me cuidar, Não fui castigado.

Minha irmã, quando chegou de retorno da Europa, telefonou e, mais uma vez mandaram me chamar. Ela iniciou a conversa comigo como quem faz um interrogatório. No momento em que ela me perguntou sobre a medicação eu ia dizer como funcionava aquela merda toda, dai, o secretário do pastor, ex usuário de crack, que se dizia limpo, mas vivia acelerado demais, sempre com papo da ativa, arrebatou o telefone da minha mão e começou a mentir e eu faleu pra ele falar a verdade. Falei alto pra ver se minha irmã reagiria, não sei explicar, até hoje, a razão dela não ter reagido. O ex viciado então foi contar ao pastor e a esposa o ocorrido, o que resultou em nova sessão de espinafração. Contudo, ele estava com a esposa e tinha pressa. Então resolveu retirar o meu cigarro por dois dias e me deu o castigo denominado "do sofá". Consistia em ficar o dia e a noite sentado em um sofá, em um corredor. Pra meu azar, coincidentemente, o castigo ocorreu quando chegou uma frente fria. Não tinha cobertor e ali ficava tremendo de frio. Dois companheiros foram solidários e me trouxeram um cobertor espetacular, trazido pelo rapaz do Paraná que dormia no mesmo quartinho que eu, também na parte baixa do outro beliche. O pai dele fabricava tais cobertores. Ele foi parar naquele lugar por conta da "Mary Jane". Eu ficava pasmo com tanta caretice. Mas o frio passou e, dia seguinte, perto do entardecer, anteciparam minha saída do castigo. Pensei: poderia ter sido pior! Tinha que engolir aquelas humilhações e fui me preparando. Rezava muito. Fazia minhas cartas de denúncia.

Teve um dia que pedi, mediante oração, a Deus, para falar com meu pai e, por incrível que possa parecer, no momento final da reza, quando terminava de me benzer, apareceu um GAP (este era do nosso lado, mas fingia ser do outro, simulava, era a luta pela vida). Então ele me disse:- tem alguém querendo lhe falar pelo telefone, vamos lá?! Pulei da cama, bati a cabeça no beliche, e fui apressado. Era meu pai. Deus é mais, mesmo. Começamos a conversar, ainda não havia chegado aos 15 dias. Ele fez as perguntas de praxe. Todos fazem a mesma pergunta: TÁ GOSTANDO? claro que não, mas disse que mais ou menos e mudei de assunto, falei do frio, da falta de roupas apropriadas e muito pedi a ele para aparecer naquele lugar no dia da minha visita. Implorei a vinda dele. Ele prometeu que viria. Disse que me mandaria roupas com urgência e as roupas nunca chegaram.

Passei a desconfiar dos meus filhos e da mulher. Mesmo assim rezava por eles. Sentia, era sintomático, que eles estavam conspirando para me deixar naquele inferno o máximo de tempo possível e a salvação minha era meu pai, que nunca me faltou. O resto eu sabia que era tudo quinta coluna.

Veio o dia dos telefonemas, e, voltei a reiterar meu pedido a meu pai, para me visitar. Ele me garantiu. Perguntou se as roupas que ele havia comprado tinham chegado e ao saber que não, quase chorou. Meu pessoal além de não mandar a roupa, senti, não queriam que ele fosse me visitar e trabalharam em cima disso. Mas Deus é maior que tudo. Nova reza e um novo telefonema. desta vez era minha filha. Perguntei a ela se meu pai viria me visitar e ela respondeu que só no dia 12 de julho. Dois meses depois, ai eu pedi a ela que pelo amor de Deus convencesse meu pai a comprar a passagem dele e vir, senão eu ficaria muito mal e, com certeza, ficaria. Seria uma frustração e um desastre.

O que acontecia fora da "clínica" eu não sabia. Mas a ligação de minha filha me deu muito ânimo e tudo que eu vinha pensando estava acontecendo. Meus familiares são previsíveis. O resto conto depois, mas ninguém pode imaginar o que é ficar internado. Tem os que se auto-convencem de que devem pagar por ter usado droga e cai no conformismo, na auto-flagelação, outros engolem o discurso da culpa e se acomodam e vivem elogiando a clínica. Os terapeutas perguntam, isso é básico para testar o interno: - quem está gostando em estar aqui? Quem se sente feliz? Quem dizia que estava gostando, ou feliz, se fodia, porque na verdade ninguém fica feliz longe da família, da mulher, do  seu habitat natural, confinado, mal nutrido e com inúmeras restrições, e os terapeutas, quase todos eles ex-adictos, em recuperação, conhecem muito bem as manhas dos adictos...

Os fatos aqui narrados podem estar cronologicamente desordenados. Ninguém pode imaginar o quanto eu já vi em matéria de sofrimento. Vi caras que eram super-machos, desses que nunca choram, chorando feito criança. Vi filhos odiando os pais e irmãos. Sabe, cada qual com sua dor e seus gemidos. Vi homens acordando aos gritos, outros falando e brigando dormindo; vi, principalmente que os casados, os que possuíam companheiras, com muitas queixas delas. Grande número de homens traídos pelas  esposas. Tinha um que era especialista em infidelidade, sujeito muito engraçado e que um certo dia chorou como uma criança. Ele me dizia que, nunca havia imaginado na vida dele, passar tanta humilhação. Teve seis esposas e todas seis traíram ele. Mas ele debochava delas. Sujeito gozado. Era um detetor de corno. O pior é que ele iniciava conversa com novatos e ia explorando o cara com perguntas até chegar ao parecer final: É corno! e ria muito... Daria para escrever um livro com tantos personagens impressionantes que conheci, mas a mente prefere ir esquecendo de tudo isso. Me irrita profundamente, ouvir alguém elogiando o inferno em que me depositaram. Mesmo sabendo das medidas rigorosas adotadas pela OAB e Ministério Público. As providências, além do inquérito instaurado, ordenava aos variados conselhos, de medicina, enfermagem, psicologia, acrescidos da Prefeitura Municipal, Corpo de Bombeiros e ANVISA de vistoriarem o local, com prazo determinado para elaboração de relatórios que fariam parte dos autos processuais.
SPH !

quinta-feira, 17 de maio de 2012

Achegas sobre uma Família Feliz



A Clínica, em que estive, no interior paulista, possui um site na internet, que veicula inverdades, exibe fotos e divulga qualidades que não possui, até, pelo menos, durante o período em que estive por lá. Isso constitui propaganda enganosa.  


As fotos divulgadas escondem a existência de grades e alambrados circundando a casa e a área da piscina, cujo acesso, nem sempre é permitido. São fotos antigas vez que, dentre elas, existe uma, a principal do site, em que ainda aparece uma criatura que não faz mais parte da família "estruturada", que buscam retratar, passando a imagem de uma família feliz. Quiça fosse, mas não é. A criatura, a que me refiro, provocava sentimentos de rancor no pastor que  fazia questão de desqualifica-la, publicamente, o que não deveria fazer porque não é correto e por se tratar de particularidade familiar. Havia um litigio entre as partes que não me interessa particularizar.

Também consta no site o depoimento de uma mãe anônima e de um ex-usuário, ambos sem valor algum. Servem, apenas, como publicidade da "clínica". O pior são as inverdades, principalmente no que concerne à uma equipe multidisciplinar inexistente, um verdadeiro faz de conta.    

O slogan "Agora somos uma família feliz", não corresponde aos fatos. Explico : quando lá cheguei, o filho do pastor, também sócio da "clínica" já estava separado da mulher. Outro detalhe infeliz é o que vou me reportar mais adiante e que diz respeito a um hematoma no olho do pastor, bem característico de quem levou um soco. Algo parecido com o que a foto abaixo exibe. 

No dia que cheguei a tal "clínica", 12 de maio de 2011, o pastor estava com uma "luneta" no olho esquerdo, parecida com a da foto acima. Perguntado por meu filho sobre a causa do hematoma, justificou ter sido o mesmo causado por um acidente automobilístico, tendo ele, batido a face no para-brisa do carro que dirigia. Como consequência formou-se um hematoma em volta do olho. Sinceramente, não dá para acreditar na versão do pastor, que, em meu entendimento, faltou com a verdade, justo ele que deveria ser exemplo de virtude.

Passados alguns dias um interno (G.) foi trabalhar de graça, na casa do pastor, na área de carpintaria. G. me contou que não recebia um único centavo de real como pagamento pelos serviços prestados. Tanto ele, quanto D.


G. conheceu a empregada do pastor que logo se tornou íntima dele, chegando a contar-lhe a história da "luneta". Foi mais ou menos o seguinte: o pastor, contrariado com o filho, usuário de crack, recaído, tomou a chave do carro do mesmo . Este inconformado, teria altercado. No calor da discussão, desferiu um soco na face do pai, atingindo a região ocular. Isso foi contado a G. pela empregada.

Este fato chegou ao conhecimento dos internos, vez que, um outro "recuperando", D., serralheiro, que também trabalhava na residência do pastor, fora da "clínica", fez chegar, indiretamente, ao conhecimento do pastor, através de terceiros, a intimidade e confiança que G. havia conquistado com a empregada, chegando ao ponto de ter mantido relações sexuais com a mesma. Tal fato causou intensa revolta ao "todo poderoso". A empregada, durante a sessão de humilhação, convocada pelo mesmo, foi chamada de puta, enquanto G. foi qualificado como "animal" e obrigado a confirmar tal condição, além de sofrer com os impropérios que o pastor lhe endereçou. O pior é que o mesmo usava a Bíblia. Também não respeitava a esposa, proferindo pornografias e promovendo gracinhas. Quando chegamos disse-nos ser pastor da Igreja Batista! Será?!

O pastor era um sujeito desequilibrado, destrambelhado, que chegou ao ponto de contar, extravasando, como foi que fez para que seu filho, sumido alguns dias, voltasse para casa. Disse que passando de táxi, de volta do supermercado e rumo a sua residência, reconheceu o carro do filho, no caminho. Mandou o taxista parar o veículo, desceu, esvaziou os quatro pneus do carro do rapaz, voltou ao táxi e foi para casa. Mais tarde o filho apareceu. Disse que "Deus" fez com que ele, dessa maneira, salvasse o filho, pois, no dia seguinte, o mesmo iria cometer grave delito. Agora pasmem o que ele confessou: "Salvei meu filho de praticar um assalto a banco, com explosivo, pois ele estava envolvido com uma gangue que praticaria tal delito no dia seguinte".  O assalto, segundo ele, seria feito mediante explosão de caixas eletrônicos, com dinamite!!! Acho que ele só pode ser pirado, fora do normal, ou algo similar, para contar fato tão grave, publicamente. Personalidade estranha!


O pastor nunca admitiu, nem desmentiu que a luneta foi fruto de um soco. Pode ser que a luneta que vi, fosse decorrente de um acidente, mas parecia mesmo, marca de um soco recebido. A empregada foi demitida. G. foi colocado no quartinho do pânico, por onde D. passou cerca de um dia. D. também foi publicamente execrado, nas sessões coletivas que o pastor promovia.


Relato tais fatos para que codependentes, familiares de adictos, em estado de desespero, pesquisando pela internet em qual "clínica vai internar seu ente querido, acabe caindo no conto do pastor, isto é, na propaganda enganosa. Muito tenho que reclamar, mas prefiro advertir àqueles que, de modo aleatório, guiados pela propaganda, conduzam seus parentes para lugares iguais ao que fui conduzido, equivocadamente. 


Hoje, estou convencido de que tratamentos involuntários só funcionam em quem voluntariamente o aceita e, desde que internado em uma CLÍNICA de verdade. Jamais permitam que mal tratem seus familiares e se maltratarem que processem civil e penalmente quem praticou humilhações, maus tratos e tortura, física, ou psicológica. Já é hora do Governo Federal criar comissões que procedam, regularmente, inspeções em tais lugares, ouvindo, inclusive, o que os internos têm a dizer em total clima de segurança e confiança, pois sem estes requisitos e sem a liberdade de poder falar e se expressar, nada contarão e a verdade ficará sepultada no coração de cada ser humano que passou por tais locais.


Por obra e graça do Espírito Santo, sai daquele inferno ! 

Poema: Reencontro com o Poder Superior

 

Posted by Picasa

quarta-feira, 16 de maio de 2012

"Menino passarinho com vontade de voar"


Lembrava quando Luis Vieira participou de uma seresta, durante aniversário de meu pai, há muitos anos... Era como se pudesse ouvi-lo cantar :"Sou menino passarinho com vontade de voar"... Como eu queria voar e sair daquele local maldito em que me puseram.

Estava numa residência, cercada por grades e imensos alambrados, confinado, junto com cinquenta residentes involuntários, também presos, em um espaço diminuto.

Nos momentos em que podia circular pelo avarandado da casa, isolava-me e ficava  num canto lateral da casa, observando a paisagem enquanto refletia. Isso se repetia sempre. Era o cantinho da dor, das meditações e  de  clamores que só Deus podia escutar.

Todos os dias, durante o resto de tarde que me sobrava, dirigia-me para este local da casa, transformada em carcere.

Via muita beleza detrás do alambrado, como um bando de tucanos e outros pássaros me tiravam do lugar comum. Uma ocasião vi um  pica-pau, bem de perto, e achei magistral aquela aparição, surpreendente. A flora e a fauna compunham um cenário belíssimo para meus apaziguar meu mundo interior e me ajudar a resistir  a tudo.

Meu interior estava tão cheio de dúvidas, que tais visões me confortavam. É duro sentir-se como um estranho no ninho. Minhas dúvidas voltavam-se para a família e o tempo que iria levar naquele lugar que me era indigno.

Sempre no mesmo horário uma garça voava solitariamente, bem distante, até pousar suavemente no galho da mesma árvore. Era um ritual que a mesma obedecia todos os dias.

Levava cerca de uma hora até bater asas e seguir o destino dela. Era solitária. Eu olhava aquele voo e invejava a liberdade que a mesma desfrutava naquele ir e vir. Queria poder voar para bem longe, mas estava trancafiado.

Em poucos dias já pensava em fugir. Não confiava em ninguém! Ia identificando o pessoal insatisfeito. Achei uma serra, que alguém estava usando para uma eventual fuga. Deixei  a mesma no mesmo lugar. Quem seria o fugitivo solitário?

Ninguém busca fugir quando recebe tratamento digno. Quando há satisfação, dificilmente alguém foge... Ali, naquela casa, só mesmo um alienado suportaria ficar.

Éramos 50 internos, confinados ,dentro de uma casa, a maior parte do tempo; uma senhora e uma garota ficavam em celas especiais, fora da casa. Eram celas privadas e mais caras, com frigobar e algum conforto extra. O luxo custa caro. Era uma ex-manequim e uma garotinha de 16 anos. O lance delas era o "branco".

A garotinha tinha aparência frágil. Era do interior paulista. Logo quando chegou, sofreu um abuso sexual, praticado por um adicto, secretário particular do dono da casa. Imagine só!

Tinha regalias e por isso abusava, enquanto o pastor economizava com a mão de obra escrava.

A garotinha me contou como tudo aconteceu e o enorme susto que levou quando viu seu quarto sendo invadido. Estava impotente e indefesa quando o provavel ex-usuário de crack e cocaína a violentou. Era um mau caráter, metido a valentão, mas daqueles que só são valentes quando se sente protegido. Ela não contou detalhes, nem era preciso. A ex-manequim, dependente da cocaína, sentia-se velha e é natural que ela sentisse  saudades do que ela foi e representou. A beleza cedeu lugar a tristeza!

Naquela casa tudo que acontecia era errado. Internos subornavam GAPs (Grupo de apoio a "pacientes") e até mesmo o monitor,  para chegarem até ela, tarde da noite. Os rapazes davam roupas e objetos valiosos e, desse modo, tinham acesso ao quarto da garota, que já não dizia nada, nem reclamava. Um dia tal acontecimento vazou e chegou ao conhecimento do pastor. A descoberta resultou em uma espinafração pública da garota, chamada, na frente de todos, de "putinha" enquanto um rapaz de Londrina levava uma bofetada no rosto.  A verdade  foi mal contada.

Os GAPs eram adictos em recuperação, utilizados como mão de obra escrava e funcionavam como vigilantes dos internos. Nenhum apoio. Com isso, adquiriam certas regalias. GAP geralmente era um puxa-saco.  Gente desfibrada!

No dia do meu aniversário eu estava no último dia de "axé" (podia fumar e ficar no corredor da casa, em certos momentos; não tinha que lavar, cotidianamente o quarto, o que passou a ocorrer pouco depois, finado o tal "axé".

Neste 15/05, abriram um precedente e me deixaram receber telefonemas. Meu pai, meus irmãos, filhos, esposa e cunhada ligaram. Não deu para uma irmã telefonar vez que estava passeando pela Europa e se achava em Londres. Eu não podia falar a realidade porque era monitorado e falar a verdade era pedir para ser castigado e desacreditado como manipulador para a família. Donos desses pardieiros já têm um discurso pronto para cada situação.

Senti imensamente a falta da ligação de um dos meus filhos e isso me deixou abatido e, de certo modo, com uma pulga atrás da orelha. Porque logo ele? A minha filha falou comigo efusivamente, minha cunhada do mesmo modo, mas a esposa parecia um ser despojada de afeição. Fria, como quem não tem assunto para entreter, nem algo de bom para consolar, apenas me prometeu que no dia 12 de junho iria me visitar. MENTIRA, mas cheguei a acreditar. Sabia dos planos dela e das crises que padece todos os anos, quando se aproxima a festa junina, em uma cidade do interior, onde ela morou grande parte da vida. Também morei na mesma cidade, quando tinha poucos anos de idade. Mesmo assim, achei que ela não faltaria. Porquê mentir?!

Fiquei triste com meu filho, que havia me presenteado com um livro, no qual deixou uma dedicatória preocupante, pois dava entender que minha permanência, naquele lugar, levaria muito tempo. Não li o livro porque sou míope, não tinha óculos, e, também, em função de dormir debaixo de um beliche, que apelidei "balança mais não cai", sem luminosidade alguma, no quarto de passagem.

Dormia muito mal. O beliche tremia, rangia, eu achava que aquele cacete armado ia cair em cima de mim. Acordava sobressaltado durante as madrugadas. Certa feita reclamei com o marinheiro carioca que dormia na parte de cima. Noutra até briquei: - que porra é essa fulano, parece que você fica batendo punheta ai em cima!!

O frio era excessivo. Só então pude entender o que é "frio de doer nos ossos". Não era a temperatura, mas aquele vento gélido que dava uma sensação térmica inferior a do termômetro. Parece que eu era o mais friorento do local.

Até este terceiro dia eu estava "aceitando" vez que não podia mudar nada, apenas eu mesmo. Nada de amizade, pouco papo. Conversa, a princípio, só com o pessoal do quarto, onde tinha um marinheiro carioca, dois paranaenses e um baiano. Este baiano, coitado, sofria humilhações terríveis. Estava ali porque fumava marijuana e porque gostava da vodka "Absolut". Já havia passado por várias internações e só tinha 19 anos de idade. Filho de pais separados. Sentia-se rejeitado pelo pai.

Na casa, a maioria era de jovens que viviam desfilando, com roupas de grife, caras, e que acabavam resultando em um tal de "business", que nada mais era do que a troca de pertences, incluindo os chamados de GAPs subornáveis. Uma loucura!

Vivia com duas ou três meias, duas calças e sete camisas e, por cima destas, um blusão de couro. O banho era a partir das 5 da tarde, quando começava a gelar.

Numa ida do pastor à casa disse ao mesmo que era nordestino, acostumado com calor e que sentia muito frio para tomar banho conforme era estabelecido. Pedi para banhar-me às 15 horas e ele consentiu. Era um alívio! Até umas 7 horas da noite eu segurava a barra do frio, depois disso gelava a cabeça, mãos e pés. Foi assim o tempo inteiro. Quando chegava uma frente fria era um horror.

Puseram-me de castigo, certa feita, em um local por onde esta frente fria passava, como uma correnteza. Dois companheiros apiedaram-se e me deram um cobertor.

Às 21 horas, todos os dias, em clima de bagunça, vinha um ex-usuário de crack, que era chamado de ladrão e de sexualmente indeciso, pelo pastor, para administrar a medicação que,. por sua vez, era preparada e colocada em copinhos, por um adicto em recuperação.

Imaginem a bagunça de uma casa administrada por adictos, em um pseudo tratamento, também obra de adictos, todos ex usuários de crack. Não é muito louca essa "clínica"?

Por uma única vez fui obrigado a tomar um medicamento diferente. Dia seguinte reclamei. Na hora de tomar o medicamento ficávamos fechados numa sala, todos comprimidos. Iam chamando de um a um, na base do grito. Iraildes, certa, feita, tomou a dose do medicamento de outro residente e foi obrigado a tomar a outra dose, que era a dele.

Era do Paraná e foi parar naquele lugar enganado. Não usava droga alguma. Disseram que ele iria visitar a tia, foi enganado e caiu no engodo e acabou sendo despejado, pela família, naquele lugar infernal. Entrou no alçapão e se fodeu. Outros internos eram convidados a conhecer a "clínica" e, entrando no caçuá, eram trancafiados. Depois o pastor manipulava a família na base do 171. Se o recém chegado reagisse, caia no "mata-leão". O pobre IRAILDES vivia com a bíblia debaixo do braço o tempo quase que inteiro, enquanto confinado. Um dia pegaram ele, no banheiro, batendo punheta e foi a maior gozação.

Depois da medicação tínhamos direito de fumar o último cigarro para depois irmos para o chamado "berço". Dormíamos dez da noite e acordávamos às 7 da manhã. Escovávamos os dentes rapidamente, para, em seguida, ficarmos ouvindo a leitura de trecho bíblicos e, depois, do Pão Diário. Quem é que chefiava e nos ensinava alguma coisa de religião? um ex-usuário de crack! Era tudo assim, até quem fazia e servia a comida e varria a área e catava o cocô dos cachorros, eram internos em recuperação. Que recuperação?

O pastor só tinha 3 empregados. Nos primeiros dias, pela manhã, estranhei o "café". Era   meio copo plástico, com nescau gelado, servido às 9 da manhã, com direito a dois pães que se esfarelavam. Quanto ao nescau gelado, Gonçalo, descendente de espanhol, pediu para tomá-lo quente e por isso foi punido, em compensação passaram a colocar nescau morno.

Após pequeno intervalo todos tinham que pegar vassoura, rodo e água com desinfetante, para lavagem dos respectivos quartos. O local em que dormia era chamado "quarto de passagem"...Inexistia privacidade. Todo sábado era dia da "super-limpeza".

Havia uma piscina que ninguém se atrevia usar. Era suja. Não totalmente, mas era. Raras ocasiões vi uma, ou outra pessoa, jogando-se na mesma, em dias de sol. Um cidadão aparecia, vez em quando, para tirar a sujeira da superfície. Em determinados horários podíamos chegar até ela e ficarmos sentados, na área circundante, com alambrados muito altos, fechando tudo. Dessa área eu só enxergava como ponto de fuga o telhado. Como alcança-lo? pelo refeitório, onde havia uma janela quebrada e dai pelo telhado. Teria que pular de uma boa altura e eu me imaginava caíndo de mal jeito e me ferrando. Contaram-me que certa feita um interno tentou fugir, do mesmo modo, mas foi logo capturado, tomou muita porrada, depois foi sofrer tortura no chamado "quartinho do pânico".

Em meus planos, acabei descobrindo no sanitário, uma serra de ferro. Já mencionei o ocorrido. Alguém estava serrando uma grade. Comecei, sem que ninguém soubesse, a serrar tal grade. Mas fugir como e para onde? Sem dinheiro e sem documento?  Teria que sair correndo por uma estrada de barro, estreita, cercada pela mata, até a Raposo Tavares. Lá teria que caminhar rumo a São Paulo, capital, ou solicitar carona de alguma alma caridosa. Coisa rara nos tempos atuais. Então o pessimismo me levava a repensar tudo.

Aquela garça a que me referi no inicio, significava a existência de terreno alagadiço. Era inviável tomar aquele rumo. Olhava em outra direção e via um local que me diziam ser uma espécie de aeroclube, mas não havia sáida. Fuga, para mim, estava descartada. Me veio a ideia de iniciar um movimento de rebelião e logo aglutinei os insatisfeitos mais corajosos. Aquele pessoal mais barra pesada, dentre eles, dois ex-sentenciados, que já haviam cumprido pena. Eles diziam que no presídio passavam melhor que ali dentro. Teríamos que fazer como se faz em prisões. Seríamos forçados a fazer reféns. Teríamos que usar a violência, queimar colchões e fazer com que alguns internos chegassem até a imprensa e ao Ministério Público, para denunciar tudo o que ocorria de errado na casa.

Recordo que nNo dia 15 de maio, pela tarde, Ruber..., fugiu arrancando uma grade do quarto. Pouco tempo depois alguém caguetou. Foi apanhado, tomou muita porrada e foi torturado. Ficou vários dias no quarto do pânico.

Tempos depois, Dario fugiu. Temia que a mãe, que seria submetida a uma cirurgia cardíaca, viesse a falecer. Pediu permissão para visita-la e disseram: -se ela morrer, morreu, é da vida. Você não pode mudar o destino, portanto, não venha com manipulação, pois o que você quer é usar droga!

A história do D. é uma conversa à parte. Facilitavam a ida dele para fora das grades pois ele trabalhava como serralheiro, de graça, na casa do pastor. Numa dessas facilitações ele subiu em um monte de entulho e conseguiu pular o muro. Fugiu. Correu. Foi visto. Entrou na mata, mas logo foi apanhado e tomou algumas porradas. Foi para o quartinho do pânico, donde saiu no dia seguinte, sem tortura. Nessa ocasião, D. fez uma denúncia grave.

Outro companheiro nosso, G., que efetuava trabalhos de carpinteiro, de graça, na casa do pastor, foi acusado por D. de espalhara noticia de que o olho roxo do pastor havia sido fruto de um murro que havia sido dado pelo próprio filho. Contou, ainda, que G. estava comendo a empregada do pastor e que ela havia contado ao mesmo, que o pastor (quando cheguei na tal clínica, o pastor estava com um hematoma no olho esquerdo)  depois de tomar a chave do carro do filho, também adicto, em recuperação, ex-usuário de crack, com passagem pela televisão e tudo, acabou levando um soco no olho, desferido pelo rapaz. Então a empregada contou isso e mais coisas... O filho, rapaz alto e forte, lutador de artes marciais, cacetou o pai. Isso resultou no maior escândalo. A empregada, despedida, em reunião, foi chamada e tratada como puta, repetidas vezes.

Passava das 11 da noite, já estava dormindo, morto de frio, quando me acordaram para ouvir mais um dos sermões loucos do pastor, para tratar do assunto. Só terminou quase duas da madrugada. Ele levava a mulher, que ria muito quando ele ironizava e proferia palavras de baixo calão contra internos. A risada dele e dela eram satânicas.

Eu já havia passado por uma dessas sessões. Depois conto... Poderia resumir muito se encontrasse o e-mail que enviei a OAB e ao Ministério Público de São Paulo, que adotou medidas rigorosas, inclusive, abrindo inquérito civil. Não deixei barato o que passei naquele lugar infernal. A esposa do pastor, certa feita disse que eu era perigoso.

Fui para o tudo, ou nada, no dia em que recebi visita. Já vinha estudando o pastor. Um companheiro mais próximo me disse, não desafie ele, porque ele adora ser desafiado e vai lhe ferrar. Não se abra com ninguém e foi além: - ele é o diabo em pessoa! isso eu já havia percebido, pois não respeitava nem a bíblia e pregava a mesma proferindo pornografias. A pedra da sepultura de Lázaro era uma enorme pedra de crack, para ele, o pastor!!! Continuo outro dia. Só escrevi devido a um comentário pedindo para prosseguir a história.

Narcóticos Anônimos, Meditação do Dia, quarta, 16 de Maio de 2012


A vontade do nosso Poder Superior

"... a vontade de Deus em relação a nós... acaba por tornar-se na nossa verdadeira vontade para nós mesmos." 

Texto Básico, p. 55


Os Doze Passos são um caminho para um despertar espiritual. Este despertar toma a forma de uma relação em desenvolvimento com um Poder Superior amantíssimo. Cada passo fortalece essa relação. À medida que continuamos a praticar os passos, a relação cresce, tornando-se cada vez mais importante nas nossas vidas. No decurso da prática dos passos, tomamos uma decisão pessoal de deixar que um Deus amantíssimo nos oriente. Esta orientação está sempre ao nosso dispor; precisamos apenas da paciência para procurá-la. Por vezes essa orientação manifesta-se na sabedoria interior a que chamamos consciência. Quando abrimos os nossos corações o suficiente, para sentirmos a orientação do nosso Poder Superior, encontramos uma profunda serenidade. Essa paz é a luz que nos guia através dos nossos sentimentos conflituosos, providenciando uma direcção clara quando as nossas mentes estão ocupadas e confusas. Quando procuramos e seguimos a vontade de Deus nas nossas vidas, encontramos a alegria e a felicidade que muitas vezes nos escapam quando tentamos fazer as coisas sozinhos. O medo ou a insegurança podem afligir-nos quando tentamos seguir a vontade do nosso Poder Superior, mas temos vindo a aprender a confiar no momento de clareza. A nossa maior felicidade está em seguir a vontade do nosso Deus amantíssimo.

Só por hoje: Vou procurar fortalecer a minha relação com o meu Poder Superior. Sei, por experiência, que o conhecimento da vontade do meu Poder Superior dá-me um sentimento de clareza, de direcção e de paz.
                                                        H  U M I L D A D E

segunda-feira, 14 de maio de 2012

Narcóticos Anônimos, Meditação do Dia - Segunda, 14 de Maio de 2012


"Insanidade é repetir os mesmos erros à espera de resultados diferentes." 
Texto Básico, p. 27



Erros! Todos sabemos o que sentimos quando os cometemos. Muitos de nós sentem-se aterrorizados ao olhar para sí próprios, ao sondar o seu interior. Muitas vezes olhamos para os nossos erros com vergonha e culpa - no mínimo com frustração e impaciência. Temos tendência para ver os erros como evidência de que continuamos doentes, doidos, estúpidos, ou demasiado danificados para recuperar. Na verdade, os erros são uma parte vital e importante do ser humano. Para pessoas particularmente teimosas (como os adictos), os erros são o nosso melhor mestre. Não há que ter vergonha de errar. De facto, cometer novos erros mostra por vezes a nossa vontade de arriscar e crescer. No entanto, é importante que aprendamos com os nossos erros; repetir os mesmos pode ser um sinal de que estamos atolados. E esperar resultados diferentes dos mesmos velhos erros - bom, isso é aquilo a que chamamos "insanidade". Simplesmente não resulta.

Só por hoje: Os erros não são tragédias. Mas por favor, meu Poder Superior, ajuda-me a aprender com eles!

Eterno aprendiz

 

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Lute !

 

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sábado, 12 de maio de 2012

Narcóticos Anônimos, Meditação do dia, sábado,12/05/2012


Viver com experiências espirituais

"Diz-se que para que a meditação tenha algum valor os resultados deverão fazer sentir-se nas nossas vidas diárias."
 Texto Básico, p. 54


Ao praticarmos o nosso programa nos são dadas muitas indicações indiretas da presença de um Poder Superior nas nossas vidas: o sentimento límpido que chega a tantos de nós quando fazemos o nosso Quinto Passo; a sensação de que estamos finalmente no caminho certo quando fazemos reparações; a satisfação que temos quando ajudamos outro adicto. A meditação, no entanto, traz-nos por vezes indicações extraordinárias da presença de Deus nas nossas vidas, Essas experiências não significam que nos tenhamos tornado perfeitos ou que estejamos "curados". São sabores que nos são dados da própria fonte da nossa recuperação, lembrando-nos da verdadeira natureza daquilo que procuramos em Narcóticos Anónimos, e encorajando-nos a prosseguir o nosso camínho espiritual. Experiências dessas demonstram, sem margem para dúvidas, que encontrámos um Poder bastante superior ao nosso. Mas como é que incorporamos esse Poder extraordinário nas nossas vidas diárias? Os nossos amigos de NA, o nosso padrinho ou madrinha ou outros na nossa comunidade, poderão ser mais experientes do que nós em assuntos espirituais. Se lhes pedirmos, eles poderão ajudar-nos a integrar as nossas experiências espirituais no padrão natural de recuperação e de crescimento espiritual.

Só por hoje: Vou procurar as respostas de que poderei precisar para compreender as minhas experiências espirituais e integra-las na mínha vida diária.

Blog AMANDO UM DEPENDENTE QUÍMICO


Sobre a autora: Poly P. :

Brazil
Uma mulher de 34 anos, três filhos, casada com um dependente químico há cinco anos e meio. Meu pai morreu numa overdose em 1995. Sou formada em Ciências Contábeis, fiz três módulos de uma Especialização em Dependência Química, e tenho uma Pós-Graduação Lato Sensu em Comportamento Organizacional e Gestão de Pessoas, que é a área que atuo num órgão público estadual. Poetiza. Compositora. Escritora... Blogueira. É isso aí, sou uma mulher comum em meio a uma multidão de outras. Não tenho importância relevante. Minha vida de profissional, dona de casa, mãe e esposa, faz de mim uma pessoa que leva uma vida absolutamente igual a tantas. Não escrevi um livro (ainda). Já plantei uma árvore. E já tive filhos. Acho que não ficarei na lembrança da humanidade. Mas, existe uma coisa que me torna diferente e especial. Algo que colore a minha vida e a destaca das demais: o amor que sinto. Um amor forte e pleno. Um amor com toda a minha alma. Um amor capaz de tudo. Um amor que transforma. Um amor que não acaba... E esse sentimento sim me descreve. Então, sou uma mulher que ama verdadeiramente. Só isso. O resto é resto.

Último post:  quarta-feira, dia 02 de maio de 2012. 

Mostrava-se contente por estarmos no mês de maio. Seu esposo estava 7 meses e 1 dia! Que ótimo, não é mesmo?

Ela, codependente, "mesmo em meio à correria de quem acabou de ser mãe pela terceira vez, tento ler e me atualizar sempre sobre dependência química e codependência, para ajudá-lo no que me for possível." 

Está do lado do maridão, sem nunca deixa-lo ao Deus-dará. É bonito saber que existem mulheres que lutam e não se deixam vencer pelo desânimo. Ela até teria razões de sobra para abandona-lo, mas acima do egoismo, das decepções, das vergonhas, da vaidade, estava o amor e ela não se entregou. Quase que diariamente ela dá noticías, mas faz 10 dias que nada escreveu. Deve ter seus motivos e ninguém é obrigado a escrever sempre. Na Europa, ausência de notícia é bom sinal; no Brasil, tal ausência, não é bom sinal. Mas não nos deixamos levar por tais paradigmas. Ela confesa estar vivendo serenamente e em sintonia com seu amor. Desejamos que tudo continue correndo bem, que o reencontro com a vida seja total e que todos os dias do porvir sejam de muita alegria. 

Vale a pena lutar. Felicidades para o casal!


BLOG "TAMU JUNTO"


Último post ocorreu numa QUARTA-FEIRA, 4 DE ABRIL DE 2012, com o depoimento "É POSSÌVEL VENCER"

O autor conta sua história:

"Aos 15 anos, as amizades não eram tão boas e fui apresentado ao primeiro grande mal da minha vida, a cocaína, apresentada por uma “amiga”. Por um tempo consegui levar “numa boa”, só “de leve, eu controlava, mas passado algum tempo o jogo virou e então “ela” me controlava , usava diariamente, sem medidas e então já não era mais suficiente , não me bastava , e procurei então por algo “melhor” ,  aí encontrei o maior mal da minha vida , o crack. Esse me dominou logo de cara ,  se apossou de mim , eu precisava dele todo momento e fazia qualquer coisa para ter uma pedra , vendi roupas , tênis , coisas de casa , roupas do meu sobrinho , passava noites e noites nas ruas , sujo , sem comer  , roubando, passando por humilhações , apanhando  de policiais e de traficantes , sendo desprezado pelos próprios “amigos” , sem dignidade alguma. Até que no início de 2005 , aos 21 anos , uma prima , vendo aquela situação , sugeriu e indicou uma clínica para a recuperação de dependentes químicos em campinas. Eu prontamente , aceitei e fui, fiquei internado por um período de 8 meses , foi onde eu comecei a conhecer o amor de Deus , aprendi como me manter limpo , e voltar a ter dignidade e respeito. Saí e consegui me manter assim , por um período de 6 anos , nesse tempo tive um filho, e me dediquei a ele"...

O REVÉS

"mas voltei aos poucos a sair a noite , beber , ‘amigos , lugares que não eram bons , achando que podia ter controle , que não recairia , que sabia dos meus limites, então após esses 6 anos , recaí, primeiro na cocaína , que desde o primeiro dia já sem controle , já abusava , diariamente , nessa época meu pai já havia falecido e deixado uma herança , comprei apartamento  , carro , gastava muito dinheiro nas noites , cercado de  “amigos” , pagava tudo pra todos , mas não durou muito , as coisas foram se acabando , dinheiro já  não tinha mais , vendi carro, apartamento , fiquei sem nada novamente , só não fiquei na rua por que fui morar com minha mãe . Meu sobrinho me deu  uma força e me arrumou trabalho com ele por que eu já nem usava por não ter dinheiro , mas aí o dinheiro começou entrar novamente e ainda eu furtava algum dinheiro do caixa e fui atrás do crack mais uma vez..ia de onibus, a pé , de qualquer jeito comprar, e assim foi por um certo tempo. "

A ESPOSA

"Em 2007 conheci minha esposa pela internet , menti , escondi meu vicio e pedi que ela fosse morar comigo, Ela foi , no inicio consegui esconder , dizia só que bebia as vezes , nós brigávamos muito , não tínhamos paz , por que eu estava sempre sobre efeito da droga que usava escondido enquanto ela estava no trabalho. Morávamos no meu quarto na casa da minha mãe , não era muito legal. Mas fui levando assim mesmo , até o fim de 2008 , quando me vi no fundo do poço , precisando de ajuda , e pedi ao meu sobrinho , que mais outra vez me ajudou e me internou na mesma clinica de antes. Dessa vez quando completei  2 meses não agüentava mais, e pedi pra sair dizendo estar bom já , como não podiam me obrigar a ficar , eu saí , minha família apoiou , montaram um apartamento , compraram carro , tudo fizeram pra me ajudar , fomos então morar sozinhos , eu e minha esposa, no primeiro mês foi tudo legal, estávamos começando uma nova vida , no mês seguinte não aguentei e usei , achando que poderia controlar , de novo me iludindo , nisso minha esposa engravidou e eu acreditava que com isso mudaria que quando o bebê nascesse eu pararia , e me apoiei nisso usando cada dia mais e mais , sem controle algum , comecei a usar dentro de casa, no banheiro , passava horas la dentro , quando saía era para comprar mais, agredir minha esposa , desrespeitar minha família, agora sim, estava mesmo no fundo do poço , e indo cada vez mais fundo , nada me fazia parar , meu filho com 9 anos ,vinha passar fim de semana em casa só para sofrer me vendo naquele estado , minha esposa só chorava e implorava que eu parasse, mas eu não conseguia , era mais forte que eu , estava completamente dominado , preso ao crack. "

NOVO FILHO

Uma filha, na verdade: "Em janeiro de 2010 nasceu minha filha , e nada mudou , continuei usando , em casa , passando horas e horas no banheiro e na estrada comprando , roubando, pedindo , totalmente sem noção já , até que em fevereiro minha esposa se cansou e foi embora com minha filha para o Paraná , até prometi que iria buscá-las mas nem sabia mais o que estava dizendo ou fazendo. Então sozinho no apartamento , me entreguei de corpo e alma , eu era do crack , ele comandava minha vida , vendi tudo , não comia, nem tomava banho , nada fazia , largado , na lama mesmo.  Ninguém mais me queria por perto , eu sumia  nas favelas , apanhava , era jurado de morte . Estava morto. "

O RESGATE

"Então no dia 26 de abril , bateram a porta do apartamento , minha sobrinha e minha Irmã , quando abri , 4 homens me pegaram , seguraram e eu entrei em desespero , me deram um coquetel , que só deu tempo de ligar pra minha esposa e falar que iria ficar bom , pra ela me esperar. Acordei  4 dias depois , internado , sem roupas , num quarto cheio de outros homens. Estava no inferno , pensei. Ali tive que ficar, não tinha escolha, era a última esperança da minha família. Mais ou menos com 2 meses de internação, tive uma reação alérgica rara a uma medicamento (carbamazepina) , que iniciou a paralisação do meu pulmão , quase me levando a morte, fiquei irreconhecível, inchado , debilitado , mas quando estava quase morto os médicos descobriram o que era e mudaram a medicação , foi o que me salvou , fui me recuperando e voltei ao normal .Aos poucos fui me entrosando , fazendo amizades , me ocupando para não ficar com o pensamento fora , acabei por  trabalhar como monitor, colaborando com o tratamento dos outros internos."

NOVA RECAÍDA

"Com 6 meses tive alta e fui pra casa da minha mãe em São Paulo , no segundo dia já estava eu na favela ( dá pra crer?), lá me reconheceram , me ameaçaram , só não fui morto porque haviam muitas pessoas, mas , mais uma vez fui jurado de morte."

ENCONTRO COM DEUS

"Voltei pra casa e meu sobrinho na hora já me mandou ir para o Paraná com minha esposa , senão eu iria recair novamente e talvez até seria morto. Eu então fui para o Paraná , como um doido , sem nem saber o que iria fazer da vida. Tanto que , no início foi muito complicado, tudo novo , diferente , outra vida, não foi fácil , estava sem perspectiva alguma. Pensava em voltar , mas não tinha coragem e algo me dizia que não, que ali agora era meu lugar , que era vida nova de verdade. Minha esposa sugeriu que procurássemos uma igreja , ela tinha muito medo que eu recaísse , então um domingo saímos para procurar uma , e encontramos , e foi a melhor coisa que poderia ter acontecido ,fomos recebidos , abraçados com amor e carinho, ali comecei a conhecer de verdade a Jesus e acreditar que era sim possível refazer minha vida , estava lutando ainda , mas agora com esperanças . Morávamos com minha sogra e o marido , era difícil , pessoas diferentes , não era minha casa , mas de repente as portas começaram a se abrir , e conseguimos alugar uma casa legal , com ajuda da família , montamos o básico e começamos nossa vida , sozinhos , firmamos na igreja e no propósito de conhecer a Deus e experimentar das bençãos dele. Nos primeiros meses recebíamos ajuda integral , não tinha trabalho, eu  não tinha currículo, experiência , seria só por Deus mesmo um emprego , e assim foi , um irmão da igreja indicou e eu entrei no cargo de almoxarife da empresa que ele trabalhava;  mais uma provação , ser chefiado, receber ordens, ter horários e responsabilidades , mas fui firme , estava determinado , e estava aprendendo a fazer tudo para Deus , por ele , então comecei a colocá-lo a frente de tudo , cada ordem que eu não gostava eu pensava “ estou fazendo pra ti Jesus” e ia seguindo , sempre dando certo essa “tática” . As lutas foram aparecendo claro , mas fui vencendo cada uma . Buscando cada vez conhecer mais, saber mais de Deus , do seu amor , perdão , das bençãos e heranças , e também do que eu era capaz , por que até então eu era um nada , drogado , dependente dos outros o tal “zero a esquerda” , e Deus estava me mostrando ao contrário , eu era seu filho , e ele havia permitido tudo isso acontecer com algum propósito , para me ensinar algo , e para me usar também, e fui crendo nisso , buscando, trabalhando , errando e tentando acertar , muita coisa estava acontecendo , e nisso eu quis crescer profissionalmente , precisava disso , e consegui , abriu-se mais uma porta e eu pude treinar e me tornar técnico de adsl dessa empresa. Todo esse processo , não foi simples , lutei muito, fisicamente e espiritualmente ;  tive um encontro com Deus , experiências fantásticas , provações , recebi o milagre da cura o qual considerava impossível de existir , nunca acreditei que deixaria de ser um dependente químico e hoje digo , que podem vir as provações , que eu resisto sim , por que tenho um Deus que está comigo , segurando a minha mão e dizendo  “ Você é meu filho e eu sei do que é capaz”."

A LUTA CONTINUA, MAS COM A PAZ DE DEUS E A CERTEZA DA VITÓRIA

Enfim, depois de tudo isso , dessas batalhas todas , posso dizer que valeu a pena lutar , vale a pena. Tenho minha vida reestruturada , minha família restaurada , minha esposa e meus 2 filhos comigo , sendo cuidados por mim. Uma vida guiada pelo Espírito Santo. 

Sou grato , eternamente á todos que me ajudaram  , que me amaram e que, nem que bem La no fundo , acreditaram na minha cura. Obrigado Deus, Família e Amigos  

“Tamo Junto”

Comentário nosso:

Eis ai um depoimento corajoso, verdadeiro e comovente. É uma luta enorme, um suplício que só quem passou por isso pode compreender a gravidade do que passou e a grandeza da luta pela superação e vitória. Um grande abraço a este companheiro. Que continue firme na luta e, que, de vez em quando deposite algumas gotas de otimismo em seu blog, lançando um pouco de luz para os que se encontram nas trevas.

Felicidade aos seus, um grande abraço e "Tamo Junto" , porque sabemos que a recuperação é permanente e sempre devemos estar vigilantes. Que Deus continue a lhe abraçar não lhe permitindo qualquer tipo de fraqueza. Você é um vencedor!

sph


Blog, Sem Amor, Nada Valeria.


A autora  pretende, com o blog, " partilhar meus sentimentos e um pouco da experiência que tenho adquirido em quase 20 anos amando e convivendo com a mesma pessoa, com a qual constituí uma linda família, mas que infelizmente foi atingida por um "tsunami"chamado D.Q, porém apesar de todo sofrimento que essa doença absurda e cruel tem me causado, posso dizer que todos esses anos valeram cada segundo.Minha vida tem sido movida pelo amor, afinal, SEM AMOR NADA VALERIA!".

Seu último post aconteceu em um DOMINGO, 26 DE FEVEREIRO DE 2012. O tópico foi:

"Quando sinto que estou fraco é que estou forte - Da crise bem administrada surgem as possibilidades de mudança."

Na data supra citada, o esposo dela completava 3 meses e 8 dias e estava se tratando em uma clínica de recuperação para dependentes químicos. Segunda internação, dele. Na primeira ficou apenas abstinente. A primeira vez ficou em abstinência...

Quem é a autora do blog? Helena. Assim ela se define:

"Uma mulher que crê que o amor é a essência, a base, o motivo de todas as coisas... Graças a Deus, aprendi muito cedo que devo guardar meu coração de todo tipo de veneno mortal, abomino a inveja, a falsidade, o rancor, ou seja, tento guardar meu coração, talvez por puro interesse, pois creio que tudo aquilo que se planta colhe ( apesar de muitas vezes colhermos coisas que não plantamos - Coisas da vida )... Bem, tenho 34 anos, casei-me com meu primeiro amor ( 16 anos de casados e quase 20 ao todo), 3 filhos lindos e uma história de amor e dor... Sou filha e esposa de adicto"...

Faz um longo perído de tempo que não posta mais nada. Talvez tenha cansado do blog e, desmotivada, deixou de escrever. Ficamos sem saber o desenrrolar dos acontecimentos. Se o esposo saiu da clínica. Que impressões teve da mesma. Como vai a relação dela, com ele.
Esperamos que volte a contribuir, com sua experiência, para melhor conhecermos o mundo da adicção e da codependência. Desejamos que tenha sido bem sucedido o tratamento do esposo e que ela esteja bem, como merece estar.
SPH

sexta-feira, 11 de maio de 2012

Passarinho na Gaiola

Bom dia!

Dia 12 de maio, amanhã, completa um ano que fui para um pseudo-clínica em São Paulo, convencido de que estava indo me tratar. Fui feliz da vida. Pegamos um voo de última hora. pela AVIANCA, em um daqueles modelos de avião da GOL, que andavam caindo por demasiado. O ronco do motor era incomodo, mas o sabor e a alegria de estar indo buscar algo melhor pra mim, me deixava motivado e contente.

Tive uma pequena decepção depois que descemos em Guarulhos, por volta das 18 horas. Já estava escuro e não estava frio. A decepção foi a mudança repentina que meu filho e esposa demonstraram com a pressa de se livrarem de mim, logo.

Percebi a mudança e disse que só iria após ver meu filho, residente na capital. Vai, não vai. Ligam para o pastor que me pareceu um cara mais ou menos. Até então, não sabia o que me era reservado. Mulher e filho e pastor acordaram que eu iria pela manhã do dia seguinte.

Alugamos um carro e fomos para Sampa. O GPS do carro estava mais perdido do que cego em tiroteio. Pior é que eu estava ensinando o caminho certo sem conhecer porra nenhuma. Só de lembranças passadas.

Demorou, mas chegamos a um restaurante, ponto de encontro. Passava das 22 horas quando meu outro filho chegou. Eu estava tão animado que mais parecia um bobo e era. Mas um bobo desconfiado, pois não percebia a correspondente alegria em ninguém. Saímos tarde do restaurante.

Pegamos o rumo da Raposo Tavares. O filho mais velho estava com muita pressa e passava pelos quebra-molas feito um alucinado e eu me pipocava de rir. Fazia gozação. Depois ele se perdeu e eu estava gostando de ficar rodando de carro, na madrugada, como perdidos na noite fria.

De tanto rir, acabei descontraindo meus benfeitores.  Tarde e verificando que a noite estava meio sinistra e por não termos achado vaga naquelas espeluncas de beira de pista, tomamos o rumo de São Roque, que me pareceu muito bonitinha. O Hotel era ótimo.

Tudo certo na portaria, fomos para o quarto, onde esculhambamos um pouco. Estava muito feliz, mesmo sabendo que iria passar meu aniversário dentro de uma "clínica".

Não cheguei a tomar banho. Sofro um frio medonho em São Paulo e temia sair de um banho quente para pegar uma corrente fria... O resultado seria aquela hipotermia que se assemelha a uma convulsão. Detesto ter calafrios. Transar no frio, sem aquecimento interno, deve ser uma proeza. E minha mala que eu não fiz e que mal sabia o que nela continha? Não havia roupas para o frio que me aguardava.

Amanheceu e já passava das dez da manhã e o café já estava encerrado. Conversei com uma copeira e ela foi condescendente permitindo que tomássemos o café... Estava no alto-astral!

Dai não custou muito e pegarmos a pista. Na ida me veio aquela sensação de quando chegamos em Guarulhos... sensação que me deixou frustrado, decepcionado, pois mais parecia que eu era um pacote, ou embrulho, que devia ser despachado urgentemente. Logo me recompus. Voltei a sorrir. Enfim, chegamos!

O pastor sorridente (que cara de pau!) nos recepcionou com um sorriso largo. Tinha uma luneta em um dos olhos.

Fomos até o escritório, onde conversamos bastante. Sabe, jogador de futebol, dizia um treinador baiano, a gente conhece pelo arriar das malas.

Aquele sujeito, dito pastor, me irritou algumas vezes pelo simples fato de ter um linguajar chulo, rasteiro, pornográfico e desrespeitoso. Depois ele disse uma merda: -"aqui nós tratamos a falta de vergonha".

Interiormente pensei: filho da puta! Bem, chegou o momento da despedida, abraços e beijos e o adeus final, além da promessa da mulher: "daqui a um mês venho lhe visitar, antes disso lhe telefono". Fui e eles foram.

No caminho, descendo, me bateu aquela tristeza peculiar ao momento da separação. Quase uma saudade.

Vi umas grades, arrodeamos e passamos por uma porta dessas que se assemelham aquelas de cadeia. Depois que entrei o rapaz foi muito rápido em trancar o portão. Puseram minha mala sobre uma mesa de ping-pong, revistaram, tiraram o que acharam por bem tirar e me deram o que restou. Até ai não fazia frio. Era tarde e só fui almoçar no jantar.

Que decepção aquela merda toda que eu ia reparando. Um estranho no ninho, totalmente desambientado e sem me dar conta de um ranço que paulistas tem com os baianos. Olhava tudo, tudo... Logo depois do jantar tive que colocar várias camisas, uma sobre a outra e o tempo ainda era suportável. Dias piores viriam.

Disseram-me que durante três dias eu estaria no "axé". Significa dizer que não teria que fazer tudo o que os demais faziam e que poderia até fumar uns cigarros enquanto o resto ficava no confinamento. Mas eu já tinha manjado tudo e os meus olhos eram de investigação, do tipo de quem procura um ponto vulnerável para fuga.

Logo percebi o regime carcerário em que estava metido. Bem, vou parando por aqui, só por hoje. Depois, talvez, continue contando algo mais. Só queria lembrar que amanhã faz um ano de um outro tipo de inferno que passei. Agora muita alegria e paz no coração é o que desejo a todos.

s/rev

quinta-feira, 10 de maio de 2012

Meditação do Dia, Narcóticos Anônimos - Quinta, 10 de Maio de 2012

Prontificarmo-nos inteiramente

"...olhamos bem para o que estes defeitos estão a provocar nas nossas vidas. Começamos a ansiar por nos vermos livres deles." 
Texto Básico, p. 39


Prontificarmo-nos inteiramente a que os nossos defeitos de carácter sejam removidos pode constituir um longo processo, que muitas vezes demora toda uma vida. O nosso estado de prontidão cresce em proporção directa à nossa consciência desses defeitos e à destruição que eles provocam. Podemos ter dificuldade em ver a devastação que os nossos defeitos estão a provocar nas nossas vidas e nas vidas daqueles que nos rodeiam. Se for esse o caso, faríamos bem em pedir ao nosso Poder Superior que revelasse essas falhas que impedem o nosso progresso. À medida que deixamos ir os nossos defeitos e vemos a sua influência a diminuir, descobrimos que um Deus amantíssimo substitui esses defeitos por qualidades. Onde antes tínhamos medo, encontramos coragem. Onde antes éramos egoístas, encontramos generosidade. As nossas ilusões sobre nós mesmos irão desaparecer para darem lugar à honestidade e à auto-aceitação. Sim, prontificarmo-nos inteiramente significa que iremos mudar. Cada novo nível de prontidão traz novas dádivas. A nossa natureza básica muda, e depressa descobrimos que a nossa prontidão não é mais movida apenas pela dor, mas por um desejo de crescer espiritualmente.

Só por hoje: Vou aumentar o meu estado de prontidão tomando-me mais consciente dos meus defeitos.

Reflexões Diárias, AA -, quinta-feira, de 10 maio de 2012


Afinal, livre 

Outra grande dádiva que podemos esperar por confiar nossos defeitos a outro ser humano é a humildade – uma palavra frequentemente mal compreendida… representa um claro reconhecimento do que e quem somos realmente, seguido de um esforço sincero de ser aquilo que poderíamos ser.

OS DOZE PASSOS E AS DOZE TRADIÇÕES

Sabia do fundo de meu ser que se quisesse ser alegre, feliz e livre para sempre, tinha de compartilhar minha vida passada com outra pessoa. A alegria e o alívio que senti após fazer isto estão além de qualquer descrição. Quase que imediatamente após fazer o Quinto Passo, me senti livre da escravidão do ego e da escravidão do álcool. Esta liberdade permanece após 36 anos, um dia de cada vez.
Descobri que Deus podia fazer por mim o que eu não podia fazer sozinho.

REFLEXÕES DIÁRIAS p. 139

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