sexta-feira, 25 de maio de 2012

ÉTICA E SOCIEDADE, Luiz Gonzaga de Sousa


O QUE SE ENTENDE POR SENTIMENTO?

O termo sentimento é uma palavra muito comum na sociedade humana, originando-se da própria condição em que as pessoas se encontram, como também outros sintomas que se apresentam naqueles que convivem com algo estranho, que martiriza, que machuca, e que torna a pessoa vulnerável a uma dor que não se sabe a origem. Assim, sentimento incorpora diversos conceitos, ou diversas caracterizações, ou diversos modos de se apresentar, pois algumas vezes indica algo bom, e prazeroso. Em muitos outros momentos aparece como coisa ruim, tal qual uma idéia latente se apresenta para exercitar uma maldade qualquer. É, neste sentido, que se buscam investigar as diversas definições de sentimento que muitas pessoas têm e denota os muitos tipos de manifestações que cada ser humano deixa transparecer para com todos aqueles que os cercam dentro do princípio de ignorância e desconhecimento.

Detalhando um pouco mais os objetivos que se pretendem investigar com precisão, intenta-se: a) entender o que é sentimento, b) como se caracterizam os seus diversos tipos, c) a maneira como se manifestam nas pessoas, d) as condições como se processam, e) se o sentimento é bom ou é ruim, f) a técnica de como eliminar o sentimento ruim, e g) como alimentar o bom para que a vida do ser humano possa ser melhor. O sentimento é algo que está dentro de cada um, apresentando-se de forma que poucos entendem o seu real sentido, ao considerar que existe toda uma formação de sensações, de idéias, de objeto, e porque não dizer de piedade, que muitas pessoas possuem sobre as outras que sofrem os dissabores da vida física, quer dizer, os que pedem esmolas, os doentes, os pobres e algumas outras formas de desajuste social.

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Ao responder a primeira pergunta, pode-se verificar que sentimento, são estados afetivos produzidos por diversos fenômenos da vida intelectual ou moral. Podem resultar de percepções sensoriais ou representações mentais. Constituem espécies de emoções mais suáveis, delicadas e de maior duração. Representam formas estáveis, que sucedem a formas agudas e violentas de emoções. Distinguem-se ainda das emoções propriamente ditas, por serem revestidos de um número maior de elementos intelectuais, nas palavras de Theobaldo Miranda SANTOS (1964)[1]. Este conceito exprime a idéia de uma noção psicológica, de algo concreto estudado por cientistas, que insistem em explicar os fatos com os dados que se lhes apresentam no momento, fugindo a um sentido mais transcendental.

Em Francisco Cândido XAVIER (1940)[2], de EMMANUEL, tem-se que sentimento, decompõe-se em arte, afeição e dever, todavia, verifica-se que em arte, pode-se dizer que é a mais elevada contemplação espiritual por parte das criaturas. Ela significa a mais profunda exteriorização do ideal, a divina manifestação do 'mais além' que polariza as esperanças da alma.

Quanto à afeição, tem-se que saibamos compreender a sua afeição sublime e transformaremos o nosso ambiente afetivo num oceano de paz e consolação perenes. Finalmente, o dever que aparece com a boa ação é sempre aquela que visa o bem de outrem, e de quantos lhes cercam o esforço na vida, e aí está o sentimento que para muitos que não o conhecem, reveste-se de pieguice, de pena, e de dor interior.

Todavia, conhecido a princípio o conceito de sentimento, pode-se neste instante nortear os tipos de sentimentos existentes, isto significa dizer que existem sentimentos bons e maus, um aflorando o progresso que se encontra latente, e o outro fazendo salientar a atuação do instinto. Os sentimentos bons aparecem quando se tem piedade por alguém, ou por algum animal que caminha pelas ruas. Pode-se citar como exemplo: uma família pobre que não tem o que comer, ou a morte de um bichinho de estimação, tipo gato ou cachorro. Já quanto aos sentimentos maus que estão no instinto, diz respeito às pessoas que matam impiedosamente, surram seus filhos de maneira desmedida, batem na mulher dentro seu lar, enfim, vivem a maltratar friamente a todos que aparecem em sua frente.

É fácil observar que o sentido real do sentimento, não é este que se apresenta como aqui está colocado, ou daquele outro modo totalmente ao contrário, mas um processo de evolução que mostra a substituição das inferioridades que alimentam o instinto, pela superioridade que engrandece o homem. Esse sentimento piega que as pessoas demonstram, diz respeito a apenas um estágio, ou a uma passagem neste processo de mudança, isto é, a dor de alguém já bate fundo, dentro da parte boa que denota avanço do ser humano, ou ser pensante. O sentimento verdadeiro é a compreensão que se deve ter ao se reconhecer a inferioridade daquele que está ao seu lado, é a caridade por excelência, porque é a compreensão, é a gratidão, e o amor que falam forte em um coração já liberto da ignorância do bem.

Comumente são vistas pessoas que não podem ver matar uma galinha, que todo seu corpo treme, a imagem daquele ato fica fortemente gravada de forma intermitente, sempre retornando àquele instante forte que presenciou. Sem dúvida é um sentimento que se despertou com aquela atitude descabrosa que foi praticada contra um ser qualquer. Uma discussão impositiva também toca qualquer pessoa que tem os seus sentimentos à flor da pele, tentando sempre tratar as outras, da melhor maneira possível, para que não haja nenhum menosprezo contra alguém. Entrementes, o sentimento não constitui o amor verdadeiro de um alguém para com outro alguém, ou para com algum animal ou coisa. Mas, isto é o embrião do amor que já se inicia naquele que o instinto já não possui tanta força para dominar o irmão que é levado pela atuação de seu princípio de animalidade.

Como se sabe, muitas pessoas confundem sentimento com tudo aquilo que se apresenta como emoções, entretanto, as duas coisas caminham pertinho uma da outra, tendo em vista que a emoção está intimamente ligada com os atos do sentimento, e daí a confusão existente, difícil de separação. Assim sendo, explica JOLIVET (1964)[3], que emoção é um fenômeno afetivo complexo, provocado por um choque brusco e compreendendo um abalo mais ou menos profundo da consciência, assim, busca-se o sentimento para despertar o que está dentro de cada um. Ainda mais, C. LAHR (1964)[4] também explica que emoção é o estado afetivo intenso muito complexo proveniente da reação ao mesmo tempo mental e orgânico do indivíduo todo, sob a influência de certas excitações internas ou externas, pois, nisto se ver a diferença existente com o termo sentimento.

A problemática do sentimento passa justamente pela formação da idéia de determinada coisa, todavia, isto depende do nível de espiritualidade ou de evolução que o ser humano tenha, isto é, quanto menos evoluído é o ser, mais se usa o instinto e quanto mais sublime, mais se tem o livre arbítrio. É nesta passagem que se apresentam os diversos tipos de sentimento, melhor dizendo, surge a piedade, o desejo de ajudar, a caridade no sentido popular, e muitas outras formas que libertam o indivíduo da grosseria, da estupidez, e da animalidade. Com vistas a melhor compreender este termo, é que se pretende caracterizá-lo claramente, ao observar que o sentimento não se constitui pelo amor que as pessoas dizem sentir, mas o nascedouro da dedicação que as pessoas têm para com as outras.

É imprescindível saber detalhadamente o significado real da palavra sentimento, ao levar em conta que ela se apresenta, algumas vezes como a maldade que está dentro de cada um, e algumas outras dá uma conotação de bondade, de caridade, sem dúvida, as faces ocultas do eu de cada pessoa. A parte inferior que apresenta, rapidamente quer demonstrar a inferioridade que necessita ser transformada para que habite o amor, a felicidade que JESUS ensinou a todos, e que a todos ainda não se apresenta com clareza. A outra face, dependendo da evolução espiritual de cada ser, demonstra a bondade que significa o início da mudança que já brota dentro daquele que procura entender os ensinamentos cristãos que antes de JESUS, os profetas já indicavam a todos, cujo Mestre Maior veio apenas ratificar esses procedimentos de aprendizagem.

O sentimento é a face oculta que todos têm dentro de si, que pouco a pouco vai desabrochando quando da substituição das maldades, ou da parte que designa a face inferior que habita dentro do homem, ao se libertar da fase animal na trajetória de vida que se processa. O sentimento em si é a parte boa que se tem, considerando que a mutação do ser humano em busca da perfeição natural, que se desenrola dentro de cada cristão, quer queira ou não, acontece por livre e espontânea vontade, ou por imposição das iniqüidades do ser. O destino, neste momento exerce a sua primazia no ser racional que ainda não sabe usá-lo dentro do princípio do livre arbítrio, ou da libertação da inferioridade e maledicência que todos carregam até a sublimidade da sapiência humana.

Dentro de um ponto de vista de realidade, deve-se melhor investigar a questão do sentimento que aflora naquele que já tem um vislumbre de uma libertação espiritual sem a devida diferença entre a alma e o espírito, porque os dois se confundem em uma caminhada que deve ser seguida. A única diferença é que o espírito é a alma desencarnada, e a alma é o espírito encarnado, como se fosse um estágio, quando em forma humana, propriamente dita, para sentir o verdadeiro sentido do mundo espiritual, ou mundo etéreo que é a sua vivência. Finalmente, é importante que o sentimento seja desvendado efetivamente para que a pieguice de alguém não queira se transformar em um ato inocente de caridade, cuja veracidade é a maneira de ser de cada um, que não conhece a si mesmo, nem tão pouco os demais.

[1] SANTOS, Theobaldo Miranda. In: FONTANA, D. F. Filosofia do Vestibular. São Paulo, SARAIVA, 1964, p. 69.
[2] XAVIER, Fco. Cândido (Emmanuel). O Consolador. Rio de Janeiro, Federação Espírita Brasileira, 1940, pp. 100-112

[3] JOLIVET, Régis. In: FONTANA, D. F. Filosofia do Vestibular. São Paulo, SARAIVA, 1964, p. 73.

[4] LAHR, C. In: FONTANA, D. F. Filosofia do Vestibular. São Paulo, 1964, p. 70.

Crédito: EUMED.NET

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