"Dependência química não é mero hábito de pessoas sem força de vontade para livrar-se dela, é uma doença grave que modifica o funcionamento do cérebro. Nós, médicos, devemos confessar nossa ignorância: não sabemos tratá-la, porque nos faltam experiência clínica e conhecimento teórico. Só recentemente a comunidade científica começa a se interessar pelo tema."
Dr. Drauzio Varella
AGORA VAMOS RELEMBRAR ALGUMAS INDAGAÇÕES FEITAS SOBRE UMA TEMPORADA "CLÍNICA"
A mulher pergunta: - qual era o remédio que lhe davam para desintoxicar o organismo?
Não sabe da missa a metade e nem vai dar para contar um terço, por mais que me esforce em lançar um pouco de luz na ribalta de clínicas, que não passam de esconderijos prisionais, se quisermos usar um pouco de franqueza, não irei convencer ninguém quanto a realidade que vivi, observei e até um diário escrevi.
Tinha um companheiro que ficou um mês internado em hospital, com o plano de saúde dele, desintoxicando, fazendo exames e sendo muito bem cuidado e medicado. Saiu mais gordo. Foi algo voluntário e ficou seis meses limpo. Houve assistência médica especializada para o quadro de alcoolismo dele. Só faltou cuidar do lado espiritual, psicológico... Isso inexiste em muitas clínicas e chamados centros terapêuticos. Infelizmente muita gente cai na armadilha das propagandas enganosas. Ele se lamentava muito quando descobriu que foi parar em um centro prisional, onde, de bom, só havia a reunião para leitura do texto básico do NA e partilhas.
O pai, perplexo, pergunta sobre o incêndio criminoso ocorrido: - você estava preso na hora da ocorrência?!! Sim. De um lado uma porta fechada, por onde a chama vinha, ardente e devastadora, consumindo tudo, do outro duas grades, mostrando nossa realidade, nua e cruelmente. Pensava tantas coisas em fração de segundos. Lembrei do incêndio do JOELMA, em São Paulo e imaginava o que é o inferno, clamava por Deus, com fé, pensava na família com tristeza (queriam salvar minha vida e veja só, vou morrer frito! e perdoava todos e vinha uma vontade de chorar); O desespero e gigantesco, o desejo de lutar pela vida é maior e nasceu uma força descomunal dentro de mim, que estava prestes a ser devorado pelas chamas e virar cinza... O nome do filme seria "Sem Saída". Não havia saída de emergência, extintores de combate a incêndio, nem escada de emergência. Foi algo, infelizmente, criminoso. O adicto que liderou a rebelião foi o que tomou a iniciativa de buscar me retirar do quarto prisional. Ele e outros. Devo agradecer a eles. Se arrependeram; não mediram as consequências do que fizeram.
O ouvinte: Em que consiste o tratamento, a terapia? como ´e o cotidiano? ouviu, como resposta: - a verdade dói, incomoda, mas a mentira dói muito mais quando descoberta. Inexiste tratamento! Há uma contenção, um represamento da abstinência e maior o tempo de detenção, maior a explosão. Existem modelos que ajudam e modelos que é dinheiro jogado no lixo, infelizmente. Inexistem dados sobre índices de recuperação. Havia um grande contingente de recaídos, ali postos à espera de um milagre. Quando fora da jaula, chupava manga, como complemento alimentar. A natureza me favorecia. Eram mangas temporão.
A estudante de medicina: E o acompanhamento médico, cuidados e zelo com a saúde dos internos, como é que funcionava? Familiares imaginam tudo de bom. Tudo é mil maravilhas. Mas tais lugares podem ser muitas coisas, mas jamais um centro, ou clínica de recuperação. Onde a ciência se ausenta, a treva é a lamparina. Digamos assim, lá tudo é uma estorinha que sempre começa assim: era uma vez... e nessa base vamos vivendo resignadamente. Deveriam ter outra denominação como CENTRO DE CONTENÇÃO DE ABSTINÊNCIA, ou REPRESAMENTO. Reconheço que há boa fé, mas é necessário a presença da ciência, da medicina.
Uma ouvinte: Alguma decepção contribuiu em sua recaída? Recaída faz parte da doença da adicção, mas devo dizer que a decepção soma-se a outros fatores e descamba sempre em algo ruim. Causa um desarranjo qualquer... Um amigo, em quem depositei enorme confiança...A vida é um perde e ganha sem fim, sem detalhes.
Um crítico: O que funciona ? A boa vontade, a mente aberta e a honestidade. NA e AA ajudam muito mais se o dependente quiser e se permitir ser ajudado, aliando tudo a um poder superior. Os doze passos e acompanhamento médico e psicológico também funciona, mas a chave, ou o segredo, está dentro de cada ser humano que vive seu próprio drama. FALO POR MIM!
infelizmente ainda existem familiares que internam seus doentes apenas para "terem paz", ao invés de tratamento o doente só aumenta ainda mais a carga a ser trabalhada no quarto passo... é uma lastima mesmo
ResponderExcluirQuerida··¤(`×[¤Cici¤]×´)¤··
ResponderExcluirAntes de mais nada estou quase que impossibilitado de escrever devido a ter que estar usando redes sem fio alheias. Só faço postar. Hoje é que a NET resolveu instalar o cabeamento no edifício em que resido. Não estou podendo, portanto, participar de nada, muito menos ler os blogs que acompanho.
Com relação à questão das internações, confesso que é tema controvertido, polêmico. É verdade sua afirmação. É imperativo que se defina o que vem a ser um TRATAMENTO. Teria muita coisa que escrever sobre o tema, sobre clínicas involuntárias, sobre a institucionalização da indústria do sequestro (RESGATE) no Brasil, onde tudo degenera. A questão da violência no resgate e nas instituições, contra seres humanos indefesos, a alimentação. Quando escrevi este artigo estava sob o efeito de um trauma pós traumático. Colocaram-me, de modo traiçoeiro, previamente arquitetado, em uma clínica involuntária. Fiquei quase 4 meses, tentei fugir e fiquei preso, por três dias, no que chamam de contenção. Sou um cara muito crítico, que fala as coisas abertamente nesses locais de confinamento de seres vivos com as almas mortas. Minhas críticas são severas. As internações são feitas por muitas outras razões que não é apenas a droga. A droga é apenas o "agravante", mas ocorre que também vi muitos internos que não usavam drogas... Fazendo o quê?
Olhe, sempre vi incêndios em minha vida, mas do lado de fora. Você não pode imaginar o que é estar em um quarto sendo invadido pelas chamas de um incêndio, sem possibilidade de sair, devido as grades. É algo muito louco, sabe? Imaginar tantas coisas e pensar, em fração de segundos, que vai morrer frito é de doer. Felizmente estou vivo. Já passei por muitas coisas na vida, mas nunca me imaginei ficar "sem saída", vendo a morte se aproximando e sem poder fazer muita coisa. Eu carreguei uma cama e batia com a mesma contra as grades, tinha um companheiro comigo que apenas se defendia da fumaça. Pedi que me ajudasse. Gritava por socorro. Não sabia a extensão do incêndio. Apareceram companheiros, que estavam no "fumodromo" e puderam escapar, para nos salvar. Um deles teve a brilhante ideia de pegar uma barra de ferro para usar como alavanca. Enquanto batíamos na grade com a cama, vários homens tentavam arrancar a grade com a barra de ferro. Conseguiram nos tirar com vida. em outros quartos fizeram o mesmo. Essa é uma história à parte para ser contada. Em matéria de tratamento, confesso, não existiu. Perdão por não escrever, nem estar comentando nada. Espero que, finalmente, a rede com cabo chegue até aqui, onde me acho. Forte abraço. SPH