Minha intenção ao reproduzir cartas e depoimentos e textos
neste blog não é de me apropriar de nada, o meu objetivo é elastecer a malha que
se constrói no mundo inteiro para uma nova consciência da questão das drogas e
os maleficios que as mesmas causam aos usuários.
É
importante lermos estes depoimentos, como é importante citarmos a fonte de onde
o colhemos.
Se
multiplicarmos a teia anti-drogas e conseguirmos atingir um número muito maior
de pessoas, sem nos determos a faixas etárias, grupos sociais, étinicos,
religiosos e políticos, estaremos ampliando o horizonte, mais otimista, para
quem quer vencer a prolifração de drogas e a autodestruição que está em curso
crescente, na atualidade.
Drogas como
o crack já chegou a classe alta e não se restringe mais à classe
média.
Esta droga
diabólica é o "beijo da morte" e só os que a utilizaram podem revelar como é a
vida de um viciado em crack, a pior das drogas, no momento.
Estão
surgindo outras novas drogas, não se iludam, mais letais que estas que levam
pessoas ingênuas, curiosas muitas vezes, a experimentar e a partir daí
transformar-se em um prisioneiro, fisgado que foi, caindo numa armadilha
infernal.
Então ler o
que as pessoas que usaram esta droga e outras, com menor poder de viciar e
causar dependência química, é importante.
Assim
sendo, passo a transcrever o que pude coletar no site
que
recomendo seja visitado e lido. E que propaguem as idéias corretamente sem cair
nos equívocos de propagandas anti-cientificas, como acontece na Bahia. Certas
propagandas só ajudam a aumentar o número de vítimas dessa droga infernal, além
de fomentar um aumento da violência. Então vamos lá:
Drogas
Confissões de
quem
saiu do inferno
O crack, antes usado apenas por marginais e
menores
de rua, agora chega à classe
média.
Depoimentos
dramáticos dos que conseguiram abandonar o
vício
Leandro
Narloch
O
CRACK
Ao chegar ao Brasil, no começo dos anos 90, o crack se tornou
um flagelo entre marginais, mendigos e menores de rua. São esses os personagens
que aparecem deitados nas calçadas, como molambos, nas cracolândias que
floresceram em áreas degradadas das grandes cidades.
Como custa pouco, menos de 5 reais a dose, a droga
disseminou-se entre os desvalidos.
Agora, a sedução perversa do crack começa a fazer vítimas
também na classe média. Lastimavelmente, esta realidade talvez tenha sido o
elemento motivador da luta que ora se empreende no combate efetivo a esta droga
tão devastadora.
O consumo do crack entre a população mais abastada ainda não
transparece nas pesquisas dos órgãos de saúde porque, na tabulação dos dados,
ele está quase sempre na mesma classificação da cocaína, da qual é uma versão
inferior e mais tóxica. Mas, na avaliação dos médicos que cuidam dos viciados em
drogas nos hospitais e clínicas de recuperação, tanto públicas quanto
particulares, não há dúvida de que o crack subiu degraus na escala
social.
O contingente de pessoas que usam crack no país ainda é bem
menor do que aquele que usa maconha ou cocaína. Mas as pequenas pedras brancas
têm um efeito tão devastador, e viciam tão rapidamente, que em muitas
instituições já respondem pela maioria das internações de
pacientes.
"O crack está por trás de 80% das nossas internações", diz o
psiquiatra Marcelo Machado, do centro Recanto Paz, em Pernambuco, onde o
tratamento de seis meses custa 8 000 reais. "Estudantes de faculdades
particulares, advogados, publicitários e até médicos são as novas vítimas dessa
substância", afirma o médico Luiz Alberto Chaves de Oliveira, presidente do
Conselho de Drogas e Álcool de São Paulo e diretor da clínica Vitória, em Embu,
na Grande São Paulo, que cobra em média 9.000 reais por mês por uma
internação.
A seção gaúcha da Organização Amor-Exigente, uma rede de 500
grupos espalhados pelo país que dá apoio a famílias de dependentes, contabiliza
que, em 2003, o crack representava 25% dos pedidos de ajuda entre álcool,
cocaína e maconha. Hoje, ele está por trás de 73% dos
chamados.
No Centro Terapêutico Viva, um dos maiores do interior de São
Paulo, localizado em Piedade (14.000 reais por quatro meses de tratamento), os
pacientes devastados pelo crack chegam a 95% dos internos.
O crack é a cocaína em forma de pedra, feita para fumar em
cachimbos.
Os traficantes misturam a droga com outras substâncias, como o
bicarbonato de sódio. "Para aumentarem o volume, adicionam também cal e
anestésicos como a lidocaína", informa o delegado Luiz Carlos Magno, do
Departamento de Investigações sobre Narcóticos (Denarc) de São Paulo. A mistura
é fervida e depois filtrada, transformando-se em pequenas pedras brancas do
tamanho de uma pipoca.
Quando queimada num cachimbo, a pedra emite pequenos estalos –
daí o nome "crack". Ao ser fumada, a droga atinge os pulmões e entra na corrente
sanguínea instantaneamente, chegando ao cérebro em poucos segundos – ao
contrário da cocaína em pó, que leva cerca de dez minutos para fazer o trajeto.
O efeito também é muito mais forte.
O crack bloqueia a absorção natural da dopamina, o
neurotransmissor que dispara no cérebro a sensação de prazer. Com excesso da
substância entre os neurônios, surge uma sensação imensa de euforia e
onipotência. Quando o efeito passa, vem a depressão – e, com o uso freqüente, as
reações paranóicas. Como a dopamina é o principal regulador do sistema de prazer
e recompensa, o crack vicia rapidamente.
Para quem tem dinheiro no bolso, o crack é ainda mais perigoso.
São comuns os casos de viciados que pagam a droga com bens roubados da família
ou forçam os pais a pagar suas dívidas com os traficantes alegando que correm
risco de vida.
Muitas vezes, quando as fontes que financiam a droga secam, o
viciado recorre a outras práticas ilícitas. "Eu, que sempre estudei em colégios
particulares, de repente me vi assaltando com uma faca na mão para comprar
pedras", diz o estudante de marketing L., 21 anos, de Fortaleza, livre do vício
há um ano e dois meses. "O mais impressionante é que, ao assaltar, não pensava
estar fazendo algo errado. Lutar para conseguir pedras parecia tão natural e
correto como procurar comida para saciar a fome", ele
completa.
Sob o domínio do crack, muitos viciados se isolam e viram –
mesmo que temporariamente – indigentes. Ao contrário do que ocorre com a maconha
ou a cocaína, o crack torna impossível manter relações com o círculo de amigos,
no trabalho ou em casa.
A degradação se dá em poucas semanas. Primeiro, o viciado
emagrece rápido, já que a cocaína inibe o apetite e provoca náuseas diante da
comida. Depois, passa dias sem dormir e perde até mesmo a vontade de tomar
banho. Esquece-se de que existem horários e regras.
Como o crack age como anestésico, queimam-se a boca e o nariz
ao fumar, sem que se perceba. "É comum que as mulheres dependentes se prostituam
por qualquer valor só para comprar as pedras, contraindo doenças sexuais
rapidamente", diz a médica Solange Nappo, professora de psicobiologia da
Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), que estudou as práticas de oitenta
viciadas em crack de São Paulo.
Um levantamento da Universidade Estadual de Campinas, feito no
ano passado, mostrou que 7% dos usuários de crack têm o vírus HIV – índice dez
vezes maior que o da população em geral.
"É verdade que o crack é a droga preferida de mendigos e
prostitutas, mas isso acontece também porque ele transforma estudantes e
trabalhadores comuns em mendigos e prostitutas", afirma
Solange.
À medida que o consumo de crack progride, chega a fase das
reações paranóicas. O viciado acha que está sendo perseguido e tem pensamentos
obsessivos – vem daí o apelido de "nóias" que esses dependentes
carregam.
Quando passou por isso, a estudante paulista de psicologia M.,
31 anos, livre da droga há três, não conseguia manter as janelas de casa
abertas. Diz ela: "Eu realmente achava que estavam me espionando pela janela ou
pelas frestas da porta. Também ouvia sirenes da polícia e passava horas
rastejando, procurando no chão e no meu carro algum resto de pedra que pensava
ter derrubado".
Com sentimentos psicóticos, os viciados se tornam mais
desconfiados e se enfurecem com maior facilidade, protagonizando cenas de
violência gratuita.
Passada a depressão que se segue à paranóia, chega o melhor
momento de largar o vício.
"Quando me vi na favela, sem pedras e depois de ter vendido até
os brinquedos do meu filho para comprar crack, saí correndo para a casa da minha
mulher. Corri uns 10 quilômetros descalço, com bolhas no pé, e disse a ela que
precisava de ajuda", conta F., corretor de imóveis de Belo Horizonte, que passou
três anos consumindo a droga.
A dependência química é uma enfermidade reconhecida pela
Organização Mundial de Saúde.
Ainda não há tratamentos ou remédios que impeçam que o
dependente tenha recaídas.
Nas clínicas, o viciado geralmente toma antidepressivos ou
ansiolíticos e passa por sessões de auto-ajuda para que consiga escapar da
"fissura", a vontade de voltar à droga.
"Em média, apenas 30% dos dependentes de crack permanecem na
abstinência por mais de um ano", calcula o psiquiatra André Malbergier, do
Hospital das Clínicas de São Paulo.
A internação, pelo menos, afasta o viciado dos pontos de compra
de crack e alivia temporariamente o tormento constante pelo qual passam seus
familiares.
Nos centros de internação involuntária, como o paulista Viva,
de Piedade, muitas vezes os dependentes chegam amarrados – último recurso usado
pela família para conduzi-los ao tratamento. Como numa prisão, agentes de
segurança vigiam portões e muros de 4 metros de altura.
Os jovens que conseguem sair do vício são os que percebem que
estão muito doentes e têm de se tratar.
"O viciado já dá um passo à frente quando sabe que precisa de
ajuda", diz a médica Cláudia de Oliveira Soares, que lida com dependentes
químicos há catorze anos.
A força de vontade e o apoio familiar são essenciais quando o
dependente volta para casa. Diz o dentista C., de São Paulo, livre da droga há
três anos: "Durante oito ou nove meses, não passei um minuto sozinho. Percebi
que precisava dos outros e ainda preciso. Um dia você decide se livrar do crack,
mas permanece dependente a vida toda. O pesadelo do crack não tem
fim".
Apagão ao volante
"A ficha caiu quando sofri um acidente de
carro. Estava virada, sem dormir, fazia quatro dias. Peguei o carro para ir
comprar crack, mas não andei nem 100 metros e sofri um apagão. Dormi ao volante.
Fiquei cinqüenta dias com os dois braços enfaixados e o rosto cheio de feridas
por causa dos estilhaços do vidro. Já havia sido internada algumas vezes, mas
sempre soube que voltaria à droga. Fazia meus pais pagar minhas dívidas dizendo
que, do contrário, seria morta pelos traficantes. Em troca, eu ficava um tempo
na clínica de recuperação. De uma delas, fugi pulando o portão. Com o acidente,
percebi que tinha de me livrar daquilo. Agora estudo, luto para recuperar a
guarda dos meus filhos e quero montar um grupo de apoio só para mulheres
dependentes. Elas precisam perder o medo de procurar
ajuda."
M.,
31 anos, estudante
de psicologia de São Paulo, livre do crack desde 2005
O salário virou fumaça
"Ainda hoje tenho pesadelos nos quais estou
fumando crack. Acordo assustado e com raiva de mim mesmo. Não quero passar por
aquilo de novo. Na fase pior, gastava todo o meu salário com a droga. Eu, que
sempre ganhei tudo do bom e do melhor de meus pais, cheguei a roubar as coisas
de casa para fumar crack. Vendi até Tupperware em troca de pedras. Quando meu
pai disse que não me queria mais em casa, decidi pedir ajuda. Fiquei mais de um
ano numa clínica de recuperação. Nesse tempo, percebi que o meu maior vício não
eram as drogas, e sim pensar só em mim. Para me livrar do crack, tive de virar
outra pessoa. Hoje, penso que o meu crescimento pessoal só é relevante se eu
ajudar os outros a crescer. Consegui, assim, voltar para a casa dos meus pais,
para o meu trabalho e estou namorando firme. Aos poucos, reponho os aparelhos
eletrônicos que tirei de casa."
Fabio Bakun Nóbrega de
Albuquerque, representante comercial do Recife, 29 anos, em abstinência
desde 2006.
M.,
31 anos, estudante
de psicologia de São Paulo, livre do crack desde 2005
Choro e desespero
"O conjunto de som e DVD do meu carro valia
7 000 reais. Um dia, troquei-o por 300 reais de crack. Como minha família é de
classe média alta, não precisei fazer dívidas quando me enterrei nessa droga,
mas roubei CDs, filmadora, todos os eletrônicos de casa. Quando você está louco
de crack, não se importa com nada disso. O que importava era sair correndo para
comprar pedra. Até essa época, eu nunca tinha visto meu pai chorar. Uma noite,
quando cheguei transtornado em casa, ele me chamou num canto e desabou no choro.
Perguntava: ‘O que eu preciso fazer pra você parar com isso?’. Foi ali que
decidi parar de usar crack. Tive de romper com todos os amigos que me levavam à
droga e passei quase um ano inteiro indo à faculdade e voltando para casa sem
olhar para os lados. Hoje, eu e meu pai, que também é dentista, trabalhamos
juntos no mesmo
consultório."
C., dentista
de São Paulo, 25 anos, livre da droga há três
Sem droga e sem crédito
"Meu sonho sempre foi trabalhar na empresa
do meu pai, uma metalúrgica no interior de São Paulo que ele fundou há quarenta
anos. Mas, quando cursava a faculdade de administração, comecei a cheirar muita
cocaína. Ao conhecer o crack, foi amor à primeira vista. Quando minha família
começou a controlar meu dinheiro, evitando que eu comprasse mais cocaína, decidi
partir para o crack. No início, tinha medo de ficar como os mendigos que
aparecem na televisão. Misturava crack com maconha pensando que assim o cigarro
ficaria mais fraco. Um mês depois, já estava na droga pura. Como meu pai tinha
crédito na cidade e todos me conheciam, conseguia dinheiro com facilidade.
Quando perdi o crédito, me bateu um desespero e aceitei ser internado. Desde
então, venho tentando largar a droga, mas com recaídas. A última foi há seis
meses. Independentemente de quantos tombos a droga me deu, preciso me levantar e
tentar de novo."
Thiago Pires de Camargo, administrador de empresas de Santa Bárbara
d’Oeste (SP), 30 anos, longe do crack há seis meses.
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